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Souldiers: vale a pena?

Mistura de metroidvania com soulslike, Souldiers possui virtudes, mas tropeça em certos aspectos

por André Custodio
Souldiers: vale a pena?

“Metroidsouls” ou “soulsvania”? Nos últimos anos, especialmente após a popularização do gênero soulslike, a categoria de rolagem lateral vem sendo uma aposta interessante de devs indies. Com visuais nostálgicos e gameplay simplificado, esses títulos buscam trazer mecânicas mais acessíveis, ao mesmo tempo que se viraram para adaptar a punição para um formato mais dinâmico.

Salt and Sanctuary, Hollow Knight, Dead Cells, Bloodstained e mais… Todos eles tiveram sucesso em seus respectivos nichos e fortaleceram os jogos desafiadores de repetição, gerando um misto de dor de cabeça e satisfação. E foi nesse contexto que a desenvolvedora Dear Villagers lançou Souldiers, porém simplificando alguns aspectos para tornar o título menos “estressante”.

No game, os jogadores devem explorar Terragaya, localizado entre o mundo dos vivos e dos mortos. Um grupo de soldados é enviado para resgatar o principal guardião do reino enquanto é acompanhado pelas lendárias Valquírias. Entretanto, eles acabam presos em um conflito ainda maior onde o único resultado possível é o iminente fim do planeta.

Será que é possível salvar a antiga glória de suas terras?

Zarga, general Brigard e o esquecimento

O promissor reino de Zarga, uma das três nações dominantes no continente de Ascil, está prestes a ter um conflito declarado contra invasores de Dadelm. Para vencer a batalha, o feiticeiro Arkzel sugere uma estratégia e convoca seus colegas para uma misteriosa caverna, até que um terremoto repentino prende a tropa no local.

Em meio à escuridão, um brilho emana das profundezas e revela uma poderosa Valquíria. A guerreira abre um portal para outro mundo e afirma que atravessá-lo é a única opção para a sobrevivência de todos. O general Brigard, responsável por seu exército e pela vida do reino de Zarga, decide seguir as palavras do ser celestial e parte para uma jornada além do plano terreno, levando consigo sua espada e os fieis amigos de combate.

valquiria iluminada ao lado de soldados em souldiers
Fonte: André Custodio

Seguindo esse preceito, os jogadores controlam um dos guardiões de Brigard e devem encontrá-lo em Terragaya. Porém, a aventura não será fácil e um estranho efeito amaldiçoado atua na nova realidade, transformando soldados em seres malignos à medida que o tempo de Zarga se esgota.

A premissa de Souldiers é interessante, se não houvesse problemas graves de ritmo narrativo. Devido à longa exploração e à dificuldade da jogatina, é possível ficar horas sem acesso à qualquer dimensão da história e muitos detalhes acabam sendo irrelevantes ou esquecidos.

cachoeira em souldiers
Fonte: André Custodio

Durante a progressão, personagens pouco desenvolvidos aparecem em questão de segundos e podem iniciar conflitos ou dar dicas sobre a área. Muitos deles até possuem um design diferenciado e têm potencial para um aparente coprotagonismo, mas ficam apenas nos bastidores pela falta de equilíbrio e maior participação de impacto.

A queda em Terragaya

Terragaya é hostil. Visualmente atraente e com ambientações 16-bits repletas de detalhes vívidos, o universo fantástico esconde criaturas de todos os tipos nas sombras. Para combatê-las, os jogadores deverão escolher uma entre três classes — mago, soldado e arqueiro — e masterizar suas habilidades únicas.

Souldiers não conta com builds desenvolvidas — o  “diferencial” dos guerreiros são seus amuletos e orbes elementais. Eles garantem propriedades de aumento em status, proteção contra efeitos, imbuição de armas e uma série de outros benefícios, podendo ser alterados a qualquer instante, de acordo com as exigências da situação.

detalhes da build de um mago em souldiers
Fonte: André Custodio

Em certos momentos do gameplay, é possível conjurar as chamadas Caster Skills. Elas consistem em artefatos especiais que invocam poderosos seres mágicos e convertem uma certa quantidade de MP em ações ofensivas de companion. Além disso, itens de recuperação e ferramentas explosivas estarão à disposição para compra em lojas e como loots de criaturas.

Durante a campanha, os guardiões se depararão com amigos e NPCs. Todos eles são interativos e acrescentam um pouco mais de história à complexa lore de Souldiers. Em certos casos, eles também darão presentes para ajudar em ações específicas — como derrotar chefes ou ativar passagens secretas —, dando início a missões secundárias com objetivos e recompensas adicionais.

Tentativa, erro e evolução

Assim como na maior parte dos games punitivos, Souldiers não alivia e dá poucos momentos para os jogadores relaxarem. Quando o mapa não exige a presença de inimigos, seu level design é o próprio desafio. Isso porque, constantemente, os guerreiros se depararão com armadilhas e serão obrigados a pensar bem no próximo passo.

Cenários terrivelmente escuros, pisos falsos, atiradores nos tetos, estacas em profundidades invisíveis… Em Souldiers é preciso aprender. Muitas vezes, a frustração será grande, especialmente pelos checkpoints serem relativamente distantes e haver raros pontos de salvamento, mas o game dá muitos incentivos para progredir.

checkpoint em caverna de souldiers
Fonte: André Custodio

As três classes possuem árvores de habilidades específicas com poderes realmente úteis. Diferentemente de títulos mais complexos de RPG, onde metade dos dons acaba sendo desconsiderado em prol de outros mais poderosos, em Souldiers todos os especiais têm sua utilização e combiná-los adequadamente muda tudo na dinâmica de exploração e gameplay.

