South Park: Snow Day: vale a pena?
Sequência de A Fenda que Abunda Força traz grandes mudanças para o conceito da franquia, mas poucas honram o legado dos garotos de South Park
Ao longo de sua história, South Park teve mais de 320 episódios distribuídos em 26 temporadas, mas nem sempre foi um mar de rosas. Enquanto a animação do Comedy Central se destacou por episódios inesquecíveis, alguns pontos fora da curva provam que não há uma certa regularidade.
E assim como na série, os games também passam por um processo semelhante. Após o lançamento dos divertidos — e controversos — The Stick of Truth e A Fenda que Abunda Força, South Park: Snow Day encerra a trilogia do Novato como aquele título que não deu muito certo.
Felizmente, o retorno de Eric Cartman, Kenny McCormick, Kyle Broflovski e Stan Marsh já pode ser o suficiente para muitos. Agora, as crianças protagonizam uma aventura maluca na cidade, enquanto buscam descobrir os responsáveis por um evento catastrófico.
As aulas estão suspensas!
Depois de uma nevasca tomar conta de South Park, pessoas estão sendo congeladas e estabelecimentos se fecham pela impossibilidade de haver qualquer movimento na cidade. Porém, enquanto o caos reina, a única preocupação de Cartman é se a escola fechará até as coisas se acalmarem.
Como Eric tem muita sorte, seus sonhos se realizam e ele pode ir para a rua aproveitar a neve ao lado de seus amigos. Sob o papel do Mago, Cartman convoca o Novato e os outros personagens do RPG para constituírem uma nova campanha. Mas não demora para tudo sair do controle.
Agora, eles precisam novamente trabalhar em equipe para evitar que a nevasca perdure. E muito além: alguém tem planos para utilizar as condições climáticas como uma cortina de fumaça para concluir uma realização maléfica. Uma nova história está começando.
South Park: Snow Day é um game de aventura cooperativa em tempo real que combina elementos roguelike com deckbuilding. O título é uma sequência direta de A Fenda que Abunda Força e continua a jornada do Novato, porém com mudanças consideráveis no conceito — desde visuais até mecânicas.
Enquanto algumas animações do game são apresentadas no formato da animação do Comedy Central, grande parte vai para o lado em 3D. Isso se estende a cutscenes entre as fases e todo o gameplay, que permite uma exploração completa para o combate e para a navegação pelos mapas.
Em um primeiro momento, essa ideia pode incomodar em especial quem curtiu os games da Ubisoft. Porém, basta alguns minutos para ver que ela funciona bem, com efeitos e elementos de cenários agradáveis e ótimas expressões faciais de todos os personagens.
Os problemas aparecem quando se discute uma visão geral de South Park: Snow Day. A campanha, disponível em três níveis de dificuldade, dura facilmente menos de 2h, apesar do fator replay ser relativamente moderado devido aos conteúdos endgame e a não haver nada perdível.
O título também possui apenas seis armas (três melee e três de longo alcance), oito poderes únicos e cosméticos que podem ser destravados via moedas in-game (Pontos de Platina). Traçando um paralelo, os jogos anteriores seriam temporadas completas, enquanto South Park: Snow Day é apenas um episódio.
Roguelike simples e divertido com amigos
South Park: Snow Day possui ferramentas clássicas de roguelike, com layouts aleatórios dos mapas e um sistema de formação de decks para poderes, armas e vantagens. A cada partida, os jogadores podem determinar as “regras”, sofrendo punições e benefícios que se ajustam com o avanço.
Nas transições de mapas, Jimmy espera os Novatos com opções de benefícios. O Bardo oferece três cartas que possuem níveis, raridades e atributos distintos. Para usá-la, é preciso saber se irá melhorá-la na tela de escolhas ou decidir pelas sugestões que aparecerem.
Esses benefícios de South Park: Snow Day também se estendem para os inimigos. No começo da run, Butters determina quais melhorias cada equipe terá. Elas também contemplam as Apelações, que possuem usos limitados e podem fazer estragos, como chuva de meteoros, golpes ácidos e invisibilidade.
