Indiana Jones e o Grande Círculo: vale a pena?
Uma aventura surpreendente, divertida e que define o herói por si só: um verdadeiro explorador
Indiana Jones. Duas palavras que remetem a muitas coisas: chicote, aventura, humor, exploração, trilha sonora, épico moderno, cultura pop. O peso deste nome é incomparável e tal marca é pioneira nos clássicos filmes de aventura, determinando um gênero e até mesmo definindo o estereótipo de um verdadeiro caçador de tesouros.
Diante de tamanho legado, não é fácil honrar o nome. Parece que tudo pode ser pequeno demais para aquilo que a IP representa. Felizmente, a Machine Games entendeu a responsabilidade e trouxe uma representação muito fiel e autêntica do herói em Indiana Jones e o Grande Círculo.
Estamos falando de um jogo que respeita a pegada cinematográfica e compreende o estilo do personagem. Embora seja conhecida pela franquia Wolfenstein, que é marcada por tiro, porrada e bomba, a Machine Games traz uma experiência que representa quem é o Indy e como seria um jogo no mesmo teor de filmes.
Esqueça as insanidades vividas por B.J. Blazkowicz com seus equipamentos destrutivos para abraçar um mundo mais crível, exigindo cautela, explorando cada cantinho e aceitando que Indiana Jones é um professor, não um soldado. Enxergando tudo isso, percebemos o esmero em mostrar um ser humano ousado e não um super-herói imbatível.

Indiana Jones e o Grande Círculo é, no mínimo, surpreendente. Fugindo das repetições do gênero em terceira pessoa, o game aposta em um ritmo mais cadenciado, focado na exploração e puzzles, mas sem abrir mão de um desafio à altura. É cheio de historinha, elementos fictícios e reais que entrelaçam e muito conteúdo para completar e explorar.
O título da Machine Games é a representação do herói, que peca em alguns pontos, mas traz sim uma experiência definida por: aventureira!

Um convite à aventura
Indiana Jones tenta ser apenas um professor de arqueologia, mas a vida o chama para algo a mais. Em um dia, na faculdade onde o protagonista leciona, um gigante invade a instituição e rouba uma antiguidade que faz o explorador ser envolvido em uma grande conspiração para ativar poderes místicos na Terra, precisando lidar com fascistas e nazistas.
Um dos grandes acertos de Indiana Jones e o Grande Círculo é como a narrativa se desenrola. O enredo segue uma estrutura cinemática em que os eventos geram consequências e o jogador entende o porquê deve fazer o que foi mandado fazer. Nada à toa e tudo é coeso.

Falando sobre a narrativa, a Machine Games mandou muito bem na ambientação e nas fases. O game passa por Vaticano, Gizé, Himalaias e outras regiões. Cada lugar possui sua peculiaridade, seus próprios nativos e atividades. E por mais que sejam fases, elas têm uma estrutura de zonas abertas com muito a explorar.
Sem contar na beleza visual e nas trilhas sonoras certeiras, dignas da aprovação de John Williams, compositor das obras originais. Há lugares retratados de modo tão belo que é comum tirar vários prints e explorar as áreas apenas para se deslumbrar. Além disso, o jogo é recheado de trilhas que marcam os momentos, tornando a experiência imersiva e, claro, bem cinematográfica.

De olho no mapa!
Em Indiana Jones e o Grande Círculo, é fácil se perder diante de tanto o que fazer. Como explorador, Indy encontra documentos colecionáveis ou ativar mistérios para serem descobertos. Alguns, exigem um tempo considerável de dedicação enquanto outros são rápidos. De qualquer forma, tem muito conteúdo adicional além da história para cumprir.
Todas as quests geram pontos de Expedição que servem para aprimorar atributos do Indiana. Contudo, tais pontos só podem ser atribuídos quando o personagem encontra Livros que desbloqueiam melhorias. Repare como a Machine está o tempo todo gritando: Indiana Jones não é um soldado. As melhorias vêm pela exploração porque é isso o que ele é. É uma solução inteligente e condizente com o universo.

Só há uma situação negativa nesta abordagem: às vezes, a narrativa fica cansativa justamente pelo teor cinematográfico. Existem muitas cutscenes que, em certos momentos, quebram o ritmo. Além disso, faltam momentos empolgantes do gameplay para equilibrar. Lembra de Uncharted 4, naquela perseguição em Madagascar com Nathan e Sam? Pois é, não aparece nada semelhante aqui, o que poderia contribuir para uma aceleração de ritmo.

