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Por Dentro do Inferno: a mitologia do Conflito Eterno de Diablo IV

MeuPlayStation te leva para uma viagem entre anjos e demônios para entender melhor a lore do jogo e sua relação com as religiões

por Thiago Barros
Por Dentro do Inferno: a mitologia do Conflito Eterno de Diablo IV

Anjos e Demônios. Bem e Mal. Luz e Trevas. Dicotomias que fazem parte do universo desde sua criação – ou talvez até mesmo itens dela. O Conflito Eterno de Diablo, que se estende ao novo jogo da série, Diablo IV, traz uma abordagem que bebe desta fonte, mas utiliza as suas inspirações para criar algo que é, ao mesmo tempo, semelhante e completamente diferente do cristianismo.

E com o título tendo estreado há pouco tempo, o MeuPlayStation embarcou nessa jornada mítica rumo ao inferno para detalhar as referências e os acontecimentos celestiais que moldam essa aventura. A série Por Dentro do Inferno será dividida em três capítulos. Neste, o foco está na batalha mais famosa (e longa) de toda a eternidade.

“Houve então uma guerra nos céus. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram”.
Apocalipse 12:7.

Anjos e Demônios

Tudo começa com o conceito de anjo. Seres celestiais de luz e pureza, que personificam a bondade e a virtude. Eles são os mensageiros divinos, guardiões da ordem e defensores dos justos. Em Hebreus 1, são descritos como “espíritos ministradores enviados para servir aqueles que hão de herdar a salvação”.

Os anjos sã0 mais fortes e inteligentes do que nós (2 Pedro 2:11), mas não são oniscientes ou onipotentes. São imortais (Mateus 22:30 e Lucas 20:35-36) e invisíveis aos olhos dos homens. Podem, contudo, aparecer em visões e sonhos (Daniel 4:13 e Gênesis 28:10-12), e em situações específicas, usam a forma humana para cumprir o propósito de Deus (João 20:11-13 e Atos dos Apóstolos 12:7-9).

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Os anjos são figuras celestiais.

Dentre eles, há os querubins, destinados a guardarem as entradas do Jardim do Éden (Paraíso), os mensageiros (como o Anjo Gabriel) e os serafins, que rodeiam o trono, adoram a Deus e têm o poder do fogo. E, claro, o Arcanjo Miguel – que é considerado o líder do exército celestial. Em suma, estes espíritos bondosos são seres celestiais que adoram a Deus e protegem os humanos.

Além disso, são mencionados os “quatro seres viventes”, por João no Apocalipse e por Ezequiel ainda no Antigo Testamento. Estes têm interpretação um pouco mais complexa, que não detalharemos aqui.

Ou, pelo menos, todos eram assim até o trecho descrito em Isaías 14 e Ezequiel 28, popularmente conhecido como a Queda de Lúcifer. Este evento não é tão destacado na Bíblia quanto ficou marcado na “sabedoria popular”, mas resumidamente, o que se diz é que Lúcifer, um dos mais poderosos anjos, se rebelou contra o Pai e quis assumir seu Trono e, por isso, foi destituído do Céu.

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Lúcifer foi o primeiro dos rebeldes.

“Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações! Tu dizias no teu coração: Eu subirei ao céu; acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono e no monte da congregação me assentarei, nas extremidades do Norte; subirei acima das mais altas nuvens e serei semelhante ao Altíssimo. Contudo, serás precipitado para o reino dos mortos, no mais profundo do abismo.”
Isaías 14.12-15

Ao “cair”, porém, ele levou consigo um grande exército de outros anjos que o seguiam. Cerca de um terço dos “milhares de milhares e milhões de milhões” (Apocalipse 5:11) de anjos do Céu. Estes, então, foram nomeados de demônios, e seu líder tornando-se o Satanás.

Estes seres, outrora anjos e agora criaturas sombrias e corruptas, representam o mal e a tentação. Dotados de uma beleza sedutora e astúcia maligna, são os mestres da enganação e da perversidade. Os demônios buscam subverter a vontade dos humanos, usando os medos e fraquezas deles como arma. Sua ambição é instilar caos e desespero, levando as almas humanas à perdição.

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Os demônios também caíram dos céus.

