Sniper Elite 4: Vale a pena?
Se fizermos um paralelo entre Sniper Elite 4 e seus antecessores, uma palavra vem à mente. Com essa única palavrinha podemos fazer uma síntese do novo jogo da Rebellion Developments: evolução.
Segundo o dicionário: “evolução é um processo onde há uma modificação constante e progressiva, alterando um estado ou condição”. Está diretamente relacionado com melhorias e crescimento.
Pronto! Temos agora um parâmetro que justifique a crítica do jogo.
Sniper Elite 4 pega tudo aquilo que funcionou bem nos anteriores e melhora todo conceito. Não são apenas incrementos pontuais. Houve aperfeiçoamentos que justificam sim uma nova versão. A campanha, mesmo que cometa alguns deslizes, é muito boa – mapas grandes, variedade de missões secundárias e liberdade de ação são destaques – e os modos multiplayers, que contam com opções interessantes prolongando a vida do título.
Como diz Paulo Antunes: Temos um jogo djoko!
Mamma Mia!
No game, assumimos o controle do tenente Karl Fairburne, um experiente atirador de elite dos Estados Unidos, em meio ao front italiano. Karl deve unir forças com à Resistência local no combate aos nazistas e às forças do ditador Benito Mussolini, e ainda descobrir e intervir nos planos alemães de criação de modernas armas teleguiadas por rádio.
A missão primária do oficial pode parecer simples. Mas é a garantia de que os Aliados possam desembarcar suas forças na península com segurança. E o enredo acerta e erra neste ponto.
Acerta porque não tenta ser megalomaníaco como em muitos jogos, onde o personagem principal praticamente liquida com os inimigos sozinho. Karl não é Rambo. O enredo de Sniper Elite 4 é parte de um contexto. O atirador deve investigar e agir para que a Operação Avalanche, retomada da Itália pelos Aliados (EUA, Reino Unido e Canadá), seja bem sucedida.
E erra na narrativa. O enredo é um tanto quanto superficial, impossibilitando a criação de vínculos entre os jogadores e os personagens da trama, mesmo em momentos de tensão. Além disso, alguns acontecimentos são pouco trabalhados, deixando a história crua em vários aspectos. Tem-se a impressão que a crônica é apenas uma justificativa para o gameplay e não parte uníssona dele.
Talvez porque, o personagem principal, Karl Fairburne, seja pouco dado a conversas paralelas. O militar é mais fechado e de poucas palavras. Um comportamento típico de um atirador de elite, que prefere agir sozinho. Não é uma justificativa. Mas é compreensível.
A campanha principal conta com oito missões e são todas muito bacanas e divertidas de se jogar. É neste ponto que a evolução, citada logo de início, começa a fazer mais sentido.
São apenas oito sim, mas são muito grandes e com um bom equilíbrio entre objetivos principais e opções paralelas. Para efeitos de comparação: o menor mapa de Sniper Elite 4 é 3x maior que o maior mapa de Sniper Elite 3, por exemplo.
Ao longo destes capítulos, os jogadores vão passar por terrenos mais abertos, com paisagens costeiras, vilarejos do mediterrâneo, casas bastante características, matas mais fechadas, mansões fortificadas, linhas ferroviárias, bunkers, indústria de armas, etc. Às vezes, dentro de uma única missão o jogador passa por várias perspectivas. Pode desembarcar em um lugar mais aberto, percorrer montanhas, se embrenhar nas matas e desembocar em uma fortaleza de um militar de alta patente. Tudo em uma única missão.
Ao contrário dos jogos anteriores da série, o quarto capítulo da saga conta com um desenho de níveis muito mais amplo, oferecendo diversas possibilidades. Não é errado afirmar que o título repasse a sensação de um sandbox.
Também nisso, a liberdade aflora como charme da obra. O jogador tem o arbítrio para escolher como vai jogar a fase. Ele pode optar por seguir diretamente para os objetivos principais – recuperar informações sensíveis do inimigo, inutilizar uma arma de artilharia, capturar um cientista, etc – ou fazer tudo. Escolhendo a primeira, o tempo de cada uma pode variar de 20 min a 40 min. Optando pela segunda, cada uma das missões ultrapassa mais de 1:10 com facilidade.
E acredite, fazer somente as principais é um imenso desperdício. Os objetivos secundários não são triviais. Eles se encaixam nas missões de forma anatômica, prolongando o gameplay naturalmente. O jogo não força sua realização, mas como negar um pedido da líder dos rebeldes que clama para que o oficial descubra a localização de vacinas contra Tifo, em poder dos alemães, quando alguns dos seus soldados estão sofrendo da moléstia?
E as sidequests não interrompem o progresso. Os jogadores não precisam voltar grandes distancias, conversar com várias pessoas, etc. São realizações simples: procurar um lote de vacinas, interromper a artilharia inimiga, sabotar mísseis, etc.
Já aqueles que gostam de buscar o 100%, vão encontrar aqui bons desafios, pois o jogo conta com muitos colecionáveis, cartas, águias a serem encontrada e competição (terminar certas missões em tempo recorde, não errar nenhum tiro, etc.).
Você está na minha mira!
O game mescla dois estilos. Um dedicado aos atiradores, e um segundo de jogo de tiro em terceira pessoa. Ambos funcionam muito bem, mesmo que o TPS precise de ajustes.
