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How to Survive 2: Vale a Pena?

por Hugo Bastos
How to Survive 2: Vale a Pena?

Dizer que How to Survive 2 é um jogo de survival horror focado no gerenciamento de recursos e sobrevivência seria um tanto enganoso. Na verdade, é o contrário. O grande foco do mais recente título da Eko Software (com distribuição da 505 Games) tem o seu trunfo exatamente no gerenciamento de recursos e sobrevivência. E esta inversão, apesar de não corriqueira, soou muito agradável.

How to Survive 2

Alguns anos se passaram desde a “aventura” no arquipélago de Los Riscos. A epidemia zumbi se espalhou pelo globo, com boa parte da população transformando-se em zumbi. Poucos grupos de sobreviventes tentam passar por mais um dia, seja juntos ou de forma isolada.

O jogador, sem nome (trata-lo-emos aqui como “Sobrevivente”), encontra-se em Louisiana, e para ter alguma chance de ver mais um dia, precisa aprender a sobreviver em um mundo caótico e devastado, com as instruções de um excêntrico que se intitula “mestre da sobrevivência”.

Com premissas que soam como retiradas diretamente do livro “Guia de Sobrevivência a Zumbis”, de Max Brooks*, How to Survive 2 explora muito bem o lado de gerenciamento dos recursos e estado físico do personagem, enquanto entrega um survival horror sem elementos de terror, com pitadas de humor e que não inova, mas diverte.

Afie suas flechas, jogador, e conheça os motivos pelos quais este é um jogo recomendado.

Gestão de Negócios

How to Survive 2 exala “gerenciamento” a todo momento. Desde a administração da evolução do sobrevivente, do acampamento, do controle dos itens de consumo e da evolução do acampamento, jogador e habilidades. E o combustível dessa evolução é, basicamente, a experiência do jogador.

Durante o jogo, o sobrevivente conhecerá Kovac, e terá como objetivo algo simples, básico e claro. Construir, do nada, seu próprio acampamento (ou forte, se preferir). Semelhante a Don’t Starve, será necessário levantar edificações, procurar por suprimentos, forjar armas e utensílios basicamente do nada. Esta é, sem dúvida, a melhor parte do jogo.

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Apesar de parecer insano, Kovac tem boas ideias.

Tais itens encontram-se perdidos ao ermo. O que não será algo fácil, visto que este “ermo” geralmente estará infestado de mortos vivos, vítimas da praga que dizimou a humanidade. Isso posto, será necessário sempre adotar uma postura defensiva durante a exploração, uma vez não raro o jogador será emboscado e cercado por zumbis de todos os tipos.

Quanto melhor o acampamento, mais fortes serão os inimigos que ele atrairá. Para melhorar o acampamento, além da construção de novos módulos, será necessário, de tempos em tempos, enfrentar os “Desafios de Kovac”. Tais desafios consistem em derrotar ondas crescentes de inimigos para, só então, poder voltar a evoluir sua base.

Além disso, é necessário ainda coordenar o uso dos recursos disponíveis. O sobrevivente tem fome e sede, e precisa ser alimentado e hidratado constantemente. É necessário ainda cuidado com o peso que carrega. Um descuido nesta parte fará com que o personagem sofra os efeitos maléficos de cada uma destas nuances.

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Quando estiver chegando no limite, o jogo tratará de avisar ao jogador. Neste caso, a fome do sobrevivente já está no extremo (note o ícone acima da barra de energia).

Fosse esse o único aspecto de gerenciamento do jogo, o título já poderia ser considerado interessante. Contudo, ele é muito mais profundo e complexo do que se imagina. A palavra de ordem é, a todo momento, “sobreviver”.

Sobrevivência do Mais Forte

O livro “Da Origem das Espécies pela Seleção Natural”, de Charles Darwin, ajudou a propagar a ideia universal da necessidade da evolução constante. Por meio de seu estudo, pôde-se perceber que “não é a espécie mais forte, ou a mais inteligente, que sobrevive. É aquela mais adaptável a mudanças”. Tal frase pode ser definida como o cerne deste título.

