[Análises] Shadow Warrior 2: Vale a Pena?
Quando Deadpool resolve virar ninja e tirar férias da franquia X-Men.
Peguemos Borderlands. Apliquemos esteróides anabolizantes. Troquemos personagens carismáticos por um completamente desbocado e sem sentido, ao melhor estilo Deadpool/Duke Nukem. Adicionemos, então, a violência gráfica de Doom. Com uma GRANDE base de elementos de RPG. Temos a fórmula completa de Shadow Warrior 2.
Uma definição que pode soar, em um primeiro momento, um tanto confusa. Mas não há melhor maneira de descrever este surpreendente título da Flying Wild Hog. Um jogo de tiro construído sob uma base focada em RPG de ação. Ou seria o contrário? As únicas certezas que existem é que a diversão é soberba.
Sendo assim, embarque no Caminho de Wang. Que é “longo”. E “duro”. E que é feito somente para “o mais f*#@* dos ninjas”. E descubra o que fez deste um dos melhores títulos de 2017.
O Guerreiro das Sombras
Apesar de não parecer, existe uma história interessante por trás desta máscara de “zoeira” de Shadow Warrior 2. Os primeiros minutos são um tanto enfadonhos e monótonos, dando ao jogador falsa impressão que o título é apenas mais um shooter em meio a tantos outros do gênero.
Mas então, após uma missão de resgate de uma pessoa específica, tudo começa a ficar interessante. Lo Wang, protagonista do título, vê seu objetivo – uma mulher, Kamiko, filha de um chefe da Yakuza – ser aparentemente possuída. E, após resgata-la, acaba com a alma dela presa em seu corpo. Diga-se de passagem, de uma forma nem um pouco voluntária.
A partir deste ponto, sua missão é fazer com que a alma da garota retorne ao seu próprio corpo. Para isso, destruir androides, monstros e demônios torna-se uma atividade corriqueira na vida de nosso personagem
A relação dos dois é outro ponto alto da história. Não estando presa ao corpo de Wang por livre vontade (a escolha era entre isso ou a morte certa), Kamiko acaba por desenvolver uma antipatia gratuita. O que gera inúmeras situações hilárias durante o gameplay.
Fazendo uma referência que todos possam entender, tente imaginar, caro jogador, se Master Chief e Cortana se odiassem. Estivessem em “DR” constante e eterna. E para tornar as coisas ainda mais interessantes, Lo Wang encarna perfeitamente o espírito “Deadpool” neste jogo, com comentários sarcásticos e piadas referenciais.
“Harder, Better, Faster, Stronger”
O título é uma evolução visível do seu predecessor. Os cenários são mais abertos, garantindo assim mais liberdade de exploração ao jogador. Apesar da linearidade da história principal, o número de missões paralelas é suficiente para não tornar o jogo entediante.
A estrutura das missões é outro ponto interessante. As já citadas missões paralelas não existem apenas para preencher lacunas. Elas tem um porquê de estar ali. E cada uma delas oferece uma determinada recompensa, que varia em seu valor, dependendo da dificuldade na qual o jogador se encontra.
A navegação pelos cenários também foi melhorada. Agora, Wang conta com movimentos diversificados para o combate, exploração e movimentação. Pulos duplos, arrancada terrestre e aérea, esquivas laterais. Ao avançar no jogo, tal arsenal é incrementado ainda mais, abrindo um leque gigantesco de opções aos jogadores.
O level design dos cenários é outro ponto forte. De bairros japoneses cheios de neon a templos budistas. De florestas e matas fechadas a ravinas infestadas de demônios. Houve uma atenção especial aos cenários e suas representações. E a verticalização das estruturas torna a procura pelos segredos do jogo ainda mais interessante.
A sensação de descoberta permeia cada canto dos estágios. Sempre há algo a ser encontrado ou coletado. Para aqueles apaixonados em explorar cada canto dos mapas disponíveis, este certamente será um banquete.
Esta é minha pistola, este é meu rifle… E esta é minha mão na sua cara.
