The Division 2: vale a pena?
Nova aventura de mundo aberto da Ubisoft evolui em relação ao primeiro jogo da série e corresponde às expectativas.
A bandeira americana tremulando no topo de uma Casa Branca bastante abalada, porém não destruída, em meio a uma Washington à beira do caos total é a imagem perfeita para representar The Division 2. Tanto pelo enredo do jogo como também por sua situação no mercado e na série.
Quando fizemos nosso preview de The Division 2, deixamos claro que a tarefa dele seria “salvar” o multiplayer após o mau desempenho de Anthem, da BioWare. Mais do que isso, o jogo também precisava espantar os fantasmas do lançamento “conturbado” do seu antecessor. Bom, “missão dada é missão cumprida” para os agentes da Division.
A Ubisoft aprendeu com os erros e entregou um produto sólido, exatamente com o que os jogadores esperavam: mais atividades, mais dificuldade, mais recursos. Dá para gastar muitas e muitas horas nele sem sentir – se você gostar do gênero, que exige dedicação e grinding intensos.
Há falhas, claro, mas The Division 2 chega muito bem. Com tudo para agradar os jogadores que buscam um jogo com suas características: co-op, eletrizante, com muita coisa para fazer e loot para coletar, totalmente localizado para o português, com uma ambientação impressionante e um enredo simples, sem muitas firulas.
Oh, say can you see by the dawn’s early light What so proudly we hailed at the twilight’s last gleaming?
“The Star-Spangled Banner”, hoje hino dos Estados Unidos, foi composto em 1814, por Francis Scott Key, advogado e poeta norte-americano. A inspiração para a letra surgiu em 1812, quando ele viu o bombardeio britânico contra o Forte McHenry, em Baltimore, e fala sobre Deus, guerras e o triunfo do seu país.
E esses versos são a cara de The Division 2. A inspiração do “Espírito Americano” para superar as dificuldades em uma nova guerra – além de bélica, biológica. Num enredo que se passa sete meses após os eventos do primeiro jogo, quando o vírus verde, criado pelo Dr. Gordon Amherst, acabou com Nova York na Black Friday.
Combinação de várias doenças, como dengue e ebola, o supervírus usado como arma transformou a Big Apple em um caos e agora, em The Division 2, chegou à capital do país: Washington. A missão dos agentes da Division, como você, é de, depois desse caos todo, ajudar a reconstruir a cidade mais importante dos EUA.
Para isso, será preciso enfrentar diversas facções inimigas espalhadas pelas ruas. Cada uma com suas características únicas. Herdeiros, Hienas, Exilados e os Pata-Negra, que são uma organização militar secreta, a maior ameaça já enfrentada na série até agora – e que só aparece no endgame.
A primeira cutscene do jogo já serve para criar um hype bem interessante para o que está por vir. É bem verdade que durante o game não há um desenrolar muito interessante para a história, que parece ser apenas um detalhe no que realmente importa, o gameplay. Mesmo assim, o rumo da trama é justo.
Há críticas, como a ausência de cutscenes realmente importantes e o fato de seu personagem ser mudo, mas os colecionáveis com lore adicional, o ótimo trabalho de dublagem e a imersão causada por um enredo que é simples de entender dão ao The Division 2 um background bacana.
Você, realmente, se sente sendo importante para a reconstrução de Washington, coletando recursos, ajudando quem precisa, montando bases e, claro, atirando e explodindo os vilões. Tudo isso movido pelo orgulho patriótico que os americanos tanto sentem. É um casamento perfeito.
Whose broad stripes and bright stars through the perilous fight, O’er the ramparts we watched were so gallantly streaming?
Essa parte do hino norte-americano destaca a beleza e a resiliência da bandeira nacional. Com “listras largas e estrelas brilhantes”, que tremulam “galantemente” mesmo em meio a uma guerra. O visual de The Division 2 se encaixa muito bem nessa descrição.
A ambientação de Washington, assim como foi com Nova York no seu antecessor, é espetacular. Os monumentos, os prédios históricos, as ruas. Está tudo lá. Tanto por fora, na arquitetura e construção do mundo, como por dentro. Afinal, você vai visitar o interior de diversos pontos fundamentais da cidade.
Inclusive, claro, a Casa Branca, que é a Base de Operações da Division na cidade. Dá até para ir ao Salão Oval, aquele famosa sala em que o presidente dos Estados Unidos trabalha diariamente. Mas você também visita o QG do FBI, o estonteante Museu Nacional de História Natural, a Union Station, os memoriais…
Tudo isso com uma qualidade gráfica que surpreende por parecer muito melhor do que a vista na versão beta fechada liberada algumas semanas antes do game final chegar ao PlayStation 4. O Meu PS4 testou o game no PS4 Pro, e o visual não fica atrás de outros grandes títulos, como Assasin’s Creed Odyssey, da própria Ubisoft.
