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Gravity Rush 2: Vale a Pena?

por Hugo Bastos
Gravity Rush 2: Vale a Pena?

Verdade seja dita: Gravity Rush 2, ao ser revelado, surpreendeu bastante. Não apenas pelo fato de ser anunciado quando já não se esperava uma continuação. A SCE Japan Studio mostrou algo que, naquele momento, ia além de uma mera continuação ao aclamado jogo de PlayStation Vita, originalmente lançado em 2012.

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Nas palavras do seu diretor, Keiichiro Toyama, “o jogo é [também] uma sequência, mas estou certo que os jogadores encontrarão grandes surpresas nele”. E de fato, tais palavras não são mero eufemismo. A cada novo capítulo da história, a cada nova revelação, uma surpresa maior aguarda o jogador. Referências ao jogo anterior são constantes, e isso inclui personagens e lugares.

Mecânicas de jogo singulares, adicionando elementos encontrados em outros gêneros. Um universo expandido, similar aos jogos mais recentes. Melhorias em todas as áreas do jogo. Esses e outros motivos fazem Gravity Rush 2 ser considerado não apenas uma mera continuação, mas um salto considerável em direção ao futuro. Que, lamentavelmente, não “pegou o impulso” necessário para se destacar completamente, visto a permanência de diversos problemas encontrados no primeiro.

Então, alinhe seu barco e siga-nos em nossa análise.

Uma História Expandida e Flutuante…

A história do jogo é aparentemente simples: após os acontecimentos do primeiro Gravity Rush, Kat foi tragada por uma tempestade gravitacional, junto com Syd e Raven. No entanto, Raven desapareceu após estes eventos, e Kat se encontra sem seus poderes. Para piorar as coisas, ela ainda precisa trabalhar para pagar suas dívidas com as pessoas que a resgataram.

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Kat e Syd acabam sozinhos e “escravizados” em uma terra desconhecida.

Aparentemente descomplicada, de início. Mas é mero engano. Comparativamente, sua progressão é digna de episódios do seriado “Os Simpsons”, onde o jogador precisa entregar convites para uma festa, e acaba envolto em uma invasão militar em uma área de risco. Dessa maneira, durante o primeiro gameplay, haverão diversos momentos em que o jogador se pegará de boca aberta pelas reviravoltas que acontecem.

E não apenas isso: os eventos se encaixam com maestria. Missões paralelas não são meramente “vá a tal lugar, pegue tal item, resolva tal problema, enfrente tal inimigo”, como no primeiro jogo. Há uma variedade muito maior de missões para serem cumpridas. Escolta, investigação, infiltração, são apenas alguns exemplos. E elas carregam os elementos necessários para que sejam mesmo diferenciadas.

A história do jogo é divertida. Empolga na medida certa. Não cansa, e tem sua dose certa de humor. Kat se mete em enrascadas dignas de filmes da Sessão da Tarde, geralmente por inocência ou imaturidade. E tais circunstâncias geram situações deveras engraçadas e divertidas. De uma forma cativante.

… Em um Mundo Imenso Igualmente Flutuante.

O mundo também cumpre seu papel. Conforme prometido pela equipe de desenvolvimento do game, os mapas são substancialmente maiores, e agora contam com a verticalização. As áreas são geralmente flutuantes, então os distritos estão acima e abaixo das nuvens. E estes se destacam ainda pela divisão de classes, outro ponto abordado pelo game de forma direta, crua e sem preocupação em chocar.

Os produtores não estavam brincando quando prometeram entregar um mundo aberto substancialmente maior. Além das novas áreas, o jogo conta ainda com a cidade de Hekseville, do jogo anterior. Dessa forma, um mapa cerca de 2,5 vezes maior que o primeiro jogo. Isso permitiu também entregar um jogo com uma gama mais variada de eventos e localidades.

Um mundo tão diverso assim não seria interessante sem que houvessem elementos para preenche-lo. Felizmente, Gravity Rush 2 não sofre desse mal. Há vida no mundo. O jogador o sente pulsando. Os comércios estão sempre cheios. Os trabalhadores portuários não param. Barcos de mineração chegam e saem constantemente. As zonas de diversão estão sempre vibrantes.

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A vida noturna na cidade não para.

Isso mostra uma preocupação dos desenvolvedores nesse aspecto. Um comprometimento com o produto final, como não é mais tão visível nos dias de hoje.

Jogabilidade Gravitacional

Gravity Rush 2 é um jogo de ação/aventura, que mistura elementos de RPG. Tais elementos se encontram nas missões paralelas, evolução do personagem por meio de experiência, e um mundo aberto para ser explorado, entre outros.

