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Disco Elysium — The Final Cut: vale a pena?

Um verdadeiro RPG de mesa para os consoles com muito texto e roteiro profundo

por Raphael Batista
Disco Elysium — The Final Cut: vale a pena?

A claridade da fraca luz incomoda as pálpebras. Tudo parece girar em um turbilhão de pensamentos e lapsos que parecem de outra vida. Acordar dói, pensar dói, viver dói. Mas você é alguém em uma missão, com um objetivo especial e é preciso desvendar isso. Disco Elysium começa dessa forma e é assim como a narrativa se desenvolve.

O título não esconde sua premissa: imergir os jogadores em um universo tão bem construído e escrito que suporta toda a experiência pela história. Quem se aventura no jogo não deve esperar momentos de ação, eventos quick times ou qualquer espécie de combate. Existe apenas a imaginação, a narrativa e os diálogos (que são muitos).

O intuito da desenvolvedora ZA/UM é justamente trazer os jogos RPG de mesa para um mundo virtual e ela foi bem sucedida na missão. Tudo é sobre o roteiro e o universo construído.

No início, tudo era escuridão

O game narra a história de um homem que acorda em um apartamento sem lembrar de nada, inclusive de sua própria feição. É a missão do jogador descobrir quem ele é, quais são seus objetivos e o porquê seu quarto está um caos.

Não demora muito para entender que Disco Elysium se preocupa em tratar questões morais, existenciais, filosóficas e políticas. Logo nos primeiros contatos com os habitantes de Revachol, cidade fictícia dos anos 50, é possível notar os ânimos exaltados de ideologias comunistas contra os burgueses e como isso implica no relacionamento entre todos. Como se isso não bastasse, o protagonista é informado sobre um assassinato que é, na verdade, o motivo por se encontrar na cidade: ele é um detetive!

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O jogo faz questão em tratar de temas sociais e dá ao jogador as possibilidades de abordagem.

As primeiras horas são bem confusas, ainda mais porque não existem cutscenes ou flashbacks. O jogador é obrigado a interpretar as informações somente por meio dos diálogos e pela interação entre o mundo e personagens. É preciso ler, vasculhar, questionar, pressionar, aconselhar ou não falar nada para compreender a realidade como ela é.

Tudo ainda é mais complexo em razão da personalidade deste policial que não lembra nem seu próprio nome. Durante suas descobertas, ele conversa consigo mesmo e com suas características internas, como a empatia ou a autoridade. Os diálogos são filosóficos e até cômicos, mas chegam a ser exaustivos, ao mesmo tempo.

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A reflexão interior é uma atividade constante do jogo.

Por causa da necessidade de entender o universo e a relação entre personagens, o ritmo de Disco Elysium começa muito lento. Para se interessar pela história, foi preciso umas cinco horas até as coisas engrenarem. Uma quantidade razoável diante da campanha concluída em 20 horas.

E da escuridão, o homem veio

A ZA/UM simula exatamente um jogo de RPG de mesa para os consoles, com foco no desenvolvimento do personagem. Os jogadores controlam apenas o protagonista e cada opção de diálogo, cada pista, cada interação é importante para a narrativa.

De certo modo, Disco Elysium reproduz características de jogos point and click em que é preciso coletar peças-chaves para desbloquear os caminhos. No entanto, o título possibilita consequências variadas baseadas nos atributos do protagonista e nas escolhas tomadas ao longo da jornada.

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Prepare-se para ler muito texto!

Logo no início, é possível escolher as principais habilidades do personagem, como aumentar o porte físico para intimidar os mais fracos ou melhorar a capacidade de dedução. Conforme as missões são completadas, mais pontos de experiência podem ser atribuídos para outras áreas. Entretanto, as aptidões selecionadas abrem algumas portas enquanto fecham outras.

Por exemplo, criar um personagem musculoso facilita abrir a passagem impedida pelos trogloditas racistas, mas dificulta o diálogo com algum intelectual mercador que possui informações privilegiadas. Cabe ao jogador decidir a abordagem principal.

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Há muitas possibilidades baseadas nos atributos do protagonista.

É interessante notar que o objetivo do jogo é promover uma experiência imersiva, então não espere “criar a sua própria história” porque a narrativa deseja chegar a um ponto específico. No entanto, os diálogos e escolhas feitas no mundo implicam em quem sobrevive, na moral do personagem e nos finais diferentes.

E para o mundo a humanidade se foi

A experiência de Disco Elysium toma grandes proporções conforme os jogadores conectam os personagens com eventos, lugares históricos com as ideologias e, principalmente, motivos com o assassinato. Embora o homicídio se perca em alguns momentos, ele continua sendo o núcleo de toda a trama.