As vegetações, os prédios, o clima dinâmico, os detalhes de cada região… Tudo é muito bem feito. Quando começa a chover, você ouve os trovões, vê os raios, e aí vem aquele aguaceiro, neblina, não dá pra ver nada, anoitece e cria-se, então, um ambiente totalmente diferente do sol e da calmaria anteriores.
O único problema – e realmente é perceptível – é o pop in. Isso acontece muito em jogos de mundo aberto. Em Ghost Recon Wildlands, por exemplo, era comum. No caso de The Division 2, é exatamente a mesma situação. Em diversas ocasiões, o jogador consegue perceber os gráficos de certos elementos “renderizando”.
Árvores, placas com textos e detalhes de algumas ambientações só são vistos na sua qualidade real quando o personagem realmente se aproxima. Há até casos de banners e de placas que mesmo com o personagem perto ainda ficam com o texto borrado por alguns segundos antes de serem normalizadas.
Outro caso curioso é da “mudança de cor” do seu personagem. Na nossa jogatina, criamos um agente negro, mas em diversas ocasiões, após o loading do jogo, ele apareceu na tela, in-game, como branco. É um bug esquisito, e que incomoda um pouco, apesar de não ser “nada demais”.
Em nossa experiência, notamos também alguns bugs “engraçados”, como objetos voando pelos lugares e inimigos morrendo e ficando em posições “curiosas”. Não atrapalham a jogabilidade, até servem para dar algumas risadas, mas ainda assim não deveriam acontecer.
And the rockets` red glare, the bombs bursting in air,
Gave proof through the night that our flag was still there.
O evento que inspirou o hino americano foi um bombardeio. Em The Division 2, há um combate bem diferente disso; mas ainda assim, muito intenso. E isso é um dos grandes atrativos do jogo; junto com a diversão de jogar com os amigos em co-op, possibilitando a criação de estratégias e a combinação de habilidades.
Não tem o brilho vermelho dos foguetes, nem bombas explodindo no ar, mas tem torretas (até de fogo), drones (atirando ou curando), escudos para te proteger… A variedade de dispositivos tecnológicos desenvolvidos pela Division para ajudar os agentes é impressionante.
São as chamadas Habilidades, que você vai desbloqueando conforme progride no jogo, e ainda pode modificar com itens dropados e/ou Tecnologia Division; que são itens colecionáveis usados também para liberar Vantagens, que são upgrades bem interessantes para diversos recursos do agente.
Isso tudo sem falar no enorme arsenal de itens, tanto de equipamento quanto das armas. A variedade é grande, o loot é justo e você tem como ir testando tudo que encontrar até encontrar o set perfeito. Para quem joga em grupo, é legal cogitar a possibilidade de criar funções dentro do esquadrão.
Um sniper, um cara que dê bastante dano e alguém que atue como suporte, por exemplo, fazem uma combinação bacana. Nem sempre é fácil de achar quem é disciplinado e curte esse tipo de coisa, mas quando você consegue, a experiência fica ainda mais legal. E isso agora está mais fácil, graças à adição de clãs.
É possível criar um grupo e chamar amigos e/ou desconhecidos para formar um time. E, assim como acontece em outros jogos do gênero, como Destiny, tudo o que vocês fizerem juntos irá gerar alguns bônus. Quanto maior o progresso dos níveis do clã, mais itens são liberados.
Mas o que chama a atenção mesmo é o nível do combate. Claro, não tem nenhum realismo. Às vezes, o inimigo toma vários headshots ou tiros de shotgun de perto e não morre. Sem contar que há níveis diferentes de adversários (vermelho é o fácil; amarelo é o mais difícil). Porém, a experiência é muito boa.
Até porque o jogo está com um nível de dificuldade mais alto, tanto nas missões quanto no mundo aberto. É super comum sofrer bastante dano de inimigos caso você esteja andando desatento admirando as belezas de Washington. Mas isso, certamente, é bem visto para a maioria dos players.
Assim como as novas atividades end-game (fortalezas, missões de invasão e os desafios no nível heróico). Está mais difícil chegar até elas, porque o jogo exige bastante. As sidequests são “obrigatórias”, assim como encontros aleatórios que surgem no mapa. Afinal, é preciso ganhar essa XP para subir de nível.
