Josh Journey: Darkness Totems: vale a pena?
Totalmente desenhado à mão, game combina aspectos técnicos agradáveis com um desafio minimamente impiedoso
Após a consolidação dos jogos difíceis como um meio de superação, essa nova modalidade é algo que parece ser cada vez mais explorada pelos estúdios. E não foi diferente com a equipe brasileira da Provincia Studio, responsável por apresentar a experiência de pancadaria e rolagem lateral Josh Journey: Darkness Totems.
Lançado em acesso antecipado no PC em 2020, Darkness Totems apresenta um mundo sombrio dominado por criaturas de todos os tamanhos, onde um mal tomou conta do Mundo da Província. A única esperança fica nas mãos de um grupo de guerreiros, que embarca em uma jornada para resgatar a paz no planeta.
Destruam os totens
Na aventura, quatro heróis se reúnem para salvar o Mundo da Província, infestado por criaturas da Realidade dos Sonhos. O grupo deve utilizar habilidades únicas e muita determinação para destruir totens malignos, pois além de invocar criaturas, os artefatos estão transformando habitantes das ilhas em seres impiedosos.
O guerreiro Josh, a maga de água Melina, o tamanduá Farquol e a máquina Z.O.Z. integram uma equipe distinta, mas com dinâmicas de jogo para todos os estilos. Seus ataques incluem golpes de proximidade e à distância e combinam botões do controle para ativar dons poderosos. Em Josh Journey: Darkness Totems, a versatilidade é um destaque.
Os heróis podem caminhar, saltar, atacar e usar um especial por meio de medidor. Josh é capaz de defender, Melina se desloca rapidamente e Z.O.Z. se teletransporta. Já Farquol é o tanque do time e possui o melhor DPS no combo simples. A maior parte desses poderes está travada, mas são desbloqueáveis por meio de um belo Santuário, no fim de cada fase.
Josh Journey: Darkness Totems disponibiliza poucos recursos e sabe dificultar uma aventura já desafiadora por essência. Basicamente, existem poções que recuperam valores insignificantes de HP e um fragmento especial obtido em momentos-chaves da campanha. Ao ativar, os guerreiros liberam uma animação especial e usam uma habilidade poderosa, destruindo o fragmento logo em seguida.
Além disso, o jogo pode ser experimentado em um até quatro participantes. No modo solo, é possível trocar facilmente os personagens por meio do R1/L1 ou de atalhos no analógico, enquanto o cooperativo permite que os players controlem um ou mais guerreiros à sua escolha. Tudo ocorre de forma intuitiva e não atrapalha o gameplay, independente da modalidade escolhida.
Quatro mapas, quatro experiências
Em Josh Journey: Darkness Totems, os jogadores devem explorar quatro mapas distintos, onde cada um é dividido em níveis de chefes e combate beat’em up. O level design não possui uma ligação entre mapas e, após a conclusão de cada nível, é possível retornar para o Santuário a fim de recuperar HP, aliados mortos e habilidades por meio de esferas.
Cada um dos cenários possui distinções únicas — tanto de personagens quanto de ambientação — e pode ser facilmente diferenciado por meio do gameplay. A primeira ilha, por exemplo, serve como um tutorial e não apresenta grandes desafios. Já a segunda contém um barco como veículo, poças infectadas pelo totem e saltos em plantas por rios.
Outra questão que vale a pena mencionar fica por conta da estética. Ao concluir cada nível, um mapa aparece na tela e permite tanto a visita a fases concluídas como ao avanço para o próximo cenário. Essa interface é um “resumo” da ilha e chama a atenção por seu formato minimalista de diorama, mas incrível e artisticamente detalhado.
Josh Journey: Darkness Totems é acessível, mas não se engane
Em um primeiro momento, os jogadores podem ver Josh Journey: Darkness Totems como um game familiar: personagens com habilidades únicas, mecânica de gameplay objetiva, poucos comandos para executar, sistema de progressão muito claro e estratégia de luta — contra minions no estilo “kill kill kill” — fácil de pegar. Mas não se engane.
Durante o caminho, uma jornada tortuosa é oferecida aos fãs. Aos poucos, surgem as primeiras barreiras de progressão e você verá que não há outra alternativa a não ser tentar. As estratégias não são muito elaboradas devido às limitações. Então, como não há condições de melhorar atributos dos personagens, a única saída é não desistir.
Josh Journey: Darkness Totems é difícil. Essa é a essência do jogo. Em meio a um universo agradável e a uma jogabilidade até, de certa forma, descompromissada, não há como fugir do conceito principal. E só aceite: você demorará horas — ou dias — para derrotar um chefe final da ilha ou um dos meros subchefes de mapas.
Tudo bem, as lutas são legais e toda a construção do combate é empolgante, desde o avanço dos eventos de batalha até a satisfação da vitória. Mas é preciso muito para que isso venha a acontecer. E o muito pode ser pouco em relação ao necessário para avançar na campanha.
