Dolmen: vale a pena?
Primeiro título do estúdio brasileiro mostra as boas ideias e o potencial da equipe
Dolmen é o projeto soulslike da equipe brasileira da Massive Work Studio e chega em um momento onde o mercado está movimentado: o gênero se encontra em alta graças ao Elden Ring, mas fica ainda mais difícil se firmar com concorrentes investindo nessa categoria. Afinal, como se destacar no meio de tantas propostas?
O jogo independente está longe da qualidade técnica de grandes projetos AAA, mas consegue divertir o jogador que se propõe a ir até o final. A evolução de dificuldade é notória e os inimigos ficam mais fortes a cada hora investida no game.
Infelizmente, certas características incomodam durante a experiência, como o hit box mal ajustado e movimentos bastante artificiais do protagonista ou dos monstros. É um jogo ousado e que pode significar um futuro de sucesso para o estúdio pelas ideias apresentadas, mas no geral, é bem simples, com gráficos pouco elaborados e uma jogabilidade não tão precisa.
Uma história de horror
A história de Dolmen começa quando o jogador é ordenado a visitar o planeta Revion Prime para desvendar os misteriosos incidentes ocorridos pelo manuseio errado do cristal Dolmen. Ao chegar lá, criaturas assustadoras tentam eliminar o comandante até ele descobrir a verdade por trás dos eventos.
Ponto positivo para a história abranger elementos de sci-fi e horror cósmico, algo pouco explorado nesse gênero. Os monstros, chefes e ambientes realmente dão uma sensação de agonia e certo nível de terror. O design acertou em cheio nesse quesito.
A narrativa do jogo foge um pouco do padrão utilizado por games soulslike. Geralmente, em títulos como The Surge, Elden Ring e Bloodborne, os jogadores têm um panorama geral da lore e da ambientação com um objetivo único. Os personagens então possuem uma pequena participação na formação desse universo. Porém, em Dolmen, o enredo se desenrola de outra forma.
O trabalho de um bombeiro
Segundo os criadores do game, o trabalho do jogador é similar de um bombeiro que recebe o chamado para apagar um incêndio. Quando ele chega no local e resolve a emergência imediata, descobre outros problemas maiores que precisam ser solucionados. É basicamente assim em Dolmen: no início, é necessário investigar o cristal; no final, o jogador se depara com um universo em colapso no meio de uma guerra alienígena.
Por um lado, a narrativa instiga o jogador a descobrir os detalhes da configuração do universo, mas isso funciona para quem procura pelos dados de inteligência espalhados pelos cenários. Quem está preocupado em só ir do início ao fim do game, facilmente se sentirá perdido no enredo.
O problema em si é que os elementos narrativos ficam bem superficiais. Naturalmente, a história não é o ponto forte dos soulslike, mas em Dolmen fica uma impressão que os eventos não são ligados e ela só é resolvida se o jogador buscar entender a fundo por meio da exploração.
Gameplay com altos e baixos
O forte de títulos soulslike é o gameplay, e Dolmen também aposta nisso. Contudo, o jogo da Massive Work Studio sofre com altos e baixos, entregando bons momentos, mas também problemas que não são facilmente resolvidos.
Falando especificamente sobre as qualidades, o game é bem justo. O jogador acompanha sua evolução ao longo de toda a aventura, sendo capaz de enfrentar inimigos mais poderosos. É muito interessante ver os primeiros chefes e comparar com os últimos, pois eles são bem mais complexos e desafiadores.
A jogabilidade ainda entrega um sistema bem fácil de compreender, principalmente pelas mecânicas de fraquezas. O player pode investir em três elementos (gelo, fogo e veneno) e, dependendo dos atributos, eles escalam para tirar mais dano dos inimigos.
O menu do level do protagonista possui explicações bem diretas e isso é um atrativo para quem não está acostumado com as muitas informações que os títulos soulslike geralmente disponibilizam. Inclusive, em Dolmen, não se preocupe com isso! Não há itens, consumíveis e acessórios espalhados pelo universo que o jogador nunca utiliza, mas tudo é resumido a coletar matéria-prima para fabricar equipamentos e armas.
