Não se deixe enganar: conheça a VERDADEIRA história de Vergil em Devil May Cry
Apesar de ser equilibrada no sentido de ação e ritmo, série da Netflix passa má impressão sobre os personagens, especialmente Vergil
Quando pensamos em Vergil, o filho mais velho de Sparda e Eva da franquia Devil May Cry, é fácil imaginar um espadachim frio, calculista e orgulhoso, cuja busca por poder é tão afiada quanto sua katana Yamato.
Nos jogos, ele é um ícone de força, honra e complexidade emocional. Mas, se você já assistiu ao anime Devil May Cry, da Netflix, pode ter ficado com uma impressão bem diferente — e, francamente, um tanto decepcionante.
Então, prepare-se: vamos desmascarar a versão “alternativa” de Vergil no anime e mergulhar na verdadeira história desse personagem lendário, contada como ela merece — com toda a profundidade, emoção e impacto que os jogos nos entregam.
Vergil da Netflix: um servo sem alma
No anime recém-lançado pela Netflix, Vergil aparece em um flashback breve e na cena final — para ser honesto, quase irreconhecível. Ele não aparenta ser o guerreiro orgulhoso que desafia deuses e demônios por conta própria.
Em vez disso, é retratado como um peão nas mãos de Mundus, o Rei do Submundo. Não há traços de sua ambição característica ou daquela aura de superioridade que o define nos jogos. Ele parece ser apenas… obediente.
Pior ainda, sua única fala é saída de um roteiro genérico de vilão de sábado à tarde, com um fanservice que certamente fará os fãs mais fervorosos ficarem com aquela expressão de “tinha necessidade disso?”.

Cadê o peso? Cadê a essência? É como se a Netflix tivesse pegado um dos personagens mais fascinantes da série e o reduzido a uma sombra sem propósito. E bom, como um nome emblemático no hack and slash, isso é imensamente frustrante.
Não caia em contos: a história verdadeira de Devil May Cry
Em um universo onde o rugido de motosserras demoníacas corta o silêncio e o sangue de anjos e demônios mancha o chão, há um nome que ressoa com uma mistura de reverência e temor: Vergil, o filho mais velho de Sparda, o demônio que traiu sua própria espécie para salvar a humanidade, e Eva, a mulher humana que deu aos gêmeos um coração dividido entre dois mundos.
A história de Vergil é mais do que uma sequência de batalhas — é uma tragédia grega com espadas, um conto de ambição, queda e, no fim, uma busca silenciosa por redenção. Vamos contá-la como ela merece.
O legado de Sparda
A história de Vergil começa antes mesmo de seu nascimento, enraizada no mito de Sparda, o demônio lendário que traiu sua própria espécie para proteger a humanidade. Sparda, ao lado da humana Eva, gerou dois filhos: Dante e Vergil.
Gêmeos, mas opostos em essência, os irmãos nasceram com o sangue demoníaco correndo em suas veias, um legado que os tornariam tanto heróis quanto alvos. Enquanto Dante abraçava a irreverência e o caos, Vergil escolheu a disciplina, a ordem e a busca incessante por poder — uma escolha que definiria seu destino.
Criado em um lar que logo seria destruído, Vergil tinha apenas sete anos quando o inferno bateu à sua porta. Após a morte de Sparda, demônios enviados por Mundus, o Rei do Submundo, atacaram a família. Eva, em um ato de sacrifício, escondeu Dante, mas Vergil, separado da mãe e do irmão, testemunhou o horror de sua perda.
Sozinho, ferido e impotente, ele jurou nunca mais ser fraco. Esse momento traumático, revelado em Devil May Cry 3: Dante’s Awakening, plantou a semente de sua obsessão: o poder absoluto como escudo contra a vulnerabilidade.
O caminho do guerreiro
Vergil não é apenas um espadachim; ele é a personificação da perfeição marcial. Armado com a Yamato, uma katana imbuída do poder de Sparda, ele transformou sua dor em técnica. A Yamato não é apenas uma arma — é uma extensão de sua alma, capaz de cortar o tecido da realidade e separar o humano do demoníaco.
Em Devil May Cry 3, vemos o jovem Vergil em seu auge, um contraste elegante e frio contra o estilo desleixado de Dante. Aqui, ele não é o vilão tradicional, mas um antagonista movido por propósito: reabrir o Temen-ni-gru, a torre que conecta o mundo humano ao Inferno, para reivindicar o poder de Sparda e, em sua visão, proteger o que restou de seu legado.

