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Deathbound: vale a pena?

Eficiente e bem conceituado, Deathbound é uma experiência profunda feita por quem realmente entende de soulslike

por André Custodio
Deathbound: vale a pena?

Falar de soulslike é sempre muito complicado: ame ou odeie, esse gênero estabelecido pela lendária FromSoftware ainda guarda mágoas em muitos entusiastas de jogos. E sempre em meio às discussões nas redes sociais, ele sabe bem como ser nichado.

E mesmo em meio a esses desafios de se estabelecer como mais acessível, a Trialforge Studio, desenvolvedora brasileira, foi em frente e lançou Deathbound, título inspirado em Dark Souls que é dotado de uma originalidade ímpar.

Elementos do gênero retornam neste game de ação, enquanto mecânicas inéditas deixam tudo ainda mais versátil e estratégico. Mas, assim como no meio tradicional, a dificuldade acentuada está lá e não perdoará caso você cometa um erro.

Está pronto para embarcar nessa aventura brutal e para dar uma chance ao Deathbound? Podemos antecipar que você não irá se arrepender caso responda “sim”. Confira abaixo a análise completa do game:

A reconstrução de um mundo em ruínas

Eras atrás, a humanidade foi condecorada pela imortalidade. Na época, a prosperidade tomava conta de Akrátya, com a tecnologia sendo a solução para que o desejo pela paz se perpetuasse mesmo entre os mais instáveis.

Repentinamente, um poder divino agiu e removeu o dom que tornava as pessoas imortais, como forma de se vingar de sua irmã, a Deusa da Vida. Assim, deu-se início a uma nova era, agora ambientada em um mundo de ruínas dominado pela guerra e pelo mal.

Deathbound
Fonte: André Custodio

Com o desejo de restabelecer a vida eterna, um grupo de alquimistas começou a praticar experimentos biológicos, mas acabou transformando seres vivos em criaturas infernais. E agora, o preço que o mundo pagará pela ambição será caro.

Misteriosamente, um templário se torna receptáculo para a alma de seis guerreiros atemporais. E com plena consciência dessa nova oportunidade de fazer justiça, eles se juntam em um só corpo para assegurar, de forma definitiva, um futuro para quem está na terra.

Deathbound
Fonte: André Custodio

Deathbound é um RPG de ação em terceira pessoa, que mergulha profundamente no estilo soulslike para trazer uma experiência muito punitiva. Baseada em mundo semiaberto, ela tem um amplo foco narrativo, apesar de se concentrar muito mais no gameplay.

Todos os elementos que fizeram sucesso em Dark Souls estão lá: “fogueira”, construção de build, sentimento de progressão, chefes desafiadores e level design não-linear. Além disso, o conceito de “resetar” mundo com descanso se faz presente ao lado do XP perdível.

Deathbound
Fonte: André Custodio

Para quem já está acostumado com esse estilo, Deathbound é um verdadeiro deleite. Claramente o game foi feito por quem entende do gênero, mantendo-se fiel à cada esquina e local revelado. Além disso, o título traz referências ao terror visual, com criaturas bizarras.

Tudo isso resulta em uma experiência muito consistente. Há uma grande satisfação ao derrotar chefes, apesar do caminho ser naturalmente — ou até mais — árduo. Além disso, é um game bastante recompensador, com uma campanha de 15h a 20h de duração.

Não se engane: Deathbound é um típico soulslike

Não há espaço para soulslite aqui: Deathbound é um souslike por essência. Porém, algumas mecânicas aprimoram esse estilo de jogo e o tornam bastante único, oferecendo meios mais estratégicos de gameplay em comparação aos nomes tradicionais.

Enquanto nos games da FromSoftware é possível expandir os frascos de recuperação de HP, o game da Trialforge Studio não oferece essa opção. Porém, essa limitação é compensada com um ótimo sistema de compensação de dano causado.

Deathbound
Fonte: André Custodio

O título também é bastante favorecido pelo ótimo level design. A exploração no game é surpreendentemente recompensadora e esconde desde anéis e artefatos com muitos benefícios a atalhos muito eficientes e favoráveis.

O conceito de mundo se destaca no game, com uma atmosfera pesada e, até mesmo, elementos de terror. Há profundas semelhanças com a proposta visual de Morbid: The Lords of Ire, com uma violência gráfica absurda, muito sangue e elementos de profanação.

Deathbound
Fonte: André Custodio

Isso não é entregue de graça: a lore de Deathbound é profunda e se relaciona a poucos documentos, a Ecos do Passado, a diálogos e a interações em CGI para ser construída. Ela chama a atenção por ser completa e, ao mesmo tempo, justificada, bem como intrigante.

Fãs de Dark Souls também podem esperar descansos, uma grande árvore de habilidades, opções de upar itens e suas vantagens, e muitos, mas muitos itens consumíveis. De fato, o game brasileiro traz um cenário completo para quem curte jogos desafiadores.

Deathbound
Fonte: André Custodio

E outra: não há opção de dificuldade. Mesmo assim, o game não deixa de ser acessível, apesar de haver chefões um pouco mais complicados, áreas com inimigos até mesmo injustamente distribuídos e perigos absolutos a cada corredor descoberto.

E se você quiser correr atrás da platina ou de desafios ainda maiores, Deathbound conta com um Novo Jogo+ já em seu lançamento. Ele carrega tudo que foi obtido durante a campanha principal, mas aumenta consideravelmente a força dos adversários.

