Indika: vale a pena?

Lançado nesta sexta-feira (17) para PS5, Indika se envolveu com algumas polêmicas por seu tema controverso e pela “estranheza”. E antes mesmo de chegar ao PC, o título já era falado, gerando uma expectativa em especial para quem curte um estilo mais conceitual.

Agora, finalmente os jogadores de consoles podem conhecer a jornada de autodescoberta da freira russa. Será que o game realmente merece toda a atenção que recebeu? Bom, para aliviar um pouco o lado da Odd Meter, de fato é uma aventura inesquecível.

Confira a seguir nossa análise completa e descubra o que faz de Indika uma experiência única e muito especial.

Rejeitada, ela precisa encontrar seu lugar no mundo

Integrante de um convento há anos, Indika passou a ser rejeitada pelas irmãs por apresentar comportamentos inconvenientes. Além de atrapalhar rituais cotidianamente, ela aparenta ter algo que a fé local não aceita; algo que estaria mexendo com sua alma.

Mas a jovem sabe muito bem o que existe em sua mente: uma entidade demoníaca solta ideias levianamente e a faz questionar se o caminho escolhido para sua vida é o certo. Até que finalmente ela recebe uma oportunidade de encontrar respostas.

Indika é incumbida de entregar uma carta misteriosa para um padre, localizado em uma região distante do mosteiro. E até encontrá-lo, ela terá tempo suficiente para refletir sobre suas decisões e, quem sabe, desistir da vocação pela qual se dedicou por uma vida.

Uma coisa é certa: o demônio não largará do pé da freira e tentará fazer de tudo para deixá-la em posição de dúvida e descrença. Assim, cabe a ela enfrentar um mundo hostil e descobrir tudo que o sofrimento, a humanidade e o pecado são capazes de oferecer.

Indika é uma aventura narrativa, com foco na resolução de quebra-cabeças e na exploração de cenários. O título tem uma campanha curtíssima que pode ser concluída em até 3h e inclui uma platina com no máximo 3,5h de exigência devido à seleção de capítulos.

A jornada é 100% linear e combina belas animações em CGI com trechos mais longos de gameplay. Felizmente, todos esses trechos se destacam não apenas pela coerência técnica, mas pelos detalhes absurdos de iluminação, sombras e efeitos de partículas.

A freira assume total protagonismo não apenas por se aprofundar em discussões intensas sobre fé e comportamento humano, mas pelo realismo. Suas expressões são muito caprichadas, independentemente de ser em jogabilidade ou cinemática.

Enquanto isso, há personagens secundários, mas o “companion” Ilya se destaca quase como um coprotagonista. Já o demônio é a voz que guia as principais dúvidas de Indika, mas também funciona como elemento narrativo, dando ares claros de uma fábula ou conto.

Gameplay limitado, mas suficiente

Devido à campanha curta, Indika possui claras restrições de gameplay, mas suficientes para a proposta do game. A freira pode correr, rezar, escalar e empurrar objetos, enquanto ações como agachar ocorrem naturalmente em alguns trechos.

A interface do game é muito limpa, mas traz informações necessárias para guiar os jogadores na ação. Além disso, o excelente level design inclui alguns caminhos paralelos que chegam em becos sem saída ou colecionáveis, mas a pista principal é óbvia.

Basicamente, os puzzles consistem em interações com alavancas, plataformas e mais, porém são inteligentes e não dão informações “de graça”. Além disso, o título conta com inúmeras referências à era dos 16 bits através de flashbacks narrativos.

O gameplay de Indika consiste em dois tempos: presente e passado. O presente é o 3D, enquanto o passado é mais “alegre” e inclui seções de plataformas com visuais pixelados e no estilo de jogos clássicos do Super Nintendo, por exemplo.

Essas mudanças não afetam o ritmo, mas o passado funciona como um esclarecimento mais profundo sobre a vida da freira. Dessa forma, eles contribuem muito com a narrativa, tratando o texto de forma mais metafórica e incomum.

Indika definitivamente não é um jogo estranho

Os trailers de Indika mostraram cenas que transpareceram uma ideia de estranheza para o game. Porém, é possível afirmar que o título está longe de ser estranho. O jogo é extremamente maduro e bem conduzido, tratando de temas delicados e capazes de incomodar.

Como sua principal abordagem é na fé e nas dúvidas que o caminho sacro pode gerar, as discussões podem não ser fáceis de compreender. Constantemente a razão, a emoção e a fé se chocam em argumentos válidos, tanto pela jovem quanto pelo demônio.

Além disso, há cenas de gatilho que devem incomodar em especial os jogadores mais sensíveis. Dessa forma, é importante deixar claro que Indika não é um jogo fácil e se banha de metáforas, de mensagens ocultas e de textos inconclusivos.

Felizmente, a comunidade brasileira pode jogá-lo com legendas em português para menus e diálogos. E mesmo algumas quedas de FPS e o tamanho da campanha não impactam o resultado final do projeto, que chega a ser mais uma experiência do que um game em si.

Indika: vale a pena?

Menos estranho, mais subversivo, Indika é provocante e instigante em sua essência. Visualmente, o game da Odd Meter é um absurdo no bom sentido, com gráficos ambientais de cair o queixo, aspectos técnicos de última geração e expressões faciais realistas.

Algumas coisas poderiam ser melhoradas e há espaço para mais histórias e mais elementos narrativos, mas isso não tira o brilho de um jogo altamente competente e, de fato, único. No geral, é um excelente trabalho e estampa o selo de recomendação.

Mas novamente, vale a pena reforçar: não é uma aventura fácil de ser digerida. Há diálogos claros que propõem a dúvida na fé e Deus e o Diabo são colocados como pares desde o início da campanha.

Indika já pode ser adquirido na PS Store e está disponível apenas para a nova geração nos consoles.