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Resident Evil 2: a história do começo ao fim (com spoilers)

Entenda todos os eventos que tornaram o game um dos grandes títulos da franquia

por André Custodio
Resident Evil 2: a história do começo ao fim (com spoilers)

Imagine uma cidade onde o silêncio da noite é rasgado por gemidos guturais, onde o cheiro metálico de sangue e podridão impregna o ar, e o desespero é o único companheiro dos poucos que ainda lutam para sobreviver. Essa é Raccoon City, um lugar que, em setembro de 1998, tornou-se o epicentro de um dos capítulos mais sombrios da humanidade — e da história dos videogames.

Resident Evil 2, lançado originalmente pela Capcom em 1998 e reimaginado em 2019, não é apenas um marco do survival horror, mas uma narrativa visceral sobre sobrevivência, traição e o custo devastador da ambição desmedida. No centro desse caos está a Umbrella Corporation, uma gigante farmacêutica cujos experimentos transformaram uma cidade inteira em um túmulo vivo.

Hoje, recontamos essa tragédia em detalhes, desde o primeiro tiro disparado por um policial novato até o último suspiro de uma metrópole condenada, desvendando cada segredo, cada monstro e cada decisão que selou o destino de Raccoon City.

O império da Umbrella

Nossa história começa décadas antes, em 1968, quando três mentes brilhantes — e perigosamente ambiciosas — fundam a Umbrella Corporation. Oswell E. Spencer, um aristocrata de meia-idade com olhos frios e uma mente afiada como uma lâmina, sonhava com um mundo onde a humanidade fosse “aperfeiçoada” sob seu comando.

Edward Ashford, um cientista elegante com um ar de nobreza inglesa, trazia o rigor técnico, enquanto James Marcus, um virologista excêntrico de cabelos desgrenhados e olhar distante, descobriu o vírus Progenitor em uma flor rara da África Ocidental — a chave para o futuro sombrio da empresa. O que começou como uma missão para curar doenças incuráveis logo se desviou.

Spencer, com sua visão eugenista, viu no Progenitor uma arma, e nos anos 1970, a Umbrella desenvolveu o T-Vírus: uma bioarma que reanimava mortos e transformava vivos em zumbis.

Resident Evil 2
Fonte: Capcom

A Umbrella cresceu rápido. Na década de 1980, tornou-se uma multinacional, vendendo remédios de fachada enquanto lucrava com contratos secretos de bioarmas com governos e militares. Em Raccoon City, uma pacata cidade do meio-oeste americano, a empresa era um pilar econômico. Seus dólares construíram escolas, hospitais e até a delegacia de polícia, mas também compraram silêncio.

O chefe de polícia Brian Irons, um homem corpulento com um sorriso falso e uma moral podre, aceitava subornos para ignorar os rumores de experimentos nos laboratórios subterrâneos, como o NEST. O prefeito, um fantoche de terno caro, seguia o mesmo script. Para os cidadãos, a Umbrella era uma benfeitora; para seus líderes, era um império construído sobre cadáveres.

O T-Vírus foi apenas o início. Nos anos 1990, William Birkin, um cientista prodígio de 36 anos com cabelos castanhos despenteados e uma intensidade quase febril, entrou em cena.

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Fonte: Capcom

Casado com Annette Birkin, uma pesquisadora loira de olhar severo e lealdade cega ao marido, ele desenvolveu o G-Vírus no NEST — uma evolução que não só reanimava, mas transformava seus hospedeiros em monstros mutantes. William era obcecado, um gênio consumido por sua criação, enquanto Annette, mais reservada, via o trabalho como um legado para a filha deles,

Sherry, uma menina de 12 anos de olhos castanhos e voz tímida, alheia aos horrores que seus pais forjavam.

Traição e catástrofe

Em setembro de 1998, a ganância da Umbrella atinge seu ápice. Temendo que William negociasse o G-Vírus com rivais, a empresa envia o Umbrella Security Service (USS), uma unidade de mercenários liderada por HUNK — um homem de rosto oculto por uma máscara de gás, conhecido como “Sr. Morte” por sua frieza letal.