Sua aliança com Arkham, um humano ambicioso, revela a dualidade de Vergil. Ele despreza a fraqueza da humanidade, mas não hesita em usá-la para seus fins.
Quando confronta Dante no topo da torre, a batalha é mais do que física — é um choque de filosofias. Dante luta por liberdade; Vergil, por controle. Derrotado, ele escolhe mergulhar no abismo do Inferno em vez de aceitar a ajuda do irmão, um ato de orgulho que selaria seu destino por anos.
Nelo Angelo: a queda e a escravidão
O que aconteceu após sua queda no Temen-ni-gru é uma das partes mais sombrias da saga de Vergil. Em Devil May Cry (o primeiro jogo da série), ele reaparece como Nelo Angelo, um cavaleiro negro sob o comando de Mundus.
Capturado e corrompido, sua mente foi fragmentada, seu corpo transformado em uma armadura viva. A Yamato foi substituída por uma espada colossal, e seu rosto, outrora sereno, escondido por um elmo demoníaco.
Quando Dante o enfrenta, há um lampejo de reconhecimento — a música de Eva toca em um amuleto, e Nelo Angelo hesita. Mas o controle de Mundus é absoluto, e Vergil, agora uma marionete, é derrotado. Sua armadura se desfaz, deixando apenas o amuleto, um símbolo de sua humanidade perdida.
Essa transformação é um golpe narrativo brilhante. Vergil, que buscava poder para nunca ser controlado, tornou-se o oposto: um escravo. Sua tragédia permanece como um eco do mito grego — um herói que, em sua hybris, é punido pelos deuses que desafiou.
O retorno e a redenção
Por anos, os fãs acreditaram que Vergil estava perdido para sempre. Mas Devil May Cry 5 trouxe sua ressurreição em uma narrativa densa e emocional. Após os eventos de Devil May Cry 4, onde Nero, o filho de Vergil, entra em cena, descobrimos que o espadachim não estava completamente morto.
Seu corpo, fragmentado após a derrota como Nelo Angelo, foi resgatado por forças misteriosas. Em um estado de deterioração, Vergil usou a Yamato para separar suas partes humana e demoníaca, dando origem a V (sua humanidade frágil) e Urizen (seu poder demoníaco puro).
Urizen, uma força destrutiva, planta a Qliphoth, uma árvore demoníaca que ameaça a humanidade, enquanto V busca Dante e Nero para detê-lo. O twist final revela a verdade: V e Urizen são Vergil, dividido. Quando os dois se fundem novamente, Vergil renasce, mais poderoso e, pela primeira vez, introspectivo.

Sua batalha final com Dante no topo da Qliphoth não é apenas um confronto de espadas, mas um acerto de contas. “Eu não vou perder para você de novo,” ele diz, mas há um tom de respeito mútuo. Após a luta, ele aceita selar o portal do Inferno ao lado de Dante, um ato que sugere o início de sua redenção.
Nero e o futuro
A relação com Nero é o ponto de virada para Vergil. Em Devil May Cry 5, confirmamos que Nero é seu filho, fruto de um breve romance em Fortuna anos antes. Vergil, ao arrancar o braço de Nero para recuperar a Yamato, não sabia da conexão. Quando a verdade vem à tona, ele enfrenta o jovem em um duelo que testa não apenas força, mas laços.
Nero, com sua determinação, impede que Dante e Vergil se destruam, gritando: “Eu não vou deixar vocês morrerem!” Pela primeira vez, Vergil cede — não por fraqueza, mas por algo novo: família.
No epílogo, enquanto corta frutas demoníacas no Inferno ao lado de Dante, Vergil mostra um raro vislumbre de leveza. Ele recita poesia, um hábito de V que sobreviveu, e provoca Dante com um desafio eterno. É um final agridoce: Vergil está preso no Inferno, mas vivo, reconciliado com seu irmão e, indiretamente, com seu filho.
Vergil: um homem dividido
A história de Vergil é uma tapeçaria de orgulho, tragédia e redenção. Ele é o espelho de Dante — onde o caçador de demônios encontra força na humanidade, Vergil a busca no poder demoníaco.
Sua jornada atravessa cinco jogos principais, cada um adicionando camadas a um personagem que começou como vilão e evoluiu para algo mais: um guerreiro em busca de si mesmo. A Yamato, sua constante companheira, simboliza essa dualidade — uma lâmina que corta, mas também une.
Para os fãs, Vergil é mais do que um espadachim estiloso ou um meme de “motivação”. Ele é a prova de que até os corações mais frios podem encontrar calor, mesmo que seja no calor da batalha ou no silêncio de um sacrifício.

Sua verdadeira história não termina no Inferno, mas vive na mente de quem segura o controle, pronto para mais um “Judgment Cut”. Afinal, como Vergil diria: “Poder é tudo.” Mas talvez, no fim, ele tenha descoberto que há mais do que isso — há legado, há família, há redenção.
Nos jogos, ele é um mosaico de luz e sombra; o herói trágico que escolhe o caminho errado, o vilão que carrega um coração humano enterrado sob camadas de aço, e o pai que, no fim, deixa um legado maior do que suas ambições. É a prova de que, mesmo em um mundo de demônios, a verdadeira batalha acontece dentro de nós.
Então, esqueça o Vergil apagado do anime. Na franquia da Capcom, ele é uma força da natureza, um espelho quebrado que reflete o melhor e o pior do que significa ser humano — ou algo mais. Essa é a história que vale a pena contar, e agora ela vive em você.
Ah, e quase esquecemos. A tempestade está se aproximando…