Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands: Vale a pena?
“Louvado seja aquele que correndo por entre os escombros da guerra, da política e das desgraças públicas, preserva sua honra intacta”. BOLIVAR, Simón.
Se Simón Bolívar e Antonio José de Sucre foram responsáveis por “libertar” a Bolívia da colonização europeia, em Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands você precisará livrar as terras do país do narcotráfico. Com cenários impressionantes, bela jogabilidade e muita missão para fazer em mundo aberto gigantesco, o novo jogo da Ubisoft promete ser um game agradável para muita gente. Especialmente para quem curte co-op.
Mas ele também tem alguns problemas em aspectos importantes, como o enredo muito simples, as missões repetitivas e o controle de veículos abaixo da média. No geral, tem mais acertos do que erros, e acerta na proposta de ter um game de mundo aberto mais realista e com muita ação. Confira a análise do Meu PS4 completa abaixo e, caso você já esteja jogando, conte também para a gente o que achou!
Narcos: Kill Sueño
Se Kill Bill e Narcos tivessem um filho, ele seria Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands. É uma história de vingança que se passa em um mundo de narcotraficantes. Se no filme de Tarantino, The Bride é a protagonista, em Ghost Recon quem dá as cartas durante a aventura é a agente Karen Bowman.
Ela não vai para o campo de batalha com você e seus amigos, mas dá as ordens sobre quem atacar e onde. O enredo do jogo é, basicamente, uma história de vingança dela – pelo assassinato de Ricky Sandoval, agente que estava disfarçado no Cartel de Santa Blanca, sob ordens dela, e foi assassinado pelos traficantes.
Você tem uma listinha das pessoas que tem que matar, assim como Uma Thurman em Kill Bill. No topo dela está El Sueño, que tem esse nome por ter visto todo o conceito do seu cartel em um sonho. Santa Blanca tem até uma religiosidade, fazendo a referência clara à cocaína no seu nome, mas também cultuando a Morte como uma divindade.
Abaixo de El Sueño, há diversos outros traficantes que devem ser assassinados, um a um, para que o jogador complete o game. Derrote-os, acabe com El Sueño, chegue ao nível 30 e pronto. Mas não pense que é fácil. São diversas missões para desbloquear cada chefe – e sidequests de todo o tipo, caso você se interesse por elas.
Aí está o pouquinho de Narcos no jogo. Você faz parte de um grupo de agentes de elite dos EUA que vão para um país sul-americano em busca de desmantelar um cartel e de eliminar ou prender o seu comandante. Qualquer semelhança com o Cartel de Medellín e Pablo Escobar não é mera coincidência.
De Império Inca a Império das Drogas
A Bolívia fez parte do Império Inca antes da colonização europeia. Depois, tornou-se um ponto fundamental do Império Espanhol. Mas em Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands, ela é retratada como o Império das Drogas. E se o lema do país é “A união é a força!”, é justamente a união dos criminosos que você precisa combater.
O legal, para o jogador, mas nem tanto para quem combate o narcotráfico na vida real, é que a Bolívia tem paisagens super diferentes e com variações climáticas incríveis – o que torna a região o cenário perfeito para um jogo de mundo aberto como é o caso de Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands.
A Bolívia só não tem mar. Mas tem montanhas da Cordilheira dos Andes, com o Nevado Sajama, o Altiplano, planalto na região central, floresta amazônica no leste, os desertos de sal, como o Salar de Uyuni no sudoeste, as planícies de norte a leste, o Chaco, um pântano ao extremo sul, e claro, o lago Titicaca, o maior da América do Sul.
E toda essa diversidade é muito bem retratada no game, influenciando até diretamente na jogabilidade e nos gráficos. Muita coisa muda dependendo do ambiente no qual se insere a missão. Nas florestas, você se esconde bem e pode pegar os inimigos de uma forma mais silenciosa. No deserto, use snipers. Nos morros, busque atacar de cima.
Neste Império das Drogas, a ambientação é muito bem feita. O que decepciona no jogo para PlayStation 4 é a parte gráfica. Há relatos de que nos PCs, com as configurações máximas, ele é lindo. Mas isso não acontece no console. O jogo não é “feio”, mas não é também algo que chame a atenção visualmente.
Ele foi lançado pouco depois de Horizon: Zero Dawn, por exemplo, e não dá para fazer um comparativo justo entre os gráficos de um e de outro. O exclusivo da Guerrilla para quem tem PS4 é muito mais atrativo. Tanto em ambientação como nos personagens, o trabalho da Ubisoft em Ghost Recon é bom, não ótimo.
