The Last of Us Part I (PC): vale a pena?
Apesar das inúmeras opções de configurações, o jogo peca na quantidade de problemas técnicos
Lançado em setembro de 2022 para o PlayStation 5, The Last of Us Part I veio acompanhado de diversas polêmicas quanto à necessidade de sua existência. Afinal, não somente o game original já possuía duas versões ainda facilmente acessíveis, como o trabalho feito pela Naughty Dog afetava muito mais a parte visual do que os sistemas de gameplay do clássico que estreou em 2013 no PlayStation 3.
A história é um pouco diferente no que diz respeito à estreia da versão PC, que chegou no dia 28 de março deste ano e marcou a primeira vez que a série faz a transição para uma plataforma que não é controlada pela Sony. No entanto, se essa a princípio parecia a oportunidade ideal para que Joel e Ellie fossem apresentados a um público mais amplo, a maneira como isso foi feito está muito longe do ideal.
Se por um lado a nova versão de The Last of Us Part I traz recursos que podiam fazer dela a encarnação definitiva do jogo, todo esse esforço acaba prejudicado por uma das piores adaptações que um jogo com a marca PlayStation já recebeu para computadores. Tudo o que fez do game uma experiência excelente está aqui, mas coberto de uma camada de problemas técnicos e exigências de hardware bastante surreais.
Um port cheio de opções que parecem pouco importar
Antes de iniciar a aventura da versão PC do game, é fácil ficar com uma impressão inicial positiva. Além de trazer todas as opções de acessibilidade vistas no PlayStation 5, a nova encarnação do game está repleta de configurações em áreas como iluminação, textura, densidade de ambientes, qualidade de sombras e diversos outros fatores.
Tudo isso vem acompanhado de exemplos visuais sobre os impactos que as escolhas têm, bem como indicadores da forma como ligar ou desligar um recurso vai impactar em uso de CPU, GPU e memória RAM. Ao menos em teoria, tudo é muito caprichado e perfeito para que o se espera de um jogo para computadores moderno — lembrando o excelente trabalho que havia sido feito nos ports de Days Gone e de Returnal, por exemplo.
No entanto, logo de cara também há sinais claros de que algo não está muito certo com a adaptação de The Last of Us Part I. Independentemente dos recursos que são ligados ou desligados, o jogo sempre indica um consumo bastante generoso de VRAM, que fica acima dos 6 GB mesmo quando seu padrão de configurações “baixo” é escolhido — indício de que ele não é muito bem otimizado para sistemas com hardware um pouco mais modestos.
Isso é especialmente complicado quando vemos que o jogo tem entre seus requisitos recomendados uma Radeon RX 470|RX 6500 XT (ambas de 4 GB) ou uma GeForce GTX 970|GTX 1050Ti (também de 4 GB). Na prática, isso significa que ambas as placas sequer atendem o que o jogo exige para rodar em 1080p ou resoluções maiores.
Depois de finalizar as configurações, sinais mais fortes de que há problemas aparecem quando tentamos iniciar a aventura. Isso inicia um longo processo de compilação de shaders que, caso não seja feito, pode resultar em como texturas que não aparecem direito e longos tempos de loading entre cada área. Usando um PC com configurações mais avançadas, esse processo levou mais de meia hora para ser finalizado — e esse tempo pode ser ainda maior em máquinas mais modestas, que estão sujeitas a crashes frequentes enquanto a compilação é realizada.
Quando isso finalmente termina e o jogo começa, é difícil não se ver impactado pela qualidade visual que The Last of Us Part I oferece. Enquanto a maneira como sombras e pontos de iluminação interagem entre si já era surpreendente no PlayStation 5, as novas opções disponíveis no PC permitem observar esses detalhes com ainda mais qualidade.
De forma semelhante, a qualidade dos modelos de personagens também é bastante alta, com destaque para as expressões faciais de cada um deles. O único ponto que deixa claro que estamos lidando com uma base criada há mais de 10 anos é o gameplay do jogo, que parece um pouco “duro” e mais burocrático do que deveria ser — mas que não chega a prejudicar a experiência.
