Fábricas de Sonhos: da família Guillemot para o mundo, a história da Ubisoft

Em 12 de março de 1986, cinco irmãos da família Guillemot, na França, fundaram a Ubi Soft, empresa que começou simplesmente como distribuidora de títulos de EA, Sierra e MicroProse no país. Hoje, 32 anos depois, é a Ubisoft, presidida por um desses irmãos, Yves Guillemot, e uma das maiores players do mercado de jogos eletrônicos.

E, no terceiro capítulo da série Fábrica de Sonhos, o Meu PS4 contará essa trajetória. Desde Fer et Flamme, Masque e Zombi, quando ainda ficava restrita a distribuir games em 1986, para as plataformas da época, como Commodore, Atari, Amstrad e MS-DOS, até os hits atuais, como Assassin’s Creed, Far Cry e The Division.

Seu objetivo é: conquistar 24 territórios

Parece que Christian, Claude, Gérard, Michel e Yves Guillemot estavam jogando War, e o objetivo deles era conquistar o máximo de territórios que pudesse. Depois de iniciar o trabalho como distribuidora na década de 80, a Ubi Soft rapidamente expandiu os seus horizontes e chegou a países como Reino Unido, Alemanha e Estados Unidos.

Mais do que isso, deixou de ser somente uma distribuidora e passou também a criar os seus próprios jogos. Com uma estratégia inovadora, eles adquiriram um chateau (uma espécie de castelo) e criaram a primeira grande sede da Ubi Soft, na França, para onde convidavam diversos jovens e talentosos desenvolvedores.

Em 1989, a empresa lançou “Zombie”, primeiro título feito inteiramente dentro de casa. Só que os custos para manter aquilo tudo ainda eram muito altos. E, no início dos anos 90, ela teve que optar por um formato tradicional, lançando os seus primeiros estúdios, em Paris e Montpellier, na França, e Bucareste, na Romênia.

Em 1993, a companhia já era a maior do segmento na França. Mas seu “boom” mesmo veio em 1995. A Ubi Soft desenvolveu e publicou Rayman, um clássico, que se tornou o jogo mais vendido da história da PlayStation no Reino Unido e fez enorme sucesso não só no console da Sony como também no Sega Saturn.

Dali em diante, a marca decolou ainda mais. Entre 1996 e 2000, a companhia abriu estúdios de desenvolvimento em Xangai (China), Annecy (França), Montreal (Canadá), Casablanca (Marrocos), Barcelona (Espanha) e Milão (Itália). Sem falar nos escritórios de distribuição, em países como Espanha, Itália, Austrália, Bélgica, China e Dinamarca.

Sorte ou Revés

Do War para o Banco Imobiliário, os irmãos Guillemot decidiram que sua expansão, em termos de territórios, já estava suficiente. Agora, era a hora de fazer aquisições de uma série de marcas estratégicas para fortalecer os negócios. Por isso, foram atrás de mais franquias de peso e estúdios de qualidade para a Ubi Soft.

Em março de 2001, aconteceu a primeira grande aquisição. A Ubi comprou a divisão de entretenimento da The Learning Company. Com ela, vieram os direitos de games como Myst e, principalmente, Prince of Persia. Em julho de 2006, a marca comprou a franquia Driver da Atari.

Mas o acordo mais marcante foi em 2008. A empresa concordou em comprar “todos os direitos de propriedade intelectual sobre o nome Tom Clancy para uso em videogames e produtos como livros, filmes e produtos”. Claro, ela já publicava jogos da série antes, só que sempre fazendo acordos temporários.

No mesmo ano de 2008, ela comprou também a Hybride Technologies, estúdio famoso por criação de efeitos visuais para cinema, TV e anúncios, e a Massive Entertainment, da Activision. Mais recentemente, em 2013, a companhia adquiriu ainda os direitos de South Park da THQ.