Só terminar as missões de história, muito provavelmente, não vai te deixar no nível 30, que é o mais alto – e necessário para as atividades high-end do fim do jogo. É preciso se dedicar, fazer aquele grind tradicional desses jogos, para conseguir o equipamento ideal para enfrentar os principais bosses – e mesmo assim é difícil.
Entretanto, infelizmente nem tudo são flores nesse mundo de combates eletrizantes e recompensadores. Há alguns deslizes que incomodam um pouco. Como o modo como os NPCs se movimentam após tomarem um tiro. Em diversas ocasiões, eles quase “se teleportam” para outro lugar de tão rápido que correm – o que é surreal.
E você pensaria que, para dar um jeito nisso, uma boa seria uma abordagem mais stealth. Porém, não é possível. Não há como matar os inimigos de forma silenciosa, o que é uma pena. Só não irrita mais do que o botão de esquivar ser o mesmo que usamos para cover. Isso causa sérios problemas na hora de fugir de inimigos.
Outra coisa que incomoda um pouco, porém é comum nesses games, é que você se sente fazendo a mesma coisa toda hora. As missões são um pouco repetitivas, talvez também por causa do level design. Apesar de a ambientação ser linda, dá uma sensação de que você está sempre no mesmo lugar.
Não pelo que está ao seu redor, mas sim pela configuração do cenário em que os confrontos ocorrem. São sempre áreas com uma grande área central e pequenos pontos para você tentar se esconder ao redor dela. Os inimigos sempre saem de portas que são inacessíveis e vêm de todos os lados, em ondas.
Ao fim de cada luta importante, sempre vem um carinha de vida amarela para você matar. A mecânica é, quase sempre, a mesma. Claro, variam as habilidades deles – e do seu grupo (ou só sua, se estiver jogando solo) – e o combate pode até ser uma coisa meio imprevisível por isso, mas no geral, é realmente repetitivo.
Oh, say, does that star-spangled banner yet waveO’er the
land of the free and the home of the brave?
No fim das contas, o que importa é a bandeira estrelada estar lá, tremulando, sobre a terra dos livres e casa dos bravos. Em um dado momento do jogo, quando se upa totalmente a Casa Branca, uma fala de um NPC demonstra exatamente o que seria seu objetivo e esse sentimento: fazer dela um exemplo de recuperação, não de dor.
O hino americano é sobre isso: como a bandeira do país sempre será maior do que qualquer dificuldade. The Division 2 também. É uma ode aos agentes, que dão seu sangue na reconstrução do país após uma arma biológica deixá-lo próximo do caos total. E, no geral, o game corresponde às expectativas.
É muito divertido, especialmente em co-op (é totalmente jogável sozinho, porém a coisa fica bem mais difícil e não tão legal), tem gráficos muito bonitos (apesar dos problemas de pop-up incomodarem) e um enredo que não é dos melhores, mas é exatamente o que a série precisava, seguindo bem os eventos do primeiro.
Tem seus bugs e, certamente, não é um jogo para todo mundo. Quem busca algo mais realista ou uma narrativa cativante, por exemplo, pode esquecer. Mas para o cara que curte o grind, o loot, as atividades end-game e o co-op, sinceramente, dá para dizer que essa é a melhor opção do mercado.
O jogo custa R$ 199,90 na PS Store. Ele tem versões Gold (R$ 279,90) e Ultimate (R$ 299,90). O Season Pass sai por R$ 99,90. Ou seja, nada de muito diferente do que nos acostumamos como “padrão” para lançamentos AAA no PlayStation. E há também microtransações para itens cosméticos, com créditos a partir de R$ 15,90.
Independente da escolha que você faça, se você tem interesse nesse gênero, pode ir sem medo. A Ubisoft aprendeu com as falhas do primeiro The Division e, mesmo não sendo um jogo perfeito, The Division 2 é um produto sólido; coeso. Exatamente o que poderia se esperar de uma sequência dessa franquia.
*A cópia do jogo foi cedida gratuitamente pela Ubisoft.
Veredito
Tom Clancy's The Division 2
Sistema: PlayStation 4
Desenvolvedor: Ubisoft Massive
Jogadores: 1 a 4 em cooperação online
Comprar com DescontoVantagens
- Combates intensos e gratificantes
- Maior nível de dificuldade nas missões e mundo aberto
- Ambientação impecável de Washington
- Variedade de atividades, armas, habilidades e loot
- Novo sistema de clãs
Desvantagens
- Microtransações
- Pop in nos gráficos
- História nada cativante
- Estrutura repetitiva em missões
- Falta de abordagem stealth nos combates