Nos dias atuais, ter um videogame, infelizmente, é artigo de luxo
Cada vez mais caros, consoles e jogos vêm gerando barreiras que podem impedir a entrada de mais pessoas
Nos últimos anos, o mercado de videogames no Brasil se consolidou como um dos mais promissores do mundo, refletindo uma paixão nacional que atravessa gerações, independente da marca preferida pelos consumidores.
Apesar disso, em 2025, possuir um console ou se manter atualizado com os lançamentos mais recentes se tornou um privilégio reservado a poucos, colocando os videogames como verdadeiros artigos de luxo em um cenário com muitas variáveis.
Mercado em expansão, mas inacessível
De acordo com a Pesquisa Game Brasil (PGB) 2024, 73,9% dos brasileiros jogam algum tipo de jogo eletrônico, um crescimento de 3,8 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Esse índice reflete a popularidade dos games, que superam até mesmo a indústria do cinema e da música em movimentação financeira global.
No Brasil, o setor gerou US$ 2,7 bilhões em 2022, com projeções da consultoria Newzoo apontando para US$ 3,5 bilhões até o final de 2025. Apesar disso, o acesso a consoles e jogos permanece restrito, especialmente para as classes média e baixa, devido aos altos custos envolvidos.
Os consoles de última geração, como o PS5 e o Xbox Series X, têm preços que variam entre R$ 4.000 e R$ 4.500 nas lojas oficiais, valores que, ajustados à cotação do dólar (cerca de R$ 5,50 em março de 2025), refletem tanto a importação quanto a carga tributária brasileira.

Impostos como o IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e o Imposto de Importação elevam significativamente o custo final, já que a produção local de hardware é praticamente inexistente.
Para efeitos de comparação, nos Estados Unidos, o PS5 é vendido por cerca de US$ 500 (R$ 2.750), evidenciando como o Brasil paga um “prêmio” pela distância do mercado produtor e pela falta de incentivos à manufatura nacional.
Quem joga e quem fica de fora
A PGB 2024 revela um perfil diversificado entre os jogadores: 70,2% afirmam jogar desde a infância, e 66,8% preferem plataformas de última geração. No entanto, a posse de videogames reflete uma clara divisão socioeconômica.
Estima-se que apenas 20% dos lares brasileiros possuam um console de geração atual, enquanto outros 30% ainda utilizam sistemas da geração passada, como PS4 e Xbox One, adquiridos em anos anteriores ou no mercado de usados.
Os 50% restantes não possuem videogames ou recorrem exclusivamente a jogos mobile, que dominam o mercado com 38% dos títulos consumidos, segundo dados da Abragames (Associação Brasileira dos Desenvolvedores de Jogos Digitais).
O peso dos jogos e o aumento de preços
Os valores dos jogos no Brasil acompanham a escalada do dólar e a inflação. Desde 2024, rumores indicam que os preços de jogos de lançamento subirão para mais de US$ 70 ainda em 2025, um reflexo da alta da moeda americana e da política de precificação das distribuidoras.
Títulos como God of War Ragnarok e Horizon Forbidden West, lançados anteriormente por R$ 350 no PS5, já estabeleceram esse patamar como padrão para a nova geração, enquanto jogos da geração passada custavam entre R$ 200 e R$ 250.

Além disso, a ascensão de serviços de assinatura, como o Xbox Game Pass (R$ 54,99/mês) e o PlayStation Plus (R$ 64,99/mês na modalidade Deluxe), adiciona uma camada de custo recorrente.
Embora ofereçam acesso a bibliotecas extensas, esses serviços sofreram reajustes nos últimos anos — o Game Pass, por exemplo, aumentou 22% desde 2023 —, pressionando ainda mais o orçamento dos jogadores.
A necessidade de infraestrutura
Ter um videogame hoje vai além do console e dos jogos. A experiência completa exige monitores ou TVs de alta performance, com resoluções 4K e taxas de atualização de 120 Hz, cujos preços partem de R$ 2.000 para modelos básicos e podem ultrapassar R$ 10.000 em opções premium.
A internet de alta velocidade também é essencial, especialmente para jogos online e serviços em nuvem como o Xbox Cloud Gaming. Segundo a Anatel, a velocidade média da banda larga fixa no Brasil é de pouco mais de 430 Mbps, suficiente para a maioria dos jogos, mas pacotes com essa capacidade custam entre R$ 120 e R$ 200 mensais, um valor significativo para muitas famílias.
A crise hídrica de 2021, que elevou as tarifas de energia elétrica em até 20% para cada 100 kWh, também persiste como fator de custo. Jogar duas horas por dia em um console de nova geração pode adicionar R$ 12 a R$ 18 à conta de luz mensal, conforme cálculos baseados em dados do IBGE e ajustes tarifários recentes.
Geração passada x geração atual
A divisão entre gerações de consoles é outro reflexo da exclusividade dos videogames. Enquanto a geração passada ainda é acessível — um PS4 usado custa cerca de R$ 1.500 e jogos estão na faixa de R$ 100 a R$ 150 —, a geração atual exige um investimento inicial muito superior.
Dados da PGB 2024 mostram que 62,3% dos jogadores esperam promoções para adquirir novos títulos, uma prática comum entre os que migraram para a nova geração e os que permanecem na anterior.
O crescimento do mercado de games no Brasil, que dobrou o número de estúdios desenvolvedores entre 2018 e 2022 (de 375 para 1.042, segundo a Abragames), contrasta com a inacessibilidade para grande parte da população.
Apesar de iniciativas como a redução de impostos sobre consoles entre 2019 e 2022, os efeitos foram mitigados pela alta do dólar e pela escassez global de componentes, como chips, durante a pandemia.

Hoje, com 84,4% dos jogadores considerando os games uma de suas principais formas de diversão, a percepção de que videogames são um luxo se solidifica em um país onde o salário mínimo é de R$ 1.518 (março de 2025), insuficiente para cobrir os custos básicos de entrada nesse universo.
Em suma, ter um videogame em 2025 no Brasil é mais do que um hobby: é um símbolo de status econômico, reservado àqueles que podem arcar com consoles caros, jogos com preços inflados e a infraestrutura necessária para aproveitá-los.
Para os demais, resta o mercado de usados, os jogos mobile ou a nostalgia de tempos em que o acesso era menos restritivo. Enquanto o setor celebra seu potencial econômico, o jogador médio enfrenta a dura realidade de um entretenimento que, embora universal em apelo, permanece elitizado em prática.
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