Layers of Fear: vale a pena?
Reimaginação da franquia para PS5 deixa tudo ainda mais assustador e imersivo
Você pode até não concordar com a quantidade de remakes/remasters lançados ultimamente, mas muitos deles se justificam logo quando a jogatina começa. Layers of Fear talvez seja um destes exemplos.
Usando a Unreal Engine 5, a Bloober Team classifica esse projeto como uma reimaginação, onde promete — e entrega — um game de muita qualidade, que vai além de belos gráficos.
Layers of Fear no PS5 é positivamente aterrorizante e vamos explicar os motivos nesta análise.
Muitas camadas do medo
Layers of Fear nos mostra narrativas onde a obsessão por alcançar a perfeição no trabalho pode corromper a alma. São três pessoas, distintas, em busca de um trabalho excepcional: o Pintor, o Ator e a Escritora. Três tramas envoltas a entidades obscuras. Sem nomes, apenas suas profissões.
Esta inclusive é a principal novidade do relançamento nos consoles atuais, pois através da perspectiva da nova participante (Escritora), entendemos como o acordo funciona e a maneira como ele corrompe o profissional em busca da maestria.
Nos menus, você escolhe qual história quer experimentar. A primeira delas mostra como o Pintor viu sua família se despedaçar durante a conclusão de seu quadro. Conforme a pintura fica pronta, entendemos muitos elementos da narrativa.
Nessa campanha, o protagonista lida com suas próprias inseguranças para se libertar de medos e de demônios internos. Quanto mais a mansão decadente é explorada, mais o personagem entra em um mundo surreal e perturbador, onde a loucura toma conta.
Assim como nas outras histórias, a jornada do Pintor ocorre de forma não linear. Flashbacks e pistas guiam os jogadores por visões assustadoras do passado, aumentando o nível de imersão diante de tanta tragédia. Obcecado em capturar a essência do medo, ele cria um mundo perturbador onde a tensão aumenta a cada passo.
O bacana é que também temos o ponto de vista da esposa e da criança. Tudo isso cria ainda mais profundidade. Em Layers of Fear, esses conteúdos fazem parte das expansões “Inheritance” e “The Final Note”, lançadas originalmente com o primeiro game e disponibilizadas com muitas melhorias na coletânea de 2023.
Já o Ator é um personagem sem voz e sem rosto. Sua trama se passa dentro de uma embarcação misteriosa, onde ele acorda desorientado e sem saber o motivo de estar ali.
Nessa jornada, ele descobre que outras duas crianças viveram ali pelos bastidores das gravações, seguindo ordens do Diretor, voz de comando responsável por guiar o jogador, e aos poucos, identifica semelhanças e compreende o motivo de ter sido escolhido para esse papel ingrato.
Essa campanha é a mesma de Layers of Fear 2. No horror psicológico ambientado nos anos 1930, o protagonista enfrenta uma série de eventos sobrenaturais e tem sua sanidade desafiada, mas sob um propósito desconhecido. Aqui, a atmosfera é ainda mais profunda.
Porém, a narrativa funciona de forma semelhante à do Pintor: fragmentos de memórias recuperados pela exploração, motivações repletas de segredos e uma tensão intrínseca que estimula uma exploração minuciosa. Mas aqui, seja corajoso: as ameaças são totalmente imprevisíveis.
Por fim, a estreante em Layers of Fear (2023), a Escritora. Após vencer um concurso em sua cidade, ela se exila em farol abandonado em busca de inspiração para sua próxima obra. Nesse local, ela é abordada por um espírito e firma um trato.
O gameplay de Layers of Fear
A jogabilidade de Layers of Fear é simples. Controlando o personagem principal de cada arco numa perspectiva em primeira pessoa, basta explorar os cenários e seguir pistas para resolver uma série de quebra-cabeças.
Estes mistérios são concluídos com ações como posicionamento do personagem, puxar uma porta ou alavanca e, principalmente, com investigação. É bem difícil ficar preso na progressão da campanha, porque o sistema repete algumas das situações.
Se há uma porta trancada, vasculhe tudo até encontrar uma chave. Quando um cadeado pede uma senha, não é necessário ler cada arquivo das salas, pois o jogo identifica que você chegou até onde precisava e insere o que precisa ser memorizado na parte debaixo da tela.
