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[Análise] Shadow of the Tomb Raider: Vale a Pena?

Desafios maiores, combates intensos, escaladas arriscadas e tumbas mortais dignas de uma grande heroína

por Bruna Mattos
[Análise] Shadow of the Tomb Raider: Vale a Pena?

O Tomb Raider de 2013 trouxe uma nova era para Lara Croft, talvez um dos maiores ícones dos videogames. O reboot da franquia nos trouxe uma nova visão da personagem. Descobrimos que heroínas como Lara Croft não nascem prontas. Em 2013, vimos Lara como uma mulher jovem e inexperiente, mas com uma incrível força para sobreviver.

Shadow of the Tomb Raider é o fim da trilogia iniciada com o reboot, e agora vemos Lara como uma mulher experiente em todos os sentidos. Ela não só é uma desbravadora mais astuta, mas suas habilidades físicas alcançam um outro nível. O combate é mais brutal e direto, as escaladas são mais mortais, as tumbas são mais arriscadas. Este terceiro game marca o momento em que Lara se torna aquela Lara Croft. Ou quase.

Nessa jornada, Lara irá descobrir a cidade de Paititi, uma espécie de resquício intocado da civilização Maia antes de sua extinção. Lá, ela irá encontrar algumas verdades duras de seu passado, mas também terá que entender as responsabilidades atreladas às sua curiosidade e sua busca por justiça contra a Trindade.

Aquilo que não mata, fortalece

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Lara ainda sofre, mas de cabeça mais erguida. Fonte: captura de tela.

Quem jogou os dois primeiros games do novo arco de Tomb Raider sabe que havia um grande foco na sobrevivência. Os dois primeiros jogos colocam Lara Croft em ambientes extremos. Em “Shadow” isto volta a acontecer, mas a mudança está na postura da protagonista em relação a esta situação.

Lembram-se daquela Lara “sofredora”? Todos os gritos, choros, gemidos, tosses e zilhões de situações em que ela saia toda machucada, coitada? Bem, essas coisas ainda acontecem, mas todas se tudo isso não a matou, só a tornou mais forte – e destemida. Agora, Lara é casca grossa. Ela sabe muito bem como sobreviver em um ambiente selvagem, isso se traduz não somente na postura da personagem, mas também no gameplay.

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Tornar-se uma heroína nem sempre é fácil. Fonte: captura de tela.

É aí que começamos a ver a protagonista realmente caminhar em direção àquela mulher que conhecíamos dos jogos antigos. Ela só não está exatamente pronta. Todas as situações que Lara passou anteriormente a tornaram mais forte, mas toda essa coragem sem tanta maturidade traz uma certa inconsequência, que aflora ainda mais quando a personagem precisa lidar com questões mal resolvidas de seu passado.

Tudo isso também torna Shadow of the Tomb Raider o jogo mais pessoal para Lara Croft. Se antes seu objetivo era descobrir a verdade e limpar a imagem de seu pai, agora ela quer aprender a lidar com a destruição de sua família e a infância perdida. É quase uma sessão de terapia para a heroína.

Combate mais mortal

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Combate direto nem sempre é uma opção em Shadow of the Tomb Raider. Fonte: captura de tela.

Rise of the Tomb Raider trouxe uma série de elementos que aprimoraram bastante a experiência do primeiro game da nova saga. O que “Shadow” faz é usar basicamente a mesma excelente fórmula, com leves modificações. Não há nada de exatamente muito novo em relação ao anterior, mas uma espécie de adaptação ao conceito desta nova Lara, mais madura e experiente.

O combate é bem mais brutal, violento e mais focado no stealth do que antes. Os cenários são todos construídos de forma a favorecer abordagens furtivas na selva peruana. Arbustos, paredes cobertas por folhas e bombas de fumaça direcionam a estratégia neste sentido. As habilidades conquistadas com pontos de sobrevivência adicionam mais camadas ainda ao combate, além de oferecer algumas finalizações e novas formas de ataques bem legais.

A estratégia furtiva se encaixa muito bem aqui, porque em alguns momentos as situações se tornam muito desfavoráveis para Lara: existem muitos inimigos e poucas áreas de cobertura para apostar em um confronto direto – é morte na certa. Sujar a heroína de lama para ficar mais escondida em paredes enlameadas é um dos novos elementos mais interessantes que foram adicionados. Os rios também oferecem mais uma dinâmica do stealth, e a água é mais um local para se esconder ou fazer ataques surpresa.