Porém, já pensando nisso, o estúdio Dear Villagers dificultou o acesso às melhores skills. Enquanto as primeiras são obtidas com poucas Mastery Relic, as mais devastadoras exigem o acúmulo de muitos níveis. Dessa forma, farmar também é uma ferramenta interessante para quem desejar evoluir ao máximo e reduzir os desafios em Terragaya.

Segredos não tão secretos

O mapa de Souldiers é inspirado nos modelos de Castlevania e destaca diversos pontos de interesse, como baús de tesouro, portas trancadas, locais temporariamente bloqueados e mais. Ele é descoberto à medida que os jogadores avançam e conta com inúmeros caminhos alternativos.

porta com esmeraldas e simbolo ede aranha em souldiers
Fonte: André Custodio

Durante a jornada, os guardiões deverão passar por plataformas, caminhos aquáticos e mais, onde cada uma dessas rotas levará a chefes, segredos ou itens-chave. Para isso, é dada a total liberdade de exploração desde os instantes iniciais, porém alguns trechos exigirão que momentos importantes da história tenham sido concluídos.

Todos os locais secretos ficam evidentes no mapa e podem ser reencontrados após os jogadores cumprirem certas condições — por exemplo, destruir teias de aranhas exige a obtenção do orbe de fogo. Além disso, existem algumas paredes falsas que não aparecem na interface principal, mas suas recompensas são bem menores.

É simples, mas não se engane

Pela atmosfera familiar, gráficos 2D nostálgicos e jogabilidade relativamente simples, Souldiers pode enganar muitos que já estão acostumados com “metroidsouls”. Para enfrentar quaisquer inimigos, os jogadores conseguem atacar, utilizar um especial concentrado ou rolar — teleportar, caso sejam magos. Além disso, é possível defender e usar ferramentas, como bombas.

reino de lava em souldiers
Fonte: André Custodio

Todos os comandos são intuitivos e nos primeiros instantes os jogadores mais sagazes já estão dominando o mapa de botões. Porém, cada inimigo tem seu moveset e afeta o protagonista de várias formas, inclusive com efeitos de status negativos que são realmente punitivos.

Souldiers tem uma progressão dinâmica que evolui junto com o guardião. A cada mapa atravessado, novos desafios são impostos e o aprendizado dos ambientes anteriores deve ser carregado, não apenas reaproveitado. Assim, é necessário reajustar sua estratégia ao encarar criaturas e armadilhas e apostar em habilidades alternativas.

elevadores em caverna de madeira de souldiers
Fonte: André Custodio

Além disso, alguns inimigos possuem uma vibe dos clássicos Castlevania e podem vir do ar, da terra ou da água. Todos eles aparecem em uma espécie de Bestiário no menu, onde há informações importantes sobre fraquezas, HP e experiência fornecida após serem derrotados.

Bom, mas com limitações

Mais que um simples metroidvania, Souldiers também é um RPG característico e conta com muitas histórias e diálogos, tanto durante o encontro com NPCs e documentos quanto em cenas de animação. Dessa forma, a ausência de localização em PT-BR pode prejudicar muito a compreensão integral da trama, assim como afeta em quebra-cabeças e progressão em missões.

bestiario com texto e monstro de souldiers
Fonte: André Custodio

Além disso, não há compatibilidade com os recursos de nova geração, mesmo tendo uma versão proprietária de PlayStation 5. Os tempos de loading chegam a ser irritantes em alguns casos e tendem a atrapalhar a experiência de jogadores mais casuais, já que muitos deles certamente morrerão bastante para entender o gameplay em sua totalidade.

Souldiers: vale a pena?

Souldiers tem alguns pontos positivos interessantes e expande o catálogo da oferta metroidvania, agora com elementos retrô em uma longa campanha principal. Seus gráficos simples são estilosos e a jogabilidade se beneficia da fluidez, buscando originalidade no universo e na história dos guardiões.

Apesar disso, o game falha tecnicamente em aspectos pontuais, já que seus visuais são simples, pouco ambiciosos e genéricos, levando em conta o atual cenário de games. O título também possui um tempo de carregamento excessivo mesmo na versão de PS5 e não traz recursos inovadores.

Pesando todos esses pontos, Souldiers é uma boa pedida para fãs de metroidvania e para quem curte games longos e desafiadores do cenário indie. O título não é recomendado para quem busca um maior envolvimento narrativo, abordagens alternativas de gameplay e uma construção de personagem mais aprofundada.

Veredito

Souldiers
Souldiers

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Dear Villagers

Jogadores: 1

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65 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Mapa acessível com pontos de interesse
  • Três árvores de habilidades versáteis
  • Jogabilidade fluida e precisa, com poucos comandos
  • Visuais retrô clássicos com detalhes minimalistas
Desvantagens
  • Construção de builds muito limitada
  • Longa campanha e muitas informações sem suporte para PT-BR
  • Tempos de carregamento excessivos
  • Level design poderia ser melhor projetado
André Custodio
André Custodio
Redator
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Fã de jogos de terror e desbravador de soulslike vez ou outra. Consegui me livrar de FIFA por motivos pessoais (ruindade) e hoje me sinto uma pessoa melhor. Também curto platinas, mas não vou atrás de algo que me tira do sério.