Para sobreviver, é necessário se adaptar.

A evolução ocorre sempre com os pontos de experiência ganhos. Mas ele não é automático. Então, o jogador precisa também gerencia-los. Eles podem ser gastos na evolução do acampamento, do personagem, e de suas habilidades. Mas toda a evolução do jogo está diretamente ligada à evolução do acampamento.

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Para se tornar mais apto, o jogador deve evoluir constantemente o sobrevivente. Não apenas seu nível, mas suas habilidades também.

Dessa forma, o jogador precisará ponderar sempre se é vantajoso evoluir as habilidades até onde for possível antes de evoluir novamente sua base. Ou ainda se deverá evoluir o personagem, ou seu acampamento. E como o nível dos inimigos está ligado diretamente ao nível da base do jogador (e não ao personagem), tudo deve ser planejado.

Este característica dá ao jogo um nível de profundidade poucas vezes visto. Não basta se preocupar com todos os outros problemas que permeiam o mundo. É necessário ainda ser um bom gestor em qualquer aspecto do jogo. Especialmente porque a morte traz penalidades, e dessa forma, até mesmo isso deve ser levado em consideração.

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Morrer não é uma boa ideia neste jogo.

Por vezes, o sobrevivente não poderá avançar em uma determinada etapa por estar fraco demais. Ou ainda, determinadas missões se tornarão muito fáceis, dado o nível de evolução dele. Dependendo de como são gerenciados os pontos de experiência na evolução dos elementos do jogo, estes e muitos outros cenários podem ocorrer.

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É preciso encontrar novos itens para equipar o personagem, evitando, assim, sua morte prematura.

Obviamente, nem todos são atraídos pela complexidade deste aspecto. Mas aqueles que se aventurarem, sem dúvida alguma, encontrarão uma proposta sólida e completa para deleitarem seu “homem de negócios” interior.

Contando Ninguém Acredita

O título não é, contudo, um simulador de gestão, como Sim City e afins. É um jogo onde a sobrevivência, apesar de fator crucial, opera para manter consolidada a parte aventura do jogo. E esta cumpre seu papel como deveria, apesar de não ser algo memorável.

As missões geralmente são dadas por outros personagens. Para avançar na história, liberar novos desafios, habilidades, melhorias e manuais para produção de itens, é necessário completa-las. Algo a se comentar aqui é que o nível das missões é dinâmico, ao gosto do jogador: elas podem se tornar mais difíceis caso este deseje.

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É possível aumentar ou diminuir a fase da missão. As recompensas são melhores, assim como são mais altos os desafios.

São missões ao estilo “vá ao lugar x – mate n inimigos – recolha y itens – procure por z pessoa”. Nada de novo, e que não agrega tanto valor. Cumprem o papel de existir para preencher o vazio da narrativa.

E por falar em narrativa, o jogo é permeado por um humor descompromissado e nada violento. É interessante ver, por exemplo, Kovac tentando ensinar zumbis a construir módulos, ao passo que tudo o que fazem é babar e grunhir. Essa situação se repete em outros momentos, deixando o jogo com um ar leve e divertido.

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Zumbis em uma sala de aula – nada de diferente do mundo real…

No entanto, a falta de carisma de outros personagens faz com que não haja tanto interesse em conhecer suas histórias, ou sequer prestar atenção ao que dizem. Em um dado momento, conversar com eles apenas será feito para que novas missões possam ser habilitadas. A Eko Software perdeu, aqui, a oportunidade de criar personagens marcantes.

Olhos e Ouvidos “Espalhados” por Todo Lugar

Apesar de não deterem a importância que outros fatores possuem neste jogo, os inimigos – especialmente zumbis – ambientam o jogo de forma a torna-lo mais imersivo. Afinal, este é um jogo de sobrevivência em um mundo dominado por eles.