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Lara Croft “furtiva” em Shadow of the Tomb Raider. Fonte: divulgação.

Apesar de acertar muito bem no combate contra os soldados da Trindade, o game peca em outro aspecto. Ainda que estejamos em uma floresta tropical e as ações promocionais de Shadow of Tomb Raider terem destacado as ameaças da vida selvagem, esta parte tem uma presença muito mal distribuída no game. Mesmo que você passe boa parte do tempo em lugares inóspitos, são poucas as vezes em que Lara realmente precisa enfrentar predadores em terra ou debaixo d’água.

A floresta amazônica acaba não sendo um local tão ameaçador ou tão cheio de vida animal quanto deveria. Algumas feras acabam se tornando quase que “mini-bosses” em batalhas que acontecem logo no início do game e este elemento acaba se tornando meio que esquecido.

Apesar de o combate ter esta virada mais mortal e furtiva, “Shadow” acaba pecando justamente na hora de entregar uma batalha final mais desafiadora. O último chefe não exige muita estratégia além de basicamente correr e atirar e oferece um dos desafios de nível mais baixo de todo o game. Uma grande pena, especialmente porque a batalha é precedida por uma das sequências de escalada mais eletrizantes do jogo.

Escaladas mais arriscadas e Tumbas mais difíceis

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Um dos momentos de escalada mais insanos de Shadow of the Tomb Raider. Fonte: captura de tela.

Além de representar todas estas transformações da protagonista, Shadow of the Tomb Raider tem outro ponto diferencial importante. A Crystal Dynamics saiu do posto de desenvolvedora e devolveu a função para Eidos. Ainda que a estrutura do game siga toda a premissa de todos os anteriores nesta fase pós-reboot, este capítulo parece ter uma certa familiaridade com o que a Eidos fazia no passado.

As escaladas se tornaram bem menos óbvias. Nem todos os caminhos estão destacados por aquela tinta branca característica e as paredes escaláveis não brilham com instintos de sobrevivência ao se jogar na dificuldade “normal” (a padrão, sem customizações). É comum ter que pensar bem rápido para onde dar o próximo passo durante as escaladas ou testar se determinada rota é possível.

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Tumbas de Desafio misturam puzzles, escaladas mortais e, às vezes, inimigos. Fonte: captura de tela.

Ainda, as Tumbas de Desafio e criptas definitivamente brilham neste jogo. As criptas são quase que como “mini-tumbas”, com puzzles mais simples e recompensas menores, como peças de roupa, por exemplo, e oferecem um desafio mais rápido e recompensador.

Em Shadow of the Tomb Raider as Tumbas de Desafio alcançam um outro nível. Os puzzles não são tão objetivos como “escale aqui para ativar isto”. É necessário colocar a cabeça para funcionar para resolver alguns enigmas ou encontrar alavancas escondidas onde você menos imagina – os instintos de sobrevivência ajudam, mas Lara não irá resolver nada  pelo jogador. Algumas Tumbas combinam puzzles, escaladas bastante mortais e inimigos, tudo ao mesmo tempo, para que Lara encontre um mural que concede uma habilidade especial (que só pode ser conseguida ao terminar uma Tumba e não pode ser comprada com XP).

Exploração e Side-Questzzz

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Missões opcionais não são exatamente as coisas mais divertidas do jogo. Fonte: captura de tela.

Se você curte aquele processo de ir atrás de coletáveis, vai se divertir muito com Shadow of the Tomb Raider. Assim como seus predecessores, o jogo é repleto de relíquias, arquivos, baús e mais itens de todo o tipo para serem procurados e coletados. Essa busca não é vazia, no entanto. Além daquela recompensa em pontos de experiência básicos, Lara também aprende dialetos da região – o que leva a outros segredos escondidos.

Talvez um dos maiores problemas de Shadow of the Tomb Raider sejam as side-quests. Praticamente nenhuma delas agrega algo de relevante para a história principal do game, para Lara Croft em si ou até mesmo para a cidade de Paititi (o grande hub do jogo). Tudo gira em torno de questões pessoais de habitantes da cidade, em situações que não geram nenhuma empatia a não ser pensar em qual recompensa você pode receber – e se vale a pena perder tempo fazendo aquilo.