The Last of Us Part I vai fazer sua máquina sofrer
Durante os testes que fizemos em The Last of Us Part I, não nos deparamos com nenhum dos pontos da extensa lista de problemas já conhecidos da nova versão. No entanto, isso parece ter acontecido especialmente por uma questão de sorte, e sempre havia a sensação de que as coisas podiam quebrar a qualquer momento ou até mesmo danificar a máquina usada, que tem as seguintes especificações:
- CPU: Intel Core i9-9900K
- GPU: NVIDIA RTX 3080 EVGA FTW3
- Memória RAM: 32 GB 3200 MHz
- Placa-mãe: Gigabyte Z390 Aorus Ultra
- Armazenamento: SSD NVMe WD Black SN750 1TB
Esse sentimento vem do fato de que o port feito pelo estúdio Iron Galaxy é, na falta de outras palavras, incompetente. A única forma de não ter grandes dores de cabeça com o game em sua versão atual é usando da “força bruta” para compensar sua falta de otimização, e nem mesmo isso gera uma experiência de gameplay confortável.
Além de o game consumir uma quantidade absurda de VRAM — em 1440p no preset alto, ele quase estoura os 10 GB de capacidade da RTX 3080 —, mesmo em cenas calmas ele usa uma quantidade bastante alta de processamento. Durante os testes, o uso de CPU e GPU nunca ficou abaixo dos 50%, chegando a superar os 90% nos trechos de ação.
Esse comportamento não mudou nem mesmo ao limitar a taxa de quadros máxima do game para 70 FPS ou usar os recursos de upscale do DLSS. Para piorar, nem mesmo a mudança entre os presets disponíveis ajudou a aliviar muito a carga de processamento usada: do “Alto” para o “Baixo”, houve uma diminuição média de somente 10% do uso do hardware — que variava em 2 a 3% ao alternar entre os diferentes níveis do DLSS.
O que torna a situação absurda é o fato de que, ao mudar das configurações gráficas de The Last of Us Part I, isso tem um impacto severo na ambientação do jogo, mas não necessariamente em seu consumo de recursos. Passar o jogo do Alto para o Médio vai tirar detalhes de texturas, fazer com que as sombras se tornem menos detalhadas e prejudicar severamente as transparências e reflexos de uma cena, efeitos que se tornam ainda mais notáveis no preset Baixo.
Em contrapartida, o jogo vai continuar rodando bastante pesado, e sua taxa de quadros por segundo não ganha muitas vantagens. Assim, só dá para recomendar baixar os detalhes visuais do game caso os indicadores do painel de configuração mostrem que o limite de VRAM está sendo estourado — o indicador mais claro no momento de que um crash pode afetar negativamente sua experiência de jogo.
Isso é especialmente grave dado o fato de que estourar esse limite é fácil mesmo que você cumpra os requisitos divulgados pela Naughty Dog. De nada adianta ter uma AMD RX 5700XT|RX 6600XT ou a GeForce RTX 2070 Super|RTX 3060 sugeridas pela empresa, se os 8 GB de VRAM de cada modelo acabam não sendo suficientes para lidar com o jogo sendo executado.
Vale observar que os problemas técnicos não se limitam à forma como o jogo está rodando. Independentemente da configuração de áudio escolhida, The Last of Us Part I é um game com intensidade sonora muito baixa no PC, o que pode obrigá-lo a ter que aumentar o volume de suas caixas de som ou fone de ouvido para conseguir entender o que os personagens estão dizendo.
Um ótimo jogo prejudicado por problemas técnicos
Todos os problemas técnicos de The Last of Us Part I no PC decepcionam especialmente pelo fato de que ele estão dificultando o acesso ao que é, essencialmente, um jogo muito bom. Nos momentos em que as preocupações que a máquina usada pudesse “fritar” conseguiam ficar de lado, nos deparamos com uma aventura que continua a funcionar muito bem mais de uma década após a estreia de sua primeira versão.
