The Callisto Protocol: vale a pena?
Game da Striking Distance prometeu e entregou: não chega a ser revolucionário, mas é muito bem feito
“O terror é como uma serpente. Sempre trocando de pele, sempre mudando. E sempre vai voltar”. A frase do cineasta italiano Dario Argento é de um tempo onde videogames nem existiam, ou estavam dando seus primeiros passos, mas é uma bela ilustração do gênero survival horror nos jogos. Com The Callisto Protocol, ele voltou. De novo.
O ano é 2320. O personagem interpretado por Josh Duhamel é Jacob Lee, um piloto de cargas cuja nave cai em Callisto, satélite de Júpiter. O acidente acaba fazendo com que ele seja levado para a prisão de Black Iron. Pouco tempo depois, porém, um surto na cadeia transforma presos em mutantes mortais, e Jacob tenta fazer de tudo para fugir dali.
Com gráficos estonteantes, ambientação sufocante e imersão máxima graças ao belo trabalho dos desenvolvedores de aproveitar ao máximo o que o DualSense e o áudio 3D têm a oferecer, a nova obra de Glen Schofield entrega quase tudo que se esperava dela.
Tem inspirações, claro, em Dead Space, mas consegue se distanciar de seu “antecessor espiritual” e ganhar corpo para, quem sabe, tornar-se referência para o futuro. Tornar-se uma franquia consagrada. Claramente, este é só um primeiro passo. Embarque com o MeuPS, agora, na análise dessa aventura!
Sobrevivência
“Todo mundo é uma lua e tem um lado negro que não mostra a ninguém”. A frase é de Mark Twain, famoso autor dos clássicos literários The Adventures of Tom Sawyer e Adventures of Huckleberry Finn. The Callisto Protocol tem um pouquinho disso em sua trama.
Ninguém que está ali está à toa. Não há inocentes. Todos têm motivações para seus papéis no enredo. E, sim, vamos de cara dizer que a aventura é muito curta e que a narrativa poderia ter um pouquinho mais de nuances. Mas, mesmo assim, não decepciona. Os personagens são interessantes, a trilha sonora excelente e o desfecho bem satisfatório.
E o que dizer do elenco? Talvez desde Death Stranding não houvesse um casting tão estrelado num jogo de videogame. Josh Duhamel, de Transformers (e CoD WWII), é o protagonista, com Karen Fukuraha, a Kimiko de The Boys, e Sam Witwer, de Smallville (e Days Gone) como coadjuvantes de luxo.
E eles enriquecem bastante a experiência. Boas atuações e construções de personagens. A ideia dos desenvolvedores, claramente, era fazer com que o jogador se conectasse com Jacob Lee. E isso é feito de maneira espetacular. Seja por tudo o que ele passa, pelo trabalho de câmeras e pela forma como tudo se desenrola.
Plot simples, sem grandes floreios. É preciso escapar e ponto. No caminho, claro, você encontra outros personagens e desenvolve relações importantes, além de também descobrir mais sobre tudo o que causou a contaminação. Pode até ser uma narrativa rasa e previsível em certos pontos, mas entrega o feijão com arroz e tem um desfecho interessante.
Inspiração
“Nós não projetamos The Callisto Protocol para ser Dead Space 4”. A frase aqui não é de um autor literário, e sim do próprio gerente de tecnologia da Striking Distance Studios, Mark James. Em entrevista recente, ele comentou sobre a óbvia comparação entre os títulos. E, apesar das negativas, há claras inspirações.
A interface minimalista, a dificuldade nos combates com inimigos mutantes no espaço, os pisões, as animações para as mortes (que são um show de gore à parte em The Callisto Protocol)…
Sem falar que um dos possíveis easter eggs parece estar numa relação entre eles. Afinal, o protagonista de Dead Space era Isaac Clarke. E, na Bíblia, Jacob é filho de Isaac (em português, Jacó e Isaac). Será que é só uma coincidência?
Mas, brincadeiras e referências à parte, a nova empreitada de Glen Schofield, cuja entrevista pós-Gamescom ao blog oficial de PlayStation é uma ótima referência ao jogo, tem vida própria. A preocupação de ser apenas um novo Dead Space, com uma roupagem diferente, existia, mas no fim das contas, é possível distanciar bem as duas obras.
Esqueça Dead Space. Ou melhor, se quiser, compre o remake que está por vir, mas trate The Callisto Protocol como ele merece: um título próprio, com sua personalidade única e muito a oferecer. Visualmente, então, nem se fala. É uma das melhores experiências gráficas de um estúdio third-party no PlayStation 5 até agora.
Os modelos dos personagens são super bem construídos, os cenários são lindos, a iluminação e a ambientação para um jogo de survival horror estão perfeitas… Sem falar na trilha sonora, também no ponto. Por outro lado, há uns errinhos de tradução aqui e ali, além de frases ignoradas nas legendas, mas valeu o esforço da localização.
Sofrimento
“Nunca sofrer é nunca ter sido abençoado”. Essa é de Edgar Allan Poe, que voltou aos holofotes quase 200 anos após sua morte graças à série Wandinha, recém-lançada na Netflix. E como se sofre em The Callisto Protocol. Os jump scares até estão lá, mas não são eles que despertam o seu medo.
