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The Surge: Vale a pena?

Espere uma boa promoção para "O Dark Souls futurista".

por Raphael Batista
The Surge: Vale a pena?

Imagine a seguinte ilustração: a menina que você gosta é NiOh; o ex-namorado dela, Bloodborne; os pais dela, a saga Dark Souls; e você, o simpático The Surge, que mesmo possuindo qualidades, não é páreo para a concorrência e está fadado à temida friendzone.

The Surge, vendido como o “Dark Souls futurista”, apresenta uma jogabilidade sólida, porém frustrante. Uma história interessante, mas mal-contada. Um level design interessante, entretanto confuso. Em outras palavras, a experiência é como um pêndulo entre contrastes extremos. Isso acaba por padronizar o jogo na categoria “ame-o ou odeie-o”.

Vista seu exoesqueleto e prepara-se para apanhar muito em The Surge!

Eu já vi isso antes

O jogador assume o controle de Warren, um homem paraplégico que decide fazer parte dos protótipos exoesqueletos projetados pela empresa tecnológica CREO. Contudo, eventos inesperados ocorrem e transformam a sede da empresa em um lugar repleto de soldados-máquinas conturbados, dominados por uma força superior.

O objetivo: chegar ao centro de operações, descobrir o que aconteceu e resolver o problema. É então que o título começa a mostrar uma narrativa semelhante ao enredo de Horizon: Zero Dawn. Obviamente não é inteiramente idêntica, mas é muito simular na execução.

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Desvende o que aconteceu na CREO. Fonte: captura de tela.

No entanto, ao contrário do jogo da Guerrilla Games, a história em The Surge é contada de uma maneira nada cativante ao jogador. Você estará mais preocupado em não ser atingido por algum inimigo surpresa do que prestar atenção aos diálogos ou documentos encontrados.

Os eventos finais até empolgam os ânimos. Mas não o suficiente para categorizá-lo como uma narrativa memorável e sim como um pano de fundo, no máximo, interessante para o principal do título – a jogabilidade.

Meritocracia? Aqui não!

Os jogadores de Bloodborne, NiOh ou mesmo Dark Souls, apaixonam-se por esses títulos devido a muitos fatores. Folclore gigantesco, inimigos desafiadores ou até mesmo pelo visual. Mas, em todos há uma mesma característica que os definem. A sensação de recompensa conquistada após vencer uma batalha difícil.

Em The Surge, existe uma frustração peculiar quanto ao sentimento de vitória. Mesmo vencendo em determinadas ocasiões, o jogador sente-se ainda incapaz para enfrentar inimigos mais fortes e, muitas vezes, sabe que não será capaz de detê-los.

Ao passo que, em NiOh por exemplo, somos encorajados a enfrentar Yokais ainda mais perigosos porque sentimos a evolução. Em The Surge, somos desencorajados a enfrentar máquinas ou soldados mais fortes.

Isso deve-se, principalmente, ao fato de todo inimigo ser muito mais poderoso que Warren e ainda mais rápido. Ou seja, muitas vezes o jogador irá encontrar inimigos das fases iniciais e morrerá para eles, pois mesmo tendo um nível maior de experiência, os ataques adversários são fulminantes.

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O sentimento de impotência é dado a cada nova máquina enfrentada. Fonte: captura de tela.

O jogo caracteriza-se por ter uma curva de aprendizado muito aguda, de tal modo que a vitória vem por ter decorado os movimentos dos inimigos e repetido a cena incontáveis vezes (pense em aprendizado motor ou “memória muscular” – os músculos​ já respondem automaticamente a determinada situação) e não, necessariamente, em ter traçado uma estratégia baseada com pensamentos próprios e evolução pelo esforço.

Essa característica pode atrair alguns jogadores mais hardcore e, absolutamente, afastar os mais casuais. Até mesmo quem está acostumado com o gênero pode se frustrar com muitos momentos do game (acredite, experiência própria).

Eu já passei por aqui?

O desenho de níveis em The Surge é outro elemento que também passa por contrastes. O jogo é do gênero mundo aberto, mas restrito aos blocos das indústrias da empresa CREO, onde todo o game se passa.

Não pense que a exploração é mínima! Warren passará por localidades diferenciadas, desde tubulações, áreas botânicas, até galpões de produção. As dimensões dos locais ajudam a entender a evolução tecnológica da qual a CREO era responsável.

No entanto, os níveis sofrem pelo mesmo motivo que os consagram. Por tratar-se do mundo aberto e estar limitado à uma região específica, seria preciso que os locais estivessem interconectados para facilitar as viagens e para descobrir novas regiões. No entanto, identificar onde se está já é um desafio enorme.

O jogador, em vários momentos, irá percorrer o mesmo trajeto, simplesmente por não conseguir saber se já passou por ali ou não. A situação piora ainda mais quando não se sabe para onde ir. Pela falta de um mapa lúcido e devido à visão limitada dentro da companhia, é preciso andar muito para descobrir os caminhos e atingir os objetivos.

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Um mapa 2D para um ambiente 3D com várias conexões não deu muito certo. Fonte: captura de tela.

Talvez você pense: “Ah, mas Dark Souls não tem mapa. Nem NiOh. Nem Bloodborne!” Sim, caro jogador. A diferença é que nos títulos acima citados, o player tem a ampla visão da região e das áreas que percorre. Logo, torna-se intuitivo por onde deve-se ir. Em The Surge, a localidade é fechada, então restringe-se a habilidade de orientação.

Lembro-me quando adentrei ao gênero RPG de Ação pela primeira vez e foi com Dark Souls 2. A falta de um mapa não me incomodou, já que a própria ambientação oferecia um direcionamento natural para explorar novas áreas e desbloquear novos caminhos.

‘Ele é bonitinho, e só’

The Surge não apresenta visuais exuberantes quanto aos personagens que aparecem durante a jornada de Warren. O próprio protagonista não recebe mais detalhes precisos. Não torna o jogo feio, mas “bonitinho”.

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Warren em The Surge não é lá provido da beleza. Fonte: captura de tela.

O que é de belo apresenta-se durante os cenários e, principalmente, com o jogo entre luz e sombra. Quando nas regiões abertas das instalações da CREO, é interessante notar o efeito que o Sol proporciona em objetos e até nas silhuetas corporais.

A trilha sonora não se destaca, apenas cumpre seu papel. Com sons punk e metálicos retratando a vida fabril, a sonoridade faz o dever de casa e não desaponta, mas não surpreende. Nada memorável.

Sobre os diálogos, é curiosa a superficialidade abordada. Em meio ao caos de uma empresa dominada por eventos surpreendentes, os personagens dialogam como se fosse mais um dia de trabalho. Em poucos momentos expressam algum sentimento, mas no geral, é tratada a situação com uma normalidade estranha.

O jogo não possui áudio traduzido em nossa língua, mas conta com os menus e legendas em PT-BR.

‘Ele é só meu amigo’

A temida frase pelos bons rapazes neste Brasil pode ser aplicada em The Surge. O título tem suas qualidades e é mais um pretendente à sua carteira, mas perde colocações para os outros concorrentes mais bem capacitados.

5Com uma experiência repleta de contrastes e, principalmente, um nível de dificuldade injusto em diversos momentos, o jogo entrega uma proposta alternativa.

O título da Deck13 Interactive não é descartável, mas também não deve estar entre os primeiros colocados da a lista de compras. Quando em uma boa promoção, é a oportunidade ideal para aquisição.

Raphael Batista
Raphael Batista
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Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.