Star Wars: Eclipse pode ser o que os fãs sempre esperaram?
Que a força esteja com os desenvolvedores
Quando criança, eu era um apaixonado por franquias que hoje integram universos compartilhados e já aparecem em múltiplas mídias. E é comum, quando amamos essas grandes histórias, torcemos para que possamos vê-las brilhar em diferentes formatos. Me lembro de ansiar por ver um bom jogo de Harry Potter, nos tempos em que os filmes estavam chegando aos cinemas. O mesmo com O Senhor dos Anéis e tantas outras tramas repletas de possibilidades. Cria-se quase um devaneio e torna-se um senso comum acreditar que essas icônicas tramas funcionariam perfeitamente em videogames.
E com Star Wars nunca foi diferente – por mais que este sempre estivesse presente neste meio.
Star Wars sempre teve uma relação intrigante nesse espectro. Sempre figurou nos principais consoles, dos anos 90 para cá, com games que exploravam as diversas camadas da franquia. De jogos de corrida de nave até multiplayers, com foco em shooter ou RPG, a Guerra nas Estrelas entregou nas últimas décadas experiências que sempre dividiram muito os fãs – e o público gamer, de forma geral. E é curioso pensar que, mesmo com tantos esforços, os acertos com games baseados no universo criado por George Lucas não tenham sido maiores.
Talvez o maior expoente dos jogos de Star Wars tenha sido aquele que melhor soube trabalhar com a mitologia galáctica: Knight of The Old Republic, que é, até os dias de hoje, o mais aclamado dos games da franquia. Uma referência em termos de RPG e sem medo de explorar os caminhos de uma aventura espacial grandiosa, tal como vemos nos quadrinhos e nos próprios filmes da série. O game, desenvolvido pelos mesmo estúdio de Dragon Age, deu o tom que por tempos foi o que os fãs esperavam ver: era autêntico, envolvente, manipulava bem a personalidade do universo da franquia e era, antes de tudo, muito Star Wars. A essência da jornada intergaláctica estava em cada diálogo, NPC e aspectos de gameplay. E, não à toa, recentemente, os fãs vibraram com o anúncio do remake do título, mostrado na E3 de 2021.
Mas o saldo positivo não se restringe apenas ao RPG desenvolvido pela BioWare.
No passado, vivenciamos o DNA de Star Wars a flor da pele em Star Wars: Rogue Squadron, considerado um verdadeiro clássico do Game Cube. Pilotamos naves em Star Wars Episode I: Racer, vimos o nascimento (e queda) de Battlefront, com as batalhas espaciais em grandes proporções, e nos divertimos nas inusitadas adaptações para o universo LEGO que, por incrível que pareça, sempre entregou trama, conceito e jogabilidade a altura da franquia – dentro, é claro, de sua proposta.
Talvez o sucesso mais recente tenha sido o divisivo Star Wars Jedi: Fallen Order. Longe de ser unânime, Fallen Order acerta em cheio na proposta. Não se limita a uma aventura rasa e tenta, de madeira modesta, expandir os caminhos da mitologia interespacial, criando um protagonista com fortes ingredientes de carisma (inclusive, tendo se tornado bastante querido pelos fãs) e o inserindo em uma gameplay um tanto formulaica mas que bebe de tudo o que o grande público vem aplaudindo, em termos de formato. Tem um tanto de Tomb Raider e Uncharted, tem um quê de soulslike e muitos elementos de RPG. Não se aprofunda muito em suas vertentes mas… faz um bom – e honesto – feijão com arroz.
Agora, com todo esse retrospecto, a bola está nas mãos do questionável estúdio responsável pelo clássico Heavy Rain: a Quantic Dream. Conhecida por fazer jogos com foco narrativo, a desenvolvedora, encabeçada por David Cage, tem a missão de entregar o que prometeram, sabendo que os fãs de Star Wars esperam, no mínimo, algo que supere Fallen Order em termos de grandeza – e, tendo a sombra do remake de Knights of The Old Republic por perto, as coisas talvez sejam mais intensas, com fortes cobranças e expectativas.
Mas será que a Quantic Dream pode cumprir esses requisitos?
A verdade é que, gostando ou não dos games de Cage, a Quantic Dream vem há anos fazendo, basicamente, o mesmo jogo. De Indigo Prophecy a Detroit: Become Human, o estúdio lapidou seu estilo de criar histórias em cima de sua cansada fórmula, evoluindo mecânicas mas sempre entregando experiências em uma linha tênue entre jogo e cinema – com pouca evolução no aspecto jogável. Por vezes, parece que existe uma indecisão do próprio David Cage do que ele gostaria de criar. Para muitos, existe inovação e uma ousadia por trás destes jogos. Para mim, existe uma grande dose de pretensão e até uma certa preguiça em evoluir mecânicas e traços do gameplay.
Fora a linha criativa, a Quantic Dream vive, há anos, um momento complicado no campo da moralidade, o que parece apontar que a empresa está muito mais para o lado sombrio da força do que o contrário. Envolvida em diversas polêmicas graves, como denúncias de xenofobia e de assédio sexual em seu ambiente de trabalho, o estúdio se confunde até na condução destes casos e nas tentativas de soluções, processando jornalistas, atacando ex-funcionários e não parecendo disposta a limpar sua imagem de maneira efetiva – e todas essas questões ecoam mais alto em um tempo em que vemos, cada vez mais, uma crescente preocupação com essas questões na indústria. Não é uma época de se ficar em silêncio. É uma época para se questionar e lutar. E, principalmente, cobrar por atitudes.
Tudo isso nos trás a pergunta do título: Eclipse pode ser o que nós, fãs, sempre esperamos?
Os degraus de preocupação em relação à tônica de desenvolvimento da Quantic Dream são impossíveis de se botar de lado. As expectativas em torno da franquia também não. É claro que só o tempo dirá se teremos um novo capítulo grandioso de Guerra nas Estrelas nos jogos, mas seguiremos, como sempre, vigilantes.
O trailer, revelado no último The Game Awards, empolga e parece abrir as fronteiras para algo realmente impactante. Só nos resta esperar e torcer para que a força esteja com a equipe de desenvolvimento. Star Wars merece mais. Sempre mais.
Sigamos torcendo.