Uncharted 4: A Thief’s End: vale a pena?
Naughty Dog mostra - mais uma vez - porque é o estúdio mais prestigiado de PlayStation.
“Toda grande empreitada deve ter um princípio, mas é apenas em seu desfecho que conhecemos a verdadeira glória” frase encontrada no diário de Nathan Drake que resume de forma esplendia o que jogadores irão se deparar ao iniciar sua nova aventura.
Uncharted 4: A Thief’s End gera um misto de sensações. Se por um lado ele é, até o momento, o jogo mais importante a aportar no PlayStation 4, sua chegada marca o encerramento da passagem de Nathan Drake como protagonista da série. E o fim, como ilustra a frase, é realmente digno.
Se você está interessado em saber, sem mais delongas, este é um título que podemos considerá-lo como OBRIGATÓRIO na biblioteca de jogos de todos os donos do console de oitava geração da Sony e, nas linhas logo abaixo, você vai descobrir os motivos pelos quais o consideramos uma obra prima do entretenimento digital.
O Fim do Ladrão
Com seus quarenta e poucos anos, Nathan vive uma rotina de poucas emoções, muito diferente dos tempos de outrora quando o carismático personagem passava seus dias sob intensos tiroteios, caçadas homéricas e enrascadas sem igual.
Os dias passam lentamente. Casado com a doce e bela Elena, o agora aposentado explorador trabalha em uma pequena empresa de resgate de destroços marítimos. Em meio a muitos papeis e a burocracia característica de quase todos as pessoas comuns, os únicos perigos resumem-se a mergulhos.
Foi uma escolha. Drake renunciou aos tempos de ladrão para construir uma família com a jovem jornalista, entretanto as lembranças sempre o perseguem, sejam através de souvenires de tesouros, imagens ou artefatos, Nate sempre se lembra com nostalgia dos seus incríveis feitos, as vezes absorto em seus próprios pensamentos, até que um singelo convite ao jantar o traz novamente à realidade.
Feliz no amor, mas sem muita sorte na vida profissional. Tudo tem seu preço, foi uma escolha, certo?
Todavia, o marasmo é subitamente interrompido quando, no que parecia mais um dia em meio a muitos papeis, bate a porta da empresa um homem com uma jaqueta surrada, expressões já um pouco cansadas e com um olhar de desespero. Trata-se de ninguém menos que Sam Drake, irmão mais velho de Nate.
O choque foi imediato. Sam? Vivo? Batendo à porta? Até então Nathan acreditava que seu irmão estava morto.
Após um longo papo, descobertas e surpresas Sam enfim revela que precisa, desesperadamente, da ajuda do irmão para pagar uma dívida que só pode ser quitada com uma quantidade quase infindável de dinheiro e isto só será possível através da descoberta do tesouro perdido do capitão pirata Henry Avery, uma antiga obsessão da dupla.
Uma nova, doce e irresistível busca ao desconhecido bateu à porta de Nathan Drake, algo que ele, apesar de não confessar, no seu íntimo desejava.
Mas, não seria uma aventura só para satisfazer seus desejos. Dessa vez havia um propósito que ia além da descoberta. Era para salvar seu irmão, único membro da sua família vivo.
Mesmo com a proposta em mãos, o herói titubeia, balança e pestaneja. Neste momento já é possível perceber algumas das mudanças sutis que o estúdio aplicou. Nate está mais humano, mais cauteloso e porque não, menos destemido. Aquele jovem e inconsequente saltador de vagões já não é mais o mesmo.
Família, amigos, estabilidade….tudo pesa.
Mas…era a vida do seu irmão que estava em risco e ele era o único capaz de rastrear e localizar o tesouro do lendário capitão pirata. Não havia escolha.
Decidido, a aposentadoria é temporariamente suspensa, e uma nova jornada começa. “Uma última vez”, como mesmo ressalta.
Apesar da sua incrível capacidade em resolver mistérios, Nathan não consegue fazer tudo sozinho. Para tanto, ele vai precisar da ajuda de um velho amigo, Victor Sullivan.
O trio então parte na busca das riquezas ocultas, todavia até que ponto Drake está disposto a fazer sacrifícios para aqueles que ama? Até onde é o seu limite? A “ultima aventura” responderá por si só todas as dúvidas.
Só que além deles, um outro caçador de tesouros, já conhecido da família Drake, Rafe Adler também está no páreo da disputa. Adler tem a seu favor a perigosa mercenária Nadine Ross, uma imponente mulher que tem sob seu comando um exército particular.
