PES 2019: Vale a Pena?
Mesmo muito equilibrado e competente, PES 2019 trouxe poucas inovações.
PES 2019 chegou às lojas brasileiras no último dia 28 de agosto. Quem acompanha a franquia sabe que o lançamento deste ano foi antecipado em quase um mês, quando comparamos com os anos anteriores.
E essa antecipação – aparentemente – não foi por um acaso. Ela é um reflexo na concepção do jogo e no que ele tem a oferecer para os fiéis fãs da franquia. Então, o que os jogadores deste ano podem esperar este ano? Será que valeu a pena recebermos a versão em um espaço menor de tempo? É o que tentaremos responder nas próximas linhas.
Vamos falar de PES 2019?
Comecemos pelo maior trunfo do game: sua jogabilidade. Ano a ano, a franquia vem progredindo notoriamente neste aspecto e a versão 2019 é o auge da evolução. A jogabilidade do PES 2019 é o que há de mais divertido na história recente da franquia. Por sinal, há anos não notávamos tantos elogios a estes pontos, até mesmo por aqueles que optam pelo FIFA.
E tantos adjetivos se devem as correções de erros e desequilíbrios da versão 2018. Vulnerabilidades da defesa em lançamentos, troca de cursor problemática, superioridade exagerada de atacantes sobre os zagueiros, sistema de fadiga que não alterava o condicionamento dos jogadores e muito mais. Lukaku, atacante belga, por exemplo, deixou de ser um representante dos X-Men.
A boa notícia é que as coisas boas da versão anterior foram mantidas ou até melhoradas. Goleiros muito bons e com novas animações, IA refinada e melhores posicionamentos. Em resumo: a jogabilidade – no geral – ficou muito mais equilibrada. Um ponto muito importante para manter “a diversão” em alto nível, além de espantar o fantasma do marasmo.
Mas se por um lado muita coisa foi melhorada, por outro, houve adições muito discretas. Dentro das quatro linhas digitais, foram apenas duas novidades relevantes.
Pegando emprestado uma funcionalidade do concorrente – por sinal, ambas franquias se espelham mutuamente – PES 2019 agora conta com um sistema de substituição rápida. Sem pausar, você consegue trocar atletas de uma maneira prática e eficaz.
A diferença é que no jogo da Konami isto é aplicável em vários momentos da partida. Com o touchpad, é possível visualizar todos os atletas em campo e escolher qual será o substituto. Uma versão muito mais flexível que a inspiração. Belo tento dos japoneses!
A segunda boa novidade fica por conta da influência significativa da fadiga no desempenho dos jogadores em campo. Aqueles que gostam (ou gostavam) de praticar tiros de 100m rasos vão sofrer um pouco. Além do desgate físico visual aparente, os jogadores correm um sério risco de lesão caso se esforcem além da conta. Um ingrediente muito bacana que atribui mais temperos as partidas.
Não precisa chamar o VAR!
A versão de 2019 não conta somente com as duas novidades acima. Há alguns outros pontos a serem mencionados. Não precisa nem chamar o VAR! Veja:
- No modo Partida Aleatória, agora é possível formar um time sem selecionar nenhum filtro;
- Nas definições da partida, não existe mais a opção “Emoção de Jogador”. Quando ligada, o desempenho dos jogadores poderia aumentar, por exemplo, quando jogava em casa, ou diminuir após sofrer muitos gols. Como os jogadores não costumam curtir aspectos externos que influenciam na partida, a maioria jogava com esta opção desligada;
- O menu inicial conta com uma seção de Novidades, o que te permite saber rapidamente que há novas competições disponíveis (online e contra a CPU);
Na Master Liga, podemos destacar:
- Adição de Cláusula de Revenda. É um valor ou percentual que pode ser estimulado em contrato na compra de um jogador;
- Opções de Orçamento, onde se define como será utilizada a receita do clube;
- Modo Treinador, no qual apenas se assiste a partida e se faz apenas mudanças no Plano de Jogo
Salto gráfico
Com a incorporação à engine gráfica do Enlighten, uma tecnologia de iluminação da Silicon Graphics, o PES deu um salto bastante significativo na qualidade visual, seja na apresentação dos estádios, seja com a bola rolando ou com os famosos faces (rostos) dos jogadores, que estão muito bem feitos, em sua maioria.
