Daymare: 1994 Sandcastle: vale a pena?
Brilho de um ótimo survival horror é quase apagado por falhas técnicas, limitações de gameplay e combate frustrante
“Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você”, disse Friedrich Nietzsche, no livro “Além do Bem e do Mal”. E é com tal premissa que temos Daymare: 1994 Sandcastle, jogo de terror que assume esse papel poético no conceito.
Lançado no final de agosto pela Leonardo Interactive, o título marca o retorno de uma das séries de survival horror mais underground do mercado. Agora, cerca de quatro anos após a estreia de 1998, as coisas ganham contornos mais profundos, mas com um aprendizado que ainda é vítima de si próprio.
“Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro”, completa Nietzsche. E para o bem ou para o mal, esse monstro parece ter extrapolado a quarta parede e tomado conta de um jogo que tinha tudo para brilhar.
Operação Castelo de Areia
Em um dia de trabalho normal, a espiã veterana do governo e atual agente da unidade especial H.A.D.E.S, Dalila Reyes, é convocada para um trabalho de urgência na Área 51. Sem saber mais detalhes, ela é informada sobre a necessidade de alcançar um contato e de recuperar uma maleta.
O que era para ser uma operação rápida e discreta de extração acaba ganhando contornos ainda mais profundos. Ao lado de um pequeno esquadrão, a protagonista chega no local e descobre que não há qualquer tipo de vida os aguardando.
Dessa forma, a história de Daymare: 1994 Sandcastle tem início, com Reyes e seus parceiros se vendo dentro de uma instalação assombrada pelos seu passado e por experimentos científicos que colocam em dúvida a própria realidade humana.
O título de terror é conduzido pela narrativa e tem, nesse aspecto, seu ponto central e sua força. A história conta com um excelente ritmo, onde nem mesmo alguns clichês conseguem retirar a sensação de mistério e o interesse do jogador em descobrir mais sobre a jornada ao abismo.
Enquanto explora a Área 51, Reyes é atormentada não apenas pelo seus traumas, mas também por um experimento que abalou completamente as estruturas do local. Isso porque todas as pessoas nele acabaram morrendo e tiveram a infelicidade de virar algo diretamente de pesadelos.
A premissa antagônica de Daymare: 1994 Sandcastle combina ciência com horror cósmico. Para sobreviver, Reyes precisa entender como uma força eletromagnética está trazendo corpos de volta à vida, mesmo que os falecidos se transformem em criaturas ensandecidas por sangue.
Nesse aspecto, temos outra vitória: não apenas a protagonista, mas todos os outros personagens são motivados. Suas histórias são muito bem tratadas e contribuem com um alto nível de carisma para a campanha. Assim, estamos o tempo todo nos preocupando com seus destinos.
Funciona no conceito, mas não na ação
Para além da história, Daymare: 1994 Sandcastle coleciona falhas que certamente incomodarão boa parte da base de fãs. O título traz muitas cenas em CGI e sabe dosar bem a cinematografia com o gameplay, mas não se sustenta com suas falhas técnicas.
Antes de falar de jogabilidade, vale a pena mencionar o trabalho de modelagem dos personagens. Reyes é uma Lara Croft badass e muito determinada — mais uma vez —, mas visualmente acaba sendo tratada como uma coadjuvante.
Isso porque todas as expressões faciais ocorrem em uma estranha baixa resolução. As texturas de faces, de cabelos e de detalhes físicos são bem fracas e podem atrapalhar a cinematografia no geral.
Felizmente, a Leonardo Interactive consegue contornar alguns problemas com excelentes realizações de áudio e de cenário. O sistema de som de Daymare: 1994 Sandcastle é excelente. E quando digo “excelente”, é para se levar ao pé da letra.
Durante a campanha, os jogadores podem ouvir em detalhes cada movimento nas instalações. Isso contribui bastante com jumpscares e com a sensação de medo, que cresce ainda mais em áreas escuras e marcadas pelos rastros deixados pelo fenômeno eletromagnético.
Além disso, a trilha sonora foi muito bem selecionada. Esse aspecto deixa a história ainda mais emocionante, enfatizando os grandes momentos e agregando mais impacto em cenas que já trazem reviravoltas de deixar a boca aberta.
