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Não se deixe enganar: conheça a VERDADEIRA história de Vergil em Devil May Cry

Apesar de ser equilibrada no sentido de ação e ritmo, série da Netflix passa má impressão sobre os personagens, especialmente Vergil

por André Custodio
Não se deixe enganar: conheça a VERDADEIRA história de Vergil em Devil May Cry

Quando pensamos em Vergil, o filho mais velho de Sparda e Eva da franquia Devil May Cry, é fácil imaginar um espadachim frio, calculista e orgulhoso, cuja busca por poder é tão afiada quanto sua katana Yamato.

Nos jogos, ele é um ícone de força, honra e complexidade emocional. Mas, se você já assistiu ao anime Devil May Cry, da Netflix, pode ter ficado com uma impressão bem diferente — e, francamente, um tanto decepcionante.

Então, prepare-se: vamos desmascarar a versão “alternativa” de Vergil no anime e mergulhar na verdadeira história desse personagem lendário, contada como ela merece — com toda a profundidade, emoção e impacto que os jogos nos entregam.

Vergil da Netflix: um servo sem alma

No anime recém-lançado pela Netflix, Vergil aparece em um flashback breve e na cena final — para ser honesto, quase irreconhecível. Ele não aparenta ser o guerreiro orgulhoso que desafia deuses e demônios por conta própria.

Em vez disso, é retratado como um peão nas mãos de Mundus, o Rei do Submundo. Não há traços de sua ambição característica ou daquela aura de superioridade que o define nos jogos. Ele parece ser apenas… obediente.

Pior ainda, sua única fala é saída de um roteiro genérico de vilão de sábado à tarde, com um fanservice que certamente fará os fãs mais fervorosos ficarem com aquela expressão de “tinha necessidade disso?”.

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Fonte: Netflix

Cadê o peso? Cadê a essência? É como se a Netflix tivesse pegado um dos personagens mais fascinantes da série e o reduzido a uma sombra sem propósito. E bom, como um nome emblemático no hack and slash, isso é imensamente frustrante.

Não caia em contos: a história verdadeira de Devil May Cry

Em um universo onde o rugido de motosserras demoníacas corta o silêncio e o sangue de anjos e demônios mancha o chão, há um nome que ressoa com uma mistura de reverência e temor: Vergil, o filho mais velho de Sparda, o demônio que traiu sua própria espécie para salvar a humanidade, e Eva, a mulher humana que deu aos gêmeos um coração dividido entre dois mundos.

A história de Vergil é mais do que uma sequência de batalhas — é uma tragédia grega com espadas, um conto de ambição, queda e, no fim, uma busca silenciosa por redenção. Vamos contá-la como ela merece.

O legado de Sparda

A história de Vergil começa antes mesmo de seu nascimento, enraizada no mito de Sparda, o demônio lendário que traiu sua própria espécie para proteger a humanidade. Sparda, ao lado da humana Eva, gerou dois filhos: Dante e Vergil.

Gêmeos, mas opostos em essência, os irmãos nasceram com o sangue demoníaco correndo em suas veias, um legado que os tornariam tanto heróis quanto alvos. Enquanto Dante abraçava a irreverência e o caos, Vergil escolheu a disciplina, a ordem e a busca incessante por poder — uma escolha que definiria seu destino.

Criado em um lar que logo seria destruído, Vergil tinha apenas sete anos quando o inferno bateu à sua porta. Após a morte de Sparda, demônios enviados por Mundus, o Rei do Submundo, atacaram a família. Eva, em um ato de sacrifício, escondeu Dante, mas Vergil, separado da mãe e do irmão, testemunhou o horror de sua perda.

Sozinho, ferido e impotente, ele jurou nunca mais ser fraco. Esse momento traumático, revelado em Devil May Cry 3: Dante’s Awakening, plantou a semente de sua obsessão: o poder absoluto como escudo contra a vulnerabilidade.

O caminho do guerreiro

Vergil não é apenas um espadachim; ele é a personificação da perfeição marcial. Armado com a Yamato, uma katana imbuída do poder de Sparda, ele transformou sua dor em técnica. A Yamato não é apenas uma arma — é uma extensão de sua alma, capaz de cortar o tecido da realidade e separar o humano do demoníaco.

Em Devil May Cry 3, vemos o jovem Vergil em seu auge, um contraste elegante e frio contra o estilo desleixado de Dante. Aqui, ele não é o vilão tradicional, mas um antagonista movido por propósito: reabrir o Temen-ni-gru, a torre que conecta o mundo humano ao Inferno, para reivindicar o poder de Sparda e, em sua visão, proteger o que restou de seu legado.

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Fonte: Reprodução

Sua aliança com Arkham, um humano ambicioso, revela a dualidade de Vergil. Ele despreza a fraqueza da humanidade, mas não hesita em usá-la para seus fins.

Quando confronta Dante no topo da torre, a batalha é mais do que física — é um choque de filosofias. Dante luta por liberdade; Vergil, por controle. Derrotado, ele escolhe mergulhar no abismo do Inferno em vez de aceitar a ajuda do irmão, um ato de orgulho que selaria seu destino por anos.