Use e abuse de Morphstrike

Nunca ouviu falar de Morphstrike? Bom, isso é perfeitamente compreensível. Essa mecânica é algo inédito visto na categoria de jogos souls. Basicamente ela existe por conta de algo muito interessante implementado em Deathbound: o gameplay cooperativo.

Mas a cooperação não ocorre por meios tradicionais, jogando com um ou mais amigos; e sim de forma totalmente single-player, com a troca de personagens acontecendo em tempo real e sob o comando único do jogador — tudo com apenas um toque no direcional.

Deathbound
Fonte: André Custodio

Ao todo, a equipe de Deathbound pode ser composta por até sete personagens, cada um com seus atributos, habilidades e fundo narrativo. Há magos, assassina, cavaleiros tanque, uma poderosa lanceira e o melhor de todos: o capoeirista.

Ao longo da campanha, os membros da equipe conversam entre si e esclarecem diversos eventos de suas histórias, contando com uma excelente dublagem e com legendas em português do Brasil para menus e textos.

Deathbound
Fonte: André Custodio

Enquanto isso, o gameplay é intuitivo, sendo bastante favorecido pela mecânica do Morphstrike. A partir dela, é possível combar com cada um dos personagens, realizando trocas instantâneas durante esquivas, contra-ataques e golpes especiais.

Ela também funciona a partir de uma barra, que aumenta a partir da progressão, dos ataques e das esquivas. E como não pode faltar em um jogo souls, Deathbound possui recursos de parry, mas compatível apenas com alguns guerreiros; o que é interessante e versátil.

Deathbound
Fonte: André Custodio

Construir uma build baseada em Morphstrike é muito interessante, especialmente se você não possui familiaridade com o gênero de jogo. Como o título oferece essa ferramenta, há como deixá-la ainda mais poderosa. Então, para isso, não deixe de focar no caminho.

Jogo com alto fator replay, mas tecnicamente falho

Deathbound realmente não engana; são mais de 25h de gameplay fácil. Novo Jogo+, colecionáveis, recursos de aprimoramento, eventos narrativos únicos, algumas atividades paralelas e desafios expandem bastante o fator replay.

A ambientação ricamente detalhada também convida os jogadores à exploração, mantendo segredos que devem escapar mesmo diante dos olhares mais atentos. Além disso, o game possui um design de personagens interessante, feitos através de técnicas manuais.

Deathbound
Fonte: André Custodio

Outro detalhe fica por conta da imersão completa pelo DualSense. Todos os recursos do controle são utilizados com frequência e eficiência: autofalante, gatilhos adaptáveis, feedback tátil e LED. Um ótimo projeto de nova geração.

Obviamente, há alguns problemas técnicos, em especial. Deathbound possui bugs visuais, de colisão e na inteligência artificial, assim como a tradicional câmera quebrada — que não é mais bug, mas sim feature. Porém, tudo isso pode ser contornado posteriormente.

Além disso, o título carece de uma maior variedade de inimigos, sendo muitos deles reskins de criaturas originalmente introduzidas. Enquanto isso, as animações em CGI são um pouco “atrapalhadas”, prejudicando uma imersão mais profunda.

Dessa forma, em especial nessas questões, há uma impressão de algo inacabado ou feito ás pressas. Isso pode ser percebido também pelo ritmo da história, que depois do segundo ato parece evitar uma elaboração mais coerente (devido ao grande apelo aos flashbacks).

Deathbound: vale a pena?

Deathbound é um game brasileiro surpreendentemente bom. Excetuando algumas falhas técnicas, o jogo homenageia genuinamente seus “pais”, contando com uma história original e progressiva e com um combate brutal.

Assim como nos souls, cada erro é passível de punição. Porém, o mundo oferece todas as ferramentas para que os jogadores tenham sucesso no caminho. Além disso, sua bela arte ambiental traz um universo brutal que convida o público à exploração.

O game é muito recomendado para fãs do gênero e merece uma chance mesmo do público mais casual. O RPG de ação mantém um alto grau de dificuldade, mas com um charme que o transforma em uma experiência, de fato, única.

Deathbound será lançado nesta quinta-feira (8) para PS5, Xbox Series e PC.

Veredito

Deathbound
Deathbound

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Trialforge Studio

Jogadores: 1

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73 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Ótimo sistema de progressão
  • Level design intuitivo e bem construído
  • Excelente sistema de troca de personagens
  • Boa variedade de chefes com movesets imprevisíveis
  • Ambientações muito bem detalhadas
  • Lore narrativa bastante original
  • Bom tempo de campanha
  • Novo Jogo+ e diversos conteúdos que expandem o fator replay
  • Suporte completo aos recursos do DualSense
  • Design dos personagens é bem inspirado
Desvantagens
  • Bugs visuais e na inteligência artificial
  • Distribuição de inimigos poderia ser mais equilibrada
  • Animações em CGIs carecem de polimento
  • Baixa variedade de inimigos
André Custodio
André Custodio
Redator
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Jogando agora: Awaken: Astral Blade, Diablo IV
Fã de jogos de terror e desbravador de soulslike vez ou outra. Consegui me livrar de FIFA por motivos pessoais (ruindade) e hoje me sinto uma pessoa melhor. Também curto platinas, mas não vou atrás de algo que me tira do sério.