Nesse meio tempo, ela refez seu branding, em 2002, mudando seu nome de Ubi Soft para o Ubisoft que conhecemos hoje, com a logo (swirl) atual (simplificada em 2017), anunciou investimentos de mais de US$ 370 milhões ao longo de sete anos em sua sede principal, que hoje é no Canadá, e abriu mais diversos escritórios no mundo.

Eu sou… uma coisa!

Do Banco Imobiliário para o Perfil, a Ubisoft é facilmente identificada por suas franquias AAA. Isso começou entre o fim dos anos 90 e início dos 2000, com Tom Clancy’s. É um selo que, mesmo com séries diferentes, como Rainbow Six (1999), Ghost Recon (2001) e Splinter Cell (2002), tem uma identidade e é associado á Ubi.

Até porque foram lançados muitos jogos de todas essas marcas desde que elas foram lançadas. Rainbow Six e Ghost Recon, por exemplo, têm jogos recentes. Siege (2015) e Wildlands (2017). Falta só um novo Splinter Cell, que muita gente esperava até que fosse ser anunciado na E3 desse ano, mas não foi.

Outros ótimos exemplos são Far Cry (2004) e Assassin’s Creed (2007). Eles já foram até criticados por terem muitos jogos em pouco tempo, mas são franquias que estão, certamente, na cabeça de todo gamer e geram buzz enorme sempre que sai alguma novidade sobre elas.

Em outubro, teremos Assassin’s Creed Odyssey, um ano depois do sucesso que foi o último título da série, Origins. No início do ano, saiu Far Cry 5. Ou seja, dois títulos de grande peso lançados em questão de meses pela mesma empresa. E isso é possível porque a Ubisoft investiu pesado para ter esse tipo de franquia no seu catálogo.

Seja as que comprou, como os Tom Clancy’s, ou as que criou, como Assassin’s Creed. Mas não para por aí. Tem The Division, For Honor, South Park, Just Dance, Trials, The Crew, Starlink, Mario + Rabbids, Beyond Good And Evil, Watch Dogs… Fora o que eles podem estar fazendo e nós ainda nem sabemos, né?

Combate

De 2015 até março desse ano, a Ubisoft disputou uma verdadeira partida de Combate com a Vivendi, conglomerado de mídia francês que adquiriu ações da empresa em outubro e foi gradualmente comprando mais e mais espaço até se tornar a maior shareholder da companhia. Porém, os Guillemots não curtiram a ideia e isso passou a ser um problema.

Afinal, parecia que a Vivendi estava querendo tomar o controle da Ubisoft, mesmo que passinho a passinho. No início desse ano, o conglomerado já era responsável por 27,27% das ações da empresa de games. Para não deixar essa participação crescer ainda mais, a Ubisoft chegou a um acordo: ofereceu à Vivendi 2 bilhões de euros por essa fatia da companhia.

Um valor astronômico perto dos 794 milhões de euros que a Vivendi gastou nas ações para chegar a esse ponto. O processo inteiro, fechado em março, é algo que irá levar cinco anos, mas durante esse período a Vivendi não pode mais comprar nenhuma participação da Ubisoft. Segundo Yves Guillemot, num comunicado à imprensa após assinar o acordo, essa foi uma “excelente execução de estratégia” da empresa.

As ações que eram da Vivendi vão ser divididas em diversas partes. A própria Ubisoft ficará com 8,1%. A Guillemot Brothers SE, empresa montada pelos irmãos Guillemot, terá 2,7%, subindo seu total para 15,6% da companhia, a Ontario Teachers ficará com 3,4% e a gigante chinesa Tencent terá 5%. Isso é um ponto importante, pois pode levar a Ubi a um outro nível no mercado chinês. Os outros 8% serão vendidos a investidores qualificados.

Dia do Pagamento

Atualmente, a situação da Ubisoft parece um Jogo da Vida. Só que com casas de Dia do Pagamento uma atrás da outra. A empresa fechou o ano fiscal de 2017-2018 com excelentes números, batendo recorde de vendas (18,6% de crescimento) e chegando ao incrível valor de US$ 2 bilhões arrecadados.

