[Opinião] Sekiro: Shadows Die Twice é o melhor jogo da FromSoftware?
Sekiro: Shadows Die Twice apresentou conceitos evoluídos em relação aos antecessores da FromSoftware e pode ditar o ritmo do futuro.
Antes de mais nada, este artigo não tem o objetivo de mudar a sua opinião, caro leitor. O texto é uma forma de levantar discussão sobre o recente jogo da FromSoftware, Sekiro: Shadows Die Twice. Claro, vou expressar minha opinião ao longo do texto – e você a descobrirá no final.
O debate é interessante porque pode indicar os próximos caminhos do estúdio. Apesar de ter um longo retrospecto de títulos, como a franquia Tenchu e Armored Core, a FromSoftware consagrou-se com Demon’s Soul, construiu o nome ao longo da franquia Souls, e atingiu o destaque em Bloodborne.
Agora, após 2 meses de mortes no Japão Feudal, será que o conteúdo de Sekiro foi o suficiente para ultrapassar o nível de qualidade já estabelecido? Mais do que isso, os ventos sopram para a manutenção deste formato veloz e mais “linear” nas futuras produções? Esta é a principal discussão.
Sekiro: Shadows Die Twice vem sendo um sucesso. Vendeu mais de 2 milhões de unidades em 10 dias. As avaliações destacam o bom produto. No entanto, a comunidade ainda é dividida quando se trata de ser o melhor jogo do estúdio.
No Metacritic, o recente jogo da FromSoftware perde somente para Dark Souls II e Bloodborne. A jornada de Sekiro conta média de 90 pontos. Já DSII/Bloodborne estão dois degraus acima com 92. Curiosamente, de todos os jogos já lançados, estes dois são os mais semelhantes com a atual proposta: combate mais rápido, e narrativa diferenciada.
Contudo, notas nem sempre representam o sentimento da comunidade. Dark Souls II, por exemplo, é um dos títulos mais criticados pela fan base do estúdio. Por outro lado, Bloodborne é um dos, se não o, mais aclamado. Assim, é com ele a competição direta de Sekiro.
Ambos são semelhantes. O combate dinâmico rápido sem o uso de escudos; uma franquia completamente nova; o incentivo constante da aparada (parry); o confrontos contra chefes, desafiadores e épicos . São concorrentes, mas Sekiro bebe diretamente da fonte de Bloodborne.
Na humilde opinião deste que vos escreve, o aprendiz conseguiu superar o mestre.
Bloodborne, sem dúvidas, é um grande expoente do gênero. A narrativa lovecraftiana, os inimigos variados e únicos, o level design, são dignos de elogios. Mas Sekiro conseguiu aprimorar a ideia do combate dinâmico de forma eficaz. As mecânicas não estão mais complexas, e exigem a perfeição do jogador em muitos momentos.
Um dos grandes diferenciais para Sekiro é o incentivo orgânico da aparada. Afinal, a defesa em si não é muito favorável. Para vencer, é fundamental ser preciso, com um timing correto para aparar os ataques.
Outra questão particular é o sistema de progressão. O novo titulo do estúdio japonês abandona os conceitos apresentados nos seus jogos até então sobre a possibilidade de farmar pontos e evoluir o personagem com inimigos básicos. Agora, para se tornar verdadeiramente forte, é preciso derrotar inimigos tão fortes quanto o protagonista.
Afinal, faz todo o sentido. Quer ser forte? Enfrente inimigos fortes! Muitas vezes, os jogadores evoluíam atributos derrotando adversários simples em Dark Souls e Bloodborne. Os Cálices estão complicados? Colete Ecos de Sangue e evolua certos atributos, para ter menos dor de cabeça. Em Sekiro, isso não se aplica.
Se está difícil um chefe, cabe a você (e sua paciência) decorar todo o moveset para repelir, atacar e agir no momento certo. Aqui cabe a máxima “se a vida não está fácil, trate de ficar mais forte” – o mais forte aqui é conhecer a fundo o seu inimigo.
Por outro lado, o game não é mais difícil que os seus antecessores. Dark Souls 1, por exemplo, é muito mais desafiador, enquanto Bloodborne possui chefes mais memoráveis e traumatizantes – vide Ludwig e Gherman/Presença da Lua.
A diferença encontra-se na progressão. A exigência da perfeição eleva o combate a outro nível, não deixando brechas para resolver os problemas na base da melhoria dos atributos, a fim de ultrapassar os obstáculos. É tudo ou nada.
Sekiro: Shadows Die Twice também não é superior em todos seus atributos, se é o que você imagina até agora. O título possui gráficos inferiores se comparado com Dark Souls 3. A ambientação perde para o trabalho realizado em Bloodborne. Para o exclusivo do PS4, cada cenário transpirava medo, enquanto o Japão feudal retratado mais genericamente.
Apesar da FromSoftware avançar no aspecto de jogabilidade, ela recuou no level design. As fases ainda são interligadas, por exemplo. Mas nada como a maestria de Dark Souls ou Bloodborne.
Muitas vezes, Sekiro colocava uma parede giratória que direciona para outra área. A sensação predominante é a da inserção do elemento como uma desculpa para conseguir ligar diferentes pontos.
Já foram ressaltados os pontos superiores e inferiores de Sekiro: Shadows Die Twice em relação aos jogos antecessores. Apesar da lore rica em conteúdos e abordagens subjetivas, o foco da proposta é no gameplay hardcore. Neste aspecto, o título desenvolve os conceitos e apresenta uma nova experiência.
O jogo mostra que não é preciso complexificar para aprimorar. O menos, muitas vezes, é o mais.
Implacável, brutal e dinâmico, a jogabilidade é um requinte. Exige a análise dos inimigos, do ambiente, sem uma opção B para se fortalecer. O uso dos braços protéticos permite a transformação da estratégia e a adequação, mas a vitória vem somente por meio da repetição, erros e acertos, e múltiplas tentativas frustradas.
Foi esse o principal sentimento que tive em Sekiro, e espero pela continuidade do conceito da proposta. E para você? Qual o melhor jogo da FromSoftware?