Alan Wake 2: vale a pena?
Alan Wake 2 traz uma história que te prende, personagens carismáticos, mas escorrega em bugs
O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel definiu a palavra “realidade” como “a unidade imediata (síntese) entre essência e existência, entre o interno e o externo”. Pois bem, Alan Wake 2 parece surfar nesse conceito. O que é real? Como o nosso lado interior pode afetar o exterior e vice-versa?
A sequência do jogo lançado em 2010 pela Remedy chega com claras diferenças em relação ao seu antecessor, mas não deixando de ter várias semelhanças. Plot twists, batalhas entre luz e escuridão, conexões com Control… tudo se encontra aqui. Ao mesmo tempo, há novidades interessantes, como a troca do gênero de ação para um survival horror, e a adição de uma segunda protagonista.
Vibe de Stranger Things?
Alan Wake 2 conta duas histórias em paralelo, que estão inteiramente conectadas. Saga Anderson é uma agente do FBI enviada à pacata cidade de Bright Falls, para investigar um crime e a formação de uma seita do mal. Enquanto isso, o velho herói está preso no “Lugar Obscuro”, uma espécie de “mundo invertido” da série Stranger Things, onde ele precisa redigir histórias para alterar a realidade e escapar.
Saga é uma personagem forte mentalmente, tendo até a habilidade de buscar respostas sobre os casos que investiga dentro de sua própria cabeça. Essa característica é o ponto central da personagem, especialmente porque ao longo do game, alguns fatos, que levariam qualquer pessoa sã à loucura, não a afetam tanto quanto poderiam. Sua calma a guia em momentos-chave, mesmo em meio a tantos questionamentos: “quem é o autor do crime?”, “fulano faz parte da seita?”, “o que aconteceu foi real?”, etc.
Alan, por sua vez, parece um homem destruído. No primeiro game, cuja remasterização chegou em 2021, ele já apresentava sinais de fraqueza por seu bloqueio mental ao escrever — algo “inaceitável” para o lendário autor de best-sellers. Agora, na sequência, ele está beirando à loucura, pois se encontra preso por 13 anos em uma Nova York “invertida”, onde seus medos e pesadelos se manifestam.
O destino dos dois se entrelaça justamente pela ida de Saga à Bright Falls, local onde Alan foi dado como desaparecido em 2010. Enquanto investiga a “Seita da Árvore”, a agente do FBI se depara com os manuscritos do escritor, que, de algum jeito, viajam de uma realidade para a outra. Esses pedaços de papel descrevem com precisão eventos futuros da personagem, ajudando-a em sua saga (perdão pelo trocadilho) e a desvendar o sumiço do homem.
Novamente, a Remedy se sobressai na construção de tramas e da narrativa. Toda a história não deixa furos e, embora seja confusa em determinados momentos, faz o jogador querer devorar mais e mais conteúdo — é viciante.
Também vale mencionar os retornos de certos personagens, que pouco brilharam em Alan Wake (2010), mas, dessa vez, têm papéis relevantes e adicionam muitos elementos à trama. Isso sem contar as presenças marcantes dos novatos Alex Casey, interpretado pelo dev Sam Lake, e Kiran Estevez, agente da FBC (agência secreta do jogo Control).
Gameplay de Alan Wake 2 é construído fora da realidade
O gameplay é outro dos pontos fortes de Alan Wake 2. Existem vários aspectos positivos a se exaltar neste assunto, a começar pelas jogabilidades de Saga e Alan, que possuem características únicas.
Saga, como federal que é, tem um “cantinho” para sentar e trabalhar. Esse escritório é sua própria mente (local fora da realidade, mas que é real), onde ela reúne pistas e traça perfis de outros personagens, para chegar a conclusões que a fazem avançar na campanha.
Enquanto isso, Alan também conta com uma salinha dentro de sua cabeça. Lá, ele consegue criar roteiros para as suas histórias e alterar a realidade dos cenários conforme o que ele redigiu em sua máquina de escrever. Isso também o faz progredir pelos mapas.
Mapas, aliás, que estão bastante intuitivos e de fácil entendimento — em Control, este elemento era um baita problema. Também vale citar que a Remedy parece ter buscado inspiração em Resident Evil para seus designs. Uma escolha acertada.
