Desperados III: vale a pena?
Título se destaca pela boa jogabilidade, mas pode ser frustrante para novatos da série
Quando alguém veste as roupas de um cowboy, imagina-se que ele tentará ser o “gatilho mais rápido” do velho-oeste. Mas não é ao som de bang-bang que se sobrevive no mundo de Desperados III. Na verdade, é necessária muita esperteza e furtividade para atravessar cada um dos níveis no jogo da Mimimi Games.
A franquia não recebia um game novo há 14 anos, quando Desperados 2: Cooper’s Revenge chegou ao PC. Portanto, não é difícil imaginar que boa parte dos jogadores sejam novatos neste universo. A Mimimi parece reconhecer isso ao criar uma jogabilidade bastante fluida em consoles – algo raro em títulos RTTs (táticas em tempo real) – mas mesmo assim, a experiência pode ser frustrante por conta da dificuldade das fases.
História abraça novos jogadores
Sendo o terceiro título da série, imagina-se Desperados III como a sequência de uma longa história, certo? Errado. Assim como pensou em abraçar novos jogadores no quesito jogabilidade, a Mimimi Games também desenvolveu uma narrativa que não os obrigassem a visitarem títulos antigos para entenderem-na.
A história é uma prequel dos jogos anteriores e segue o protagonista John Cooper, um caçador de recompensas, que busca vingança contra um pistoleiro chamado Frank. Enquanto atravessa estados como Colorado e New Mexico à sua procura, ele conhecerá outros personagens amados pelos fãs, como Kate O’Hara e Doc McCoy.
Dada a grande diferença de tempo entre os lançamentos do segundo e terceiro games, esta foi uma bela sacada da desenvolvedora. Novatos têm a chance de se apegarem aos personagens, ao mesmo tempo em que fãs antigos conseguem descobrir mais sobre seus respectivos passados. Ponto para o jogo.
Por outro lado, a falta de dublagem e legendas em português do Brasil é um grande empecilho para quem quiser se aprofundar em Desperados III. Narrativa e menus não estão localizados, limitando o game apenas à pessoas fluentes em outras línguas.
Jogabilidade ótima, mas dificuldade pode ser problemática
A Mimimi fez questão de criar uma portabilidade digna para o PS4, sem torná-la maçante. Os controles são bem desenvolvidos e os gamers não sentem falta de um mouse ou teclado, como acontece na maioria dos RTTs ou RTSs que recebem versões de consoles.
Os jogadores possuem um campo de visão aéreo do mapa e precisam conduzir Cooper e seus amigos através de fases bem elaboradas, a alcançarem um objetivo final (normalmente matar alguém, destruir ou achar alguma coisa). Para isso deve-se passar por dezenas de capangas que vigiam o perímetro. Os players sempre estarão em menor número, portanto, o ideal é completar a fase sem acionar alarmes ou mais guardas aparecerão para tornar sua vida mais complicada.
Cada inimigo tem um raio de visão grande, precisando ser evitado a todo custo. A área é mostrada em formato cônico, sendo que a parte verde determina onde eles vêem tudo claramente. Ainda existem os setores listrados (normalmente em sombras), nos quais não perceberão seus movimentos se você andar agachado.
É aí que as habilidades especiais únicas dos cinco personagens jogáveis vêm a calhar. Cooper pode atirar moedas para fazer barulho e distrair inimigos. Kate, por sua vez, se disfarça e usa seu charme para “xavecar” cowboys, dando brecha para seus amigos passarem por certas áreas. Hector arma armadilhas, McCoy atira silenciosamente e Isabelle usa vudu para confundir os adversários. É muito legal explorar as possibilidades oferecidas, pois abrem margem para elaborar inúmeras estratégias nas mais diversas situações.
Gamers menos estrategistas, no entanto, podem passar por maus bocados em Desperados III – dá até pra dizer, com o perdão do trocadilho, que ficarão desesperados. Um passo em falso resultará em morte. Se um dos personagens perecer, o jogador será obrigado a voltar ao último checkpoint e provavelmente – mais uma vez com o perdão do trocadilho – ficarão de Mimimi. Acredite: se você não dominar as técnicas de cada personagem, mortes se tornarão corriqueiras.
Para evitar restarts constantes, o jogo oferece uma mecânica muito bem construída: o modo Showcase. Ao ativá-lo, o game é pausado e o jogador poderá planejar sua ação – mover um personagem de ponto A para ponto B, matar um inimigo, etc. É uma boa para quem tem paciência e prefere atravessar a missão com cautela.
Os players ainda perceberão como a inteligência artificial é fraca. Quando se alerta os inimigos de que algo está errado (ainda não te viram), eles tentam te procurar. E por vezes, deixarão de checar arbustos e outros esconderijos óbvios, exatamente onde você se encontra. Isto pode ser um alívio, mas mostra falha clara na I.A.
Gráficos simples, porém agradáveis
Obviamente, nunca se espera gráficos de títulos AAA em RTTs. Por isso, não vá pensando que ao entrar em Desperados III você vai ver o rosto bem construído de Arthur Morgan (Red Dead Redemption 2) em John Cooper.
Como já dito nesta crítica, os jogadores visualizam o mapa em plano aéreo. E mesmo com tantas diferenças entre ambientes (em uma hora se está no cidade e outra no meio do campo), os jogadores conseguem distinguir bem cada esconderijo, as classes de cada inimigo e outros.
Mesmo assim, o jogo apresenta uma ferramenta que ilumina esconderijos, caso ainda esteja difícil visualizá-los. Ao pressionar o botão L3, arbustos e galpões ficarão em destaque na tela, ajudando a identificar esses pontos de refúgio. Isto é ótimo para quem tem deficiências visuais, por exemplo.
Desperados III: vale a pena?
É seguro dizer que Desperados III não tem muitos concorrentes do gênero RTT no PlayStation 4. Além disso, a história é um prato cheio para os amantes do velho-oeste. Se você gosta de colocar seu cérebro para funcionar e curte pagar de xerife, a experiência pode ser gratificante.
A Mimimi Games até procura formas de fazer jogadores que jamais tinham desfrutado da série se sentirem à vontade (com uma narrativa, mecânicas e controles bem feitos), mas eles podem ficar frustrados com a alta dificuldade imposta em 30 horas de gameplay.
Na PlayStation Store, o título custa R$ 249,90 atualmente, um investimento pesado em uma época onde os gamers estão voltando suas atenções para exclusivos de PS4, como The Last of Us Part II e Ghost of Tsushima. Por isso, talvez valha pena pensar um pouco. A não ser, claro, que você muito fã do gênero.
Veredito
Vantagens
- Boa variedade de personagens
- Controles bem feitos para consoles
- Narrativa bem construída
Desvantagens
- Problemático para novatos na série
- Não há localização para PT-BR
- I.A. pouco inteligente