Sua progressão em cada um dos arcos é medida por capítulos, então, sempre que cada parte da obra é finalizada, aparece um lobby que varia de acordo com o personagem.
Esse ciclo se repete e a busca pelos materiais perfeitos e memórias para fazer o seu trabalho ou compreender o passado começam a ficar mais aterrorizantes e intensas. As jornadas se fecham quando o jogador consegue entregar a tarefa final.
A iluminação, os elementos assombrados que se mexem, as aparições repentinas e a ausência de telas de loading nos deixam em total estado de tensão. Não bastasse isso, Layers of Fear ainda explora outras ferramentas para transmitir o medo ao jogador.
Assim como em um filme de terror, é possível saber quando o susto está chegando. No jogo não é diferente, porém, se você fecha os olhos, a qualidade do áudio ainda te assusta. O medo é um companheiro bastante fiel.
Mas…
As melhorias são evidentes e ótimas, mas o game não é exatamente destinado a todos. A forma como tudo é contado, sem muitos direcionamentos, pode fazer com que muitos se sintam perdidos na história.
Nos aspectos de jogabilidade, o jogo não é dos mais acessíveis, forçando o jogador a descobrir com muito custo como é cada comando, mesmo os mais simples – fechar portas, coletar objetos, etc. Você descobre na tentativa e erro.
O game também não se esforça em tentar atrair novatos para a franquia. Coisas simples, como tutoriais, ajudariam bastante. O que certamente vai afastar ou até frustrar os desavisados.
Isso também por ser visto de outra maneira. Os fãs de longa data vão entender que a essência do projeto é esta e não deveria ser alterada. Layers of Fear é isso e pronto.
Precisava ser relançado?
Layers of Fear é uma das primeiras boas experiências da Unreal Engine 5. Essa reimaginação, de início, parecia algo feito somente para atualizar as versões lançadas em 2016 e 2019, ano de estreia do segundo game. Conforme a jogatina se desenrola, fica claro que não era bem assim e a desenvolvedora tinha motivos para promover o projeto.
A iluminação, a qualidade nos detalhes do ambiente, e principalmente os efeitos sonoros são capazes de entregar diversas sensações. Ao longo do gameplay, você está sempre à espera de ver algo se mexendo para continuar a exploração dos locais e avançar na história
Ainda que os originais não sejam assim tão datados, estes aprimoramentos são muito bem vindos. Por outro lado, ainda não sabemos o preço de lançamento do game no Brasil e isso é super importante para determinarmos a relação custo vs. benefício.
Uma boa novidade são as opções gráficas. É possível jogar em 30 FPS, com maior fidelidade ou 60 FPS no modo desempenho.
Layers of Fear: vale a pena?
Layers of Fear se preocupa muito em preservar o legado. As atualizações técnicas são ótimas e até servem para reforçar sua vibe mais centrada em terror psicológico. Certamente vai agradar bastante os veteranos.
Quem nunca experimentou, ainda que o remake não tenha se preocupado em ser acessível, pode ter uma boa experiência. Mas entre sabendo o que vai encontrar. Ponto positivo para a inclusão do arco da Escritora. Ele adiciona uma boa história e prolonga a vida útil do jogo — ao mesmo tempo, serve como um atrativo para quem já conhece os originais.
Ainda assim, certos pontos merecem atenção. O gameplay pode ser um pouco repetitivo em seu ciclo. Ficar procurando pistas em uma grande parte cansa um pouco. Neste sentido, há poucas variações. Além disso, como explicamos, não sabemos do preço de lançamento – o que é bem esquisito.
E, por fim, ele chega somente com legendas em PT-BR. Para a maioria, já é o suficiente. Mas, certamente, uma dublagem faria uma baita diferença.
*Colaborou: André Custódio.
Veredito
Vantagens
- Reimaginação justificável dos dois primeiros jogos da franquia
- Ambientação é um espetáculo a parte
- Imersão com efeitos sonoros é muito bem feita
- Usa os recursos do DualSense
- Histórias são comoventes e assustadoras
Desvantagens
- O método de apresentação das histórias não é tão legal
- Apresentação das mecânicas pode ser aprimorada
- Capítulos podem ser repetitivos