Demon’s Souls: vale a pena?
Remake da Bluepoint Games é uma primorosa estreia no PS5
Você morreu. Essa frase resume bem a experiência com Demon’s Souls. Você morreu porque não era experiente o suficiente e não sabia que um único golpe poderia matá-lo. Porque tentou enfrentar vários inimigos ao mesmo tempo. Porque não se esquivou no momento correto. Porque, após boas horas de jogatina, já se achava o próprio Rei Arthur e foi mortalmente ferido por um monstrengo escondido.
Você morreu.
Mas não desistiu. Aprendeu que cada luta é uma batalha diferente e exige cautela. Soube ler o cenário e já traçar uma rota de fuga se fosse necessário. Desenvolveu suas habilidades, forjou seu guerreiro com sangue, suor, lágrimas e almas, muitas almas.
Demon’s Souls coloca à prova os jogadores e finca uma lâmina em quem achava que a tal nova geração não seria lá essas coisas. Não só isso. O remake alça a Bluepoint ao patamar de um dos melhores estúdios de videogames da atualidade.
A Bluepoint Games
Após os sucessos de Uncharted: The Nathan Drake Collection e Shadow of the Colossus, a Bluepoint nos brinda com uma recriação, possivelmente, melhor que o original. Quase tudo é bem impressionante.
De gráficos muito bonitos, passando por uma sonoplastia tocante, chegando a uma mecânica de gameplay instigante. É uma belíssima obra, fiel ao original, para o bem e para o mal.
Se você experimentou o clássico de 2009, se lembrará dos padrões dos inimigos, dos segredos das passagens escondidas, dos itens, das armas, cenários… De tudo. Salvo alguns detalhes, o jogo é o mesmo.
Reforçando o quão respeitosos foram os desenvolvedores, é semelhante a Shadow of the Colossus. Apenas refinamentos – modernização – de alguns comandos e melhorias.
Mas aqueles velhos incômodos com uma câmera às vezes te colocando em situações ruins – como se a dificuldade já bastasse -, menus pobres e uma narrativa que não faz nenhuma questão de ser clara, também vieram no pacote.
Só não se deixe enganar. O remake é brilhante.
Ele oferece uma experiência next-gen bem bacana, com um visual de encher os olhos, carregamentos muito rápidos e os recursos do DualSense, embora não tão imersivos como em Astro’s Playroom.
O nível de detalhes está incrível, a começar pelas expressões faciais logo no começo da criação do personagem. Cicatrizes, marcas de expressão, pele e tudo mais… Muito vistosos no PS5. Agora é possível fazer um herói com uma aparência digna.
E não é só isso, o desempenho técnico está muito otimizado. Demon’s Souls é aquele jogo que você coloca para mostrar aos seus amigos os gráficos de nova geração. O cartão de visitas.
Há duas opções: cinemático, com jogo rodando em 4K nativo a 30 FPS, ou 4K dinâmico a 60 FPS. A primeira parece tentadora, por ser visualmente muito chamativa. É, definitivamente, o título mais bonito do PS5 até aqui.
Mas quando você seleciona o desempenho, e joga a 60 FPS, nunca mais vai cogitar a outra possibilidade. A diferença é gritante. O jogo é muito mais fluído, responsivo e prazeroso.
Só faltou mesmo uma aplicação de ray tracing. Infelizmente, o game não conta com esta opção.
Alma
Apesar de ter toda uma lore repleta de nuances, a trama de Demon’s Souls não é merecedora de um Oscar. Assim como nos demais jogos da FromSoftware (estúdio original), a narrativa é muito mais centrada na jornada do que no storytelling.
Um dos Reis de Boletaria abusou do uso das almas para tentar tornar seu reino próspero e vistoso, mas um estranho nevoeiro cobriu todas as terras, trazendo consigo corrupção e monstros terríveis.
Aqueles que ousaram enfrentar a névoa nunca voltaram. Apenas uma pessoa conseguiu sair e revelar o que estava acontecendo. Na realidade, o Rei acabou despertando uma antiga besta e cabe a você, o escolhido, entrar na névoa, vencer todos os demônios e colocar ordem nas coisas.
São cinco “mundos” para explorar, vencendo aberrações, juntando almas, coletando armas e incrementando suas habilidades. E todos absolutamente maravilhosos, com construções, pântanos, cenas desoladas, daquelas que você simplesmente fica admirando.
Só não espere encontrar uma sexta Archstone. O remake não conta com adições. Uma boa diferença entre os pares soulslike é que os jogadores podem explorar os mundos em ordens diferentes. Não é como em Bloodborne, onde se segue uma rota.
Mas a despeito dos visuais e da história, a alma deste jogo está na sua jogabilidade visceral. Ele faz com que o jogador teste seus limites de resiliência, persistência e vontade de vencer. Não é tipo de jogo para descontrair. É para vencer, para superar não só os oponentes, mas a si próprio.
E ele não traz exatamente uma movimentação primorosa ou bonita. É duro, pesado; carrancudo. Parece que tudo foi feito para este fim.
Na realidade, Demon’s Souls conta com menus pobres, não bem dispostos, falta de clareza em como construir as melhores combinações e em evoluir o personagem. Mas isso também é parte da experiência. Descobrir como as coisas funcionam e extrair dali algo que possa lhe ser útil na jornada é quase uma diversão sadomasoquista.
Vale a pena?
No fim, sempre acabamos chegando a pergunta: vale? Demon’s Souls é inquestionável na sua proposta. É uma jornada intimidante, de aprendizado e superação – quase uma conversa de coach.
Seus gráficos são incríveis, sua sonoplastia é ressonante e a jogabilidade hipnotizante. É praticamente uma mosca azul te picando. Depois de um tempo, o jogador está completamente envolvido em tentar avançar.
Se você comprar um PS5 e estiver disposto a um baita desafio, sem dúvida vai valer muito.
Veredito
Demon's Souls
Sistema: PlayStation 5
Desenvolvedor: Bluepoint Games
Jogadores: 1 Jogador
Comprar com DescontoVantagens
- Visuais incríveis
- Modo desempenho maravilhoso
- Sonoplastia irretocável
- Visceral (apesar de difícil)
Desvantagens
- Menus ruins
- Jogabilidade um pouco travada