Perigos à vista.
A arte de contar histórias
Definitivamente, a Naughty Dog entrou para o hall das produtoras que sabem contar histórias com maestria. Após lançar The Last of Us (2013), com um enredo íntimo, o estúdio novamente oferece aos jogadores uma trama envolvente, profunda e fortemente entrelaçada.
Jogar Uncharted 4 é como ir ao cinema sabendo que o filme é bom. Você acredita, mas mesmo assim, prefere “sentir” toda vibe e no final, sai com a certeza de que tudo valeu a pena, suas expectativas foram plenamente satisfeitas.
A equipe usou todo sua expertise de jogos anteriores, principalmente o último, para narrar a história de forma instigante. Se envolver de cabeça com a Thief’s End não demora muito, no máximo os 15 primeiros minutos.
O jogador é praticamente transportado para todo contexto e, no papel de protagonista, sente tudo que se passa no monitor.
Com um pouco mais de cadência, o enredo se desenvolve muito bem, aprofundando em histórias complexas, contos e nos relacionamentos dos personagens.
Gradativamente, Nathan e Sam vão novamente se reencontrando. Como em um casal apaixonado que havia rompido e decide reatar, a aproximação é lenta, meio descompassada e com um pouco de incerteza ou talvez questionamentos internos. Será diferente dessa vez?
Com isso em destaque, o carismático Sully é jogado um pouco para escanteio, ou talvez não de forma tão bruta, o mentor dá espaço para que os irmãos recuperem o tempo de distanciamento.
Assim como nos demais, a trama vai se intensificando, alternando entre momentos de muita ação, sem tempo muitas vezes para respirar, e em outros um pouco mais tranquilos, onde as conversas imperam.
E eles conversam muito em Uncharted 4, mais que em qualquer outro jogo da série. Nathan está constantemente dialogando sobre o passado, acontecimentos recentes ou sobre o que está por vir. Sempre com a irreverência e piadas prontas.
Em certos momentos é possível interagir com o parceiro e saber um pouco mais. às vezes suas angústias, seus medos ou papear descompromissadamente.
Um outro fator que contribui para isto são as opções de diálogos. Pela primeira vez na franquia é possível escolher respostas. Elas não mudam ou impactam no enredo. A função delas é estender a conversa, permitindo aos jogadores saberem um pouco mais…uma informação extra, um sonho, desejo ou ambição.
Como toda boa história que se preze, as reviravoltas são uma constante. Quando é imaginável um desfecho, um fato muda tudo e novas perspectivas se abrem.
A forma como a história é contada assemelha-se muito ao visto nos filmes “A Lenda do Tesouro Perdido”, de Nicolas Cage, onde uma pista leva outra, que leva a outros lugares, novas evidencias, tudo sempre regrado a muita ação.
E é exatamente isso que o Naughty Dog propõe, que os players se envolvam com os personagens e com os fatos da última caçada.
O diabo mora nos detalhes
Sempre foi marca da equipe responsável pelo games da série entregar um produto final que se diferenciasse de outros disponíveis no mercado. Os demais jogos estiveram a frente do seu tempo quando foram lançados e com Uncharted 4 não é diferente.
Mais uma vez a Naughty Dog confirma porque, nos tempos atuais, é considerado o melhor estúdio first party da Sony.
Os efeitos de água, modelagem dos personagens, sombreamento, cenários e ambientes estão à beira da perfeição. É impressionante o rosto e as expressões de Nate. Um homem, na altura dos seus quarenta anos e com marcas que o tempo não perdoou em inserir. Olheiras, pés de galinha, alguns fios brancos de cabelo são visíveis a olho nu e causam impacto positivo. Mostra capricho, além de um personagem notoriamente humano e não um modelo poligonal.
Não se assuste, principalmente nas animações que acontecem in-game, se você soltar um “uau” mesmo que de forma espontânea.
Se antes o parâmetro de visual mais caprichado do PlayStation 4 era carregado por The Order: 1886, hoje é o Uncharted 4 quem ostenta este troféu, com louvor.
Apesar do visual ser um dos pontos de grande impacto, são os detalhes que fazem a diferença na hora do gameplay. Por mais que o jogo seja muito bonito, você acaba se acostumando, mas os detalhes surpreendem a cada instante.
