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Kingdom Hearts I.5 + II.5 ReMIX: Vale a pena?

A coletânea com 6 jogos é surpreendente.

por Raphael Batista
Kingdom Hearts I.5 + II.5 ReMIX: Vale a pena?

É fato que muitos ainda “torcem o nariz” ao ouvir falar sobre as remasterizações. Pior ainda é quando se trata da remasterização de uma remasterização recente. Porém, Kingdom Hearts I.5 + II.5 ReMIX tem a plena autoridade para fugir à regra pela sua qualidade e por entregar uma experiência completa e abastada para todos os jogadores.

O conjunto abrange 6 títulos e oferece mais de 70 horas (ou mais de 100 horas para os caçadores de troféus) para aqueles que desejam vivenciar toda a intensa jornada de Sora com seus escudeiros Donald e Pateta.

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Caso o jogador não esteja familiarizado com o universo rico presente de Kingdom Hearts, o Meu PS4 tem um guia definitivo sobre o enredo e a cronologia dos eventos. É altamente recomendável a leitura, uma vez que não nos aprofundaremos na história dos jogos nesta análise para não torná-la exaustiva.

A Parte 1 e 2 já estão disponíveis. A terceira parte está em produção.

Para esta análise, utilizamos como parâmetro os 3 principais jogos da franquia lançados até então: Kingdom Hearts I Remix; Kingdom Hearts: RE: Chain of Memories e Kingdom Hearts II. Foram esses os que receberam maior foco para realizar o review que você confere a seguir!

Remasterização das remasterizações

Apesar de não muito comum, a versão produzida para o PlayStation 4 é a remasterização de duas produções lançadas para o PlayStation 3, Kingdom Hearts I.5 e Kingdom Hearts II.5, as quais são obras reformuladas dos jogos lançados para o PlayStation 2 dessa mesma franquia.

A verdade é que a coletânea atual é totalmente voltada para os novatos, os que desejavam adentrar ao universo de Kingdom Hearts com um custo benefício interessante para a carteira. Os 6 títulos são exatamente os mesmos daqueles lançados para o PS3, por tanto, a não ser para coleção, a remasterização não agrega maior experiência aos veteranos.

Jogabilidade, enredo, modos de jogo, gráficos, level design, todas as características foram mantidas as mesmas. Claro que há uma melhoria ali ou lá quanto ao visual para a oitava geração, mas nada substancial quanto às versões da geração passada.

No que tange ao aspecto audiovisual, a remasterização em si cumpre seu papel de forma decente. A trilha sonora encaixa-se devidamente nos momentos de combate e nas cenas de diálogos, mas não é uma obra-prima como visto na franquia Final Fantasy, por exemplo.

Os gráficos apresentados remetem-se aos formatos comuns nas eras do PlayStation 1 e 2. Traços poligonais evidentes, como se fossem caricaturas. A remodelação dos personagens é mais polida nos títulos recentes, como em Kingdom Hearts II em que os traços são mais refinados.

Não que o visual ou o áudio sejam a parte importante do game, já que seu foco encontra-se inteiramente na narrativa de uma aventura emocionante.

Um filme apaixonante

Tratando de modo geral, Kingdom Hearts é como aquele filme que você julga ser chato logo de início. Você sente a progressão cadenciada, custando a dar continuidade. Porém, conforme vai se aprofundando no enredo e entrando na experiência, percebe que está diante de uma obra-prima, assim como em Interstelar.

Em Kingdom Hearts I e II, principalmente, o jogador sente estar na marcha lenta para os eventos desenrolarem no início. Isso pode afastar alguns, já que podem perder a motivação pela exaustão. Os acontecimentos iniciais são chatos e, por vezes, desconexos. Contudo, a recompensa para os que continuam é uma experiência divertida e apaixonante.

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A amizade é a coisa mais preciosa para Sora. Apesar de um início lento, a história conquista os jogadores. Fonte: captura de tela.

A franquia Kingdom Hearts apresenta um universo abundante e interligado, com os jogos dialogando entre os eventos ocorridos e futuros constantemente. Ao longo dos jogos – especialmente em KH: RE: Chain of Memories – o jogador se sentirá responsável pelas ações da linha do tempo dos títulos e fará conexões com os personagens.

O enredo, então, torna-se uma epopeia escrita pelo próprio Homero. As reviravoltas, as cenas de animações, os diálogos, os heróis e vilões, tudo se encaixa perfeitamente e constrói uma narrativa rica e muito bem elaborada ao longo de toda a série.

E claro, nada poderia ser tão bem coeso sem a presença da magia da Disney.

Fidelidade à magia da Disney

Imagine deparar-se com Hércules discutindo com Phil sobre o que é ser um verdadeiro herói? Ou então, ter a possibilidade de ter 3 desejos com o Gênio em Alladin? Ainda encontrar-se com a Rainha Vermelha ordenando que cabeças rolem? Pois bem, em Kingdom Hearts a essência da Disney foi transmitida fielmente.

É como voltar às nossas salas onde o VHS ficava conectado na TV de 20 polegadas e colocar a fita cassete dos nossos desenhos favoritos de infância. É, no mínimo, nostálgico e divertido proporcionar experiência tão carregada de sentimentos bons.