Um dos elementos mais diversificados e interessantes do jogo é o seu combate. Apesar de possuir tantos elementos similares a jogos como Borderlands, seu sistema de confrontos se assemelha mais a títulos como Doom. Frenético e visceral, com uma variedade imensa de possibilidades e ferramentas para o trabalho.
Há uma imensa variedade de armas únicas no jogo. Como parâmetro, durante esta análise, foram encontradas nada menos que 40 armas diferentes, variando entre curto e longo alcance, e armas corpo a corpo. Elas podem ser compradas, ganhas como espólio (o famoso loot) ou recompensas em missões. Sua raridade depende da dificuldade.
E enfrentar inimigos neste jogo é algo sublime. As armas de projétil possuem peso e consistência nos disparos. As de corpo a corpo obedecem a uma física quase real. Mas são fantasticamente elaboradas para tornar a tarefa de desmembrar e explodir crânios sempre mais gloriosa.
Além disso, cada arma serve a seu propósito. Controle populacional, execução rápida, desmembramento estratégico, etc. Mas sendo um guerreiro oriental que se preze, não poderiam faltar ainda as habilidades espirituais de Wang. Algumas usam seu Chi (ou mana, se preferir). Outras melhoram as habilidades físicas.
Os poderes que usam o Chi são diversos, mas em sua maioria servem como suporte. Matar inimigos requer o uso das armas. E isso não diminui a grandeza do jogo. Pelo contrário: adiciona inúmeras estratégias, especialmente jogando-se cooperativamente.
Crise de Identidade
Como já dito, Shadow Warrior 2 possui diversos elementos de RPG. Sua comparação com a franquia Borderlands neste aspecto é inevitável. Os espólios variam em raridade, e estes habilitam bônus específicos. O personagem e seus armamentos beneficiam-se das diversas melhorias que podem ser adquiridas.
Interessante notar que não são as armas o principal foco do jogo, mas as gemas de melhoria para seus engastes. Elas é que fornecem melhorias elementais, aumento na cadência de tiro, maior precisão, efeitos diversos e possibilidade de recuperar energia/vitalidade a cada golpe/tiro.
É possível investir tempo substancial apenas testando as quase infinitas combinações possíveis de gemas, até encontrar aquela que seja a melhor. Estes elementos dão ao jogo um aspecto de RPG que nem mesmo Borderlands possui, tamanha a profundidade dessas modificações.
Conforme dito anteriormente, o personagem evolui por meio de pontos de habilidade. Não existe um sistema de níveis no jogo além deste. E cada ponto é usado para melhorar um poder determinado do protagonista. Com isso, determinadas habilidades tendem a se tornar o diferencial entre a vida e a morte.
Outro ponto a se observar é que o jogo não “amarra” espólios. Jogar em dificuldades mais altas significa deparar-se com itens lendários com frequência. Muito embora esta seja uma decisão que pode limitar a eficácia desses itens, tal situação não acontece. Com bônus sempre diferenciados, é quase impossível obter duas melhorias iguais.
E este é o diferencial do jogo. Tudo nele, até mesmo seu loot, tenta ser único.
Sou aquele que vai acabar com você. É um prazer conhece-lo.
Um bom jogo se faz com bons inimigos. Talvez este seja um ponto que o deixe menos interessante.
Os inimigos de Shadow Warrior 2, especialmente os ciborgues, sofrem com uma inteligência artificial horrível. Em determinadas situações, estar embaixo de escadas ou atrás de portas é o suficiente para que eles o ignorem completamente. Por determinadas vezes durante esta análise, os inimigos simplesmente paravam de atirar.
E tudo porque Wang estava atrás de caixas à altura de sua cintura!
Mas este problema não se observa em outros oponentes. Demônios, animais modificados e outros comportam-se ferozmente. Atacam em grupos, se unem em investidas, se protegem e e atacam com voracidade. Tal qual outros jogos com elementos do gênero, existem inimigos normais, e aqueles “de elite”. Estes, mais fortes e complicados de abater, podem ser encontrados com facilidade.