É aquela sensação de estar sufocado, preso, sem saída, e principalmente, sem saber o que está à espreita. Cada passo deve ser calculado. Cada esquina pode esconder um inimigo. Cada sala pode estar cheia de armadilhas. E nada, nada mesmo é pior do que isso: o desconhecido.
Quando os inimigos vêm na sua direção, assusta. Mas não é pior do que não saber se eles vêm, de onde eles vêm, quando eles vêm ou até mesmo se eles vêm. O jogo estimula essa sensação de estar sempre atento. E merece ser elogiado por isso. Não é nada inovador, nada que o faça ser muito fora da caixa, mas ainda assim, impressiona.
Especialmente quando se combina tudo isso aos belos gráficos, às ambientações super bem feitas e o trabalho incrível de aproveitar os recursos que o PlayStation 5 tem a oferecer. O feedback tátil do DualSense e o áudio 3D com um fone capaz de reproduzi-lo fazem toda a diferença. Você não só joga, sente que está ali.
No gameplay, vale destacar alguns pontos. Primeiro, a variedade de armas e inimigos. Que, inclusive, parecem meio interligados. Quanto melhores seus equipamentos, mais fortes ficam os mutantes – ou vice-versa. E o mais bacana é também ter possibilidades diferentes para abordar os encontros com eles.
É possível, e em certas ocasiões obrigatório, seguir mais na encolha, utilizando mecânicas de stealth, só ignorando eles (ou atacando por trás). Mas também dá para trocar golpes no corpo a corpo, atirar de longe, usar um artefato que pode arremessá-los (ou trazê-los para perto) e por aí vai.
Mas é preciso ter estratégia. Os recursos são limitados e você tem que escolher bem o que vai usar em cada situação. É importante frisar que há como coletar munições e kits de recuperação de HP pelo cenário, mas também há “máquinas de venda” em que é possível comprar esses itens e melhorar suas armas.
O jogo em si é simples. Você tem que explorar Callisto para tentar sair de lá. Então, vai passear por vários ambientes e encontrar muitas salas trancadas, inimigos escondidos e objetos em baús e coisas do tipo. Um padrão comum para os jogos de aventura, exploração e sobrevivência atuais. Fica até meio repetitivo, mesmo em um jogo tão curto.
O combate, apesar de tenso e intenso, também não tem muito mistério. Esquivar, atacar no corpo a corpo e usar suas armas de fogo para dar mais dano – seja de perto ou de longe. A dificuldade está nos ataque surpresas e nos ambientes mais fechados e com muitos inimigos. Tudo é bem emocionante!
The Callisto Protocol: vale a pena?
“Um bom começo é a metade”. De Aristóteles para a Striking Distance Studios. Sim, The Callisto Protocol é um belo início para um estúdio. Visual arrebatador, jogabilidade interessante, enredo intrigante e, principalmente, aquele gosto de quero mais. Especialmente, de novo, pelo fato de o jogo ser extremamente curto.
Além disso, o único problema realmente grave com The Callisto Protocol no teste do MeuPlayStation foi a queda brusca de FPS em uma das missões que pareciam mais divertidas. Ela tornou o game quase “injogável”. É uma fase bem parecida com aquela do elevador de God of War III, mas na horizontal e não na vertical.
Um momento crucial do jogo, com um mini-boss, e que foi muito desgastante. Afinal, é uma plataforma em movimento com múltiplos inimigos. Portanto, um bom desempenho era fundamental para jogar bem. Porém, infelizmente, não foi o que aconteceu. As quedas misturadas com os elementos na tela tornaram a missão (praticamente) impossível.
Outro destaque negativo, claro, fica por conta do custo-benefício. Ele custa R$ 299 para PlayStation 4 e R$ 349 para PlayStation 5, isso nas versões mais baratas. Um valor alto para um título que vai entregar ao jogador, no máximo, cerca de 14 a 15 horas de jogo. É bem verdade que há promessa de ter conteúdo pós-lançamento, com DLC de história e tudo mais, mas mesmo assim… É caro pro que entrega.
Então, em suma, The Callisto Protocol vale a pena, mas com ressalvas. É um jogo bem interessante e tem tudo para ser só o começo, porém tem um custo alto. Especialmente em época de fim de ano, com o tanto de ofertas para aproveitar. Por isso, garanta agora só se for muito fã do gênero ou se tiver com um dinheirinho sobrando. Caso contrário, melhorar esperar uma promoção – que talvez nem demore tanto.
Veredito
The Callisto Protocol
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Striking Distance Studios
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- Imersão incrível com DualSense e Áudio 3D
- Combates intensos (e tensos) são bem feitos
- Ambientação e clima de "survival horror"
- Gráficos excelentes em personagens e cenários
- Variações de dificuldade e curva de aprendizado
Desvantagens
- Campanha é extremamente curta
- Quedas de FPS em momentos importantes
- Pequenos "erros" de tradução
- Missões podem ser meio repetitivas