No entanto, apesar de as side-quests serem sim um tanto chatas e irrelevantes, os designers de Shadow of the Tomb Raider foram bem espertos. Topar fazer uma dessas missões paralelas provavelmente vai te levar até um local inesperado onde você irá encontrar mais tesouros e arquivos, talvez uma nova tumba ou cripta. Então, apesar dos pesares, até que vale a pena encarar o chororô de alguns dos habitantes de Paititi.

Algumas promessas não cumpridas

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Game ficou devendo uma narrativa mais envolvente. Fonte: captura de tela.

Shadow of the Tomb Raider deveria ser o grande momento de transição em que vemos Lara Croft se tornar a desbravadora que estava destinada a ser. Ainda que o jogo coloque a heroína em uma situação em que ela terá que amadurecer ao encarar as consequências de atos de sua responsabilidade, o game não traz uma narrativa tão brilhante para marcar o que deveria ser a ascensão definitiva de Lara Croft.

A história do jogo acaba sendo confusa e parece bem mais grandiosa do que realmente é. O início é bastante empolgante e emocional, especialmente com uma participação mais relevante de Jonah. Com o passar do tempo, as coisas ficam bastante mornas, até que a narrativa ganhe energia novamente. No entanto, em um comparativo com “Rise”, temos personagens secundários bem mais cativantes – inclusive com uma figura feminina tão poderosas quanto Lara.

Com ligações confusas e um tanto jogadas entre o passado da protagonista e da Trindade, o desenrolar da trama de Shadow of the Tomb Raider certamente eleva Lara a um status de heroína, mas esta deve ser a história mais fraca de todos os títulos até aqui. A narrativa não somente falha em entregar um mistério interessante a ser desvendado, mas também não traz uma carga emocional que este jogo pedia, com tantas descobertas pessoais e o amadurecimento que a personagem acaba vivenciando.

Qualidade gráfica e estética

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Apenas um dos belos cenários de Shadow of the Tomb Raider. Fonte: captura de tela.

Vale a pena destacar aqui o bom trabalho das desenvolvedoras em fazer mais um belo jogo da série Tomb Raider. Dos três lançados até agora, este é o mais bonito esteticamente. Os cenários e a ambientação favorecem bastante, com cores vivas e vibrantes das florestas, áreas aquáticas muito bem feitas e alguns abismos e horizontes impressionantes.

No entanto, ainda falta algo mais. Shadow of the Tomb Raider é sim muito bonito, mas não é daqueles jogos que você quer parar o tempo inteiro para usar o modo foto (que está lá, aliás) como Uncharted 4 ou God of War. Mesmo assim vale apontar o belíssimo trabalho de fotografia de algumas cenas de corte do jogo (nestes momentos, sim, dá muita vontade de capturar a tela).

Com relação à qualidade gráfica em si, o game tem quase o mesmo patamar que “Rise” mas, por algum motivo, o antecessor parece ter animações melhores, especialmente dos personagens. O segundo game da nova saga de Lara tinha rostos mais expressivos e uma movimentação bem mais natural, principalmente nas cutscenes. Isso não significa que “Shadow” é exatamente ruim, mas “Rise” parece um pouco mais polido nesse aspecto.

Mais uma grande aventura

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Troféu de conclusão da campanha resume bem a experiência de Shadow of the Tomb Raider. Fonte: captura de tela.

Shadow of the Tomb Raider é muito bom, sim, mas por ser a conclusão de uma trilogia e o momento em que Lara Croft se torna a desbravadora que estava destinada a ser (nas palavras da própria Square), era de se esperar um pouco mais do aspecto narrativo.

11O gameplay é bem redondinho e muito gostoso de jogar, mesmo não dando passos muito largos além da fórmula de Rise of the Tomb Raider, na boa e velha estratégia do “em time que está ganhando não se mexe” – e não há problema algum nisso. No entanto, é importante destacar que o jogo brilha muito mais com suas Tumbas e escaladas mortais. O combate mais furtivo combina bem mais com o gênero e com a própria situação em que Lara se encontra e funciona muito bem também com o design dos cenários da floresta amazônica. É uma evolução mais sutil, mas que agrega muito à experiência.

Todos estes aspectos que elevam o nível de desafio combinam bastante com o amadurecimento da heroína da saga, ainda que a história de Shadow of the Tomb Raider não seja tão grandiosa quanto uma personagem como Lara Croft merece.

Veredito

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Bruna Mattos
Bruna Mattos
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Jogando agora: Nada no momento.
Bruna é redatora no MeuPS4 e PlayStation desde criancinha. É fã das franquias Resident Evil, Metal Gear, Uncharted e The Last of Us.