Gran Turismo 7: vale a pena?
Gran Turismo volta ao pódio através de um jogo com bonitos visuais, ótima jogabilidade e aproveitamento do DualSense
Depois de derrapadas em Gran Turismo Sport, a Polyphony Digital voltou ao grid para tentar reconquistar seu lugar no pódio dos games automobilísticos com Gran Turismo 7. Não que GT Sport tenha sido um fracasso, mas foi uma longa “corrida de recuperação”, que durou alguns anos (com muitas atualizações gratuitas) até que ele conseguisse se firmar.
E talvez por isso o mote do marketing de Gran Turismo 7 seja “Encontre seu caminho”. Afinal, agora a série encontrou o seu. Ou melhor, reencontrou.
Gráficos lindos, jogabilidade afiada, muitos carros, personalizações para fazer frente até em Need for Speed, missões e, principalmente, um clássico Modo GT de volta, farão com que até os fãs mais rigorosos voltem a olhar com carinho para franquia. Mas não é só isso. Até novatos na “simulação” podem “encontrar o caminho” para a diversão no game.
Isso porque ele oferece várias possibilidades de gameplay, desde uma bem mais puritana, “Onde os Fracos não têm Vez“, até ajustes de assistência de direção excelentes e que tornam tudo mais fácil.
Tem seus momentos de baixa potência? Claro. Um certo exagero de cafeína, talvez uma glamourização excessiva do automobilismo e até a duração da “campanha” incomodam. Só que, mesmo assim, ele se garante no pódio, lugar de onde nunca deveria ter saído.
Quer Café?
A experiência central de Gran Turismo 7 é em volta do Café. Uma opção onde os jogadores vão conhecer mais sobre a história do automobilismo, das grandes montadoras, dos modelos mais icônicos e até de momentos de vitórias.
Funciona quase como um centro de missões. No Café, uma pessoa dá os detalhes dos próximos passos. Comece comprando um carro usado simples e vá para uma corrida. Vença, volte para o Café, acompanhe uma historinha, receba seu prêmio e uma nova missão vai aparecer. Essa dinâmica dita o ritmo do progresso.
Aos poucos, as novas áreas de um enorme hub são abertas. Licenças, Missões, Modo Fotográfico, Online, Carros Usados, Brand Central (Carros Novos), Tuning e mais. Rapidinho você percebe que a experiência é robusta, afugentando qualquer falsa impressão de falta de conteúdo.
O único ponto, porém, é que esse leva e traz pode ficar um pouco entediante. Muitas das vezes você não quer saber como a Toyota virou a Toyota ou como o Ford GT40 venceu várias vezes em Le Mans. Você só quer correr, ganhar dinheiro para comprar os carros mais velozes e então fazer mais dinheiro.
Há uma certa gourmetização no game, que a Polyphony Digital trata como “cultura automobilística”. A própria descoberta dos bólidos é mostrada como um “cardápio”. Geralmente, o jogador recebe um menu com três carros e, conforme vence, vai liberando historinhas. Até pode ser legal no começo, mas fica maçante após algumas horas de jogo.
Gran Turismo, bebê!
Depois de umas – muitas – xícaras de Café, quando partimos para as pistas, é possível sentir o potencial do game. Gráficos lindíssimos, ótimo aproveitamento do DualSense e do áudio 3D, várias opções de carros e toneladas de personalização, de estética a customizações mecânicas, são os grandes destaques.
A começar pelo retorno das licenças. Nelas, você vai aprender os conceitos básicos de frenagem, controle de aceleração, tipos de motor e carros, traçados das pistas e como o clima impacta bastante na jogabilidade. São desafios de vários tipos, de alguns bem simples, a corridas inteiras que exigem um aproveitamento total das habilidades, principalmente se você for em busca dos troféus de ouro.
A evolução começa simples. Pouca grana e apenas um carro usado, meio caidinho. Por isso, o início da campanha demora um pouquinho, mas engrena em uma boa escalada de progresso.
Outro ponto de destaque do game são opções de acessibilidade. Há várias formas de experimentar Gran Turismo 7. Comece com todas as assistências habilitadas. Quando se sentir mais seguro, desative a assistência de linha de direção. Domine o traçado das pistas e desative o indicação de área de frenagem. Depois, controle de tração, assistência de contraesterço e assim por diante.
Ou jogue com tudo habilitado. O jogo não lhe obriga a nada. Você determina que tipo de experiência quer ter. O caminho é seu.