No entanto, sua repetitividade pode não agradar a muitos. Seu modus operandi e similar em todos os casos: ao perder certa quantidade de energia, os inimigos de elite se cercam de escudos, que os tornam invulneráveis. Após isso, criam versões em miniatura deles mesmos para lutar. É só podem ser novamente atingidos após essas miniaturas serem exterminadas.
Mesmo este pequeno “deslize” pode ser relevado com facilidade, visto que estes pequenos inimigos possuem sempre ataques diversificados. E isso aumenta o desafio do jogador. Especialmente porque os ditos “chefes” não são misericordiosos.
Coisa linda de se ver e ouvir
O título uma um motor gráfico próprio da desenvolvedora, que é dito “suportar gráficos altamente detalhados e física dos objetos avançada”. Apesar disso, graficamente falando, o jogo não decepciona, mas não espanta. Os personagens humanos não são tão detalhados. Sua silhueta e estranha, e suas texturas são um tanto fracas.
Já o mesmo não se pode dizer dos cenários e inimigos. Incrível detalhados, fazem a diferença no produto final. Paisagens, construções, itens de cenário. Estes foram muito bem trabalhados. Não há aqui sensação de jogo mal acabado. As armas possuem ainda um design realista, quase palpável.
Os efeitos de luz e sombra também são interessantes. Apesar de não possuírem um papel definitivo no que toca a jogabilidade. Não se pode “ocultar-se” nas sombras ou perceber inimigos se aproximando por meio dela. Mas a beleza dos inúmeros estágios está exatamente neste quesito distinto.
Se os modelos dos personagens não são lá essas coisas, o mesmo não pode ser dito do áudio do jogo. Os sons provenientes dos tiros, grunhidos dos monstros, peças cortadas de ciborgues, balas ricocheteando nas superfícies. Os diálogos (extremamente divertidos). A trilha sonora empolgante e instigante. Há de se reconhecer o trabalho primoroso da desenvolvedora desse aspecto.
Fora isso, os cenários ganham ainda mais realismo com os sons eficientemente trabalhados.
Minha Nossa Senhora da Referência!
Tem se tornado muito comum que os jogos atuais possuam inúmeras referências ao universo nerd/geek. Em análise recente, pudemos citar Styx: Shards of Darkness, onde tais citações eram feitas de forma quase constante. Shadow Warrior também o faz de forma bastante divertida e competente.
No entanto, ao contrário do título da Focus Home, tais referências são mais sutis. Mais ocultas. Posters de jogos. Nome de armas, até mesmo um determinado movimento de Wang, baseado no “mercenário boca-suja”. Algumas delas precisam de um certo raciocínio para serem entendidas.
Mas talvez a referência mais interessante seja ao que acontece quando você, jogador, resolver machucar seres indefesos. Em The Witcher 3, se você matar vacas demais, o “Demônio bovino” aparecerá para ceifar sua vida. Em Zelda, se voce machucar uma galinha (ou galinhas) demais, a irmandade irá atrás de você com toda fúria.
Já neste jogo, aparentemente, os coelhos são sagrados. E se você é resolve matá-los… Bom…
Esse tipo de situação mostra o empenho e dedicação das desenvolvedoras com os jogadores. Demonstra que sua cultura tem importância.
Cara, você fala demais. Termina logo isso – Sr. Wang
Apesar de não ser tão conhecido, Shadow Warrior 2 é, de fato, uma obra prima. Sua jogabilidade fluída, aliada a controles precisos e mecânicas eficientes o tornam digno de ser reconhecido. Nem mesmo os pequenos os deslizes vistos durante a análise minimizam o brilhantismo da obra.
Jogar cooperativamente, com até quatro jogadores, torna a aventura ainda mais divertida. Os inimigos evoluem de acordo, e o caos se instaura no cenário. Não há experiência igual. E a localização de menus e legendas para nosso idioma (com tradução de insultos e gírias ao pé da letra) imerge ainda mais os jogadores.
Além disso, os troféus são relativamente fáceis de se ganhar. Sua dificuldade mais alta sequer é tão complicada assim. Mas ainda oferece desafio para aqueles que o desejam.
Com um humor cru e sarcástico, este título é muito mais que recomendado.
Pronto, senhor Wang. Terminei. Satisfeito?