A jogabilidade em torno dos confrontos (e outros aspectos descritos acima) leva a crer seriamente que o jogo foi, de fato, baseado na obra de Max Brooks. Aqui, os zumbis possuem uma audição muito melhor que visão, podendo perceber o jogador antes mesmo que este entre em seu campo de visão. E ao nota-lo, vão ao seu encontro impetuosamente. O que torna necessário o uso de estratégias.

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Os inimigos do jogo não são inteligentes. Mas são ferozes

Mas não apenas isso. Nos combates, o jogador poderá ser facilmente cercado e acabar com uma manada de infectados – humanos e animais – no seu encalço. Nestas horas, a morte é uma variável certa. E a penalidade por isso será sempre descontada no jogador.

Para evitar este cenário, o jogador conta sempre com um arsenal variado, que abrange armas de curto e longo alcance, e corpo a corpo. Inicialmente, pode-se contar apenas com um taco de baseball. Mas ao adquirir melhorias e iniciar a construção/evolução de sua base, outras armas podem ser fabricadas/melhoradas.

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Um inimigo sozinho não chega a ser problema. Já uma horda deles é uma séria dor de cabeça.

Os efeitos sonoros do jogo são outro ponto de destaque. A trilha é dinâmica. Ou seja: muda conforme a situação. Não há músicas durante a exploração, mas quando se inicia um confronto com vários inimigos, esta se torna épica, ditando o ritmo do combate. Mas os demais sons e efeitos do jogo se tornam um tanto repetitivos após algum tempo.

Mas junte isso à mudança dinâmica de clima, e se tem uma das melhores ambientações poucas vezes vista nos games do gênero. Chuva, neblina, ciclos de dia/noite. Tudo passa ao jogador a real intenção da situação atual. E os gráficos são ótimos. De fato, um trabalho primoroso.

Regra #8: Traga um Parceiro que Arrebenta

É certo que as mecânicas do jogo funcionam bem para o modo solo. A história se desenvolve sem maiores tropeços, e o jogador não tem problemas em prosseguir normalmente. Mas é o modo cooperativo que rouba a cena, e transforma todo jogo. Ao ponto de dizer que é quase uma obrigatoriedade joga-lo com um amigo.

O jogo se trata de sobreviventes, que tentam passar por mais um dia em um mundo devastado. Jogar cooperativamente aumenta ainda mais essa ideia. Até quatro jogadores podem participar das missões, e até dez jogadores podem acessar o acampamento de um dado jogador por vez.

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Trazer um companheiro para a carnificina não tem preço.

Os combates ficam mais dinâmicos e, de certa forma, fáceis. A monotonia e repetição de certos aspectos dão lugar a uma divertida e sangrenta “caminhada no bosque”. Definitivamente, tão divertido como poderia ser. E o melhor: o modo Coop está disponível tanto local como online.

Tudo isso aliado a um esquema de controles que responde muito bem aos comandos. Não há input lag, o que torna a experiência fluída. Os menus são intuitivos e, apesar de parecer complicados no início, são fáceis de se acostumar. Muito embora ainda permaneça a sensação de que a transição PC/Console não foi completa.

Aprecie as Pequenas Coisas

How to Survive 2 pega todos os pontos positivos do jogo anterior e os melhora consideravelmente. Pega também grande parte dos pontos negativos e os tenta fazer melhores (para não dizer um pouco menos ruins). E adiciona novos elementos, expandindo a experiência e se apresentando como um título promissor.

Adicione isso ao bom trabalho de localização das legendas e menus, e uma gama maior de jogadores será atraída para o título.

Considerando ainda que o jogo possui o caminho para a conquista do troféu platina relativamente fácil (apesar de trabalhoso), e está sendo vendido a um valor surpreendentemente acessível, é certo dizer que esta é uma experiência quase obrigatória aos amantes do gênero.

Não espere, contudo, encontrar aqui um expoente dos jogos de terror. Este é inexistente. Mas se o seu intuito é um jogo descompromissado, divertido, ao mesmo tempo que traz complexidade e profundidade, então, jogador, sua escolha já é mais que óbvia.

*Max Brooks também e o autor de Guerra Mundial Z.
Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.