Se for pela linha sem assistência, cabe única e exclusivamente a você a evoluir. Neste ponto, o novo Gran Turismo se apresenta em sua ótima forma. É preciso entender nuances bem específicas para extrair o máximo de cada situação.
Uma pista com mais aclives e poucas retas pode exigir ajustes para uma melhor retomada de aceleração e troca de marchas mais curta, por exemplo. Já em circuitos como Daytona vale investir em carros com velocidades finais mais altas e bons sistemas de freios.
O ponto mais importante é: há toneladas de ajustes possíveis, e o jogo oferece todas as explicações sobre quais os papéis de cada peça nos carros. Obviamente, você não vai se tornar um mecânico, mas vai aprender rapidamente os conceitos básicos de cada componente e testá-los. Aliás, GT também é um grande laboratório de testes – que exige um pouco de paciência. Faz parte da jogatina.
E falar de Gran Turismo, claro, é falar de carros. E há muitos deles, mais de 400 modelos. De populares como o Honda Fit aos conceituais que nunca veremos nas ruas. Até a Tesla dá as caras com seu bonito Model S.
Atrelado a isso, há um conjunto de personalização abrangente, chegando a rivalizar com jogos focados em Tuning, com decalques, rodas, peças personalizadas, editor de placas e muito mais. E você pode registrar tudo isso com um modo fotográfico em cenários paradisíacos, na volta do Scapes. Mas de nada adiantaria esse monte de perfumaria, se na hora de ir para as pistas o jogo decepcionasse, certo?
Pois bem, não decepciona. Pelo contrário. É nas corridas que você vai, de fato, sentir!
A jogabilidade atinge seu auge no PlayStation 5 com os diferenciais next-gen. O game foi feito para o novo console por aproveitar muito bem seus recursos. Os carregamentos são super rápidos, os visuais estão incríveis e o DualSense dá um show.
No novo controle, as sensações são ótimas. Finalmente temos um jogo – após Astro’s Playroom – que aproveita totalmente as capacidades do joystick. Quase tudo é sentido nas mãos. Nos solavancos das pistas, os gatilhos variam de carro para carro. Até o ABS é representado. Ao frear bruscamente, por exemplo, eles vibram como se fossem os pedais, representando o sistema antitravamento.
Ao passar por uma poça d’agua, também há uma sensação de perda de controle. As vibrações da resposta tátil são bem diferentes de uma pista de rali para um asfalto. Até as trocas de marchas são sentidas. E se você contar com um headset sem fio PULSE 3D, a imersão fica completa. O som espacial “entrega tudo”, como dizem. Ao fazer uma ultrapassagem, o som vem exatamente do lado do carro. No início de corridas importantes, quando aviões sobrevoam o autódromo, o barulho é incrível.
Claro, uma experiência completa dessas com imagem em 4K, console next-gen e headset é para poucos, infelizmente. Porém, se este for seu caso, fica a sensação de que, finalmente, a nova geração está “acelerando”.
Mas tanto uso do DualSense pode ser considerado uma desvantagem, em outro sentido. A bateria do controle é consumida com rapidez (seis horas, em média), e se você não tiver uma segunda unidade ou mesmo um carregador, pode enfrentar este problema.
A jogabilidade, inclusive, sofre influência de elementos climáticos bem interessantes. Em situações mais úmidas, é necessário redobrar a atenção ao volante. O jogo simula determinadas circunstâncias como na medida que os carros passam, vai se criando um traçado mais seco e partes molhadas, afetando não só a aparência, mas o comportamento.
Se você está em alta velocidade, sair do traçado mais limpo e cair em uma poça, certamente vai aquaplanar, o DualSense vai refletir e pronto… sua corrida foi pro espaço.
Na verdade, tudo acaba afetando de alguma maneira no gameplay. O tipo de pneu, a potência aplicada, se seu carro tem ou não algum tipo de controle de tração, até a previsão de chuva. No game, existe uma espécie de previsão do tempo, indicando que vai chover nos próximos minutos, e se o jogador fez uma troca de pneus não pensando nisso, pode perder a prova.
Como um todo, a Carreira é bem distribuída. Há eventos bem na vibe Gran Turismo clássica, com restrições de tração, tipos de pneus, montadoras de regiões específicas e mais. Só não é exatamente muito grande. São necessárias cerca de 20 horas para vencer todas as provas e chegar ao fim.
Ainda que existam provas de vários tipos, as opções de rali são poucas e não há muitas provas longas. O que pode não agradar aos fãs de longa data. Outro ponto que também não funciona bem são os sorteios – roleta – de prêmios. Regularmente o jogo oferece um ticket que dá direito a um sorteio. Pode ser grana, carro ou peças. Acontece que pouquíssimas vezes será um item do seu agrado.
