Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça: vale a pena?
Rocksteady abandona sua principal qualidade: saber contar boas histórias
Com certeza, você já ouviu falar sobre Michael Jordan. Não importa se você acompanha basquete ou não, muitos o consideram como o maior atleta de todos os tempos. Mas, e Scottie Pippen? O ex-ala do Chicago Bulls não estava a altura de seu colega de equipe, mas sua participação foi igualmente importante para o sucesso da equipe nos anos 90.
A verdade é que Pippen ficou às sombras de Jordan mesmo com o troféu de campeão ter vindo somente após sua chegada. Guardadas as devidas proporções, a franquia Arkham é o Michael Jordan da Rocksteady enquanto Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça sofre em ficar debaixo de sua sombra. Mesmo com pontos positivos, o retrospecto do estúdio acaba pesando mais e não deixa o novo projeto com as melhores impressões.
E aqui vale uma ressalva: o jogo não é a catástrofe que muitos pintam. Suas mecânicas funcionam, os personagens são carismáticos e a jogabilidade é gostosa. Contudo, a escolha de fazê-lo um Jogo como Serviço (GaaS) denuncia a repetitividade excessiva das atividades, a pouca ênfase na história e os defeitos de não ter elementos importantes no gênero.
Basicamente, Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça descarta o potencial da Rocksteady em criar ótimas histórias para se apegar a uma estrutura na qual ela não soube desenvolver. No fim, temos um jogo que funciona, mas pouco inspirado. E só.
Mate a Liga da (in)Justiça
A história não dá rodeios e vai direto ao ponto. O vilão Brainiac invadiu Metropolis e enfeitiçou a mente da Liga da Justiça. Com os heróis manipulados, a agente Amanda Waller recruta a Força Tarefa X, um grupo de mercenários que estava preso, para… bem, para matar a Liga da Justiça.
Esse é o plot central e até há bons momentos de reviravolta com arcos que já vimos nos quadrinhos ou filmes de heróis. No entanto, os pontos principais da história são tratados com banalidade de maneira a tornar as mortes de grandes super-heróis, como o Flash ou Superman, em algo comum e nada marcante.
O problema não está em eliminar a Liga da Justiça – até porque o próprio nome do jogo revela que isso acontecerá, não é? – mas os desfechos dos heróis são muito anticlimáticos. A boss fight contra o Flash, por exemplo, é finalizada abruptamente como se a Força Tarefa X tivesse derrotado um minion qualquer.
E, novamente, o grande problema de Esquadrão Suicida é o peso do legado da franquia Arkham. Quem jogou Batman: Arkham Knight sabe como o arco do morcegão termina de maneira épica. O Protocolo Knightfall causou a explosão da mansão Wayne para que o mito do Batman durasse em Gotham, aterrorizando inimigos e protegendo a cidade. Toda essa construção é desfeita em cinco minutos quando o Esquadrão Suicida visita um museu de papelão que mostra como o Batman retornou das sombras para se juntar à Liga da Justiça.
A Rocksteady parece ter sacrificado sua principal qualidade em contar boas histórias para se aventurar no foco da jogabilidade. Isso fica perceptível durante todo o game, pois os diálogos entre os anti-heróis são engraçados e a construção do universo é violento, algo que encaixou bem na proposta. No entanto, tais elementos foram tratados com superficialidade para enfatizar o gameplay.
O estúdio pode até ter acertado no gameplay, mas a que custo?
O elemento X
Jogo como serviço (GaaS) valoriza o gameplay e, bem, aqui a Rocksteady acertou. Não foi em cheio, mas o resultado é satisfatório. A jogabilidade de Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça é o principal elemento para se divertir ao longo das horas investidas no título.
É possível escolher entre a Arlequina, Capitão Bumerangue, Rei Tubarão ou Pistoleiro desde o início do jogo. Cada um dos anti-heróis possui sua própria movimentação muito diferente uma da outra. Embora a verticalidade seja um quesito similar entre eles, a forma como eles se lançam, pulam e esquivam varia drasticamente. Dominar um mercenário não significa ter facilidade em controlar os outros três.
