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Entendendo o final de Hellblade: Senua’s Sacrifice

Tá confuso? A gente te ajuda.

por Bruna Mattos
Entendendo o final de Hellblade: Senua's Sacrifice

Hellblade: Senua’s Sacrfice pode ser considerado um jogo especial. A Ninja Theory, estúdio responsável pela criação do jogo apostou em fugir de todos os clichês da jornada do herói.

Senua, a protagonista, sofre de psicose, um transtorno mental que provoca uma série de alucinações, principalmente auditivas. Esses indivíduos têm dificuldade em reconhecer o que é real e o que é fruto do transtorno – ou olhando por uma perspectiva diferente, não vêem o mundo como as pessoas ditas “normais” veem.

Isso faz com que Hellblade seja uma experiência confusa para algumas pessoas que não conseguiram perceber todos os detalhes e sutilezas da história de Senua. O jogo tem uma perspectiva muito pessoal e nem todos os aspectos da trama estão expostos ou são óbvios.

Apesar de o jogo ser em terceira pessoa, tudo se passa na perspectiva da protagonista, um indivíduo com um transtorno mental que corrompe a realidade dita “normal”. É importante entender que boa parte dos acontecimentos estão na mente de Senua e não representam uma jornada física ou necessariamente real.

O final do jogo é um momento de grandes revelações e deixou alguns jogadores perdidos, mas vamos tentar deixá-lo mais claro para você.

AVISO! – Esteja ciente de que daqui para frente, o texto contém grandes spoilers sobre Hellblade: Senua’s Sacrifice.

O básico

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Hellblade: Senua’s Sacrifice. Fonte: Divulgação.

Até mesmo alguns detalhes da história de Senua estão “escondidos” em sutilezas do jogo que passam despercebidas ao longo do gameplay.

Senua é uma guerreira Celta que faz parte do clã dos Pict. O pai da protagonista, Zynbel, é uma espécie de xamã do clã e obcecado em destruir o que ele chamava de “escuridão”, ou a psicose. Galena, a mãe de Senua, também possuía o transtorno. Enquanto tentava combater “a escuridão”, Zynbel queimou Galena em uma fogueira de forma semelhante ao que se fazia com bruxas durante a inquisição.

Devido ao trauma de ver a mãe ser queimada pelo próprio pai, Senua bloqueou a memória deste fato. Ela cresceu atormentada pela influência de Zynbel, que insistia para que ela afastasse “a escuridão” a todo custo, pois as visões e alucinações de Senua eram uma maldição que poderia prejudicar todo o clã. Com isso, a protagonista de Hellblade vivia isolada e insegura.

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Hellblade: Senua’s Sacrifice. Fonte: Divulgação.

A vida de Senua muda quando ela conhece um rapaz chamado Dillion. Ao contrário de Zynbel, Dillion não vê a psicose dela como um problema, mas como uma forma especial de ver o mundo que só ela possuía. Ele ajuda Senua a se libertar da influência do pai e aceitar o transtorno como uma parte de si mesma.

O poder de Zynbel, no entanto, era forte, o que fez com que Senua acreditasse que uma peste que assolou o clã fosse uma consequência da maldição que ela carregava. Senua decide que precisa enfrentar “a escuridão” e parte em exílio para uma floresta. Quando ela retorna às terras do clã, encontra o lugar devastado por uma invasão Viking e Dillion morto, usado como sacrifício para Hela, a deusa do mundo inferior, ou Hellheim.

Senua decide, então, ir até o reino de Hela para salvar a alma de Dillion, e esta é a jornada que vemos ao longo do jogo.

O Complicado

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Hellblade: Senua’s Sacrifice. Fonte: Divulgação.

O final de Hellblade traz um monte de resoluções, que explicam até mesmo o básico da história de Senua. No entanto, a grande revelação é mostrar que toda aquela aventura é uma espécie de batalha mental, de aceitação e crescimento.

Ao atravessar o grande portão que levaria Senua até Hela, a protagonista enfrenta a Sombra, que é basicamente seu próprio pai. Ele simboliza todo o medo que Senua tem de sua psicose, enquanto a busca por Dillion traz o conforto da aceitação. Ao enfrentar seus sentimentos em relação à opressão de seu pai, Senua se lembra do que realmente aconteceu no dia da morte de sua mãe.

A protagonista de Hellblade acreditava que Dalena cometeu suicídio para livrar o clã da maldição da “escuridão”. Senua sentia-se covarde por optar pelo exílio e, culpava-se pelo ataque dos Vikings à vila e pela morte de Dillion (por isso a tentativa desesperada de salvar a alma do amado). Na verdade, a morte de sua mãe queimada fora causada por Zyndel, como uma “resposta a um pedido dos deuses”.

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Hellblade: Senua’s Sacrifice. Fonte: Divulgação.

Depois da última batalha, Senua finalmente percebe que não há porque “lutar contra a escuridão”. Esta batalha é, na verdade, fruto do fato de Zyndel não entender ou aceitar a psicose de Senua e de sua mãe. A conclusão da protagonista é de que as punições e o sofrimento não são produto de ações dos deuses, mas de pessoas ao nosso redor.

Toda essa jornada serviu para que Senua enfrentasse todo o medo que sentia de si mesma – na forma de deuses e figuras mitológicas de uma religião de um povo que massacraram seu lar. Não é à toa que todos os desafios e provações se passam no “inferno Viking”.

Querendo ou não, Dillion continuou a ser a força que guiava Senua em direção à aceitação de sua condição. Quando ela se dá conta de que sua condição não é uma maldição e que ela não é culpada pela morte de Dillion, ela aceita que ele realmente se foi e que não há nada a ser feito para trazê-lo de volta ou salvar sua alma.

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Hellblade: Senua’s Sacrifice. Fonte: Divulgação.

É exatamente por isso que, na cena final, Hela toma a forma da protagonista, simbolizando que a batalha de Senua era contra si mesma, e não contra alguma figura mitológica. Depois de tudo, Senua também percebe que a psicose é parte dela. As vozes continuam lá, mas algo está diferente. Elas não trazem medo ou tormento, mas ajudam a manter os traumas longe.