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Meu Jogo da Semana: Disney Speedstorm

O quadro "Meu Jogo da Semana" é um overview do que estamos jogando. Desta vez, a recomendação é do Humberto Martinez

por Humberto Martinez
Meu Jogo da Semana: Disney Speedstorm

Na entrada do rolê de Disney Speedstorm, o segurança mete a mão no seu peito e pergunta: “Hey, você tem algum problema com jogos de gacha?”. Se a sua resposta for “Não tenho!!!”, mesmo que sussurre (“Mas não tenho orgulho disso…)”, você pode seguir em frente comigo nesse texto de prazeres cheios de culpa. No balcão do bar, eu vou te receber de braços abertos para conversar sobre como não somos compreendidos por gostar de jogos que só querem nos enrolar num relacionamento eterno. “Ele não faz isso por mal”, vamos concordar. Disney Speedstorm é um ciclo sem fim de “farmar” moedinhas por baixo de uma skin de jogo de kart, mas eu estou jogando todos os dias há dois meses e não posso reclamar (não posso mesmo, o segurança está de olho”).    

O que difere essa corrida de karts desenvolvida pela Gameloft (empresa que achou sua nova mina de ouro em jogos com a turma do Mickey, como Disney Dreamlight Valley) de um Mario Kart da vida ou do rei dos jogos de kart, Sonic All-Stars Racing Transformed, é o sistema viciante de evolução de corredores e de premiações que gira em torno de mais de 20 moedas diferentes. É mais fácil entender o que agita a cotação do dólar do que dominar qualquer sistema de câmbio de um gacha. 

“Ainda” não é preciso se assustar, porque não há microtransações no game. Disney Speedstorm está sendo vendido em três versões (R$ 159, R$ 185 e R$ 374, cada qual com seu próprio pacote de moedas) nessa fase inicial que empresas espertas chamam de “acesso antecipado”, mesmo que o game esteja claramente pronto. O plano é que, no dia 28 de setembro, o game vai ganhar uma versão gratuita, que é quando as garras da Gameloft provavelmente vão se materializar no meu bolso, puxando minha surrada carteira. É só ver o que eles estão fazendo atualmente com o já citado Disney Dreamlight Valley, um apaixonante Animal Crossing com personagens da Disney, em que estão cobrando cerca de 20 dólares em itens de decoração. Vamos deixar essa preocupação, porém, para o futuro, junto com o aquecimento global.

Reis do marketing

Se comecei falando em moedas, é melhor continuar pelo marketing antes de entrar na corrida em si. O game atualmente está em sua segunda temporada e já conta com 24 pilotos, todos protagonistas de grandes franquias da Disney: Monstros S.A., Hércules, Mulan, A Bela e a Fera, Piratas do Caribe, Mickey e seus Amigos, Walt Disney World, O Livro da Selva e Toy Story. É uma lista que acerta os fãs no coração e que vai aumentar a cada dois meses, que é o período previsto para trocas de temporada. O tema da primeira temporada foi Monstros S.A., a segunda é de Toy Story e há rumores de que a terceira possa ser Lilo & Stitch

Dessas franquias foram tiradas canções e elementos visuais para montar as 11 pistas disponíveis, todas lindas e detalhadas o suficiente para nos fazer viajar e acreditar que aqueles traçados estão mesmo nos mundos que aprendemos a amar. E não pense que 11 pistas é pouca coisa, pois cada uma tem de quatro a oito variações de trajetos, contando versões espelhadas e reversas. Durante as corridas, sempre há atalhos e variações de rota para você não enjoar do passeio. Só é uma pena que as mencionadas canções não sejam os temas originais que amamos, mas versões remixadas, curtas e agitadas para combinarem mais com a adrenalina das corridas. Embora qualquer fã gostaria mil vezes mais de fazer drifts pela pista de Mulan gritando “VOU VENCER! SEREMOS RÁPIDOS COMO UM RIO” (sim, eu sei como é a versão certa do refrão e nunca vou aceitá-la!) com a canção original tocando no fundo.

