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Você sabia que Resident Evil tem outro nome no Japão?

Motivo curioso teria levado o game a se chamar Resident Evil no ocidente

por André Custodio
Você sabia que Resident Evil tem outro nome no Japão?

Mais de duas décadas após seu lançamento, a franquia Resident Evil permanece como um dos pilares do gênero survival horror nos videogames, conquistando milhões de fãs ao redor do mundo.

No entanto, um detalhe curioso muitas vezes passa despercebido pelo público ocidental: no Japão, terra natal da série, o jogo carrega um nome diferente – Biohazard.

Essa dualidade de títulos não é apenas uma peculiaridade de marketing, mas reflete decisões estratégicas, limitações legais e até mesmo nuances culturais que marcaram o desenvolvimento do primeiro game e permanecem até hoje, como no caso de Resident Evil 7.

O nascimento de um clássico e a questão do nome

Em 22 de março de 1996, a Capcom lançou no Japão o jogo que daria início a uma das franquias mais icônicas da indústria: Biohazard, para o PlayStation.

Dirigido por Shinji Mikami e idealizado como uma evolução do RPG de terror Sweet Home (1989), também da Capcom, o título apresentou ao mundo uma mansão infestada de zumbis, quebra-cabeças e atmosfera de tensão que redefiniu o survival horror.

O nome Biohazard – que em inglês significa “perigo biológico” – foi escolhido por sua proposta. Afinal, a narrativa girava em torno de experimentos científicos da Umbrella Corporation, resultando em criaturas grotescas que representavam ameaças biológicas.

Biohazard
Fonte: Reprodução

No entanto, quando chegou o momento de levar o jogo ao ocidente, a Capcom enfrentou um obstáculo. Nos Estados Unidos, o termo “Biohazard” já estava registrado como marca por uma banda de heavy metal de Nova York e por um jogo de DOS lançado em 1990.

Comprar os direitos ou enfrentar disputas legais seria um processo caro e demorado, algo inviável para uma empresa que buscava consolidar sua presença no oeste. A solução veio de forma criativa: a Capcom realizou um concurso interno entre seus funcionários para encontrar um novo título.

O vencedor foi Resident Evil, uma escolha que refletia o mal residindo na mansão central da trama e mantinha o tom sombrio do original japonês. Assim, o jogo estreou no ocidente em 1996 com esse nome, enquanto no Japão permaneceu como Biohazard.

Um desenvolvimento caótico e influências inesperadas

A criação do primeiro Resident Evil esteve longe de ser um processo tranquilo. Originalmente concebido como um remake de Sweet Home, o projeto passou por diversas reformulações. Shinji Mikami, então um jovem designer na Capcom, assumiu a direção com a missão de entregar algo inovador.

Inspirado por filmes de terror como A Noite dos Mortos-Vivos, de George Romero, e pelo jogo Alone in the Dark, Mikami abandonou a ideia inicial de um jogo em primeira pessoa com elementos sobrenaturais – como fantasmas – em favor de uma abordagem mais realista, com zumbis e uma câmera fixa em terceira pessoa que intensificava a sensação de claustrofobia.

Os desafios não pararam por aí. O jogo quase foi desenvolvido para o Super Nintendo, mas a Capcom optou pelo PlayStation devido ao hardware mais robusto e à capacidade dos CDs, que permitiam armazenar gráficos pré-renderizados e áudio de maior qualidade.

resident evil
Fonte: Reprodução

Nos bastidores, o orçamento apertado e a falta de confiança da empresa no projeto levaram a cortes drásticos, como a abertura live-action, filmada em apenas três dias em um armazém abandonado às margens do rio Tama, em Tóquio.

Apesar das limitações, o resultado final foi um sucesso estrondoso, vendendo milhões de cópias e pavimentando o caminho para a franquia.

Resident Evil 7 e a volta às raízes com Biohazard

Avançando para 2017, Resident Evil 7: Biohazard marcou um ponto de virada na série. Após críticas aos capítulos anteriores, como Resident Evil 5 e 6, que priorizaram ação em detrimento do terror, a Capcom decidiu resgatar as raízes do survival horror.

Curiosamente, o título japonês do jogo – Biohazard 7: Resident Evil – inverteu a ordem usada no Ocidente (Resident Evil 7: Biohazard), destacando o nome original como uma homenagem às origens da franquia. Essa escolha não foi apenas simbólica; ela refletiu a intenção de reconectar o jogo com a essência de perigo biológico que definiu o primeiro título.

Em Resident Evil 7, o jogador assume o papel de Ethan Winters, um homem comum em busca de sua esposa desaparecida, Mia, em uma mansão decadente na Louisiana.

Resident Evil 7
Fonte: Capcom

Diferente dos capítulos anteriores, o jogo adotou a perspectiva em primeira pessoa, intensificando a imersão, e substituiu zumbis por inimigos infectados por um fungo chamado “Mofo”, criado pela misteriosa Eveline, uma arma biológica.

A ênfase em ameaças biológicas – desde a família Baker, transformada em monstros regenerativos, até os “Mofados” – reforçou o significado de Biohazard como um retorno temático ao cerne da série. No Japão, o título Biohazard 7 sinalizou aos fãs que a Capcom buscava resgatar o terror puro, enquanto o subtítulo Resident Evil mantinha a identidade global da marca.

O legado de Biohazard

A dualidade entre Resident Evil e Biohazard transcendeu os jogos, aparecendo em filmes, quadrinhos e até máquinas de pachinko no Japão. Curiosamente, o nome Resident Evil ganhou tanto peso global que, mesmo no Japão, é reconhecido como sinônimo da série.

Nos bastidores, a franquia também deu origem a outras obras: Devil May Cry surgiu de um protótipo descartado de Resident Evil 4, enquanto Onimusha foi inicialmente pensado como um spin-off ninja de Biohazard.

Até um port cancelado para GameBoy Color, cuja ROM vazou anos depois, mostra o alcance experimental da série.

Hoje, com mais de 154 milhões de cópias vendidas mundialmente, Resident Evil – ou Biohazard – prova que um nome pode carregar mais do que uma marca: ele abriga uma história de inovação, riscos e paixão pelo terror.