Sem subestimar, você é superestimado
O beat’em up não deixa totalmente frustrado, mas é capaz de fazê-lo duvidar de suas próprias capacidades. Para derrotar o primeiro chefão da ilha, é possível levar mais que o dobro do tempo necessário para chegar até ele, obter alguns recursos e adquirir mais de 70% das habilidades oferecidas na árvore do Santuário.
O game garante uma experiência agradável no começo, mas com potencial para se tornar cansativa. E tudo isso pode piorar no PS4, já que a versão de consoles surge com buffs consideráveis no moveset dos chefes e nerfs no alcance das habilidades dos heróis. Em comparações rápidas, já é possível notar as comprometedoras diferenças entre as plataformas.
O resultado não demora a aparecer. No PC, a campanha da primeira ilha é concluída em pouco mais de uma hora, especialmente devido aos padrões diferentes dos chefes. No PS4, suas habilidades não possuem lógica e podem ser habilitadas simplesmente quebrando o movimento dos heróis ou interrompendo um combo do próprio vilão. É injusto.
O problema vai além do mapa inicial e persiste em novos encontros, com milhares de frustrações retornando. Algumas batalhas conseguem ser excessivamente longas e punitivas caso pequenas falhas sejam cometidas pelos jogadores. Os recursos de reviravoltas também são poucos: caso o primeiro minuto da luta vá mal, o certo é desistir e iniciá-la do zero.
Vale lembrar que Josh Journey: Darkness Totems possui apenas uma dificuldade. Fãs de jogos mais comparáveis, digamos assim, como Cuphead, Hollow Knight, Salt and Sanctuary, devem experimentar muitos contrastes com o projeto da Provincia Studio. Em resumo, os desafios são gradativos, mas não há a sensação de melhora dos personagens.
De 5 a 20 horas
Dito isso, a campanha de Josh Journey: Darkness Totems pode durar de cinco a 20 horas. Essa estimativa de grande amplitude considera vários fatores, com destaque para a performance digna de “cortes” para o tempo mais curto e de muita paciência para o mais longo.
Mesmo jogando no cooperativo essa duração não varia muito. Lógico que há diferenças gritantes em iniciar partidas sozinho — pois os heróis não são movidos por inteligência artificial — e experimentar com até outros três amigos, mas no fim das contas o bicho pega e os problemas desafiadores persistem.
Prepare-se para morrer muito não apenas para os inimigos comuns, mas para os próprios cenários. A construção do mapa atrapalha algumas vezes, em especial a partir da segunda ilha. Elementos como poças e rios não combinam muito bem com as dinâmicas de plataforma e oferecem muitas imprecisões.
Por exemplo, saber o local exato de queda após um salto pode ser uma dor de cabeça em missões mais voltadas a saltos. A arte de personagens e de ambientes é linda, mas há um conflito de estática e dinâmica aqui, onde a ação rápida dos heróis dá a impressão de um objeto em um ponto específico, mas que engana após ser acionado.
Por fim, um exemplo clássico é o da coleta de itens. No desespero, você precisará coletar alguma poção de HP quando estiver em uma luta apertada. Porém, o botão de captura é o mesmo botão de pulo e, como é difícil identificar a posição exata do objeto, você acaba saltando em vez de pegar o item. Como resultado, a morte é rápida e certa.
Tudo isso atrasa o gameplay e adia as sensações de vitória. Com isso, muitos jogadores podem simplesmente deixar o título de lado para tentar em um outro momento.
Josh Journey: Darkness Totems: vale a pena?
Os devs brasileiros da Provincia Studio mandaram muito bem em seu projeto e realizaram uma obra digna de franquia. Josh Journey: Darkness Totems é um game super recomendado para fãs de beat’em up que não resistem a desafios que beiram ao impossível.
Suas mecânicas cooperativas funcionam muito bem e são um prato cheio para saudosistas do multiplayer local. Além disso, o jogo possui detalhes marcantes, chefes realmente inesquecíveis — para o bem e para o mal — e uma atmosfera agradável baseada em fases.
Apesar disso, o game não é recomendado para jogadores casuais. Esse grupo certamente enfrentará problemas e grandes níveis de estresse devido à build atual do projeto. Movesets quebrados, dificuldade extrema em modalidade solo, algumas falhas de hitbox e mapas com armadilhas sem posições muito claras prometem impulsionar as frustrações.
Josh Journey: Darkness Totems ainda não está à venda na PS Store, mas já tem página ativa e pode ser adicionado na Lista de Desejos. O game chegará em 6 de outubro.
Veredito
Josh Journey: Darkness Totems
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Provincia Studio
Jogadores: 1-4
Comprar com DescontoVantagens
- Trilha sonora original e empolgante
- Gráficos estilizados muito bonitos
- Design variado de criaturas
- Mecânicas desafiadoras de chefes
- Mapas com detalhes únicos de gameplay
- Controles precisos em ataques e trocas
- Personagens com vantagens interessantes
Desvantagens
- Dificuldade injusta em modo solo
- Sensações de chefes são mais frustrantes que satisfatórias
- Árvore de habilidades limitada e com poucas coisas realmente úteis
- Level design de mapas com armadilhas atrapalha muito a experiência