E, claro, existem ainda as mecânicas de alteração da gravidade. O cerne do jogo em si.

Tais mecânicas permaneceram basicamente inalteradas. O jogador tem acesso a determinados poderes (estes já disponíveis desde o início), e pode melhora-los com cristais que recolhe no decorrer do jogo. De novidade, foram adicionados agora os estilos gravitacionais.

Gravity Rush 2
As diferenças entre os estilos não são meramente estéticas. No Estilo Júpiter, por exemplo, Kat desfere ataques bem mais poderosos.

No Estilo Lunar, Kat se torna mais leve, seus ataques são mais rápidos, mas mais fracos. Já no Estilo Júpiter, ela se torna mais pesada. Seus ataques são mais lentos, mas provocam mais dano e são mais devastadores. Cada um destes estilos vem acompanhado de poderes específicos, ou alterações àqueles já existentes.

Dessa forma, o jogador pode adaptar o estilo gravitacional ao seu próprio estilo de jogo. Isso proporciona um dinamismo muito maior à jogabilidade, e evita que o game se torne tedioso, um ponto negativo do primeiro.

Os combates aéreos, agora, são melhor aproveitados. Algumas estratégias são necessárias, para se evitar as mortes constantes. Alternar entre estilos gravitacionais, escolher o inimigo a eliminar primeiro, bater e correr. A lista é variada.

E os chefes do jogo são um espetáculo à parte. Não se trata apenas de monstros maiores gerados por anomalias gravitacionais, ou naves de batalha. Existe uma diversidade de chefes a ser enfrentada. E algumas batalhas realmente são difíceis. Pena não haver neste jogo algo como a luta entre Kat e Raven, dentro do pilar gigante, no primeiro jogo.

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Certos chefes o farão querer repetir a luta inúmeras vezes…

O Mundo na Palma da Mão

Como já dito anteriormente, o mundo de Gravity Rush 2 é muito maior que o primeiro jogo. E isso significa uma gama maior de possibilidades. E isso traz uma imersão necessária. Existem inúmeras atividades que deixarão os jogadores ocupados por horas.

Há as missões paralelas, como já dito. Elas dão prêmios, que variam desde experiência até mobília para a casa de Kat, e roupas diferentes que podem ser ganhas ao se cumprir determinados objetivos. As missões de desafio estão de volta. E tais missões trazem ainda um ranking online dos melhores tempos e pontuações em cada.

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Baús do tesouro especiais, como este, aparecem espalhados pela cidade de tempos em tempos. Fique de olho.

Há ainda os baús de tesouro escondidos pelos distritos, que rendem itens valiosos. Existem as zonas de mineração, onde se pode conseguir talismãs novos. Estes são ainda uma novidade na jogabilidade, amplificando os poderes de Kat.

Mas, o mais interessante é a possibilidade de fotografar a cidade com uma câmera in-game. Algumas missões de espionagem requerem que o jogador fotografe momentos específicos. Fora delas, o jogador pode, a qualquer momento (mesmo durante o voo) registrar os momentos dos cidadãos de Jirga Para Lhao e Hekseville.

Kat tem ainda as roupas ganhas nas missões de história/paralelas. Dentro do modo foto, é possível trocar de vestuário, escolher gestos, modo de imagem… Uma brincadeira que pode consumir literalmente horas de gameplay sem que o jogador sequer perceba.

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O Modo Foto é uma das melhores adições ao jogo.

Existe uma diversidade de atividades que a protagonista pode realizar durante o jogo. Uma infinidade de maneiras diferentes para passar o tempo. Não chega a se comparar a GTA, mas ainda assim o jogador estará bem servido.

Som e Imagem

Sendo um jogo com gráficos cel-shading, Gravity Rush 2 não deixa a desejar. As texturas dos personagens e cenários é extremamente bem feita. O trabalho desenvolvido na parte gráfica é competente. Isso pode ser percebido nos pequenos detalhes.

Caixas que se quebram. Roupas que balançam conforme o vento. Até mesmo o posicionamento do cabelo e vestimentas de Kat enquanto muda a gravidade e caminha de ponta-cabeça pelos cenários. Todas estas pequenas nuances mostram um capricho singular.

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As folhas esvoaçam quando Kat passa pelos arbustos. Um espetáculo gráfico belíssimo de se ver.

A trilha sonora é outro ponto fabuloso. Uma vez que a cidade de Hekseville está de volta neste jogo, é normal que as músicas-tema de cada um dos seus distritos também esteja. Estas, no entanto, foram refeitas, e o resultado não poderia ser melhor. Sobrevoar o bairro de Vendecentre enquanto a música toca ao fundo e uma das melhores experiências no jogo.