Destaque para a tradicional entrada em campo. Elas estão riquíssimas em detalhes e bastante fiel aos estádios originais. Falando em estádios, provavelmente, este será o PES com maior quantidade de estádios originais da história da franquia. Algo fundamental para os que almejam um jogo de futebol mais imersivo.
Não podemos deixar de comentar o retorno de um velho conhecido dos fãs: em alguns estádios, é possível realizar partidas com neve, algo que impacta diretamente na jogabilidade. É muito interessante ver o comportamento dos jogadores nesse ambiente, principalmente quem se arrisca a correr demais.
Ligas, muitas ligas
Diante das investidas agressivas da EA em adquirir as licenças de competições mais renomadas, a Konami buscou se diferenciar através do licenciamento de ligas mais..digamos…alternativas. Foi uma opção para agregar valor à franquia.
Assim como no casos dos estádios, PES 2019 também é recordista em novos campeonatos: Ladbrokes Premiership (Escócia), Danish Superliga (Dinamarca), Liga NOS (Portugal), Raiffeisen Super League (Suíça), Jupiler Pro League (Bélgica), Superliga Quilmes Clásica (Argentina), Russian Football Premier League (Rússia), entre outras, estão presentes e totalmente licenciadas.
Destaque para nosso competitivo Brasileirão. Ele continua presente e sendo um dos principais destaques do game. Todavia, muitos dos rostos reais dos atletas ficaram de fora. Mas isto não é exatamente um problema da desenvolvedora. Acontece que no Brasil os acordos devem ser celebrados com cada jogador individualmente, o que torna o processo quase que inviável. Ainda assim, a Konami já mencionou em outras oportunidades que a aderência deve chegar em torno de 80%.
E claro que a ausência de ligas e atletas impacta na experiência. Muitos consumidores não querem ter o trabalho extra de instalar os famosos option files.
A narração em nosso idioma continua com a carismática dupla: Milton Leite e Mauro Beting. As falas (e os bordões) estão muito bem encaixados na “transmissão” dos jogos e mantém o bom nível do PES 2018. A maior novidade este ano é o Mauro Beting explicando o funcionamento de alguns aspectos do myClub, porém isso é feito durante as partidas, ou seja, fica um pouco complicado prestar atenção na explicação. O ideal é que a mesma fosse realizada ao acessar o myClub pela primeira vez, ainda na navegação dos menus.
Experiência online melhorada
Os ‘mais chegados’ sabem que os japoneses passaram a se preocupar mais com as partidas online. Prova disso é que a versão demo – assim como beta do ano passado – contou com recursos para partidas rápidas online.
Graças a este esforço, os resultados começam a aparecer justamente no PES 2019. Raramente acontecem situações que prejudicam o desempenho online. As disputas estão fluindo muito bem e sem transtornos. Aqui vale uma citação interessante: agora você pode desistir de uma partida caso note que a conexão do seu oponente esteja instável. Uma opção justa para evitar confrontos desequilibrados.
O ponto fora da curva é na diferença de timing entre os modos. É notório que as partidas online acontecem em outro ritmo. Basta você jogar algumas online e retornar para o offline. Neste último, as coisas acontecem mais rapidamente, com respostas mais imediatas.
Gol contra
O que define a análise do PES 2019, no entanto, é que ele possui uma quantidade bastante relevante de modos de jogos. Com isso, buscamos jogá-los em sua totalidade, no sentido de identificar o volume de novidades trazidos nesta nova versão.
E há decepção neste sentido. Excluindo aquelas duas principais novidades, não há nada de muito novo a ser experimentado. Não há comandos novos para defesas, chutes ou passes diferentes dos habituais. As opções e situações de bola parada estão praticamente idênticas ao PES 2018.
Até o “Plano de Jogo”, que sempre um grande diferencial do PES, é o mesmo, sem nada de novo para ser avaliado. O que é bastante frustrante para os que gostam de se aprofundar em táticas e esquemas de jogo.
