Review

Need for Speed Unbound: vale a pena?

Visuais bacanas, muita personalização, muitos carros são destaques positivos, mas modelo de progressão é desbalanceado

por Daniel dos Reis
Need for Speed Unbound: vale a pena?

Quase tudo no mundo exige um boa dose de velocidade, principalmente em tempos modernos. Queremos que o entregador do lanche chegue o mais rápido possível, que as horas de trabalho passem logo, que os projetos fiquem prontos de uma hora pra outra, enfim… Que o sucesso chegue o quanto antes. Precisamos desse ritmo frenético.

E claro, nos games não é diferente. Entre derrapadas e pódios, Need for Speed, volta e meia aparece com um projeto novo, quase sempre com promessas de voltar aos tempos áureos da série Underground e de Most Wanted.

Desta vez temos Need for Speed Unbound, um jogo que aposta em visuais cartunizados, muito hip-hop e perseguições insanas – até demais. E aqui já vai um spoiler: não foi dessa vez que a vibe de Underground voltou. Unbound está mais para um sucessor do Need for Speed Heat, o que poderia não ser uma ideia ruim, se não fosse por um sistema de progresso mal projetado.

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Arrisque-se

Você começa o game criando seu personagem e logo vem a primeira grande mudança: os visuais estilizados. Talvez em um primeiro momento possa parecer um conceito muito alinhado com Fortnite, mas ele confere bastante personalidade ao game.

Colorido, divertido e ousado, o estilo artístico é – por incrível que pareça – um dos pontos fortes do game. O que pode decepcionar é baixa quantidade de opções para criação de personagens, algo compensado pela enorme variedade de roupas, calçados e acessórios.

Need for Speed Unbound
Visuais são um dos destaques do game.

E o colorido não fica só no seu herói. Ele se estende a vários elementos visuais de pilotagem. Os efeitos de drift, derrapadas, aceleradas, saltos e “finas”, além das artes nas ruas, incrementam tudo. Você até pode desativá-lo, mas acabará perdendo uma algo bem legal.

Os carros, por outro lado, contam com visuais mais sóbrios e realistas. É incrível notar como cada detalhe é representado e faz uma enorme diferença no design e também na jogabilidade. As combinações de peças são muito robustas e fazem com que você perca muitas horas criando um modelo único ou tentando reproduzir o Skyline do “Braia”.

Lakeshore, sua cidade, é inspirada em Chicago e conta com áreas mais urbanas, autoestradas e partes mais rurais. É bonita, mas nada impressionante. Ela se parece um pouco o local do jogo anterior, com aquela paleta de cores um pouco acinzentadas, característica do motor Frostbite.

Já a narrativa não foge do padrão Need for Speed. Você começa com um carro simples, mas logo é traído por quem menos esperava e tem de recomeçar sua vida do zero, ganhar respeito, vencer corridas, recuperar o que lhe foi subtraído, conquistar as ruas…

Há muitas opções de personalização. Dos veículos aos personagens.
Há muitas opções de personalização. Dos veículos aos personagens.

Não é empolgante, mas também não compromete. Um dos pontos que chamam a atenção, e aí você decide se positiva ou negativamente, é como ele tenta pegar alguns elementos vistos em Velozes e Furiosos, como o termo “família”, e aplica e em diálogos clichês. Em resumo, você não vai se importar muito. O negócio é correr e pronto.

O grande diferencial aqui é no sistema de progressão. Seu objetivo é vencer os desafios durante a semana para, no sábado, chegar até uma grande corrida. E isso se repete por quatro semanas, até o maior desafio de todos.

Parece simples, mas não é tanto assim, pois há vários elementos que alteram as dinâmicas de como se aborda cada evento. Aqui entra a premissa de “risco e recompensa”, o ponto elementar do novo NFS.

A maior parte dos eventos exige uma taxa de inscrição. Então é preciso pagar – com dinheiro in-game – para correr. No fim, se o seu piloto vencer, é descontado o valor da inscrição e você recebe uma parte. Mas se chegar abaixo de 3º lugar pode não valer tanto a pena. Em alguns casos, é possível ter até prejuízo, dependendo da colocação final!

E o grande “porém” que torna tudo mais arriscado: a quantidade de reinícios é limitada a 4 – na dificuldade normal – por dia.

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Jogo se divide em quatro semanas, com uma grande corrida aos sábados.

Por isso, entra em cena uma questão mais estratégica. Vale mesmo a pena se arriscar em um evento cuja inscrição é $ 4 mil e o prêmio para o vencedor é de apenas $ 8 mil? E se eu perder? Vou ter que gastar um restart?

Some a isso um tempero especial. Toda vez que você corre, seu nível de “pressão” aumenta, o que faz com que os riscos aumentem mais. E se eu for capturado pela polícia? Vale tanto a pena aumentar meu nível de procurado, sendo que tenho uma corrida mais difícil a frente?