Se por um lado temos uma boa variedade de habilidades individuais e movimentações dos personagens, não é possível dizer o mesmo dos equipamentos e armamentos. Há basicamente quatro tipos de armas que possuem modificadores e estatísticas variadas. E a maioria do equipamento é sem identidade. A mesma minigun do Rei Tubarão é vista na Arlequina, sem nenhum diferencial ou apego.
Para quem se pergunta sobre o multiplayer, é curioso como ele não faz falta. Se você tem um squad de amigos, se divertirá da mesma forma caso não tenha com quem jogar. Na verdade, o game fica até mais fácil quando convida outros players.
A repetitividade pode cansar facilmente os jogadores. Do início ao fim, é necessário cumprir uma mesma sequência de missões, como proteger a carga ou eliminar os inimigos com modificadores. Completar todas as missões levam em torno de 20h, mas como todo GaaS, a campanha é apenas o início para novas atividades.
Chegar ao nível máximo dos anti-heróis libera uma nova árvore de habilidades e a última missão desbloqueia mais desafios. Contudo, novamente, a impressão deixada é que a Rocksteady estava mais interessada em apresentar uma aventura single-player de mundo aberto do que propriamente uma estrutura de missões/atividades para subir de nível ou obter loots. Essa “indecisão” deixa Esquadrão Suicida em um limbo no qual decepciona em ambos os lados.
Isso é Rocksteady
Apesar dos problemas do Acesso Antecipado, o novo título não sofreu com nenhum problema de bugs, quedas de frames ou problemas similares. Na verdade, é impressionante como existem muitos efeitos visuais na tela e uma movimentação frenética, mas, mesmo assim, o game roda sem nenhuma dificuldade. É uma aula para os outros estúdios!
Ainda nesse ponto, é importante destacar como Metropolis e todos os personagens são lindos. A cidade passa um ar de HQ que está à beira da destruição total enquanto os mercenários, vilões e inimigos contam com detalhes visuais muito bem elaborados.
Nesse momento, é importante também reforçar a qualidade da construção de personagens. Em vários momentos dá para notar os arcos dramáticos da Força Tarefa X e até mesmo da Liga da Justiça que está numa situação vulnerável. A mão da escrita da Rocksteady acerta no humor, na sátira, no deboche e na ironia, mas peca no timing que deseja acelerar tudo para voltar ao gameplay.
Por fim, a trilha sonora faz seu trabalho, mas nada tão chamativo. O que é especial é a dublagem brasileira. Guilherme Briggs como Superman, Duda Ribeiro como Batman e outros nomes clássicos estão no game. É divertido ouvir as mesmas vozes da animação no título, ainda mais oferecendo uma versão maldosa dos heróis.
Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça: vale a pena?
O novo game da Rocksteady fica abaixo daquilo que ele poderia ser. O legado da franquia Arkham pesa na balança e o novo projeto não conseguirá fugir das sombras dele. Além disso, a falta de identidade da estrutura do GaaS é muito forte, fazendo com que tudo no game fique mediano.
O jogo não é ruim, mas é superficialmente legal. Divertirá o jogador durante a campanha até causar fadiga. Para quem está acostumado com o gênero, o sentimento é amenizado, mas dependerá do suporte de endgame nos próximos meses.
Esquadrão Suicida é um air ball do estúdio. O que poderia ser o resultado de anos de experiência, se tornou um projeto que pouco chamará a atenção dos jogadores.
Veredito
Esquadrão Suicida: Mate a Liga da Justiça
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Rocksteady
Jogadores: 1-4
Comprar com DescontoVantagens
- Personagens muito carismáticos
- Humor irônico
- Desempenho estável
- Dublagem impecável
Desvantagens
- Batalhas muito anticlimáticas
- Receptividade excessiva de missões
- Pouca variedade de equipamentos
- Superficialidade nas atividades e exploração
- Endgame sem muitas opções ainda
- Nenhum grande diferencial para o multiplayer
- História sem impacto