Nathan está mais velho, você sabe, a Naughty Dog também está ciente. Por isso, o explorador não exala o vigor de um jovem. Percebe-se nitidamente que após uma sequência de ação ele precisa tomar um fôlego, parar um pouco.
Outras sutilidades como escorar nas paredes, limpar roupas após escorregar de algumas pedras, ranhura das armas, flocos de neve que gradativamente vão umedecendo as roupas, etc, tudo isso não passa por despercebido e aprofundam a imersão.
Além disso, durante os tiroteios, o jogo obriga a cultivar uma movimentação constante. Ficar protegido atrás de uma barricada não é garantia de sobrevivência, já que estes locais são destrutíveis, sendo necessária a busca por outra proteção rapidamente. Não ficar parado é palavra-chave, até porque os inimigos flanqueiam e lançam granadas.
Também não ficam ausentes as conversas aleatórias. Quando, por exemplo, Nate está explorando o cenário de Madagascar, Sully e Sam ficam de prosa no jipe. Nesta conversa eles dialogam sobre o tempo, amenidades, descem do veiculo, conferem os pneus, etc.
O processo de escalada também foi refinado. Os movimentos agora são naturais. Agarrar em barrancos, balançar em cordas, saltar entre plataformas e se pendurar exercícios executados de forma viva e fidedigna.
Capitão gancho
Uma adição que impactou diretamente no gameplay foi a inclusão de um gancho que tem mil e uma utilidades. Além de alcançar os lugares mais altos, o equipamento serve para puxar caixotes, plataformas e estantes. Outra aplicação interessante é seu uso estratégico nos confrontos. Se o combate frente a frente estiver complicado, em muitas das vezes é possível lançar o gancho e, como um Tarzan, fugir dos tiros e surpreender os inimigos por traz, tudo isso com uma plasticidade digna de Hollywood.
Você, o explorador
É com você jogador, você é o explorador aqui. Nathan Drake pode até ser o protagonista, mas é você quem detém as ações e a Naughty Dog deixa isso bastante claro, como no trailer abaixo, onde, prestes a enfrentar os soldados da Nadine, Sam questiona: “Qual o plano, Nathan ?”, no que o personagem responde: “Só me sigam” e logo em seguida nos é transferido o comando.
Neste momento entra em cena outra grande novidade do game. Liberdade de abordagem. Através de uma tática mais furtiva, pode-se optar por abater os inimigos sorrateiramente, escondendo-se em plantas, vegetação ou cantos ocultos.
Apesar do recurso já ter sido explorado nos jogos anteriores, em Uncharted 4 ele coexiste nas mecânicas de jogabilidade. O stealth, à la Metal Gear Solid, é intrinsecamente presente. Natural do jogo inteiro e não somente de partes específicas, sendo possível marcar inimigos e ser descoberto por eles. Em cada um dos rivais existe um marcador que indica se eles estão em “estado de alerta” ou se não suspeitam de nada.
A outra possibilidade é partir para o confronto aberto, sem medo das consequências no bom e velho estilo Uncharted.
Em suma, entre linhas, o jogo questiona: Vai jogar como? A decisão é sua!
Outro soberania outorgada ao player é a exploração. Procurar por relíquias está muito mais imersivo e amplo. Sem bússola, indicativo ou mapa, o instinto Bandeirante deve ser usado como nunca antes na série. O desafio é realmente grande. Ser um verdadeiro explorador exige muita caminhada e vasculha.
Com cenários maiores, alguns repassando uma sensação de sandbox, os jogadores deverão explorar com cuidado se quiserem encontrar todas as 190 relíquias escondidas.
Caia na Porrada
Outra característica presente nos demais títulos que retorna renovada são os combates sem armas, a clássica pancadaria. Nocautear os adversários através de socos e pontapés está prazeroso.
Trocar sopapos, guardadas as devidas proporções, esta tão bonito e realista quanto os jogos da EA Sports UFC e acessíveis como Street Fighter.
Os movimentos também foram otimizados. Com um golpe Nate pode desmaiar um adversário, pegar o seu fuzil no ar e sair atirando no mesmo instante. Dinâmico ao extremo.
Também é possível fazer uma espécie de co-op nas lutas. Em certas circustâncias, quando Nate e um parceiro atacam um oponente ao mesmo tempo, uma bela animação de finalização conclui os movimentos. No calor dos combates, certamente esta possibilidade arrancará elogios.
