Baldur’s Gate 3: vale a pena?
Criatividade e liberdade definem a experiência de um dos jogos mais ousados dos últimos anos
É isso mesmo, você não está lendo errado. Essa é a análise de Baldur’s Gate 3, quase dois meses após seu lançamento no PS5. Não poderia ser feito de modo diferente. A obra da Larian Studios é densa, cheia de possibilidades, envolvente e complexa. Não é um título para ser rushado. Por isso, aproveitamos cada minuto das muitas horas de campanha.
O título assume as mecânicas mais raízes do gênero RPG e aposta todas as suas fichas em uma experiência que simula o próprio RPG de mesa no mundo virtual. Assim como a criatividade é a chave fundamental entre os jogadores de Dungeon’s & Dragons, a Larian abusou da inventividade e trouxe um game no qual o player decide quase tudo. Quem morre ou quem vive, abordagem pacífica ou agressiva, se envolver com personagens ou não, tudo acontece com base nas ações do jogador.
Baldur’s Gate 3 é o título mais ousado dos últimos anos e, sem dúvida, merece a aclamação que tem recebido.
Seja o herói que você quer ser
Como em todo RPG de mesa, o jogador escolhe sua ficha de personagem e distribui os pontos de aptidão. Em Baldur’s Gate 3, a Larian não restringiu as possibilidades, e além das várias classes, como anões, tieflings, draconatos, elfos e outros, é possível definir sub-classes e funções, como paladino, mago, sacerdote, guerreiro e por aí vai.
Cada categoria possui suas próprias vantagens e desvantagens, que afetam não apenas o combate, mas também os diálogos e os relacionamentos. Por exemplo, os Tieflings têm chifres e olhos ardentes como o fogo. Seu visual causa repulsa nos elfos, o que fecha as portas para o diálogo. Cada detalhe é importante.
Curar o mun… a si mesmo
Logo após criar o seu personagem, o jogador se encontra dentro de uma nave dos Devoradores de Mente, que parecem o próprio Cthulhu. O protagonista foi infectado por uma Larva que o transformará em um desses monstros, e sua missão é encontrar uma cura para o problema.
O plot é simples, mas as nuances são variadas e complexas. Não só o personagem principal é infectado, como os membros da party sofrem do mesmo mal, e todos precisam se juntar para resolver o problema. Essa interação é um dos pontos brilhantes do jogo.
Ao longo da jornada, você descobre segredos e histórias de cada um e, ao desenvolver laços com eles, é possível abrir novas missões e os diálogos mudam drasticamente. É com os membros que dá para criar um romance ou até mesmo formar rivalidades. Tudo depende de como o jogador lida com os eventos e as informações que vivencia.
Infelizmente, há uma limitação em certos aspectos, para movimentar a história. Por exemplo, escolher o Impulso Sombrio fará que ele herde um traço de psicopatia. Durante a jornada, você pode até querer que ele seja um Paladino que busca pelo bem, mas luta internamente contra seus desejos impuros, só que algumas diretrizes do jogo o forçam a tomar decisões que vão por outro caminho.
Habla y habla
O grande destaque de Baldur’s Gate 3 é o seu texto denso e repleto de possibilidades. Não há quase nenhum limite para as opções de abordagem e tudo depende da criatividade e de uma pergunta simples: “E se eu fizer?…”
Você pode atacar o acampamento dos travessos goblins sem nenhum poder, mas e se fizer uma magia que simula um anão que deseja comercializar na região para implodir a área de dentro para fora? Você pode manter-se fiel aos seus princípios, mas e se fingir um comportamento para ganhar confiança de aliados poderosos? Tudo é possível, claro, tendo a noção de que haverá consequências reais para o universo.
O sucesso das ações depende das aptidões e características do grupo. Em cada linha de diálogo, o jogador nota quais atributos são necessários para executar a ação e, então, abre um tabuleiro com um dado de RPG (de 1 a 20) e o número a ser batido para ter sucesso. É possível atribuir modificadores e ao longo da jornada você ganha inspirações em certos eventos-chave que permitem a rerrolagem de dados.
Esse elemento traz para a experiência aquele gostinho do RPG de mesa onde a sorte é um fator importante para os componentes da mesa. Você tenta manipular os dados para ter mais chances de sucesso, mas nem sempre a ação será realizada e isso causa consequências divertidas de enfrentar. A Larian soube entregar uma mecânica constantemente presente que não se torna exaustivamente cansativa.
O mundo é para ser descoberto
Um dos pontos menos brilhantes de Baldur’s Gate 3 é como a liberdade é entregue agressivamente. Se você não está acostumado ao gênero, será difícil se habituar com as mecânicas, já que os tutoriais são muito simples e pouco amigáveis para novatos. Isso é desde o combate até a exploração. Falaremos sobre aquele mais para frente.
O RPG da Larian Studios dá uma missão central de buscar a cura, mas o caminho é inteiramente feito pelo jogador. Não há uma rota pré-definida ou um ponto no mapa que indica a direção. Para cada cidade descoberta ou cada personagem descoberto, o jogador que define o ritmo e para onde levará o seu grupo.
Essa liberdade é intuitiva e bem divertida. Ter um jogo sem um roteiro pré-estabelecido é encorajador. Porém, para quem espera algo mais dirigido ou, pelo menos, uma ajuda nos primeiros passos, ser jogado em um universo assim pode ser assustador.
