Resident Evil 7 é revolucionário, mas nem todos estão dispostos a aceitar
Marco na franquia, Resident Evil 7 foi o ponto de partida para uma nova fase
Lançado em 2017, Resident Evil 7: Biohazard foi um divisor de águas na longa trajetória da franquia Resident Evil, uma das mais populares no universo dos videogames, mais especificamente no survival horror.
Desenvolvido pela Capcom, o título trouxe uma abordagem ousada ao abandonar a perspectiva em terceira pessoa, característica da série, em favor de uma visão em primeira pessoa, além de resgatar o foco no horror de sobrevivência que consagrou os primeiros jogos.
Apesar de ser amplamente elogiado por crítica e público, o jogo enfrentou resistência de uma parcela dos fãs, que o enxergaram como uma ruptura drástica com a essência da franquia. Mas será que suas qualidades o deixariam à frente de um legado incomparável?
Resident Evil 7: um desvio ou uma traição?
Resident Evil 7 não escapou de controvérsias. Uma das principais críticas veio de fãs que lamentaram a ausência de elementos tradicionais da franquia, como os zumbis clássicos e os protagonistas consagrados, como Leon S. Kennedy ou Jill Valentine.
Em vez disso, o jogo apresenta Ethan Winters, um personagem novo e sem conexão direta com a vasta lore da série até então, enfrentando a família Baker, infectada por um fungo conhecido como Mofo.
Para alguns, essa mudança representou uma desconexão com a narrativa central envolvendo a Umbrella Corporation e suas armas biológicas, como o T-Virus. Outro ponto de discórdia foi a perspectiva em primeira pessoa, vista por detratores como uma tentativa de emular jogos de terror modernos, como Outlast, em detrimento da identidade visual estabelecida por títulos como Resident Evil 4.
Além disso, a linearidade da segunda metade do jogo e os combates contra chefes, frequentemente considerados menos inspirados, receberam críticas. O confronto final, em particular, foi apontado como anticlimático por parte da imprensa especializada, que sentiu uma perda de ritmo em relação ao terror opressivo das primeiras horas.
Para esses críticos, Resident Evil 7 sacrificou a grandiosidade cinematográfica e o tom canônico que marcaram capítulos anteriores, como Resident Evil 6, em nome de uma experiência mais contida, mas que nem sempre entregou a consistência esperada.
Um retorno às raízes, mas com estilo e inovação
Apesar das controvérsias, Resident Evil 7 se destaca como um dos títulos mais bem-sucedidos da franquia, tanto em vendas — com mais de 14 milhões de unidades até novembro de 2024 — quanto em recepção crítica.
O jogo brilha ao recapturar o espírito de sobrevivência que definiu os primeiros Resident Evil. A ambientação na decadente propriedade dos Baker, em Louisiana, evoca o isolamento e a tensão da mansão Spencer do jogo original, enquanto a gestão limitada de recursos, como munição e itens de cura, força o jogador a planejar cada movimento.
A direção de Koshi Nakanishi, que já havia trabalhado em Resident Evil: Revelations, demonstra um entendimento profundo do que torna o horror eficaz: a imprevisibilidade e a vulnerabilidade.
A adoção do RE Engine, motor gráfico próprio da Capcom, elevou a imersão a um novo patamar. Os visuais fotorrealistas, aliados a uma trilha sonora minimalista e efeitos de áudio precisos, criam uma atmosfera sufocante.
Enquanto isso, a compatibilidade com realidade virtual no PlayStation VR intensifica essa experiência, colocando o jogador literalmente dentro do pesadelo de Ethan.
Esses elementos técnicos, combinados com uma narrativa simples, mas envolvente — a busca de um homem comum por sua esposa desaparecida —, fazem de Resident Evil 7 um título que transcende a mera nostalgia, oferecendo algo fresco e aterrorizante.
Essencial para a franquia
A importância de Resident Evil 7 para a série reside em sua capacidade de resgatar a franquia de um momento de crise. Após o mal-recebido Resident Evil 6, criticado por seu excesso de ação e escala desproporcional, a Capcom enfrentava um desafio: redefinir o rumo de uma marca que parecia ter perdido sua identidade.
Resident Evil 7 respondeu a essa necessidade ao despir a série de excessos, focando no terror puro e em uma história autônoma que, embora inicialmente distante da lore clássica, pavimentou o caminho para conexões futuras.
A revelação de que a Eveline, a antagonista central, é produto de experimentos com bioarmas, e a menção à Umbrella no final do jogo, criam pontes com o passado, enquanto a aparição de Chris Redfield reforça a continuidade.
Mais do que isso, o sucesso de Resident Evil 7 abriu portas para uma nova era da franquia. Ele inspirou o aclamado Resident Evil 2 Remake, que modernizou a fórmula clássica, e Resident Evil Village, sequência direta que expandiu a história de Ethan Winters.
Assim, o jogo não apenas salvou Resident Evil de uma possível irrelevância, mas também provou que a série podia se reinventar sem perder sua essência, equilibrando inovação e tradição.
A revolução em perspectiva
A revolução de Resident Evil 7 não se limita à mudança para a primeira pessoa ou ao retorno ao horror. Ela está na coragem da Capcom de arriscar em um momento de incerteza, desafiando expectativas e redefinindo o que a franquia poderia ser.
Inspirado por obras como The Evil Dead, o jogo abraça um terror visceral e íntimo, distante das explosões e tiroteios que dominaram os capítulos anteriores. Essa escolha reflete uma resposta direta às críticas a Resident Evil 6, que havia se afastado demais do gênero que deu origem à série.
A perspectiva em primeira pessoa, embora polêmica, provou ser uma ferramenta poderosa para reacender o medo. Diferentemente dos jogos clássicos, onde câmeras fixas criavam suspense, ou de Resident Evil 4, que introduziu a visão sobre o ombro para ação dinâmica, Resident Evil 7 coloca o jogador no centro da experiência, eliminando a barreira entre o protagonista e quem segura o controle.
Esse salto técnico e narrativo influenciou não apenas os títulos seguintes da série, mas também o gênero de terror nos videogames como um todo, consolidando a relevância contínua de Resident Evil.
Resistência e legado
A relutância de alguns fãs em aceitar Resident Evil 7 reflete menos uma falha do jogo e mais um apego compreensível ao passado. A franquia, ao longo de seus quase 30 anos, atravessou diversas fases — do horror puro ao ação desenfreada —, e cada mudança gerou divisões.
Contudo, a história mostra que as transformações mais ousadas, como a introdução da perspectiva sobre o ombro em Resident Evil 4, eventualmente se tornam pilares da série. Resident Evil 7 segue esse padrão: rejeitado por alguns no lançamento, hoje é reconhecido como um marco que revitalizou a franquia.
Em última análise, Biohazard é revolucionário precisamente por desafiar convenções e provar que o horror, quando bem executado, transcende formatos ou expectativas. Nem todos estão dispostos a aceitar essa evolução, mas seu impacto é inegável.
O jogo não apenas resgatou Resident Evil de um período sombrio, mas também garantiu que a série permanecesse viva, relevante e, acima de tudo, assustadora para uma nova geração.
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