Na noite de 24 de setembro, eles invadem o laboratório de Birkin. O confronto é rápido e sangrento. William, ferido por tiros, injeta o G-Vírus em si mesmo em um ato de desespero e vingança. Seus gritos ecoam enquanto sua carne se contorce, ossos se quebram e ele se transforma em uma criatura grotesca: pele cinzenta, músculos expandidos e um olho gigante pulsando em seu ombro direito.

Ele massacra os soldados, mas amostras do T-Vírus caem nos esgotos, carregadas por ratos para as ruas de Raccoon City.
Em dias, a cidade desmorona. O vírus se espalha pela água, por mordidas, por arranhões. Famílias inteiras viram zumbis, seus rostos familiares agora deformados por veias negras e olhos vazios.

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Fonte: Capcom

Policiais tentam barricadas, mas são devorados por hordas de mortos-vivos ou por cães infectados, suas mandíbulas expostas pingando saliva ácida. Em 29 de setembro, Raccoon City é um cemitério ambulante, e é nesse cenário que dois estranhos chegam, sem saber que estão prestes a mudar o curso dessa tragédia.

Leon S. Kennedy: o primeiro dia no fogo

Leon Scott Kennedy, 21 anos, é um jovem de cabelos castanhos penteados para o lado, olhos azuis cheios de determinação e um sorriso fácil que esconde sua insegurança. Recém-formado na academia de polícia, ele escolheu Raccoon City para começar sua carreira, movido por um desejo ingênuo de proteger e servir.

Seu primeiro dia, 29 de setembro, começa na estrada. O rádio do carro toca uma música country abafada enquanto ele passa por placas de “Bem-vindo a Raccoon City”. Mas o que encontra é o caos: carros capotados, uma neblina densa e figuras cambaleantes na escuridão. Um caminhão desgovernado quase o atinge, e o motorista — um zumbi de pele esverdeada — salta para mordê-lo.

Leon dispara sua pistola pela primeira vez, o som ecoando em suas mãos trêmulas.

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Fonte: Capcom

Fugindo para uma lanchonete à beira da estrada, ele conhece Claire Redfield. Ela está lá, de pé sobre o balcão, com uma jaqueta vermelha rasgada e uma pistola fumegante, cercada por corpos de zumbis que ela abateu. Os dois trocam olhares — ele, confuso mas firme; ela, assustada mas resoluta.

Uma explosão do caminhão os separa, e Leon grita por cima das chamas: “Nos encontramos na delegacia!” Ele corre pelas ruas, desviando de zumbis que arrancam pedaços de corpos caídos, o coração acelerado enquanto segura sua Glock com dedos suados. A delegacia, ele acredita, será sua salvação.

Claire Redfield: uma irmã em missão

Claire Redfield, 19 anos, é uma universitária de cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo, com um olhar afiado e uma postura que mistura coragem e vulnerabilidade. Ela chega a Raccoon City de moto, o vento cortando seu rosto enquanto busca seu irmão, Chris Redfield, um ex-S.T.A.R.S. que sobreviveu ao incidente nas montanhas Arklay.

Sem notícias dele há meses, Claire ignora os avisos de quarentena na rádio. No posto de gasolina nos arredores, ela enfrenta seu primeiro zumbi: o atendente, com metade do rosto arrancado, avança sobre ela. Claire o derruba com uma chave de roda antes de encontrar uma arma no chão, suas mãos tremendo ao disparar.

Separada de Leon, ela segue para a delegacia, o ronco da moto substituído pelo som de botas esmagando vidro quebrado. Lá, o cenário é devastador: policiais mortos rastejam pelos corredores, suas fardas ensanguentadas. Em um esconderijo nos esgotos da RPD, Claire encontra Sherry Birkin, uma garotinha de cabelos loiros curtos e uniforme escolar sujo, encolhida contra a parede.

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Fonte: Capcom

Sherry fala pouco, sua voz fraca revelando medo e solidão. “Eles estão atrás de mim”, ela murmura, e logo Claire entende por quê: William Birkin, agora um monstro irreconhecível, persegue a filha, sua mente fragmentada entre instinto paterno e fúria viral.

Um túmulo vivo

A delegacia de Raccoon City, um prédio gótico com vitrais quebrados e estátuas de mármore, é onde as histórias de Leon e Claire se cruzam com o legado da Umbrella. Para Leon, é um pesadelo iniciático. Ele enfrenta zumbis em cada esquina, seus rostos familiares de fotos da academia agora grotescos.