O ponto alto do game, indiscutivelmente, são suas killcams estilosas. Emplacar um headshot em um oficial alemão é legal desde a primeira até a última vez. Não enjoa, e sacia o cruel desejo de aniquilar o inimigo com apenas um tiro certeiro.
E neste capítulo elas estão mais variadas em termos de animações: cabeças explodindo, tiro nos olhos, braços dilacerados, coração, estômago, fígado e até as partes íntimas contam com câmeras em raio-x. E não é somente em disparos. Ataques corporais, explosões de granadas e minas também criam execuções em câmera lenta impressionantes.
O conceito de estratégia, em grego strateegia, em latim strategi, em francês stratégie…
Avançar contra um enxame de alemães, no melhor estilo Uncharted, é um erro fatal em Sniper Elite 4. Os inimigos liquidam a fatura com extrema facilidade. Jogá-lo dessa maneira, de peito aberto, é experencia-lo de forma errônea. Na verdade, o conceito aqui é justamente o contrário.
O certo é explorar o cenário, estudar as posições inimigas, observar através do binóculo, avaliar o mapa e só então traçar um plano de ação. Logo no começo, é possível planejar a execução só das missões principais ou colocar no trajeto as secundárias.
Deve-se esperar o momento certo para efetuar o disparo do rifle. A passagem de um avião, um barco na costa, o tiro de uma peça de artilharia, etc. Tudo isso para ocultar os sons. Caso contrário, os inimigos saberão onde está o atirador e vão empreender busca pelo invasor.
Também neste ponto, nota-se evolução da franquia. Os inimigos estão um pouco mais espertos e até proporcionam momentos lucidez. Mas, ainda sim, eles são burros e facilmente enganados.
O problema é que os soldados inimigos, as vezes, vem de peito aberto para morte, flanqueiam com raridade e sempre tem uma rota planejada. Dessa forma, é fácil combatê-los.
A situação é um fator a se levar em consideração, óbvio. Com muitos inimigos por perto, fica extremamente complicado sobreviver, uma vez que os tiros adversários causam muitos danos no Atirador de Elite.
Nestas ocasiões, o jogo também oferece boas oportunidades para exercer a criatividade. Pode-se por exemplo, abater um inimigo, pegar seu corpo, colocar no cadáver uma armadilha e chamar atenção dos demais para o local do defunto. Diante disso, basta observar o “booom“. É divertido plantar armadilhas. Minas, granadas, bombas temporizadoras, TNTs…o leque é diversificado.
Atirar em pontos explosivos também é muito útil, principalmente nas situações onde muitos guardas estão vigiando uma entrada.
Alguns detalhes também se destacam. Ao atirar em um inimigo, caso ele não morra, e fique agonizando, outro homem corre em socorro. Curando e levantando os companheiros. É legal de assistir (para então “matar dois coelhos com uma cajadada“).
O ponto crucial aqui é a estratégia. Movimentar-se sorrateiramente pelos mapas, encontrar os pontos de interesse, que por vezes se desdobram em outros e só partir para força bruta quando for necessário.
E, quando o confronto se faz mesmo indispensável, o jogo funciona bem, com ressalvas. Devido a natureza mais rústica da movimentação, algumas ausências são sentidas. Um botão de rolar e um sistema de cobertura mais eficiente seriam de grande proveito. Neste ponto, só neste, o jogo ainda não evolui tanto. Mas, que fique claro. Não é ruim. A jogabilidade é refinada. Estas observações seriam apenas melhorias.
O quarto capítulo do saga só mostra que a equipe refinou muito a fórmula ao longos dos anos. A jogabilidade está em seu ápice aqui.
A diferença dos modos online
Fosse apenas um jogo com campanha. Sniper Elite 4 não valeria tanto a pena. Afinal, uma hora tudo ia acabar. Mas, ele tem outros pontos fortes.
É possível jogar a campanha, completamente, em modo cooperativo. Isso faz muita diferença. Para, por exemplo, conquistar todos os objetivos. O mapa é grande e nem todos tem paciência para jogar jogar 1h:20 seguida em um mapa. Com um companheiro, fica muito mais legal. E aqui, no quarto capítulo, este modo funciona muito bem.
Outro charme é o “Sobrevivência”. Com até quatro jogadores, pode-se enfrentar hordas de inimigos por variados mapas. É sempre gratificante sobreviver a uma grande quantidade de oponentes. Com mais três amigos conhecidos então, melhor ainda.
E por fim, os modos online mais competitivos. Com partidas como Team Deathmatch, controlar pontos, etc. Até um, onde a equipe vencedora é aquela que matar os inimigos da maior distância possível (somando todos os abates).
Raposa Vermelha para Mamãe Galinha
A versão brasileira é toda localizada, incluindo a dublagem. Salvo um único personagem onde a voz não combinou tanto, ele é muito boa e até surpreende. É sempre interessante receber jogos totalmente dublados onde a qualidade está acima da média. Ponto para Rebellion!
Um passo na direção certa
Sniper Elite 4 foi um passo na direção certa para Rebellion. O jogo oferece bons modos, variedade de jogabilidade, visual satisfatório (apesar não igualar aos demais AAA do mercado como Battlefield 1), a dublagem é boa e a grande quantidade de opções do multiplayer fazem jus ao parecer.
Resultado: mais um grande jogo no início de 2017. Bom para nós, jogadores!