Se você jogou The Division, é mais ou menos no mesmo nível. Com a diferença que ele foi em Nova York e este é na Bolívia – que é um ambiente mais desafiador para retratar com fidelidade. E esse objetivo foi alcançado. Só o fato de o gráfico ir claramente sendo melhorado quando o jogador se aproxima de cada objeto incomoda um pouco.
Isso acontece em muitos jogos, é comum, mas normalmente de forma sutil. Em Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands, porém, você vê claramente, e a todo momento, um serrilhadozinho em alguns elementos que vão ficando mais bonitos quando você se aproxima deles, especialmente quando está pilotando um veículo.
O áudio, assim como a parte gráfica, é OK. A dublagem não é ruim, tanto em inglês como em português, e os sons dos ambientes e tiros é bem retratado. Um destaque bacana fica para as comunicações nas rádios dos veículos. As músicas, porém, são exatamente o contrário e fazem você querer desligar o rádio.
Sucre, Bolivar… Nomad!
Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands tem uma quantidade enorme de missões para os jogadores, comandos básicos de jogos desse estilo e alguns elementos bem diferentes e eficientes, como o disparo sincronizado de tiros com os Bots que formam esquadrões com os jogadores que optam pelo single-player.
Mas como tudo nesse jogo, há pontos positivos e negativos. De bom, a opção de mirar sobre o ombro, em terceira pessoa, ou focado na arma, como um FPS, que permite ao jogador escolher a forma que mais lhe agradar, agrada. O realismo nos combates com poucos tiros necessários para matar os inimigos (bem diferente de The Division) idem.
A variedade de armas é outro ponto forte do jogo, especialmente por conta do enorme leque de opções para personalizá-las. A movimentação dos personagens é muito bem feita, os combates são corretos e não há do que reclamar. O que brilha mesmo, porém, acaba sendo o modo cooperativo, super divertido e, claro, muito mais difícil.
Por falar em difícil, meu amigo, se você jogar no nível mais alto de dificuldade que Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands disponibiliza, você vai sofrer. Um tiro bem dado pelos inimigos e já era. É preciso ser muito cauteloso, usar sempre a marcação de inimigos e evitar movimentos muito instintivos. Estratégia é tudo.
Só que há falhas em pontos cruciais na jogabilidade. Os bots, por exemplo, são mais inteligentes para táticas e para reviver você do que seus amigos serão. O problema é que eles também não têm iniciativa. Se você não mandá-los fazerem algo, eles não farão. E em diversas ocasiões não irão te proteger, o que é uma pena.
Isso sem falar nos veículos que, realmente, como muita gente já vem falando e como se viu na versão Beta, não são fáceis de controlar. Muitos carros derrapam na pista, outros são extremamente lentos, e os helicópteros podem demorar um pouquinho para você ir se acostumando. No fim, você pega o jeito de tudo, mas não é a melhor solução.
As missões podem acabar ficando um pouco repetitivas, e os estilos de jogo não têm grande variação em termos de distribuição de habilidades. Você tem uma Skill Tree, como outros jogos do gênero, mas no fim você acaba desbloqueando tudo e não tem grandes diferenças/melhorias específicas de acordo com o seu estilo de jogo.
Você não consegue se especializar em ser um sniper, por exemplo, ou médico. Todos acabam evoluindo em tudo, o que pode, novamente, ser visto como bom ou ruim. Ter personagens equilibrados é ótimo para uns, não tanto para os outros. Mas, no geral, a jogabilidade de Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands merece mais elogios que críticas.
E Nomad, que é o “codinome” do personagem principal controlado por você, tem totais condições de se tornar um Libertador da América, salvando a Bolívia de Santa Blanca.
Conclusão
Dizem que um, dentre vários problemas da cocaína, é que o efeito que ela causa costuma diminuir conforme o tempo. As missões de Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands são um pouco assim. Aquele “efeito” bacana passa depois de quatro ou cinco traficantes derrotados.
E aí é que entra a grande questão para você definir se o jogo é bom: você pode sentir uma vontade incontrolável de jogar mais e mais até acabar, guardadas as proporções devidas, como o que acontece com quem usa a droga, ou então enjoar e deixar o jogo “para lá” um pouco.
Os gráficos são OK, a jogabilidade é boa, o enredo é simples, mas “passa”, e dá para se divertir com ele. Só que o jogo não se destaca muito em nada. Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands é um bom game, muito recomendado para os jogadores que curtem esse estilo e, principalmente, jogar com amigos online.
É como um The Division mais realista e com (bem) menos bugs. Tem o seu público, vai agradar, mas para muitos gamers talvez seja melhor esperar uma promoção. Mas, em um balanço geral, merece o nosso selo de Recomendado. É uma experiência bacana, bem completinha e que garante horas de jogatina se você não enjoar.