The King of Fighters XIV: Vale a pena?
Diz o provérbio: “Quem foi rei, nunca perde a majestade”. E isto explica um pouco do sentimento ao experimentar o mais recente game da saga The King of Fighters. Após longos anos fora dos holofotes, a SNK oferece aos jogadores um título que resgata seu passado, aos mesmo tempo que finca um pé no presente, garantindo seu futuro.
Com um invejável cartel de 50 lutadores, logo de início, o game oferece variadas opções de escolha, modos de jogo clássicos, multiplayer online e uma renovação visual que agrada, mesmo que muitos torçam o nariz.
Uma análise tardia é verdade, pedimos desculpas por isso, mas, “antes tarde do que nunca“. Sem mais ditos populares, vamos lá!
Honrando o passado…
KoF sempre foi um jogo bastante popular no Brasil. Os arcades viviam lotados de jogadores habilidosos, fãs e curiosos. Com o tempo, a série acabou perdendo um pouco de representatividade. Ficaram as memórias de KoF 98 e 2002, alguns dos expoentes mais populares.
Mas 2016 reservou bons ventos aos fãs e a SNK Playmore trouxe de volta o jogo. Entretanto, sua primeira exibição não agradou nenhum um pouco. A crítica não aprovou a substituição dos modelos desenhados pelos poligonais, além disso a movimentação parecia bastante robótica.
E o tempo fez bem ao projeto. O produto final é de qualidade, tanto em visual quanto em jogabilidade.
A direção de arte, tanto dos variados cenários quanto dos lutadores, é muito boa. As animações estão trabalhadas, com belas explosões, partículas e detalhes. A mudança do 2D para o 3D não prejudicou o desempenho do game, que é bastante fluído. Não há queda nos quadros, mesmo em momentos intensos.
Contudo, muitos ainda vão estranhar esta nova abordagem, pois tem-se impressão que muitos do personagens parecem de borracha, principalmente nas poucas cenas de corte.
Houve ainda a repaginação de alguns, como o italiano Robert Garcia, que acabou ganhando um bigode estiloso. Ademais, os velhos conhecidos continuam os mesmos, com suas falas, roupas e trejeitos.
E os fãs ficarão felizes em saber que a jogabilidade refinada do game continua intacta. Aqueles que já dominavam golpes e combinações em edições anteriores, podem utiliza-los na versão de 2016 sem maiores complicações.
…Para Trilhar o Futuro
Ao contrário de Street Fighter V, que ousou bastante em sua quinta edição, fazendo mudanças em golpes e em personagens, KoF optou por manter o legado, e isso amplia o sentimento de nostalgia e retorno às raízes.
A mudança no entanto, ficou concentrada nas movimentações. KoF: XIV é mais cadenciado que seus antecessores. Não incomoda ou atrapalha, apenas exige um pouco de treino e adaptações.
Além desta, o jogo conta com as tradicionais barras de especiais. Uma barra pode ser utilizada em um ataque especial tradicional, e existe um outro especial, um pouco mais poderoso, que consome duas e o CLIMAX, um poderoso ataque que além de consumir três barras, também causa muitos danos ao adversário.
Existe ainda o MAX MODE, que consome uma barra e permite o uso de golpes comuns de uma forma mais alternativa e fácil, além de causar mais dano.
Ao todo, existem cinco barras. As três primeiras são habilitadas logo no começo de uma luta, as demais são adicionadas conforme um lutador é derrotado. Exemplo: O primeiro personagem do trio foi derrotado, com isso o segundo tem ao dispor quatro barras. Se porventura o segundo também for abatido, o terceiro e último contará com cinco barras.
Com cinco barras de especiais é possível fazer combinações absolutamente incríveis, combinando cancelamento, entrada no modo MAX e posterior aplicação de um super-especial. Claro, este cenário exige treinos.
