The Thaumaturge: vale a pena?
Immersive sim profundo, The Thaumaturge traz perspectiva complexa de grandes eventos históricos
Em especial no ocidente, o folclore do leste europeu é pouco conhecido. Durante todo o século XX, origens, crenças e visões de mundo compuseram uma população diversa na região, mas constantes interesses políticos enterraram de vez várias histórias.
Em meio à agitação do início do século, russos, judeus e poloneses estabeleceram conflitos que tornaram a região quase um campo de batalha. E como se não bastasse a violência física e o ódio, o preconceito e a intolerância às pessoas ganharam uma força brutal.
De fato, o Leste Europeu é rico em histórias que, mesmo nos livros mais completos, podem ter seus detalhes passarem despercebidos. Mas caso você queira saber mais sobre essa construção civilizatória, The Thaumaturge é o atlas mais robusto.
Surpreendentemente complexo em narrativa, o título da Fool’s Theory é aquele immersive sim que fará você aprender sobre um mundo bastante distinto. E mesmo com as toneladas de informações, a experiência intriga com mecânicas muito bem determinadas.
Chega de falar. Continue com a gente e entenda como esse novo RPG baseado em escolhas pode prendê-lo por muitas horas.
O fardo de Wiktor Szulski
Wiktor Szulski é um taumaturgo. Com dons herdados de seus antepassados, ele tem o poder de encontrar falhas nos seres humanos causadas por anomalias. Mas não qualquer uma, e sim salutors: seres sobrenaturais capazes de manipular mentes e expor pecados.
De volta à tumultuada Varsóvia, ele dá início aos preparativos envolvendo o misterioso falecimento de seu pai. Mas tudo muda quando o milagreiro descobre que sua única herança é um artefato chamado Grimório Negro.
Agora, ele deve não apenas caçar as entidades, mas reunir aliados que possam contribuir com sua causa e evitar que um conflito moral tome conta do Leste Europeu. Seus poderes serão suficientes para expurgar o mal de vez? Você, jogador, deve decidir.
The Thaumaturge é um RPG narrativo no estilo Disco Elysium. Com amplo foco na história, o game reúne missões secundárias e paralelas que envolvem exploração, investigação, caminhos alternativos e combate, em uma campanha de 20 a 25 horas.
Como um immersive sim, o mundo ao seu redor está em constante mudança. Isso inclui atividades que devem ser cumpridas em um certo limite de tempo, ciclo de dia e noite com quatro períodos, rotinas de NPCs e uma cidade incrivelmente viva.
Não há como falar de The Thaumaturge sem comentar sobre a riqueza de detalhes. Além do game trazer uma quantidade absurda de linhas de texto, seus mapas impressionam pela densidade de informações, que vão desde personagens até prédios bem acabados.
Tudo isso é amplamente favorecido pela Unreal Engine 5. Por ser um jogo AA, o título possui falhas visuais e de performance, mas nada que tire o brilho do impressionante trabalho técnico da Fool’s Theory. É um capricho gráfico realmente notável.
E falando em trabalho técnico, o game também aparece em sua melhor versão no PS5. Ele usa muito bem os recursos do DualSense, com as funcionalidades de gatilhos adaptáveis e de feedback tátil constantemente ativas.
Narrativa forte, combate brutal
Como elemento central, a narrativa de The Thaumaturge é muito bem trabalhada. São diversos elementos integrados a ela que, de início, podem parecer complexos, mas logo se tornam amigáveis, compreensíveis e muito funcionais.
Enquanto avança na campanha, Wiktor tem seu caráter e sua personalidade constantemente colocados em xeque. Seu principal salutor o confere a marca do orgulho, e cabe a você decidir se apelará para esse traço ou manterá o equilíbrio em diversas situações.
São muitos diálogos, interações e cenas de CGI onde será necessário determinar o destino do protagonista, de NPCs próximos a ele, de grupos e até mesmo da cidade. E lembre-se: cada decisão impactará em algum momento, até mesmo lhe privando de realizar ações.