O game desenvolvido pela Naughty Dog consegue combinar bem momentos de combate e tensão, e sua encarnação visual mais recente torna seus ambientes ainda mais sombrios, desoladores e assustadores. Ao mesmo tempo, a adaptação para computadores e o novo sistema de controles baseado em mouse e teclado ajuda a compensar certos problemas que alguns podem ter com a versão para consoles.
Enquanto a experiência mais completa de jogo ainda é aquela que se obtém usando o controle DualSense, o uso do mouse proporciona o melhor gameplay de tiro que The Last of Us já viu. O acessório chega até mesmo a tirar alguns dos elementos de “survival horror” leves que o game tem, já que ele oferece uma precisão de mira tão grande que as limitações de munição disponíveis acabam não sendo mais um problema notável.
Ao mesmo tempo, a adaptação para o novo sistema de controles traz algumas características que demandam certo costume para funcionar bem. A navegação pelo inventário do game se torna um pouco mais complicada usando o teclado, dado ao fato de que cada item passou a ser associada a uma tecla numérica: o 3 vai ativar suas pistolas (que são alternadas segurando o V), enquanto o 7 equipa os recursos de cura, e assim em diante.
Isso faz com que o sistema de controles de The Last of Us Part I no PC lembre bastante o de alguns jogos da década de 1990 ou começo dos anos 2000, épocas nas quais os menus radiais não haviam virado um padrão da indústria. Felizmente, embora seja estranha no começo, a experiência acaba tendo saldo positivo e não atrapalha em nada a forma como o game é aproveitado.
The Last of Us Part I no PC: vale a pena?
Respondendo à pergunta de forma bastante direta: no momento, não muito. Enquanto o game em si tem muita qualidade e é uma excelente porta de entrada para a franquia — especialmente se você já viu a série da HBO, nunca teve um PlayStation e ficou curioso em explorá-la mais —, os problemas técnicos que ele apresenta são tantos que não há como recomendá-lo.
Caso você tenha um PC de última geração, equipado com uma CPU bastante potente e uma GPU que custa um preço que permitiria adquirir mais de um PlayStation 5, até dá para ir em frente. Um hardware poderoso consegue abrir caminho pelos problemas da adaptação na base da “força bruta”, permitindo o acesso àquilo que o trabalho da Iron Galaxy torna difícil acessar com bom desempenho.
No entanto, se você tem uma máquina com características mais medianas e condizente com a realidade brasileira, não há como recomendar o jogo no momento. Nessas condições, The Last of Us Part I vai acabar sendo mais uma fonte de dor de cabeça do que de diversão, e ninguém merece pagar R$ 249,90 para ter que lidar com uma situação do tipo.
Caso você realmente queira jogar o game e não tenha acesso ao PlayStation 5, o melhor a fazer no momento é esperar pelos patches e melhorias de desempenho prometidas pela Naughty Dog. A Sony já provou com Horizon: Zero Dawn que consegue se redimir do lançamento de um game mais otimizado para PC, e a expectativa é que ela volte a fazer isso, especialmente dada a importância que a saga de Joel e Ellie tem para ela nos últimos anos.
A nota abaixo representa não a qualidade do jogo em si, que continua alta e justifica todo o destaque que a série tem desde sua estreia, mas sim a do port. Nesse sentido, não dá para atribuir uma pontuação muito positiva ao trabalho feito pela Iron Galaxy, que falhou em criar algo considerado bom para os padrões do universo do PC.
Veredito
Vantagens
- Muitas opções de configuração, embora algumas nem sempre façam diferença
- Mouse e teclado trazem o melhor gameplay de tiro da série
- O jogo fica ainda mais bonito, mas só se você tiver um PC monstruoso
Desvantagens
- Consumo excessivo de VRAM
- Bugs, stutters e todos os problemas que não se quer ver em um jogo de PC
- Recomendações mínimas de hardware não são condizentes com o desempenho obtido
- Carregamento de shaders com duração e frequência excessiva
- Tempos de loading consideravelmente maiores do que no PS5