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Cult of the Lamb: vale a pena?

Cult of the Lamb se estabelece como um dos melhores jogos independentes do ano por ser divertido, viciante e bastante objetivo

por Raphael Batista
Cult of the Lamb: vale a pena?

É normal vermos jogos em que é preciso derrubar um culto lunático em nome do bem. Mas e quando os papéis invertem, e os jogadores são colocados para assumir a gestão desse culto? Isso pode soar estranho no primeiro momento, mas Cult of the Lamb atraiu os olhares da comunidade gamer desde o primeiro momento.

O jogo da Massive Monster e Devolver Digital chamou a atenção porque não é todo dia que se vê personagens fofinhos em uma história tão macabra a ponto de envolver possessões e o gerenciamento de um culto a uma entidade. Ele é direto e não possui rodeios, oferece ao jogador diversão do início ao fim com sua premissa e mecânicas simples.

Tudo isso alinhado ao gameplay viciante, o título é um dos games independentes mais divertidos do ano. Acessível para todo tipo de jogador, desde os mais casuais até para quem gosta de um desafio. É um jogo que vale a pena cada minuto investido!

Antes de entrarmos propriamente na análise, ressaltamos que somente a resposta tátil do DualSense é utilizada no game. O recurso acontece o tempo todo e é até engraçado como o controle vibra para toda situação. Não há uso dos gatilhos adaptáveis.

Redenção ou vingança

As primeiras cenas de Cult of the Lamb explicam todo o roteiro do game. O protagonista, um cordeirinho, é o último de sua espécie e ele foi capturado pelos deuses da Antiga Fé. O ritual de sacrifício fará com que a “Antiga Fé seja preservada”. No entanto, a entidade “Aquele que Espera” – um antigo deus aprisionado –  salva o animal, concede poderes demoníacos e pede para ele matar os quatro deuses da Antiga Fé a fim de libertar os dois de um destino horrível.

Nos primeiros dez minutos, o jogo já apresenta cenários assustadores, criaturas bizarras e uma temática pesada. Essas características, em contraste ao design fofinho do protagonista, cativam o jogador que fica a serviço do Aquele que Espera, mas desenvolve suas próprias pretensões e objetivos. Logo, a jornada se resume em: derrotar os quatro deuses para libertar a antiga divindade ou se rebelar contra todos para criar o seu próprio culto?

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Uma história direta, mas beeeem sombria. Fonte: Raphael Batista.

Cult of the Lamb acerta justamente na história objetiva: derrube os quatro deuses, confronte seu destino e decida o que fazer com seu culto. Isso cria uma identificação com o tema “rebeldia contra as divindades” — como em God of War — por ser um jeito de lutar contra o próprio destino, superar as adversidades e mostrar que cada um é dono da sua própria história. Ainda mais pensando em um cordeirinho, um animal tão indefeso.

Além disso, toda a construção do universo convence, porque há muitas referências religiosas. Por exemplo, existem chefões como Baal, uma deidade bíblica; e Shamura, um deus que lembra muito o Shuma Gorath, entidade do universo Marvel. Esses paralelos ajudam o jogador a criar empatia pelo cordeirinho, que não é mais indefeso e pode definir o rumo da sua história.

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As monstruosidades são bem construídas. Fonte: Raphael Batista.

Animal Crossing do capiroto?

A jogabilidade de Cult of the Lamb se destaca por mesclar dois gêneros: gerenciamento e dungeon crawler. O jogador precisa explorar quatro vezes os quatro reinos diferentes para enfrentar o deus daquela região. Em cada tentativa, o cordeirinho coleta matérias-primas, moedas, conhece NPCs e obtém vários recursos. Ao terminar as expedições – cada uma delas girando em torno de 10 minutos – chega o momento de gerenciar o culto.

Conforme o cordeirinho recruta novos seguidores, as demandas do culto aumentam: é necessário cuidar da alimentação, da higiene, habitação e deixar a fé em alta. Para isso, existem os rituais e sermões na capela, além de outras atividades. Lembre-se: o jogo constantemente mescla o fofinho com o macabro. Então, caso seu culto esteja em uma crise de fé, é possível fazer um Ritual de Sacrifício para invocar o Cthulhu e matar um dos seguidores para os demais orarem mais.

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Saber gerenciar o seu culto é essencial. Fonte: Raphael Batista.

Atividades não faltam no culto. Além de realizar construções específicas, é possível personalizar com decorações e caminhos únicos. Os seguidores ainda fornecem tarefas aleatórias como resgatar um amigo em uma área ou servir um pote de cocô como almoço (sim, é isso mesmo que você leu). Os NPCs também aumentam a gama de afazeres da região, incluindo um minigame de dados bem inteligente e gostoso de jogar.

Infelizmente, o endgame é bem limitado. Após concluir a jornada, não há muito o que fazer pelo culto. Não existem novos desafios ou incentivos para ficar no game. Enquanto a campanha está acontecendo, é impossível se desconectar do jogo, mas após o fim dela, não tem muito conteúdo para descobrir.