Para aqueles que abraçam a missão de desbravar o desconhecido, grandes recompensas aguardam os corajosos. É possível se aventurar em florestas, desertos e cidades distintas. Cada interação com uma pessoa, com uma porta ou com até um animal pode gerar caminhos únicos e situações variadas.
É por isso que a experiência de Baldur’s Gate 3 é extremamente personalizada. Uma run pode mudar completamente dependendo das ações e quem decide entrar se aventurar através do multiplayer, encontrará uma nova forma de jogar ao conciliar as atividades com outros players.
Há de se destacar a variedade de cenários, como regiões subterrâneas e florestas, até mesmo a diversidade de inimigos, como goblins, ínferos, mortos-vivos e outros seres dignos de uma campanha original de Dungeon’s & Dragons.
Combate por turno, sim!
A questão mais “polêmica” do jogo é o combate por turnos. Muitos até argumentam que o título seria melhor se o combate fosse em tempo real – uma discussão que lembra muito a visão em terceira pessoa de Cyberpunk 2077. E a verdade é que o jogo não poderia ser melhor do que já é.
O gameplay em turnos é muito estratégico. Cada componente da party tem uma ação e acao extra, além de slots de magia. Há habilidades que permitem o uso de duas acoes por turno, mas na maior parte das vezes é apenas um movimento. Ao fim de cada batalha, seus slots de magia não são recuperados até realizar o descanso rápido – que também é limitado e só é restaurado ao partir para o acampamento para fazer um descanso completo.
Na hora da batalha, é preciso conhecer profundamente seu grupo e as aptidões. Nao adianta fazer um golpe corporal com um mago ou tentar usar uma guerreira para curar aliados. Nesse quesito, Baldur’s Gate 3 nao esconde que existe para criar builds e estratégias bem elaboradas.
Além disso, prepara-se para passar muito tempo abrindo os menus e comparando equipamentos, atribuindo novas habilidades e buscando encontrar estratégias mais efetivas a cada combate. Isso porque cada inimigo sofre danos extras com movimentos específicos e, por isso, é necessário sempre se adaptar.
Novamente, é importante reforçar que não há um tutorial amigável para isso. Você precisa aprender à base do erro e acerto. Talvez, não seja um ponto negativo, mas é inegável como isso pode afastar quem está querendo conhecer a proposta do game.
Um recurso que pode auxiliar nesse processo é a possibilidade de escolher níveis de dificuldade entre Fácil, Normal e Difícil. As configurações podem ser acessadas em qualquer momento do jogo, então caso esteja empacado em alguma parte, é possível recorrer ao auxílio.
Grande jogo, grandes riscos
Baldur’s Gate 3 sofre de vários bugs mesmo após quase dois meses do seu lançamento e alguns deles exigiram fechar o aplicativo. A maioria dos probleminhas é visual, como uma câmera que fica posicionada de forma errada, as legendas que somem e até pontos pretos que surgem na tela. Situações negativas, mas que não travam o progresso.
Agora, houve problemas mais graves, como a batalha iniciada e ninguém agindo, impedindo que os próximos personagens tomem suas ações. A situação aconteceu umas duas vezes e me forçaram a reiniciar o game. Há relatos de jogadores que não conseguiram zerar o jogo por conta de bugs, mas isso não é universal. A Larian tem dado o suporte para as reclamações e updates continuam a sair.
Por fim, é necessário destacar o belíssimo trabalho da trilha sonora e gráficos. A ambientação é potencializada pela música que encaixa perfeitamente em momentos da batalha, outras horas mais contemplativas e até os sons de exploração. A composição de Borislav Slavov pode até figurar nas suas playlists do Spotify como músicas ideais para suas atividades rotineiras.
É muito comum passar alguns segundos apenas apreciando o visual dos cenários, porque os gráficos de Baldur’s Gate 3 são excepcionais. Da direção de arte à modelagem dos personagens, os visuais estão o puro capricho!
Baldur’s Gate 3: vale a pena?
A resposta para essa pergunta é: depende. Há altas chances de novatos do gênero não se adaptarem por conta da sua complexidade, forte apelo a diálogos e o combate por turnos punitivo. Por outro lado, se você ama RPG clássicos e até participa de partidas de mesa, Baldur’s Gate 3 é a concretização de um sonho.
O título entrega horas e horas de um conteúdo massivo e envolvente, escolhas que realmente impactam o destino do protagonista e de seus companheiros e muita possibilidade de abordagem. É uma experiência que entrega criatividade e liberdade em níveis jamais visto.
O game da Larian Studios pode não ser uma jornada para todos, mas ele tem o potencial de entrar no hall de clássicos contemporâneos.
Veredito
Baldur's Gate 3
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Larian Studios
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- Grande nível de personalização
- História cheia de possibilidades
- Gameplay estratégico e elaborado
- Roteiro e texto densos
- Visual e trilha sonora muito bonitos
- Liberdade plena de exploração
- Criatividade nas abordagens
- Variedade de inimigos, cenários, personagens e classes
Desvantagens
- Limitações de história nas classes
- Bugs que forçam a reincialização
- Faltam tutoriais para novatos