Nelo Angelo: a queda e a escravidão

O que aconteceu após sua queda no Temen-ni-gru é uma das partes mais sombrias da saga de Vergil. Em Devil May Cry (o primeiro jogo da série), ele reaparece como Nelo Angelo, um cavaleiro negro sob o comando de Mundus.

Capturado e corrompido, sua mente foi fragmentada, seu corpo transformado em uma armadura viva. A Yamato foi substituída por uma espada colossal, e seu rosto, outrora sereno, escondido por um elmo demoníaco.

Quando Dante o enfrenta, há um lampejo de reconhecimento — a música de Eva toca em um amuleto, e Nelo Angelo hesita. Mas o controle de Mundus é absoluto, e Vergil, agora uma marionete, é derrotado. Sua armadura se desfaz, deixando apenas o amuleto, um símbolo de sua humanidade perdida.

Essa transformação é um golpe narrativo brilhante. Vergil, que buscava poder para nunca ser controlado, tornou-se o oposto: um escravo. Sua tragédia permanece como um eco do mito grego — um herói que, em sua hybris, é punido pelos deuses que desafiou.

O retorno e a redenção

Por anos, os fãs acreditaram que Vergil estava perdido para sempre. Mas Devil May Cry 5 trouxe sua ressurreição em uma narrativa densa e emocional. Após os eventos de Devil May Cry 4, onde Nero, o filho de Vergil, entra em cena, descobrimos que o espadachim não estava completamente morto.

Seu corpo, fragmentado após a derrota como Nelo Angelo, foi resgatado por forças misteriosas. Em um estado de deterioração, Vergil usou a Yamato para separar suas partes humana e demoníaca, dando origem a V (sua humanidade frágil) e Urizen (seu poder demoníaco puro).

Urizen, uma força destrutiva, planta a Qliphoth, uma árvore demoníaca que ameaça a humanidade, enquanto V busca Dante e Nero para detê-lo. O twist final revela a verdade: V e Urizen são Vergil, dividido. Quando os dois se fundem novamente, Vergil renasce, mais poderoso e, pela primeira vez, introspectivo.

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Fonte: Reprodução

Sua batalha final com Dante no topo da Qliphoth não é apenas um confronto de espadas, mas um acerto de contas. “Eu não vou perder para você de novo,” ele diz, mas há um tom de respeito mútuo. Após a luta, ele aceita selar o portal do Inferno ao lado de Dante, um ato que sugere o início de sua redenção.

Nero e o futuro

A relação com Nero é o ponto de virada para Vergil. Em Devil May Cry 5, confirmamos que Nero é seu filho, fruto de um breve romance em Fortuna anos antes. Vergil, ao arrancar o braço de Nero para recuperar a Yamato, não sabia da conexão. Quando a verdade vem à tona, ele enfrenta o jovem em um duelo que testa não apenas força, mas laços.

Nero, com sua determinação, impede que Dante e Vergil se destruam, gritando: “Eu não vou deixar vocês morrerem!” Pela primeira vez, Vergil cede — não por fraqueza, mas por algo novo: família.

No epílogo, enquanto corta frutas demoníacas no Inferno ao lado de Dante, Vergil mostra um raro vislumbre de leveza. Ele recita poesia, um hábito de V que sobreviveu, e provoca Dante com um desafio eterno. É um final agridoce: Vergil está preso no Inferno, mas vivo, reconciliado com seu irmão e, indiretamente, com seu filho.

Vergil: um homem dividido

A história de Vergil é uma tapeçaria de orgulho, tragédia e redenção. Ele é o espelho de Dante — onde o caçador de demônios encontra força na humanidade, Vergil a busca no poder demoníaco.

Sua jornada atravessa cinco jogos principais, cada um adicionando camadas a um personagem que começou como vilão e evoluiu para algo mais: um guerreiro em busca de si mesmo. A Yamato, sua constante companheira, simboliza essa dualidade — uma lâmina que corta, mas também une.

Para os fãs, Vergil é mais do que um espadachim estiloso ou um meme de “motivação”. Ele é a prova de que até os corações mais frios podem encontrar calor, mesmo que seja no calor da batalha ou no silêncio de um sacrifício.

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Fonte: Reprodução

Sua verdadeira história não termina no Inferno, mas vive na mente de quem segura o controle, pronto para mais um “Judgment Cut”. Afinal, como Vergil diria: “Poder é tudo.” Mas talvez, no fim, ele tenha descoberto que há mais do que isso — há legado, há família, há redenção.

Nos jogos, ele é um mosaico de luz e sombra; o herói trágico que escolhe o caminho errado, o vilão que carrega um coração humano enterrado sob camadas de aço, e o pai que, no fim, deixa um legado maior do que suas ambições. É a prova de que, mesmo em um mundo de demônios, a verdadeira batalha acontece dentro de nós.

Então, esqueça o Vergil apagado do anime. Na franquia da Capcom, ele é uma força da natureza, um espelho quebrado que reflete o melhor e o pior do que significa ser humano — ou algo mais. Essa é a história que vale a pena contar, e agora ela vive em você.

Ah, e quase esquecemos. A tempestade está se aproximando…