Enquanto buscam por respostas ou esperam o momento certo de agir, os jogadores podem acatar outras tarefas espalhadas pela cidade de Revachol. É fácil perder o foco nesta hora porque são muitas atividades (descobertas somente quando o protagonista conversa com as outras pessoas) e, bem, conversar é a única ação do game.

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Há muitas atividades em Revachol, mas são desbloqueadas em diálogos com os personagens.

Como levar uma experiência somente pelos diálogos? A resposta está no roteiro construído. O jogo não esconde seu lado humano que se contradiz o tempo todo: o livre mercado versus o estado máximo, a liberdade versus regimes ditatoriais, a vida humana versus os segredos do universo. Todos são temas muito bem elaborados e nada fictícios.

Somado ao script, o personagem e seu parceiro, Kim Kitsuragi, são carismáticos com seus dilemas e pensamentos. Obter respostas de enigmas ou de perguntas difíceis é tão satisfatório quanto customizar o policial com muito (ou pouco) estilo para melhorar atributos específicos.

Disco Elysium dá uma aula de narrativa, roteiro e enredo, e isso é capaz de carregar toda a experiência.

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O estilo é cafona, mas as melhorias são boas!

E para a escuridão ela se voltou

Disco Elysium oferece uma verdadeira experiência dos RPGs de mesa no console. É possível construir um personagem com atributos variados enquanto desvenda respostas ao conversar e interagir com os itens do mundo.

Contudo, o jogo sofre de problemas técnicos bem chatos no PS5. Os loadings demorados são constantes — algo bastante contraditório em razão do seu peso. A cada transição de ambiente há uma tela de carregamento que dura entre 5 e 10 segundos. O problema é isso acontecer sempre e, como o jogo incentiva a exploração, essas telas são recorrentes de forma exagerada.

Além disso, os sons das vozes dos personagens falham quase a todo momento, quebrando a imersão na história. Isso é um defeito grave em razão de um dos diferenciais do “Final Cut” ser justamente a disponibilidade da dublagem para todos os personagens. A única voz que não falhou foi a do protagonista, mas os demais “perderam as cordas vocais” no meio da frase ou no início do diálogo.

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A cada transição de cenário, há uma tela de loading bastante irritante.

Por fim, o grande “problema” está no seu próprio objetivo. O game simula um RPG de mesa, portanto, não há nenhuma ação ou momento mais movimentado, os próprios comandos são bem travados. É importante lembrar-se disso para não esperar um combate ou algo mais dinâmico. Inclusive, os próprios confrontos que existem no jogo acontecem na rolagem de dados, algo totalmente típico dos RPGs.

Ainda sim, não são defeitos que destroem o brilho da narrativa. Embora o jogo seja cansativo às vezes, os resultados das ações e as consequências das escolhas tomadas recompensam o tempo investido no game.

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A sensibilidade de Disco Elysium é palpável.

O que pode assustar é o valor, um pouco salgado no momento. Na PS Store, o game é encontrado por R$ 214,90. O custo-benefício é baixo porque não há um Novo Jogo+ nem a possibilidade de completar as histórias paralelas após a campanha. É preciso fazer tudo em uma única run. Por isso, esteja ciente disso.

Por mais que a versão seja o “Final Cut”, o conteúdo inédito não é tão impactante. Há novos cenários, missões e itens, mas a experiência principal permanece a mesma.

Disco Elysium – The Final Cut traz o aclamado RPG para os consoles, mostrando o porquê foi tão elogiado com seu roteiro e história. Em uma campanha de 20 horas, os jogadores poderão se encantar com a narrativa, desde que estejam dedicados a ler muito. Não é um game para “experimentadores” do gênero, mas sim para quem já sabe o que vai encontrar.

Veredito

Disco Elysium - The Final Cut
Disco Elysium - The Final Cut

Sistema: PlayStation 4 | PlayStation 5

Desenvolvedor: ZA/UM

Jogadores: 1

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85 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Roteiro e narrativa impressionantes
  • Um verdadeiro RPG
  • Personagens cativantes e totalmente críveis
  • Imersão inquestionável
  • Dosagem de humor, drama, investigação na medida correta
Desvantagens
  • Bugs nos áudios do jogo
  • Loadings demorados no PS5
  • Às vezes, o ritmo é bem chato
Raphael Batista
Raphael Batista
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Jogando agora: Dragon Age: The Veilguard | LEGO Horizon Adventures
Formado em Teologia e apaixonado por PlayStation desde sempre. Jogos preferidos são The Witcher 3, Metal Gear Solid, God of War e Marvel's Spider-Man.