Para completar, tudo, absolutamente tudo no jogo aproveita as licenças da Disney para cativar os fãs. Os cartazes dos menus com ilustrações oficiais e até as moedas, que são itens extraídos das franquias. Para evoluir um personagem de Monstros S.A., por exemplo, você precisa de moedas que são representadas pelos cilindros de riso, pelúcia do Minimike, a porta do quarto da Boo e até pela meia que grudou nas costas do George e fez ele ser atacado pelos agentes da CDA várias vezes. São detalhes como esse que alcançam o respeito pelas franquias esperado pelos fãs.

corrida em disney speedstorm
Disney Speedstorm é super divertido! (Fonte: Gameloft)

A chave é a evolução

Um jogo como Disney Speedstorm (e gachas em geral) são mestres em uma coisa: te explorar viciar e fazer com que tenha motivos para jogar todos os dias. Essa meta aqui está na evolução dos pilotos, que começam no Nível 1 e podem chegar até o 50, por enquanto. Para isso acontecer, há todo um sistema planejado para conectar todos os modos de jogo e que exige bastante tempo investido – eu estava com 87 horas de jogo ao escrever esse texto e ainda não tinha nenhum piloto no máximo.

Não há um sistema de pontos de experiência, então a evolução é feita pela cobrança de moedas. É preciso vencer corridas e desafios específicos para ganhar as mais variadas moedas, que possuem diferentes níveis de raridade e são separadas por franquias e classes de piloto. Há quatro classes: Apressadinho, Brigão, Trapaceiro e Defensor, cada qual com mais ou menos foco nas pontuações de velocidade máxima, aceleração, dirigibilidade, impulso e combate. Junte as moedas exigidas, evolua o personagem e ele tem essas características ampliadas. Fácil…

Só que não. Obviamente, as moedas são distribuídas em todos os modos de jogo e desafios de forma a criar uma escassez, então leva tempo e suor para juntar o que você precisa. Sabendo disso, lembre-se de nunca evoluir personagens sem uma meta em mente. É melhor fazer isso só quando for necessário, para não faltar moedas depois. Você pode querer gastar mais em um personagem só porque gosta dele, mas esse dinheiro pode fazer falta quando uma prova exigir o uso de um piloto de franquia ou classe diferente.

sully e lee chang, em disney speedstorm
Escolha bem em qual personagem de Disney Speedstorm suas moedas serão gastas… (Fonte: Gameloft)

E mesmo quando você tem as moedas necessárias para evoluir, pode surgir um novo obstáculo: os bloqueios de nível. Na jornada até o nível 50, seu piloto alcançará bloqueios nos níveis 15, 25, 35 e (acho) 45, que só poderão ser quebrados com fragmentos de piloto (sim, outra moeda, ainda mais rara), para poder voltar a evoluir com as moedas da franquia. A cada bloqueio rompido sobe o nível dos power-ups usados na corrida e do poder especial do piloto – que são sempre muito interessantes e tem duas versões (normal e carregado), como o Poder Espelho Encantado da Bela, que joga um monte de mobília na pista ou “sumona” uns pássaros que dão boost para a princesa nerd. Esses fragmentos são adquiridos na Classificação Multiplayer, no Turnê de Temporada e em sorteios da Caixa Universal. Vale ressaltar que o jogo não tenta esconder as coisas para confundir o jogador e sempre mostra uma lista com todos os lugares em que pode conseguir as moedas necessárias naquele momento.

Outro elemento importante para melhorar seu piloto são as fichas de Equipe, que são como personagens secundários para habilitar e equipar. Eles representam habilidades passivas como melhorias nas pontuações e nos power-ups. As fichas de equipe tem sinergia entre elas e, adivinhe, também evoluem até cinco níveis, com base nos fragmentos adquiridos nos modos de jogo e nos sorteios. As fichas representam personagens queridos de cada série, como a Boo de Monstros S.A., Zeus de Hércules e os idosos Horácio e Gansolino da galera do Mickey.

Tipos de corrida em Disney Speedstorm

Não há muito o que analisar da corrida em si para quem está habituado com jogos de kart: os controles são super eficientes e facilitados, a corrida depende muito da combinação de “drift = turbo” criada por Mario Kart e a ideia de colocar o pulo no analógico direito foi excelente, pois separa essa ação do drift em si (que está no L1/R1).