Falando em Resident Evil, Alan Wake 2 bebe muito dessa água. O game optou por uma abordagem de survival horror, ao invés do terror mais voltado para ação, no qual seu antecessor seguiu. Não só isso, mas os “Possuídos” (um dos inimigos achados pelo caminho) têm animações de locomoção e dano sofrido muito semelhantes às dos zumbis da franquia da Capcom.
Quanto ao combate, não há mistérios: Alan e Saga utilizam uma lanterna para se defender dos espíritos e dos Possuídos. Basta mirar a luz do objeto em um deles, até certo ponto, onde haverá como atingi-los. Aí, é só atirar com sua arma para mandá-lo para o outro mundo.
Por fim, há um grande “porém” no gameplay. Em determinados momentos da campanha, o jogador pode se sentir perdido sobre o que fazer. E embora o jogo te incentive a visitar às mentes de Saga e Alan para conseguir uma dica ou outra de progressão, alguns puzzles exigem um alto nível de atenção a detalhes mínimos, levando o player a gastar bons minutos (ou horas) procurando soluções.
Alan Wake 2 é assustador!
No Alan Wake original, um elemento deixava os fãs menos empolgados ao pegarem o controle: a falta do medo. Lá, os perigos simplesmente não assustavam os jogadores, pois eram extremamente previsíveis. Pois bem, isso muda totalmente na sequência.
A escuridão reserva perigos em todos os lados: sombras, Possuídos, lobos, etc. Eles já assustam às suas maneiras, mas conforme Alan e Saga progridem pelos cenários, a ambientação sombria faz o player engolir em seco. Não só isso, mas frequentemente, o jogador é pego em jump scares em cenas gravadas por live action (como outros jogos da Remedy já costumavam fazer).
“Wake”, Remedy!
A otimização é o Calcanhar de Aquiles de Alan Wake 2. Exclusivo para nova geração de consoles e PC, o game sofre em determinados aspectos, quando não deveria.
Mesmo possuindo dois modos gráficos (Qualidade em 4K/30 FPS e Desempenho em 1080p e 60 FPS), o jogo acaba frustrando. Em “Qualidade” há quedas bruscas de FPS, especialmente em ambientes chuvosos ou muito iluminados. Já em “Desempenho”, a taxa de quadros também cai com certa constância, mas de maneira menos perceptível.
Ora ou outra, o jogador também se depara com bugs visuais na interface, iluminação ou em prompts de comando. Em certos momentos, a mira da arma na tela pode sumir (junto com o próprio armamento) e te deixar sem defesa. Além disso, ao precisar fazer uma ação, o botão necessário para tal pode não se revelar — exigindo recarregar o save.
As legendas em PT-BR são outro problema. Em quase todo diálogo, elas aparecem fora da hora certa e/ou com parágrafos gigantescos. Isso atrapalha a compreensão da narrativa para quem não possui bom nível de inglês.
A direção de arte caprichou ao desenhar os cenários, especialmente a Nova York “invertida” já mostrada em prévias fornecidas pela Remedy. A trilha sonora é outro show à parte, com o retorno da banda fictícia Old Gods of Asgard — para delírio dos metaleiros de plantão.
Alan Wake 2: vale a pena?
Em um ano onde o gênero de survival horror brilhou, Alan Wake 2 tinha tudo para estar na prateleira mais alta, junto dos remakes de Resident Evil 4 e Dead Space. Entretanto, a constante presença de bugs indica que seu adiamento poderia ter sido a melhor opção para a Remedy.
Sua bela história, personagens marcantes e gameplay de boa qualidade justificam uma compra, especialmente para quem aguardava ansioso pela sequência desde o já longínquo ano de 2010. Vale ainda citar positivamente que o jogo possui cerca de 20h de gameplay e contará com um New Game+ e DLCs pós-lançamento.
Por outro lado, fica novamente a ressalva: pelo menos até a Remedy lançar updates, o jogador ficará a mercê de bugs. Talvez, o melhor seja aguardar esses pacotes virem. Até porque, existe um game muito bom aqui, que só precisa de carinho na otimização.
Veredito
Alan Wake 2
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Remedy Entertainment
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- História que não faz o jogador se desprender
- Jogo é bem mais assustador que o seu antecessor
- Gameplay de boa qualidade
- Design de mapas evoluiu em relação a Control
- Direção de arte de alta qualidade
- Trilha sonora de primeira
Desvantagens
- Quedas de FPS no modos Qualidade e Desempenho
- Bugs na iluminação
- Bugs na interface e em prompts de comando
- Jogador pode ficar perdido em certas ocasiões
- Legendas fora de hora