São muitos “se”, fazendo com seja importante pensar bem cada etapa, já que as corridas diurnas dão muito menos dinheiro, mas têm menos policiais, enquanto as noturnas são o contrário. Às vezes é melhor encerrar o dia, depositar o dinheiro com segurança e avançar. Perder tudo pode ser bastante frustrante.

Corra que a polícia vem aí

A jogabilidade de Need for Speed Unbound é incrível. O jogo é rápido, os carros são lindos, as personalizações dão um toque muito especial, o visual é bem bacana – com ressalvas aqui e ali – e a quantidade de ajustes é bem generosa.

Seria o universo conspirando para que a série voltasse a brilhar como na era PlayStation 2? Hm… calma. Não é pra tanto.

O sistema de progresso que deveria favorecer a estratégia e criar uma sensação de “risco vs. recompensa” não é balanceado o suficiente.

Os prêmios são baixos e muitas vezes não valem a pena, mas não seria um problema se houvesse variedade de corridas. Não há muita. Logo na segunda semana você percebe que está repetindo as mesmas corridas várias e várias vezes, correndo por quantias módicas, que pouco ajudam na compra de carros mais potentes.

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Os policiais são implacáveis em níveis altos de perseguição.

Ora, Need for Speed é sobre uma garagem cheia de carros irados e poder tuná-los de forma que seja possível fazer seu carro chegar até a lua – e ainda cheio de Neon. Mas não. Você se vê em pindaíbas financeiras, tendo que correr em corridas menores para poder ganhar um dinheirinho capaz de pagar sua inscrição para só então tentar a sorte em outra.

Até pode parecer uma ideia inspiradora, lutar para conseguir seu espaço nas ruas, ir devagar até o topo. Mas, no fim do dia, você fica entediado e pouco motivado a voltar para correr no período seguinte.

Outro aspecto são os policias. O sistema de perseguição se parece bastante com o de Need for Speed Heat. A dificuldade aumenta conforme o nível de pressão sobe e, nos níveis mais altos, é um Deus nos acuda.

A questão é que o jogador sempre vai estar nos níveis quatro ou cinco de pressão no período noturno. Vai correr durante o dia, mas mesmo sendo um bom moço, vai ver as estrelinhas subindo… até trocar o sol pela lua.

Esse sistema te desestimula a buscar os melhores prêmios da noite, já que não vale muito correr o risco de perder todo o dinheiro conquistado por ser preso. E você vai. No nível cinco – o mais alto – não dá nem pra virar a esquina sem ser surpreendido pelos tiras, em suas F250, helicópteros e outros carros muito mais rápidos que o seu.

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Ser pego pela polícia é o “fim da linha” para seu dinheiro.

Então você passa uma boa parte da jogatina só fugindo. Nas três primeiras vezes, é divertido. Há aquela adrenalina de conseguir chegar no esconderijo com muito suor. Mas depois de um tempo, fica enjoativo. Você mais foge do que realmente corre contra outros competidores.

Vale a pena?

Need for Speed Unbound tem seu valor em oferecer visuais estilosos, carros muito bonitos, dezenas de personalizações, jogabilidade excelente, boas batidas musicais e muitos colecionáveis, mas derrapa ao entregar uma mecânica de evolução desbalanceada, pouca variedade nas corridas e perseguições exageradas.

Há também um evidente cansaço do motor gráfico Frostbite. Mesmo no PlayStation 5, ainda é possível enxergar os cenários carregando pouco a frente, a água é esquisita e as cores da cidade são cinzas demais.

Por fim, um multiplayer pouco inspirado. Ele funciona quase como o single-player. Correr eventos, conquistar recompensas e melhorar seus carros. O ponto aqui é que ele parece vazio e até leva um pouco de tempo para encontrar adversários. Ponto positivo é que o game te empresta alguns carros, caso você não tenha algum compatível com os eventos.

Definitivamente, não é um jogo ruim. Talvez em uma boa promoção possa valer mais a pena, já que o preço da mídia física chegou por um preço alto (R$ 380), ainda que já tenha caído mais de 17% desde o lançamento.

Veredito

Need for Speed Unbound
Need for Speed Unbound

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Criterion Games

Jogadores: 1

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70 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Visuais são bem legais
  • Muitos carros
  • Muitas e muitas maneiras de personalização
  • Mundo aberto amplo
Desvantagens
  • Sistema de progressão
  • Exagero em policiais
  • Motor Frostbite está cansado
Daniel dos Reis
Daniel dos Reis
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Jogando agora: Call of Duty Black Ops 6
Manager do MeuPS e um cara de muita sorte por trabalhar com aquilo que gosta.