A Massive Work Studio se inspirou em Remnant: From the Ashes e inseriu armas à distância no game. As mecânicas funcionam corretamente e trazem um recurso adicional de estratégia pela necessidade de gerenciar a energia dos tiros e mesclar o combate corporal com o uso dos equipamentos especiais.
Os pontos positivos de Dolmen, infelizmente, não reduzem a gravidade dos elementos negativos, até porque se tratam de situações que ferem a imersão. Tratando-se de um game onde a responsividade dos controles e o manuseio do personagem é essencial, o jogo possui um hit box pouco preciso e uma movimentação artificial.
Utilizar a mecânica de defesa é torcer com a sorte para funcionar, pois parece ser impossível acertar o timing do aparo perfeito. Além disso, os alcances dos ataques adversários atingem mesmo quando o jogador realiza uma esquiva certeira. Por causa dessas limitações, é quase obrigatório escolher o Modo Desempenho para jogar em 60 FPS a fim de reduzir essas frustrações, em vez de preferir o Modo Gráfico com 4K e ray tracing, a 30 FPS.
Enquanto o gameplay é simples na questão dos itens, ele também é raso na exploração. Não há nenhum incentivo em buscar os segredos de Dolmen porque os benefícios são matérias-primas que, geralmente, são encontradas de forma natural no caminho principal do game. Com isso, a aventura segue uma estrutura quase linear, que dura 12h, no máximo.
Por fim, a movimentação dos personagens, em muitas vezes, é bastante superficial, como se estivessem patinando pelos cenários. Isso afeta no controle do protagonista e em como o jogador poderá fazer a abordagem dos combates, quebrando a imersão.
Limitações visíveis
É claro que a Massive Work Studio ousou sonhar com o projeto em deixá-lo ambicioso e grande, mas as limitações são muito claras. A trilha sonora é quase ausente, aparecendo só em momentos específicos, como nas boss battles. Na exploração, a música toma chá de sumiço — o que facilmente poderia contribuir para o clima de horror cósmico, algo visto em Dead Space.
O multiplayer, embora presente, segue uma estrutura de abrir salas para os jogadores unirem forças para enfrentar os chefes. A opção cooperativa só fica disponível nesses momentos, porém, não houve nenhuma sala aberta ou jogador durante o período de testes, infelizmente.
E claro, os gráficos ficaram abaixo de um título esperado para o PlayStation 5. As formas geométricas são bem rudimentares e, muitas vezes, a sensação é que os elementos artísticos de Dolmen foram pensados para o PS3.
Dolmen: vale a pena?
A produção brasileira tem seus pontos altos e baixos, mas fica abaixo do esperado e das expectativas criadas pelos últimos trailers. Embora a ambientação sci-fi de horror cósmico seja muito boa e a jogabilidade soulslike simples possa atrair os jogadores, as limitações técnicas, a baixa duração e o pouco incentivo para a exploração pesam negativamente na balança.
A situação é ainda mais agravante ao ver o título na PlayStation Store por R$ 199,50. Se você é fã do gênero, talvez valha esperar uma promoção para perceber as boas ideias implementadas pelo estúdio.
Dolmen inaugura a trajetória da Massive Work Studio com sensações mistas. Fica um gostinho agridoce daquilo que o jogo é e como poderia ser. Porém, mostra que o estúdio brasileiro tem um potencial gigante e ótimas ideias que podem se tornar poderosas em um futuro próximo.
Veredito
Dolmen
Sistema: PlayStation 4 | PlayStation 5
Desenvolvedor: Massive Work Studio
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- Design de monstros realmente assustador
- Progressão justa de dificuldade
Desvantagens
- Hit box e responsividade não são precisos
- Ausência de uma boa trilha sonora
- Baixa duração
- Exploração rasa
- Gráficos bastante feios