Sendo Gran Turismo um jogo que privilegia o bom desempenho, perícia e vitórias por merecimento, fica dissonante estas roletas de sorte. Ou, então, que fosse possível que os jogadores selecionassem os prêmios.
Além do Modo GT
Se em Gran Turismo Sport havia uma carência de conteúdos voltados para o single-player, GT7 chega ao mercado com um pacote bem mais honesto. Além da Carreira, há as Missões, um conjunto de desafios semelhantes as Licenças, as corridas Arcade, integradas dentro dos Circuitos Mundias – campanha – e o Rali Musical, um minijogo onde há uma contagem regressiva no ritmo de uma batida musical. É bem legal, mas há apenas seis opções no lançamento. E o estúdio promete mais adições ao longo do tempo.
Por fim, as opções online. Um Lobby para corridas multiplayer contra outros jogadores, onde é possível criar salas com regras de vários tipos e, basicamente, se divertir.
E o Sport, com campeonatos mais sérios, com regras bem rigorosas e forte apelo competitivo e desportivo está de volta. As sistemática é similar ao já visto no GT Sport. Eventos diários com horário para começar e terminar. Basta se inscrever no evento e aguardar o começo da corrida.
Mas, por recebemos o jogo com bastante antecedência, não conseguimos experimentar as opções com conexão à Internet em seu todo o seu potencial. Até conseguimos testar, e tudo funcionou adequadamente, mas as condições eram limitadas.
Bandeira amarela
Gran Turismo 7 faz uma ótima corrida, porém derrapava em algumas curvas. Apesar de funcionais, os menus são um pouco burocráticos. Faltam filtros mais efetivos para selecionar os melhores carros para competições específicas. Muitas vezes, é preciso ir e voltar até achar aquele que procura.
Os visuais no PS5 são incríveis. Os carros são muito detalhados (interna e externamente) em todos os sentidos, mas os ambientes fora das pistas não acompanham em qualidade. As pessoas nas arquibancadas e as estruturas são feias. Claro, não influencia na jogabilidade, mas merece menção.
Não há um modo Arcade explícito. São apenas corridas associadas aos eventos principais. Na forma como ficou disposto, parece que elas não estão lá. E a necessidade de uma conexão permanente com a Internet também é um ponto negativo. Mesmo se for jogar o Modo GT, ainda assim o jogador precisará estar conectado.
Outro ponto, mas este pode não afetar a todos. A Edição Especial de PlayStation 5 vem acompanhada de um código para versão de PS4 que não permite um upgrade gratuito.
E falando em PlayStation 4, a diferença entre as versões é grande. Os gráficos no console mais novo são muito mais bonitos. Além disso, os tempos de loading fazem uma enorme diferença no fim das contas. Um claro sinal de que a geração de 2013 começa a sofrer para rodar os jogos mais recentes.
Acelerou
Gran Turismo 7 chega oferecendo o que fãs queriam: Modo GT tradicional, personalizações em vários níveis – mecânicas e estéticas -, muitos carros, pistas clássicas de volta (Trial Mountain, Deep Forest e High Speed Ring), outros modos de jogo, competições online, trilha sonora muito legal e um aproveitamento das capacidades do DualSense e o do áudio 3D exemplares.
O game também faz um aceno para comunidade. Os corredores rivais são representados pelos jogadores profissionais de Gran Turismo Sport. Igor Fraga, brasileiro e um dos campeões do cenário, é figurinha carimbada nas primeiras posições do grid. Uma inserção muito bacana.
Derrapa pouco, com ênfase na necessidade de uma conexão permanente com à Internet e pelo Modo GT ter uma duração um pouco curta (por volta de 20h). Mas, definitivamente, é uma ótima experiência Gran Turismo, talvez a melhor desde Gran Turismo 4.
*Cópia do jogo enviada gratuitamente pela assessoria de PlayStation no Brasil.
Veredito
Gran Turismo 7
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Polyphony Digital
Jogadores: 1
Comprar com DescontoVantagens
- Gráficos incríveis
- Retorno do "Modo GT"
- Ótimo uso do DualSense
- Jogabilidade acessível, mas profunda
- Mais de 400 carros e 97 traçados de pistas
- Cultura do automobilismo
Desvantagens
- Exige conexão permanente à Internet
- Não tem upgrade gratuito
- Exagero de histórias
- Não há sistema de danos