Com escritórios em quase todos os cantos do mundo (exceto na África), e mais de 14 mil funcionários (segundo o LinkedIn), a companhia se tornou uma multinacional bem grande. No seu site oficial, é possível ter uma noção disso. Ainda comandada por um dos seus irmãos fundadores, Yves Guillemot, ela tem mais de 40 estúdios no mundo.

“A maior força criativa in-house da indústria, com mais de 80% de nossos times sendo dedicados à criação”, diz a página oficial da empresa no LinkedIn, que destaca ainda que ela é composta por pessoas de mais de 95 nacionalidades e que falam 55 línguas diferentes.

Um olhar para o Brasil

A Ubisoft é uma das empresas de videogames – talvez a maior delas – que está presente no Brasil. Além de localização de jogos e produtos, a companhia conta com uma grande estrutura no país com canal no YouTube, funcionários e muito mais.

E claro, isso se reflete em resultados. A franquia Assassin’s Creed – sozinha – já conta com mais de 5 milhões de jogos vendidos no Brasil; The Division tem mais 500 mil jogadores; Rainbow Six Siege ostenta 2 milhões de jogadores brasileiros; Just Dance é um sucesso sem precedentes e exibe vistosos números: mais de 10 milhões de jogadores com 1 bi-campeão mundial.

Que caminho desde aqueles cinco meninos franceses, não?

Confira alguns dos principais jogos da Ubisoft

Anos 90

• F1 Pole Position (1993)
• Indiana Jones and the Last Crusade (1993)
• Rayman (1995)
• Alexi Lalas Red Hot Soccer (1996)
• All Star Tennis ’99 (1998)
• Rayman Forever (1998)
• Monaco Grand Prix (1999)
• Rayman 2: The Great Escape (1999)
• Tom Clancy’s Rainbow Six: Rogue Spear (1999)

Anos 2000

• Batman Beyond: Return of the Joker (2000)
• Donald Duck: Goin’ Quackers (2000)
• Myst Masterpiece Edition (2000)
• Tom Clancy’s Rainbow Six: Rogue Spear: Urban Operations (2000)
• Myst III: Exile (2001)
• Rayman 2: Revolution (2001)
• Tom Clancy’s Ghost Recon (2001)
• Worms World Party (2001)
• The Settlers IV (2002)
• Tom Clancy’s Splinter Cell (2002)
• Beyond Good & Evil (2003)
• Prince of Persia: The Sands of Time (2003)
• Far Cry (2004)
• Prince of Persia: The Two Thrones (2005)
• Call of Juarez (2006)
• Tom Clancy’s Rainbow Six: Vegas (2006)
• Assassin’s Creed (2007)
• TMNT (2007)
• Far Cry 2 (2008)
• Assassin’s Creed II (2009)
• Call of Juarez: Bound in Blood (2009)
• Just Dance (2009)

Anos 2010

• Michael Jackson: The Experience (2010)
• Driver: San Francisco (2011)
• Rayman Origins (2011)
• Assassin’s Creed III (2012)
• Far Cry 3 (2012)
• Assassin’s Creed IV: Black Flag (2013)
• Rayman Legends (2013)
• Watch Dogs (2014)
• Just Dance 2016 (2015)
• Rainbow Six Siege (2015)
• Tom Clancy’s The Division (2016)
• Watch Dogs 2 (2016)
• Assassin’s Creed Origins (2017)
• For Honor (2017)
• Mario + Rabbids Kingdom Battle (2017)
• South Park: The Fractured but Whole (2017)
• Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands (2017)
• Far Cry 5 (2018)
• Assassin’s Creed Odyssey (2018)
• Tom Clancy’s The Division 2 (2019)
• Skull & Bones (2019)

(Veja a lista de todos os jogos feitos/publicados pela Ubisoft aqui)

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