Os efeitos sonoros também não deixam a desejar. As conversas, batalhas, a movimentação das pessoas nas ruas. Os golpes de Kat, objetos sendo quebrados. Tudo possui um efeito sonoro próprio. Até mesmo quando Kat resolve mostrar seus dons artísticos, nota-se um ótimo trabalho nessa área.

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Kat não é apenas uma heroína que altera a gravidade. Ela também possui um dom para o canto.

“Há um Distúrbio na Força Gravitacional”

Pelo que foi exposto nesta análise, nota-se que Gravity Rush 2 é um jogo excelente. E isso não deixa de ser uma verdade. No entanto, por mais que seus pontos positivos sejam muitos, existem ainda problemas, que impedem o jogo de receber um selo “obrigatório”.

E o pior deles, provavelmente, é o problema da câmera. Para um jogo com esta proposta, este deveria ser um contratempo inexistente. No entanto, o primeiro game já apresentava um problema sério no controle da mira e do campo de visão de Kat. Isso se torna ainda pior quando, por erro ou descuido, o jogador a lança de encontro a um vão estreito.

O jogo não se posiciona direito, e a câmera chacoalha freneticamente, tentando ajustar o foco. E além disso, ainda há o fato de ser necessário uma mudança constante no campo de visão. Por vezes, o autor deste artigo se sentiu tonto com esse problema. Especialmente em batalhas com muitos inimigos na tela, o que exige uma constante mudança de foco.

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Batalhas contra inimigos numerosos se tornam uma dor de cabeça constante.

No que toca a este assunto, outro problema que compromete seriamente a diversão do jogo é a falta de um sistema de mira. O jogador não pode travar em um inimigo específico, e dessa forma, precisa constantemente mudar o alvo dos ataques. Para um jogo onde a maioria das batalhas ocorre com inimigos no ar, isso é inadmissível.

Não obstante este fato, grande parte dos adversários possui mobilidade elevada. Uma vez que não há a possibilidade de concentrar os ataques em um determinado alvo de forma automática, com uma mira travada, por exemplo, o jogador fica a mercê da necessidade de, constantemente, buscar os inimigos de forma manual. E então, volta a incorrer o problema da câmera.

Apesar de excelente e imersiva, a história do jogo demora a começar a se desenvolver. Na primeira hora e meia, por exemplo, a sensação de tédio é constante. E mesmo que haja um mundo imenso a explorar, a interação de Kat com ele é restrita. Ela não pode interagir com todos os habitantes. E não há desenvolvimento de relações com outros personagens que não sejam os do núcleo da história.

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Apesar de enorme, a falta de interação com os elementos do mundo é frustrante.

Os controles dos poderes gravitacionais, apesar de precisos, não são perfeitos. Voar, por exemplo, se torna complicado quando é necessário uma mudança acentuada de direção. Os controles não ajudam. O deslizamento gravitacional é horrível de controlar, e a obrigatoriedade de seu uso torna algumas partes do jogo irritantes.

E por fim, por mais que o mundo seja, de fato, aberto e enorme, há pouca possibilidade de interação entre a protagonista e seus habitantes, além de missões pre-determinadas, e conversas com personagens específicos. O mundo aberto acaba perdendo seu propósito.

O fator complicador em todos os pontos apresentados aqui é que tais problemas são recorrentes. Existiam no primeiro jogo, e não foram corrigidos.

Vale?

É raro uma IP nascer em um console portátil e sua sequência ser lançada em um console caseiro. Mais raro ainda é esta sequência dar certo. Gravity Rush 2 é este caso. Não se trata de uma mera continuação, mas uma melhoria em quase todos os pontos do primeiro jogo.

História, personagens, mundo. Todos estes elementos são o testamento de que este jogo é, de fato, aquilo que prometeu ser. E apesar de alguns tropeços que, vez ou outra, comprometem a diversão, estes não são suficientes para macular de forma significativa o conjunto da obra.

Os caçadores de troféus estarão bem servidos, visto que este jogo nao possui uma platina complexa. Mas que os farão explorar cada canto do jogo, e buscar tudo o que ele tem a oferecer.

E para que você, jogador, possa apreciar ao máximo e entender a história (por vezes complicada) da franquia, a desenvolvedora produziu uma versão em anime do jogo, chamada Gravity Rush – Overture, que preenche as lacunas entre o primeiro e segundo jogos, além de explicar determinados acontecimentos no universo expandido. Com legendas em português (e outros 16 idiomas), o anime segue abaixo.

E não se esqueça: “A maçã vermelha cai do céu…”

Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.