Apocalipse

“E aos anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação, reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande dia;”
Judas 1:6

A briga entre Lúcifer e Deus é um tema explorado em diversas obras literárias, mitologias e interpretações religiosas ao longo dos séculos. No entanto, é importante ressaltar que essas narrativas e interpretações variam amplamente de acordo com as diferentes crenças, mitologias e obras nas quais são apresentadas.

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O fim dos tempos é culmina na guerra final entre anjos e demônios.

O que diz a Bíblia, no livro do Apocalipse, é uma “revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer”. Este conteúdo é um relato de um anjo para João, que descreve acontecimentos que levarão ao Fim dos Tempos.

Todo mundo, certamente, já ouviu falar nos quatro cavaleiros, nas sete pragas, nas sete trombetas, no Armagedom… Tudo isso tem uma grande relação com a batalha infindável entre anjos e demônios.

“Houve então uma guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o dragão, e o dragão e os seus anjos revidaram.” Apocalipse 12:7. A guerra entre anjos e demônios representa o Apocalipse, o momento que tudo se findará. Nesse conflito, os exércitos estão em lados opostos e não possuem nada em comum.

O Fim dos Tempos é interpretado de diferentes modos pelas pessoas. Há uma visão preterista, que acredita nos eventos passados e as figuras simbólicas para se referir ao poderio de Roma. Uma visão futurista, com ênfase no sofrimento vindouro. Uma visão historicista que abrange episódios da história humana de modo geral e a visão idealista que é sobre princípios atemporais.

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Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse.

A adaptação em Diablo IV

A adaptação de todo este contexto para Diablo é bem interessante. Na história do jogo, não existe Terra, e sim Santuário. Um mundo que foi criado, pasmem, por um representante de “cada exército”. Cansados justamente da batalha interminável, o anjo Inárius e Lilith, uma das principais personagens de Diablo IV, se unem para buscar uma alternativa.

Mas vamos voltar um pouquinho. Para antes de tudo existir. Nessa época, Anu, um ser que era composto por todas as dualidades, era o regente do universo e queria se purificar da maldade. Para isso, removeu seu lado “mau”, o que trouxe uma consequência grave – criou Tathamet, um enorme dragão de sete cabeças, com quem batalhou até gerar uma grande explosão no universo.

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Tathamet, a contra-parte de Anu.

Dos restos mortais das criaturas, nasceram os anjos e demônios, que travam o Conflito Eterno desde então. Para fugir dele, Inárius e Lilith se juntam a alguns anjos e demônios que compartilhavam deste mesmo pensamento na criação de Santuário. Lá, todos convivem em paz e se relacionam – gerando uma nova raça, os nefilins.

O problema é que estes seres são super poderosos e causam um novo conflito. Anjos e demônios enxergam os nefilins, Santuário e a relação entre Inárius e Lilith como abominações. E tudo o que é abominável, merece ser destruído. Enfurecida ao ver anjos e demônios aniquilando sua prole, Lilith enfrenta todos os seus opositores, mas Inárius se opõe à carnificina e bane sua parceira para o Nada.

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Lilith e Inárius na criação de Santuário.

Inárius, expulso do Paraíso como punição, e Lilith, aprisionada no Nada, sofrem as consequências de suas rebeliões. Contudo, um novo capítulo dessa relação se inicia em Diablo IV quando ocultistas descobrem uma forma de trazer Lilith de volta a Santuário e ela utilizará os humanos como instrumentos para alcançar a sua vingança. Enquanto isso, Inárius vê uma chance de recuperar o seu lugar nos céus ao derrotar, definitivamente, aquela que o fez abandonar os seus.

Em um Santuário rendido aos eventos passados que deixaram uma destruição irreparável e com uma humanidade desesperada por proteção, Lilith e Inárius reúnem seus adoradores para seus propósitos serem cumpridos. Nesse contexto, o seu personagem, chamado de “O Viajante”, cria um vínculo com a Lilith em que ele poderá impedir as ações da criatura maligna ou se render aos pecados do coração.

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Lilith é a grande vilã de Diablo IV.

O conflito eterno entre anjos e demônios é uma luta épica que perdurará através dos tempos e um lembrete constante de que o livre-arbítrio e a dualidade estão em todos nós. Enquanto a batalha prossegue, cabe a cada ser humano decidir em qual lado dessa guerra cósmica deseja estar.

Em Diablo IV, você assumirá um papel muito importante no Conflito Eterno. Qual será ele e como você afetará tudo isso?