Troca mútua
A Thief’s End foi desenvolvido pela mesma equipe que criou o aclamado The Last of Us, um dos jogos mais premiados de todos os tempos.
Fica evidente que vários dos elementos encontrados na aventura pós-apocalíptica foram refinados e implementados em Uncharted 4. A exploração mais densa, os diálogos constantes, o ritmo mais cadenciado, furtividade, entre outras adições são muito bem adequadas ao game.
Outro “empréstimo” fica por conta da ambientação sonora. Em momentos de calmaria, onde é possível explorar os cenários, as músicas embalam de acordo com a ocasião, seja uma conversa mais séria, um momento de solidão ou um acerto de contas.
The Last of Us, que usou muito da know how e dos aspectos presentes nos três Uncharteds, agora empresta sua nuances ao título do icônico personagem.
Uma troca mútua muito bem explorada.
Dublagem competente
O game chega as lojas brasileiras totalmente localizado em nosso idioma e a qualidade da localização agrada bastante. Superior ao que foi visto no Uncharted Collection, as vozes forem bem escolhidas e auxiliam bastante no entendimento de todo o enredo.
De qualquer forma, também é possível mudar as configurações e prestigiar as brilhantes atuações de Nolan North e Troy Baker.
Multijogador
A campanha pode até ser o grande destaque de Uncharted 4, contudo o modo multiplayer não é, de maneira nenhuma, um enfeite. As modalidades online estão também fazendo jus aos elogios.
Melhorando a experiência do Uncharted 3, MP de Thief’s End faz com que o tempo de vida do game seja muito maior e com garantias de que será ampliado através de DLCs gratuitas, como já destacamos por aqui:
Com 10 mapas no total, os interessados podem explorá-los em modos que variam do popular Team Deatchmatch ao Plunder (capture a bandeira).
Os mapas são muito esquematizados, com desenho de níveis que favorece muitas ações verticais, usando o eficiente gancho. Abater inimigos após um salto causa uma sensação de heroísmo bastante intensa, vibrante.
Apesar de ser o mesmo jogo, o multiplayer diferencia-se do single player substancialmente pelo seu ritmo. Enquanto este é cadenciado, aquele é mais acelerado e dinâmico, propositalmente é claro.
Como já era de conhecimento, o visual encontrado no MP não é o mesmo visto na campanha. O modo multijogador roda em 60 FPS a 900p, enquanto que a história se desenrola em 30 FPS a 1080p. Não é algo que incomoda e se faz necessário para garantir que as partidas online sejam mais fluídas.
Também no multiplayer é possível sentir os “dedos” de The Last of Us. Através do sistema de nocaute, por exemplo, onde o jogador fica abatido por alguns segundos, na esperança de que algum companheiro o levante.
Com um sólido sistema de coberturas, “invocações” de ajudantes como o Brutamontes ou itens místicos, o multiplayer vai brilha fortemente.
Infelizmente os testes nos modos online foram limitados. Como o game ainda não foi lançado oficialmente, era possível jogar somente em dias e horários específicos, portanto aguarde por uma análise mais abrangente do multiplayer em breve, quando as salas estiverem mais populadas.
Valeu a pena esperar?
Cumprindo as promessas, a Naughty Dog entrega o melhor Uncharted já desenvolvido. Visual estarrecedor, enredo que prende atenção do primeiro ao último minuto, personagens incrivelmente carismáticos e um modo multiplayer consistente, Uncharted 4: A Thief’s End é praticamente sinômino de video game.
Ressalta-se ainda o importante papel do estúdio que não hesitou em atrasar o jogo por diversas vezes, sempre com a justificativa de que fazer algo melhor. A criadora do Crash poderia simplesmente seguir a tenebrosa tendência de fazer o básico, mas eles resolveram ir além. O esforço os coloca no pantheon dos melhores estúdios, no topo.
Isso quer dizer que o título é perfeito? Não. Alguns bugs, delays de renderização foram notados, mas não ofuscam ou atrapalham o gameplay.
No fim, após subirem todos os créditos na telinha, os jogadores certamente concluirão que toda espera valeu a pena.
Veredito
Uncharted 4: A Thief's End
Sistema: PlayStation 4
Desenvolvedor: Naughty Dog
Jogadores: 1 jogador
Comprar com DescontoVantagens
- Visual estupendo
- Enredo imersivo
- Intenso e repleto de ação
- Personagens carismáticos
- Campanha e multiplayer
Desvantagens
- Pequenos bugs