Rain World: É Indie Mas…
Quando Dark Souls tenta ser fofo.
A série Souls fez escola. Fato. Seja na história, oculta e acessível apenas aos mais perseverantes, na dificuldade obscena, ou nos cenários que, literalmente, tornam-se seus inimigos. Rain World é mais um exemplo de como estes elementos, mesmo já tão conhecidos, não cansam de ser usados.
O jogador controla um slugcat (lesmato, gatesma, ou qualquer uma das combinações semelhantes referentes a um gato e lesma). Após uma chuva torrencial, ele acaba sendo separado de seus familiares e deve enfrentar um mundo sombrio, cruel e implacável para retornar ao seu lar.
Com uma arte digna de respeito, uma trilha sonora interessante, e diversos problemas, que tangem desde a dificuldade absurdamente injusta aos controles limitados e jogabilidade imprecisa, Rain World perde a chance de se destacar como um expoente no gênero, caindo na mesmice de tantos outros.
- Jogo: Rain World
- Desenvolvido por: Videocult
- Distribuido por: Adult Swim Games
- Onde Encontrar: Aqui (R$ 61,50 – Sem opção de Cross-Buy)
Um Mundo de Tempestades
Conforme a própria desenvolvedora comentou, o título é sobre sobrevivência. Tente imaginar um rato em uma metrópole. Você consegue utilizar das ferramentas disponíveis naquele momento, mas não entende para que. Escapa-lhe o propósito maior das coisas. Exatamente assim é o mundo de Rain World.
Como dito acima, o pequeno animal acaba separado de sua família, e deve enfrentar o mundo para reencontra-los. Para isso, será preciso atravessar ruínas de uma antiga civilização, confrontar animais que podem se esgueirar e camuflar, evitar armadilhas e superar os (inúmeros) desafios que estarão dispostos em seu caminho.
O personagem principal deste jogo acaba relegado ao segundo plano. Ameaçadora e implacável, a chuva traz a morte dos céus. Não se engane: ela não perdoa aqueles que ousam desafiar seu poder. Não levar seus sinais a sério é morte certa. Felizmente, existem lugares onde o pequeno pode se proteger para fugir de seus perigos e continuar sua jornada.
E enquanto luta para sobreviver no vasto mundo, ele deve caçar, se alimentar, lutar e fugir dos perigos. Um jogo onde o combate direto pode significar a morte, e a melhor opção, por vezes, é a furtividade. No entanto, como veremos abaixo, tudo é “levado pela correnteza” de implementações errôneas.
Onde os Fracos Não Têm Vez (E as vezes, nem os fortes)
Rain World é injusto. Não há outra maneira de definir o jogo. Referir-se a ele como meramente “difícil” seria dizer que há a sensação de conquista ao superar seus desafios. Mas este título faz com que, hora após hora, apenas a frustração do jogador cresça, ao ponto de ele precisar parar de jogar, ou pode destruir algum móvel no quarto.
Você vai morrer, caro jogador. E muito. Passou tempo demais sem hibernar e começou a chover: você morreu. Não prestou atenção no inimigo aleatório que surgiu do nada na sua frente: você morreu. Não conseguiu executar aquele pulo específico devido ao controle impreciso: você morreu. Simples assim.
O grande problema nesta situação é que as mortes, em sua grande maioria, não são culpa do jogador. Por exemplo: por mais difícil que Dark Souls seja, cada uma de suas áreas é perfeitamente transponível de uma determinada forma. A geração procedural de inimigos e recursos em Rain World eleva esta dificuldade a patamares desnecessários.
E uma vez morto, TODO progresso, desde o último ponto de hibernação, será perdido, bem como o mapa já descoberto e quaisquer descobertas já realizadas. Ah, e os pontos onde as criaturas emergem serão completamente modificados, de forma aleatória.
E para completar, o jogador ainda é forçado a hibernar novamente. O que era tedioso torna-se insuportável. Em um jogo que valoriza tanto a exploração e descoberta de seus segredos e história, a implementação de mecânicas, desta forma, acabam por minar qualquer resquício de diversão que ele tente ter.
É o fim do mundo como conhecemos (mas eu estou bem)
Apesar de o jogo ser permeado pelos problemas acima apresentados, é fato incontestável que o título é um dos mais belos. Desde seu anúncio, diversos gifs foram espalhados, especialmente pelo Twitter, mostrando a fluidez das movimentações dos personagens, inimigos e cenários.
E por falar em cenários, estes dão um show a parte. O mundo está destruído e isto é mostrado de forma belíssima. A ambientação dá, de fato, a sensação de desespero e abandono. Como se todo planeta já houvesse sido, um dia, florido e movimentado, mas hoje jaz perdido para algo além da compreensão.
A trilha sonora (ou falta dela, como preferir) é outro ponto que merece ser citado. Divisor de águas entre jogadores, o fato de ela ter sido implementada como foi ajuda ao jogador a se ambientar em um mundo solitário. Hibernar ao simples som da chuva caindo é como estar em casa em um dia chuvoso, sozinho, dentro do quarto. Algo fantástico de se sentir.
Tal beleza e primazia, infelizmente, não sobrevivem por si só em meio a uma torrente de problemas que o jogo apresenta. O level design é de tal forma problemático, que não raro o pequeno animal ficará preso em buracos no chão, a apenas alguns milímetros da sua rota de fuga, simplesmente por causa de obstáculos quase invisíveis em um jogo já tão praguejado.
No fim, só haverá o caos
Rain World é uma amostra de como um jogo fantástico pode ser destruído por apenas algumas decisões erradas.
Não se engane. Ele tem sua beleza. E para aqueles que tem preferência por uma punição injusta, talvez ele venha a agradar. O jogo conta ainda com localização em nosso idioma. O que, levando-se em consideração o fato de que não há diálogos, faz uma gigantesca diferença.
Seu troféu de platina ainda parece mais desafiador. Até o fechamento desta análise, quase um mês após seu lançamento oficial, ainda não se via jogadores que o haviam conquistado. Pode ser que tal situação mude no futuro.
No fim, Rain World é caótico além da conta, desnecessariamente injusto com os jogadores, e fadado a, infelizmente, ser esquecido com o tempo. Tal qual o mundo em que se passa.
VEREDITO: É Indie Mas… (Não) É Legal. (Mesmo!)
O que é bom:
- Cenários fantásticos;
- Ambientação imersiva.
O que não é bom:
- Dificuldade anormal;
- Controles imprecisos;
- Design dos níveis mal pensado.
Para quem jogou e gostou de:
- Salt & Sanctuary