E se fazermos um paralelo com versões anteriores dentro da própria série, notamos que este mesmo “Plano de Jogo” sofre com carências em relação às individualidades dos atletas. Definições de ofensividade e comportamentais – presentes no PES 2010 – não estão no game. E curiosamente, FIFA acabou copiando estes recursos exatamente por serem opções muito interessantes.
Já quando partimos para os modos, a quantidade de inovação também é bem pequena. A maioria das opções não sofreram alterações notórias. Partidas aleatórias, co-op, treino, divisões e partidas rápidas são iguais.
As adições, na verdade, ficaram concentradas no myClub. Veja:
- Aumento na capacidade de jogadores por clube para até 1.000 jogadores;
- Caso se possua três jogadores iguais, é possível trocá-los por jogadores da mesma categoria, através de sorteio;
- Agora é possível treinar jogadores em três categorias: ganhar experiência, criar ou melhorar habilidades e treiná-lo em novas posições;
- Em vez de 10 mil GP por um jogador, paga-se 25 mil GP por três jogadores;
- O empresário assume a função da roleta e, ao ser selecionado, pode trazer um jogador aleatoriamente para cada posição escolhida.
É fácil perceber então que a Konami vem priorizando o myClub em detrimento dos demais. O que nos leva a um ponto crucial: PES 2019, provavelmente, receberá uma versão Lite gratuita, assim como aconteceu no ano passado, e ela virá exatamente com o myClub. Ou seja, a principal modalidade chegará sem custos.
Diante disso, inevitavelmente, vem à cabeça a reflexão se vale ou não investir no jogo (em seu preço cheio) sendo que não há uma isonomia em todos os seus elementos. O quão frustrado um fã de modos como a Master Liga, o antigo carro chefe antes da chegada do myClub, se sentirá ao constatar que o volume de mudanças é mínimo?
Outro ponto negativo a destacar é o fator usabilidade. É comum haver problemas chatos na navegação dos menus: você clica em uma primeira opção que te leva à segunda opção. Então, para voltar a segunda opção, é direcionado à primeira novamente. Nos modos myClub, Master Liga e Rumo ao Estrelato, este problema é bastante frequente.
Vejam mais algumas coisas simples, porém incômodas:
- Por que sempre o Player 1 começa do lado direito e com a saída de bola? Mesmo que não tivéssemos o retorno da saudosa cara ou cora dos tempos do ISSS, poderia haver uma aleatoriedade neste sentido;
- Após vencer cinco partidas no nível craque, desbloqueia-se o nível lenda, mas não é possível escolhê-lo no Modo Treino;
- O Modo Treino permite treinar livremente, mas apenas como Player 1, o “Selecionar Lado” não funciona para o treino;
- Após finalizar uma partida amistosa online, sempre é necessário voltar para o lobby, uma opção “jogar novamente” facilitaria a jogatina.
- Se seu adversário faz um gol e seleciona uma comemoração, você não consegue cancelar e ir novamente para saída de bola.
- Você pode salvar seu time no myClub como um time editado e usá-lo em amistosos offline, mas precisa repetir o processo para cada nova mudança no seu time. Poderia estar sempre disponível para escolhê-lo, sem precisar deste passo adicional.
Conclusão
Definitivamente, PES 2019 não é um jogo ruim, mas quando colocamos na balança todas as variáveis, ela tende para um lado não tão favorável. O jogo acaba por não oferecer tantas novidades em destaque.
O que vai definir o seu ímpeto para investir no produto é seu próprio perfil de jogador. Se você é um apaixonado pela franquia e se o mais importante pra ti for uma jogabilidade apurada e bastante equilibrada, mesmo sem inovações, certamente vai se sentir satisfeito com o game. Vale também para aqueles que estão longe da série há alguns anos. Se faz bastante tempo que você não compra o PES, certamente vale a pena.
E aqui vale uma ressalva: se o seu modo preferido for o myClub e, ocasionalmente, experimentar outros, definitivamente não vale muito a pena investir no preço de momento. O mais recomendado seria aguardar por uma substancial queda nos valores. Ou até mesmo ficar na espera pela versão Lite.