A polêmica ficou por conta do RUSH MODE, um recurso destinado aos novatos. Basta que o jogador pressione, sucessivamente, o soco fraco para que o lutador reaja com combos elaborados, inclusive com especiais.
Este modelo desagradou alguns, mas no final das contas não chega desbalancear o game, uma vez que a combinação “fácil” causa menos danos no oponente. Além disso, os jogadores mais experientes preferem não contar com esta facilidade.
Completo
The King of Fighters XIV vai na contra-mão dos demais jogos de luta. Enquanto Mortal Kombat e Street Fighter oferecem novos personagens por meio de agressivas políticas de DLCs, a SNK optou por oferecer 50 opções logo de início.
Chega a ser assustador analisar a tela de seleção de lutadores. São muitas possibilidades, variações e combinações possíveis.
Neste ponto o game mostra que tem uma curva de aprendizado longa. Para formação de uma equipe, é necessário conhecer os lutadores, saber qual pode ser utilizado antes, qual é mais equilibrado ou adequado para encerrar um combate.
O jogo continua ainda a trabalhar com sistema de trios. São 16 equipes com três lutadores cada. Muitas das equipes são clássicas como o Team Fatal Fury (Terry, Andy e Joe), Team do Japão com Kyo, Benimaru e Goro ou o poderoso Ikari Team (Ralf, Clark e Leona).
E Com Acompanhamentos
E os desenvolvedores não se sentiram receosos ao incluir 18 personagens inéditos na série. São opções variadas que complementam de forma bastante peculiar os veteranos da saga. Alguns destaques são evidentes, como a estranha Silvia Paula Paula.
Para usar tantas opções, o jogo dispõe do modo história, que na verdade é o bom e velho arcade, onde ao final se enfrenta um chefe. Na verdade, existem dois deles.
Antonov, um bilionário russo que adquiriu os direitos do torneio The King of Fighters e organiza a competição. Ao final, o trio vencedor duela contra o brutamontes pelo cinturão, mas as coisas não saem como planejado e Verse (verdadeiro chefe), uma entidade maligna invade a final do campeonato.
O problema é que nem Antonov, um canastrão, e Verse, não funcionam como chefes do jogo. Ambos não despertam aquela sensação de temor de enfrentar um grande vilão, assim como era nos tempos de Rugal e Orochi.
Além do modo história, existem os modos Missão, onde os jogadores podem aprender combinações com os Desafios, jogar contra o relógio no Time Attack e sobreviver por maior tempo possível no Sobrevivência.
Já o Tutorial serve para aprender diversos conceitos básicos e o Treinamento é auto-explicativo.
The King of Fighters XIV é uma opção bastante completa, com dezenas de lutadores, modos diversificados, mas escorrega em um ponto.
Online Fraco
Antes de qualquer coisa, as partidas online funcionam, mesmo que de forma precária, mas funcionam. Contudo este modo deveria ser mais robusto e colocar de vez o franquia no presente.
Tem-se as partidas ranqueadas, onde os competidores buscam o topo. Geralmente são partidas bastante acirradas com jogadores viciados muito bons tecnicamente.
As partidas livres, sem maiores pretensões, acontecem por um sistema de sala. Você entra em uma sala e pode desafiar os oponentes de lá, organizar torneios entre si e treinar.
O problema está nas conexões. Muitas vezes as lutas acontecem com um lag absurdo, impedindo qualquer tipo de diversão ou competitividade.
Entretanto, quando se tem boa conectividade com o companheiro, os embates são lisos, dinâmicos e reforçam o potencial game.
Vida longa ao Rei
Com muitos conteúdos, bons modos de jogo, lista de personagens a perder de vista, jogabilidade refinada e um visual que, se não agrada, pelo menos não decepciona, The King of Fighters XIV é uma grande opção para os entusiastas de jogos de luta e praticamente irresistível para os fãs da franquia.
O retorno da série, cultivando elementos do passando e se adequando ao presente é, certamente, um passo na direção certa. Vida longa ao rei das lutas.