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Tudo tem pequenos inícios, inclusive seu poderoso culto. Fonte: Raphael Batista.

Combate divertido e viciante

O segundo elemento cativante de Cult of the Lamb é a jogabilidade. O game se assemelha bastante no estilo de Hades ou The Binding of Isaac. Há quatro reinos, com armadilhas e inimigos específicos — cada um deles oferece minichefes únicos da região. O jogador passa por “salas” que oferecem recursos ou desafios únicos até chegar ao estágio final onde se depara com o boss.

Claro, assim como os games citados, o título da Devolver Digital possui seu aspecto roguelite. Se morrer durante a expedição, você perde os recursos coletados. Porém, uma informação é importante: a dificuldade é bem equilibrada. O game oferece modos de dificuldade (fácil, normal, difícil e muito difícil) sendo que o modo padrão é tranquilo.

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Prepare-se para combates divertidos. Fonte: Raphael Batista.

Há uma boa variedade de armas e poderes — desbloqueados a partir do nível de devoção do culto — e uma grande variedade de inimigos. Os monstrinhos ainda possuem modificadores, como liberam venenos, soltam bolas de fogo e causam explosões.

É bem viciante como os dois aspectos do game dependem entre si. As expedições para coletar dinheiro e seguidores aumenta a devoção do culto enquanto que, em contrapartida, o aumento da fé libera mais armas, poderes e ferramentas para as expedições. Essa mistura é natural e não torna nenhum dos lados cansativos.

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As melhorias funcionam para o gerenciamento e para as expedições. Fonte: Raphael Batista.

Quanto menos, melhor

Ultimamente, um dos principais defeitos dos jogos é inserir muitas mecânicas, muitas atividades e poucas deles serem realmente importantes para a experiência. Porém, tudo demonstrado em Cult of the Lamb tem uma boa utilidade — até mesmo as tarefas secundárias que garantem pontos preciosos para a felicidade do culto.

Neste jogo, o simples não significa simplório. Não existem árvores de habilidades complexas ou vários marcadores para você desvendar. Há uma aventura que oferece tudo muito bem feito e sem “encheção de linguiça”. Tanto é que, para completar a história no modo Normal, 15h são o suficiente. Os platinadores levarão um pouquinho mais de tempo, entre 20h e 25h.

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As mecânicas do game são simples e funcionam durante toda a experiência. Fonte: Raphael Batista.

Vade retro, Satanás!

Embora o título tenha muitas características positivas, ele não está livre de falhas. Na verdade, há muitos relatos de bugs e problemas técnicos — principalmente para os jogadores dos consoles. Durante o período de testes, aconteceu de inimigos ficarem invisíveis, o jogo travar e até mesmo a tela ficar inclinada para o lado direito sem nenhuma explicação.

A Massive Monster já anunciou estar trabalhando em uma atualização para corrigir todos os defeitos e os jogadores podem contribuir com rápidos reports dos bugs. A maioria dos erros não compromete a experiência, mas é frustrante chegar ao final de uma expedição e precisar reiniciar o game por causa de um defeito do jogo.

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Possivelmente, o update sairá em breve. Fonte: Raphael Batista.

Além disso, o título sofre em alguns momentos com a taxa de quadros. Em salas que têm muitos inimigos, armadilhas e explosões acontece uma queda notória de FPS, complicando um pouco dos comandos. Isso não é recorrente, mas pode custar pontos de vida preciosos para os jogadores.

Cult of the Lamb: vale a pena?

Cult of the Lamb é um dos jogos independentes mais divertidos do ano. A mistura entre o fofo e o macabro, o gameplay de gerenciamento e combate em expedição e até a ligação entre ambos os aspectos, deixa o jogador viciado em cuidar dos seguidores de seu culto para aumentar o nível de fé.

Os bugs e problemas técnicos deverão estar ajustados nos próximos dias, mas seria interessante ver algum update para inserir novidades que estendem a vida útil do game, como um Modo Desafio. Embora a experiência seja divertida e muito bem aproveitada em todas as mecânicas, ela oferece pouco incentivo após o término da campanha.

É um título que vale totalmente o investimento. A dificuldade equilibrada atrai todos os tipos de jogadores e a história se sustenta por si própria. Expandindo a influência do culto e derrotando os hereges, os jogadores perceberão o quão satisfatório é liderar uma seita um tanto quanto assustadora — cruz credo.

Veredito

Cult of the Lamb
Cult of the Lamb

Sistema: PlayStation 4 | PlayStation 5

Desenvolvedor: Massive Monster

Jogadores: 1

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88 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Combate preciso
  • História cativante e objetiva
  • Mecânicas fáceis e divertidas
  • Dificuldade justa
  • Gameplay viciante
  • Mistura perfeita entre o fofo e o macabro
Desvantagens
  • Bugs frequentes
  • Conteúdo endgame limitado
Raphael Batista
Raphael Batista
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Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.