Gameplay de “tacar o controle no chão”
Eis o grande problema de Daymare: 1994 Sandcastle: o gameplay. Desde os primeiros segundos da campanha, já há uma certa insegurança em relação à movimentação de Reyes.
A personagem se mexe de uma forma um pouco travada, aparentando estar em um meio termo entre os survival horror de PS1 e os mais recentes. Enquanto anda, a protagonista vai em linha reta e segue a câmera, mas a corrida é muito estranha e funciona de forma independente, com liberdade em 360 graus.
Felizmente a perspectiva em terceira pessoa não é impactada, mas há a impressão de que a câmera está muito próxima da personagem. Com isso, o combate fica impreciso e, devido às muitas limitações, chega a ser frustrante.
Em Daymare: 1994 Sandcastle, é praticamente impossível terminar uma campanha sem sofrer dano. Inimigos vem em horda e de todas as direções. Além disso, o fenômeno eletromagnético aumenta a velocidade dos monstros e gera um desbalanceamento no gameplay.
Vale lembrar que Reyes tem direito a apenas duas armas de fogo (com baixíssima cadência) e a uma ferramenta que congela as criaturas. Porém, a lentidão nas ações e a ausência de uma esquiva rebaixam a personagem a um estágio de agente especial amadora. É estranho.
Até metade do jogo, é possível se habituar com essas limitações. Porém, tudo muda no ato final. Mais criaturas começam a aparecer e uma das — apenas — três variações lança projéteis a distância. Fora isso, a batalha contra o chefe final é MUITO prejudicada pelas escolhas dos desenvolvedores.
Um survival horror que performa bem
Daymare: 1994 Sandcastle pode ter seus problemas, mas é honesto. Efeitos técnicos de áudio e de cenários bem realizados, level design coerente e rico em detalhes e qualidade visual dos ambientes são apenas alguns dos pontos que merecem ser exaltados.
O título está disponível no PS5 com opções gráficas, que incluem qualidade (4K e 30 FPS) e performance (60 FPS). Infelizmente, mesmo no modo de taxa de quadros máxima ainda há algumas quedas de FPS, especialmente na fase final da campanha.
Vale a pena também citar os bons tempos de carregamento, o ótimo uso do controle DualSense (apenas os gatilhos são menos interessantes) e a estabilidade geral. Não há qualquer tipo de bug e o jogo não crasha mesmo em momentos de muita intensidade.
Daymare: 1994 Sandcastle também inclui uma bela construção atmosférica. Cenários escuros e claustrofóbicos, jumpscares, violência gráfica e aposta em subgêneros como horror cósmico, seitas e ação de espionagem são apenas alguns de seus destaques positivos.
Daymare: 1994 Sandcastle: vale a pena?
Daymare: 1994 Sandcastle é um jogo de terror de sobrevivência com muitas referências aos clássicos. Inventário limitado, quebra-cabeças de backtracking e segredos consolidam o game como uma boa aposta para quem curte o gênero.
Apesar disso, falhas técnicas e um gameplay genérico quase apagam o brilho de uma história intrigante. A campanha dura cerca de 5h a 6h e conta com fator replay através de bônus de armas infinitas e de trajes adicionais.
O título é recomendado para fãs e para quem busca uma alternativa bem realizada no geral. Porém, vale a pena deixar o alerta sobre as frustrações no combate e sobre um nível de dificuldade impulsionado pelas mecânicas mal polidas.
Daymare: 1994 Sandcastle pode ser adquirido exclusivamente de forma digital no Brasil e sai por R$ 174,50 na PlayStation Store. O game está disponível para PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series, Nintendo Switch e PC.
Veredito
Daymare: 1994 Sandcastle
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Invader Studios/Leonardo Interactive
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- Excelente construção atmosférica
- Ótimas escolhas narrativas de ritmo e de reviravoltas
- Visuais de cenários e de efeitos muito bem realizados
- Exploração linear, mas com oportunidades recompensadoras
- Personagens motivados e muito carismáticos
- Qualidade técnica de som para ser aplaudida
- Trilha sonora muito bem selecionada
- Level design coerente durante toda a campanha
- Legendas em PT-BR
Desvantagens
- Quedas de FPS pontuais, especialmente na última fase
- Combate frustrante
- Gunplay limitada e bastante genérica
- Baixíssima variedade de inimigos
- Expressões faciais e fraca modelagem de personagens podem impactar a cinematografia