A história de The Thaumaturge é muito intrigante e progressiva. A ideia de “caçar salutors” não traz qualquer ar de repetição, pois cada um deles, além de se relacionar com eventos canônicos ou secundários, possui designs hipnotizantes e únicos.
Infelizmente, o título é muito prejudicado pela ausência de localização em português. Como há muitos estrangeirismos, eventos da jornada se tornam confusos com facilidade e podem lhe fazer pular cutscenes pelo simples fato de desistir de tentar entendê-las.
E mesmo sendo um immersive sim, The Thaumaturge tem um sistema de combate muito bem feito. As lutas são estratégicas e exigem que os jogadores se atentem a diversos adversários, cada um com seus pontos fracos e vantagens únicas.
Os salutors estão do seu lado
Na campanha de “The Thaumaturg”, Wiktor precisa caçar os salutors ao identificar humanos com “falhas”. A partir disso, ele determina se absorverá a entidade sobrenatural para si ou deixará para seu hospedeiro.
Enquanto a primeira opção traz vantagens consideráveis no combate, a segunda pode impactar bastante a narrativa. Dessa forma, há uma integração complexa e convincente entre a batalha por turnos e o sistema de decisões na história.
Caso você decida absorver os salutors, estará muito bem servido. Suas vantagens em combate estão disponíveis a todo turno para Wiktor, permitindo que ele invoque qualquer uma das criaturas para lutar ao seu lado.
Elas possuem tanto habilidades básicas quanto supremas, assim como efeitos de debuffs em inimigos e de buffs no protagonista. Além disso, é possível aprimorar seus atributos em uma árvore de habilidades e combinar poderes com vantagens passivas destraváveis.
The Thaumaturge também conta com um rico menu de documentos e informações, onde é possível rever tutoriais, conhecer a história de cada criatura e entender de que forma elas podem lhe beneficiar nos combates.
Mais uma vez: tudo é em inglês. Porém, quem sentir confiança para ler no idioma estrangeiro encontrará verdadeiras relíquias que lhe ajudarão bastante a imergir ainda mais no mundo do jogo.
The Thaumaturge: vale a pena?
The Thaumaturge é um excelente RPG narrativo. Seu sistema de immersive sim é profundamente dinâmico e funcional, introduzindo um alto fator replay que se consolida com mais de seis finais alternativos e muitos caminhos paralelos.
Com dezenas de missões secundárias e principais, coletáveis e escolhas em diálogos, o título garante uma experiência completa para quem curte o gênero e procura uma aventura muito personalizada, mas ao mesmo tempo carismática e rica em informações.
Problemas de performance e outros bugs são mínimos se comparados com os cenários incríveis, belos efeitos técnicos e criatividade no design dos personagens. É uma baita campanha, em termos conceituais e de impacto, que o mergulhará em um mundo desconhecido.
The Thaumaturge é um ótimo custo-benefício na PS Store, pois sai por apenas R$ 174,50 na versão de PS5. Tendo em mente que a campanha pode levar até 25h para ser concluída e a platina 40h, é um investimento que garante retorno de altíssima qualidade.
E caso você tenha interesse em saber mais sobre grandes figuras do czarismo, os conflitos soviéticos da década de 1900 e a construção da civilização moderna no Leste Europeu, o game da Fool’s Theory te convencerá como jogos podem ser muito mais que mera diversão.
Veredito
The Thaumaturge
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Fool's Theory
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- Excelente condução narrativa
- Mundo complexo e rico em informações
- Combate por turnos dinâmico e desafiador
- Escolhas em diálogos podem afetar muitos eventos do mundo
- Ótima integração com os recursos do DualSense
- Campanha com dezenas de horas
- Design dos personagens caprichados
- Cenários riquíssimos em detalhes
Desvantagens
- Bugs visuais
- Sem localização em português do Brasil