Cães infectados saltam pelas janelas, e os Lickers — criaturas cegas com línguas como lâminas, seus corpos esqueléticos pingando muco — o caçam nos tetos. Em uma sala escura, ele conhece Ada Wong, 25 anos, uma mulher de cabelos negros curtos, vestido vermelho justo e uma calma desconcertante.

“Estou procurando meu namorado, John, um pesquisador da Umbrella”, ela diz, mas seus olhos evasivos traem a mentira. Leon, encantado por sua beleza e confiança, a segue, ignorando os sinais de perigo.

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Fonte: Capcom

Claire, enquanto isso, protege Sherry pelos corredores. A menina carrega um pingente dourado, um presente da mãe, que esconde uma amostra do G-Vírus — o motivo da perseguição de William. O monstro irrompe pelas paredes, suas garras rasgando metal, o olho em seu ombro fixado em Sherry.

Claire dispara com uma shotgun, sua respiração acelerada enquanto puxa a garota para trás de uma mesa. “Fique comigo, Sherry!”, ela grita, o instinto maternal emergindo em meio ao terror.

A verdade emerge

Os esgotos sob a delegacia são o próximo palco do horror. Leon e Ada descem por túneis fétidos, o som de água suja misturado a grunhidos distantes. Lá, Ada revela sua verdadeira face: uma espiã contratada para roubar o G-Vírus. Quando um Licker os ataca, Leon toma um tiro ao protegê-la, o sangue escorrendo por seu uniforme enquanto ele range os dentes.

“Por que você não me contou?”, ele pergunta, ferido física e emocionalmente. Ada hesita, mas antes que responda, Annette Birkin aparece, pistola em punho. “Ela é uma traidora!”, Annette grita, atirando em Ada, que cai de uma passarela para a escuridão. Leon, com lágrimas nos olhos, jura destruir a Umbrella.

Claire, nos mesmos esgotos, enfrenta Annette sozinha. A cientista, com cabelos loiros desgrenhados e um jaleco rasgado, explica o caos: William se infectou para proteger seu trabalho após a traição da Umbrella. “Ele não é mais humano”, ela diz, a voz quebrada.

Quando William, agora uma massa de carne mutante com tentáculos, ataca, Annette é esmagada contra uma parede, mas entrega a Claire uma seringa com a vacina para Sherry, infectada pelo vírus em um confronto anterior. “Salve minha filha”, ela sussurra antes de morrer.

O NEST: o fim da linha

O laboratório NEST, sob Raccoon City, é o clímax da jornada. Seus corredores estéreis, iluminados por luzes frias, abrigam tanques com Hunters — répteis humanoides de garras afiadas — e documentos que detalham décadas de corrupção da Umbrella. Sherry, febril pelo vírus, é curada por Claire com a vacina, seus olhos se abrindo com alívio. Mas o perigo não acabou.

Leon é caçado pelo Tyrant, “Mr. X”, um gigante de quase três metros, seu sobretudo preto rasgado por balas inúteis, seus passos ecoando como um tambor de morte. Claire enfrenta William, agora uma abominação disforme, em uma plataforma de trem, disparando granadas enquanto Sherry chora ao fundo.

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Fonte: Capcom

No último segundo, Ada reaparece, viva, jogando uma bazuca para Leon. “Acabe com isso!”, ela grita, e ele explode o Tyrant em pedaços. Claire detona William com explosivos, o monstro rugindo enquanto o trem acelera. O NEST implode, uma bola de fogo engolindo os segredos da Umbrella.

Na manhã de 1º de outubro, Leon, Claire e Sherry emergem do pesadelo, o sol nascendo sobre uma cidade em ruínas.

Um juramento nas cinzas

Dias depois, o governo americano bombardeia Raccoon City, apagando-a do mapa. Leon, com o uniforme rasgado e um olhar endurecido, aperta a mão de Claire, agora uma sobrevivente marcada pela perda. “A Umbrella vai pagar”, ele diz, a voz firme. Claire, abraçando Sherry, concorda em silêncio, seus olhos fixos no horizonte.

Sherry, órfã mas viva, segura o pingente vazio, um símbolo de esperança frágil. A Umbrella, porém, não morre ali. Spencer e outros líderes escapam, seus experimentos continuando em segredo, como revelado em capítulos futuros da saga.

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