Explorador, não soldado
Indiana Jones e o Grande Círculo é um caso surpreendente de como um estúdio focado em uma franquia de ação frenética (Wolfenstein) fez uma nova IP com uma roupagem semelhante, mas completamente diferente no estilo de jogabilidade. O título da Machine Games segue mais a linha de Dishonored.
O aventureiro consegue usar armas de fogo, mas as munições são muito limitadas e os tiroteios reúnem uma grande quantidade de inimigos que complicam a vida do jogador. No Modo Difícil, por exemplo, enfrentar mais de dois adversários simultaneamente é sinônimo de derrota.

Com isso, o jogador é quase sempre obrigado a adotar uma postura furtiva ou partir para combates corporais. Em ambos os casos, o gameplay funciona muito bem. Indy consegue pegar muitas coisas do cenário para usar como equipamento para abater os alvos, desde vassouras até mesmo armas de fogo que viram um porrete na mão do professor.
Os comandos são responsivos e, quando o herói usa os punhos, a jogabilidade funciona com um sistema de esquiva, defesa e ataques diretos. No entanto, reparamos que a inteligência artificial dos inimigos é fraca. Muitas vezes, foi possível derrotar um soldado que estava do lado de um companheiro e o que ficou em pé sequer percebeu a presença do herói.

Novamente, o que fez falta em Indiana Jones e o Grande Círculo foram momentos empolgantes de combate. Em quase todos os casos, era possível desviar do confronto ou lidar com a situação às escuras. Por mais que haja mecânicas muito legais, como a possibilidade de coletar disfarces para se infiltrar em pontos específicos, o peso do nome da Machine Games com seu histórico em Wolfenstein podia ser melhor aproveitado.
Nota Dó
Enquanto vemos o lado do professor Indiana muito bem destacado no momento do combate e restringindo suas ações, por outro, parece que o personagem reprovou nas matérias de lógica e de resolução de quebra-cabeças.
Os puzzles de Indiana Jones e o Grande Círculo são marcados por duas características: criativos e fáceis. Os elementos pensados para estes momentos são muito atrativos, interessantes e diferentes. Ao mesmo tempo, não é preciso muito esforço para solucionar os mistérios.

Neste ponto, chega a ser um tanto quanto frustrante como os puzzles são quase que apenas elementos interativos. Não há uma necessidade de pensar profundamente sobre ações porque está tudo escancarado para o jogador de um modo bem mastigado.
Este ponto é, talvez, o mais incômodo de toda a experiência. Ainda existem questões sobre bugs com cortes bruscos da visão em primeira pessoa para terceira pessoa, quando o explorador se pendura em ladeiras, mas isso é quase irrelevante.

Vale mencionar também a adaptação para o PS5. Indiana Jones e o Grande Círculo era exclusivo de Xbox Series e a versão da plataforma da Sony não tem diferencias (exceto graficamente para o PS5 Pro). Há o uso de gatilhos adaptáveis, mas pouco interferem na experiência.
Indiana Jones e o Grande Círculo: vale a pena?
Para embarcar nesta aventura é se desprender da ideia que a Machine Games fez uma skin de chapéu e chicote de Wolfenstein. Abandone tal pensamento para não se frustrar, pois Indiana Jones e o Grande Círculo aposta em outro conceito, realizado de modo surpreendente e bem divertido.
O jogador não é entretido por meio de combates intensos com tiroteios e explosões, mas sim, ao longo da exploração que revela segredos, de confrontos no mano-a-mano que exigem precisão nos comandos e até mesmo no desenvolvimento da narrativa que envolve momentos históricos reais com elementos fictícios bem criados.

Com uma campanha de 15 a 20 horas, mas com uma totalidade de conteúdos que podem chegar até 35 horas para quem quer completar os 100%, o game é uma aventura sólida, divertida, diferente e bem competente. Tanto para o fã do herói quanto para quem gosta deste tom de exploração, é um jogo que vale, sim, o investimento!
Veredito

Indiana Jones e o Grande Círculo
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Machine Games
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- Ambientação e caracterização muito boas
- Enredo cativante com a mistura de ficção com momentos históricos
- Personagens carismáticos e bem-humorados na medida
- Exploração que gera recompensas contínuas
- Variedade de atividades secundárias
- Opções de dificuldade que mudam a experiência significativamente
- Sistema de combate corporal responsivo e divertido
Desvantagens
- Falta de momentos de ação de tirar o fôlego
- Ritmo da história pode enjoar pelas cutscenes
- Puzzles interativos e sem grandes dificuldades