Os jogadores terão acesso, a partir de certo momento da campanha, aos Pactos de Nicole. Através deles, modificadores negativos são implementados no game, e caso o chefão do mapa seja derrotado diante de tais restrições, as recompensas serão ainda maiores.
South Park: Snow Day possui um sistema multiplayer para até quatro participantes que se destaca pela simplicidade e pela funcionalidade. As mecânicas são bastante simples e os jogadores têm à disposição uma série de poderes, ataques e ações para se ajudarem e trabalharem em emboscadas.
Um excelente conteúdo fica por conta da aventura single player. Quando não há pessoas reais na sessão, os personagens são substituídos por bots que contam com uma excelente inteligência artificial.
Assim como os humanos, eles usam naturalmente as vantagens dos Novatos, e não param de agir por um segundo em prol de manter o dono da party constantemente seguro. Caso você morra, tenha certeza que seus companheiros lutarão para lhe reviver o mais rápido possível.
Tudo isso, aliado a uma grande quantidade de cartas para montar deck, à localização completa em português do Brasil, a um botão dedicado para peidos (mais de 50 sons) e a um tutorial disponível a todo instante, resultam em uma experiência de fácil entendimento e acessível para qualquer tipo de público.
A essência é mantida, mas com sacrifícios
O modelo escolhido pela THQ Nordic trouxe um jogo descompromissado, mas com algumas perdas de essência que merecem ser mencionadas. A campanha de South Park: Snow Day, por ser bastante curta, não permite o desenvolvimento dos caricatos e queridos personagens secundários.
Além disso, não há objetivos secundários, estímulos mais claros para a exploração e uma narrativa com potencial de The Stick of Truth e A Fenda que Abunda Força. E mesmo as batalhas criativas contra chefes se tornam pouco aprofundadas, em termos de história.
Como resultado, South Park: Snow Day perde um lote de terreno que normalmente é destinado ao humor ácido. O politicamente correto é praticamente inexistente no game, enquanto os diálogos sequer nos fazem rir ou nos deixam constrangidos — como a animação costuma deixar.
O jogo traz a versão mais sem graça possível de Cartman, Stan, Kyle e Kenny, assim como do Sr. Hankey, Jimmy, Butters, Randy, Jimbo e Ned. Há constantemente a sensação de que algo “mais South Park” está faltando. E em nenhum momento fica o compromisso de que isso acontecerá.
Outro questionamento que deve ser feito é sobre a decisão em portar South Park: Snow Day exclusivamente para a nova geração de consoles. Os gráficos realmente não são coisas de outro mundo e o tempo de carregamento, configurações técnicas e demais aspectos não indicam o uso de tecnologias de ponta.
South Park: Snow Day: vale a pena?
Apesar de ter um sistema cooperativo divertido e um roguelike cheio de referências à série, South Park: Snow Day traz um ar de um jogo preguiçoso. Sua campanha pequena impacta a essência da série de jogos, e nem os conteúdos endgame dão uma sobrevida justa.
A sequência de A Fenda que Abunda Força não se justifica muito e mais parece um spin-off do que um título premium. Para quem for rushar, muita coisa pode ser obtida em menos de 4h, enquanto a platina vem com até 10h sem maiores complicações.
Dessa forma, South Park: Snow Day não é recomendado para quem deseja desembolsar R$ 150 para comprá-lo na PS Store. O melhor é aguardar uma boa promoção ou, quem sabe, uma possível oferta no PS Plus Extra.
Veredito
South Park: Snow Day
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: THQ Nordic
Jogadores: 1 a 4
Comprar com DescontoVantagens
- Localização completa em PT-BR
- Cooperativo funcional e divertido
- Bom sistema de progressão
- Existência de conteúdos endgame com fator replay
- Batalhas de chefes criativas
Desvantagens
- Campanha curtíssima
- Baixíssima variedade de armas e de poderes
- Personagens secundários muito mal aproveitados
- Perda considerável nos níveis de humor ácido
- Impressão de que poderia chegar ao PS4