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Ursula com sua personalidade “discreta”. Fonte: captura de tela.

Claro que os personagens não estão ali apenas para preencher vagas, mas sim, cada um possui papéis específicos na aventura de Sora e também importâncias em diferentes níveis de relevância para compreender os acontecimentos.

Ao longo de Kingdom Hearts I e Kingdom Hearts: RE: Chain of Memories será possível visitar os múltiplos mundos da Disney, vislumbrar-se com o cenário representado, dialogar com os personagens ali presentes e, principalmente, fazer parte da história da Disney de modo único.

Hack and Slash com RPG ou RPG com Hack and Slash?

Os jogos de Kingdom Hearts apresentam diferentes jogabilidades ao longo de suas produções. Enquanto que KH 1 e 2 são voltados para o RPG de ação com elementos de combate Hack and Slash, o KH: RE: Chain of Memories utiliza-se de um sistema de cartas para ações em tempo real.

Ainda, há divergências entre as jogabilidades do primeiro para o segundo título da franquia, os quais mesmo embasados na mesma mecânica, possuem diferenças no uso dos itens, ataques, habilidades e etc.

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Prepara-se para a batalha! Fonte: captura de tela.

Essa variedade contribui para a formação de experiências diferenciadas, contudo, aparenta-se que a Square Enix estava tentando buscar a “fórmula perfeita” da jogabilidade para ser encaixada na franquia.

Um jogo ‘infantil’ para adultos

Kingdom Hearts, apesar das premissas coloridas e de personagens voltados para a infância, é indubitavelmente uma série voltada para o público jovem/adulto. Isso é comprovado através de 3 fatores: história complexa, dificuldade elevada e uso de estratégias.

O enredo, como bem observado através dos guias recomendados no início desta análise, oferece reviravoltas e possui uma narrativa profunda, envolvente, totalmente propícia para amantes de uma boa história.

A dificuldade elevada é um ponto curioso em Kingdom Hearts. O jogo em si não é difícil, porém, existem (muitas) partes em que o jogadores irão tentar, tentar e tentar de novo para conseguir avançar.

O modo Normal já é um desafio e, para os que buscam uma experiência ainda mais desafiadora, existe os modos mais difíceis (necessários para a platina).

O nível de dificuldade está intrinsecamente ligado aos elementos RPG tão bem inseridos nos jogos. O título não funciona como Hack and Slash o qual é necessário apertar 1 botão para vencer, mas é preciso utilizar-se de habilidades e poderes nas horas devidas.

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Estratégia é imprescindível para a vitória. Fonte: captura de tela.

Poderes especiais, summons, combos de ataques, utilização de itens são bem inseridos em todos os games de KH e garantem uma experiência ainda mais duradoura.

Os desastres

Falando especificamente de Kingdom Hearts I, dois pontos negativos trágicos são a câmera e a party. O primeiro não funciona devidamente nos combates nem na exploração. Já o segundo, será dor de cabeça durante toda a jornada.

Em muitas vezes, durante as batalhas – principalmente contra os enormes boss – o jogador estará preso em um ângulo totalmente sem visão e frustrado com os movimentos descoordenados que prejudicam a jogabilidade.

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Onde estou? O que aconteceu? A câmera é um desastre. Fonte: captura de tela.

É verdade que é possível alterar a visualização pelo método manual, em que o analógico direito desempenha o papel de comandar a câmera, porém, a resposta é lenta e mal direcionada. Por isso, manter a função automática é a opção menos trágica.

Outro problema desmotivador é a party formada pelo Pateta e Donald. Eles mais atrapalham do que ajudam, isso porque logo morrem e cabe ao jogador utilizar-se dos recursos para tê-los de volta ao campo de batalha.

Mesmo morrendo fácil, o jogador sente a necessidade da presença deles ainda mais para chamar a atenção dos inimigos e planejar uma estratégia eficaz. Contudo, os ataques deles pouco fazem efeitos e suas fragilidades frustram até o mais paciente.

Nos títulos seguintes, estes não são mais um problema presenciado. A câmera, principalmente em KH II, é de uma perspectiva panorâmica e ampla, abrangendo os cenários de forma devida. Já a party, bem como o próprio Sora, receberam um buff contra danos e a inteligência artificial do Donald e Pateta foi melhorada.

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Em KH II, especialmente, a câmera abrange uma boa área de visualização. Fonte: captura de tela.

É importante o comentário sobre essas falhas já que são recorrentemente observadas no primeiro jogo da série, o que pode causar a desmotivação imediata dos jogadores.

Uma grata surpresa

Kingdom Hearts I.5 + II.5 ReMIX é uma grata surpresa. A coletânea, apesar de não possuir um visual arrebatador, é uma experiência única e emocionante para os que nunca conheceram este universo anteriormente.

Com um alto fator replay, principalmente aqueles que buscam a platina, uma história envolvente e elementos de RPG agradáveis, essa nova versão ganha o selo recomendado pela sua qualidade e por oferecer aos iniciantes a oportunidade de apaixonar-se por este universo.

 

Raphael Batista
Raphael Batista
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Jogando agora: Dragon Age: The Veilguard | LEGO Horizon Adventures
Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.