O que vale mencionar mesmo são os diferentes tipos de corrida, que ajudam a quebrar a rotina. O tipo mais comum é o Clássico, esta a corrida sem nenhum modificador. Já a corrida com “Objetos Flutuantes” conta com vários trampolins na pista, e é preciso pular para acertá-los e ganhar um boost, além de permitir mais manobras aéreas. Há as corridas de “Habilidade Única”, em que há só um tipo de power-up (geralmente a bomba). No “Siga o Líder”, todo kart deixa um rastro de boost, o que dificulta manter a liderança. Na corrida com “Combinação de Cores”, há itens de duras cores na pista e você precisa acertar só os que tem a sua cor para receber boost em vez de punição. E, por último, o odioso “Desafio da Névoa”, em que é preciso correr em pistas cheias de armadilhas e bombas sem enxergar quase nada – felizmente, a névoa ficou menos densa depois da última atualização. Em todas as mobilidades há sempre três desafios sugeridos, como chegar em primeiro, atordoar inimigos ou usar muito drift, para ganhar prêmios extras.

Para completar, há muitos modos de jogo para alimentar essa vontade diária de ligar o jogo. Para quem vai começar agora, o circuito inicial conta com provas temáticas para evoluir rapidamente os personagens Mickey Mouse, Pato Donald, Pateta, Mulan, Hércules e Jack Sparrow, com oito provas cada um e uns quatro baús para conquistar (é uma pena que o modo nunca seja atualizado para incluir mais pilotos). Já os Elementos Limitados é o que me faz entrar todos os dias para participar de desafios diários ou com prazos maiores para ganhar moedas variadas e, de vez em quando, fragmentos de pilotos. Geralmente são três tentativas por prova, com direito a novas três tentativas a cada sete horas, é regulamentado para diferentes níveis de piloto ou de certas franquias. A atração principal é o Turnê de Temporada, o famoso season pass, com muitas recompensas para os pilotos do tema vigente (a primeira temporada foi Monstros S.A., a atual é Toy Story). E, para quem ainda não odeia a humanidade o bastante, há os modos Classificação Multiplayer (com evolução fixa e que não muda o ranking nas trocas de temporada) e o Multiplayer Regulado (com temas trocados semanalmente). Ah, o multiplayer de jogos de kart… sempre lugares onde os jogadores parecem possuídos pelo demônio e em que o uso de power-ups é exclusivamente dedicado para a agressão mais sacana possível. Você vai passar muito ódio aqui, sendo espancado sem dó por sete pilotos e pelo lag, mas vai acabar voltando porque há recompensas necessárias para continuar evoluindo seus pilotos. Por fim, há o Jogo Livre Local e a Pista Particular, offline ou online, aqui você monta suas próprias competições (sem prêmios).

Disney Speedstorm - personagens disputando corrida com explosão
Disney Speedstorm é o meu jogo da semana! (Fonte: Gameloft) 

Esta é minha indicação da semana porque, se você não for dominado pela vontade desnecessária de evoluir todo mundo, vai encontrar um jogo de kart muito divertido e competente, com franquias que ocupam lugares muito especiais nas memórias de todo mundo. Eu não sou do tipo que reclama de jogos que tentam arrancar uma grana, desde que não afetem o desafio e o conteúdo seja de boa qualidade, então acho que Disney Speedstorm está seguro nesse equilíbrio. Ainda quero concluir o segundo passe de temporada e, se a coisa ficar mercenária demais futuramente, posso sair satisfeito de ter curtido o suficiente.

Humberto Martinez

“Nascido e criado” na mídia impressa, trabalho em revistas de videogames desde 1998, quando comecei a fazer meus primeiros textos e detonados na lendária Ação Games, da Editora Abril. Fiquei por lá até o fim da revista, em 2001, e migrei para a revista Dicas & Truques para PlayStation, da Editora Europa. E lá estou desde então, participando dessa incrível publicação que tornou-se a Revista Oficial do PlayStation e, desde a edição #301, chama-se PLAY Games. Também participei da revista GameMaster, criei as revistas Anime Invaders e OLD!Gamer, e atualmente cuido de diversos bookzines retrô como a Mega Drive Mania e todas as variantes do selo OLD!Gamer. 

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