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Dead Rising Triple Pack: Vale a Pena?

por Hugo Bastos
Dead Rising Triple Pack: Vale a Pena?

Em comemoração ao aniversário de 10 anos da franquia, a Capcom anunciou, em agosto deste ano, o lançamento de Dead Rising Triple Pack, trazendo ao PlayStation 4 a remasterização do ainda inédito no universo PS Dead Rising, lançado exclusivamente para XBox 360 em 2006, Dead Rising 2, este já lançado para PlayStation 3 em 2010, e Dead Rising 2: Off The Record, lançado em 2011.

Para aqueles que nunca jogaram qualquer um dos games da franquia, ou sequer ouviram falar sobre eles, não se enganem. Dead Rising não é um jogo de horror. Trata-se de um “survival horror beat’em up de mundo aberto”. O jogador controla um personagem, que precisa realizar uma série de missões, com um tempo específico. Em seu caminho estarão humanos, que ficaram loucos pelos acontecimentos atuais, ou se aproveitaram deles para tirar alguma vantagem. E os ditos zumbis. Muitos, MUITOS zumbis.

Para se defender e abrir caminho, o jogador conta com um arsenal de armas peculiar: qualquer coisa. Mesmo. Sacos de lixo, tesouras, bancos de praça, cortadores de grama, ursos de pelúcia, armas de água, cabides, CDs, espadas medievais, a lista é quase infinita. E estas ainda podem ser combinadas entre si, gerando armas ainda mais poderosas e divertidas, como um balde com furadeiras que, quando colocadas na cabeça de um zumbi, a dilaceram completamente.

O primeiro jogo foi desenvolvido pela Capcom, e os demais pela Blue Castle Games (agora Capcom Vancouver). Criação de Keiji Inafune, pai da franquia Megaman, os jogos estão repletos de referências a outros games da produtora, seja de forma explícita, seja de forma mais sutil.

Poster representando um suposto filme de Megaman 2. Tais referências são constantes nos jogos
Poster representando um suposto filme de Megaman 2. Tais referências são constantes nos jogos

Muito sangue, muitas partes voando, muita diversão, nada de novo. Apesar de trazer um jogo ainda não visto nas plataformas PlayStation, e de dar uma roupagem mais bela aos outros dois, nada de mais foi acrescentado ao pacote. Contrariando a onda de remasterizações que o mercado vê, Dead Rising Triple Pack é exatamente isso. Os três jogos. Remasterizados. Só.

Um Novato, Dois Velhos Conhecidos

Ao partir em uma jornada, você deve conhecer por onde deverá seguir. Partindo desse princípio, conheceremos um pouco de cada jogo, antes de falarmos do pacote completo. Vamos falar da remasterização como se fosse um “novo” jogo.

Dead Rising, o primeiro jogo e o novato do grupo, conta a história de Frank West. Jornalista freelancer, vai parar na cidade fictícia de Willamette, Colorado, e descobre que o exército declarou quarentena na cidade. Acaba preso no shopping, e da pior forma, descobre que Willamette foi vítima de uma praga zumbi. Agora precisa lutar contra hordas deles, e descobrir a verdade, enquanto tenta descobrir em quem confiar, e tenta salvar outros sobreviventes.

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Um bom jornalista não espera a notícia vir até ele. Ele vai até a notícia…

Dead Rising 2 já mostra uma história mais sombria. Ela acontece 5 anos após o primeiro, em Fortune City, Nevada, e traz Chuck Greene, que participa de um reality show chamado “Terror is Reality (TIR), para conseguir dinheiro e comprar Zombrex para sua filha Katey. Zombrex é uma droga que permite que as pessoas não se transformem em zumbis (ela foi mordida por sua mãe zumbificada um ano antes). Só que, após sua apresentação, as coisas dão errado, os zumbis escapam, e Chuck tem que lutar por sua vida e pela de sua filha, até que as Forças Armadas cheguem à cidade.

Não há nada que um pai não faria pela sua filha. Especialmente para salva-la de uma horda faminta de zumbis...
Não há nada que um pai não faria pela sua filha. Especialmente para salva-la de uma horda faminta de zumbis…

Dead Rising 2: Off The Record não é uma continuação, mas uma reimaginação. Um episódio do tipo “what if”: o que aconteceria se, ao invés de Chuck Greene, tivéssemos Frank West de volta? Nesse cenário, após os acontecimentos de Willamette, Frank West acabou com sua fama e fortuna por conta de seu comportamento inadequado. Recebendo uma proposta de Tyrone King (o anfitrião do programa Terror is Reality), acabou indo parar nos palcos do TIR, e agora luta por dinheiro. Só que as coisas dão errado (novamente), os zumbis escapam (novamente), e ele precisa sobreviver até o exército chegar, em três dias (novamente).

Fama e responsabilidade quase nunca se casam bem...
Fama e responsabilidade quase nunca se casam bem…

Gameplay Nosso de Cada Dia

As mecânicas dos jogos permanecem inalteradas. Assim, alguns jogadores podem estranhar, em um primeiro momento, a maneira como o jogo deve ser conduzido. Sendo jogos que foram lançados há alguns anos, especialmente o primeiro, é de se esperar um certo desconforto, visto que não houve uma atualização.

Para começar, o ataque não é feito com os gatilhos do controle. Dessa forma, para que o jogador acerte os alvos, é necessário ajustar a mira previamente com o direcional R3. O jogador deve estar de frente para onde deseja atacar e apertar quadrado. Os controles não são personalizáveis, e isso leva tempo para se acostumar.

Em uma situação assim, ajustar a mira é arriscado, perigoso e pode te fazer virar comida...
Em uma situação assim, ajustar a mira é arriscado, perigoso e pode te fazer virar comida…

Não há um sistema de mira propriamente dito. Mas o sistema de combate é refinado, de forma que o jogador não tenha mais dificuldade em acertar partes específicas dos inimigos. Especialmente quando cercado por muitos.

O sistema de salvamento também é diferente. Não há salvamento automático. Os pontos de salvamento podem ser sofás ou banheiros, locais onde pode descansar. Esse sistema tem um revés. Se a energia cair, ou se houver algum erro e o jogo for fechado (o que ocorreu com certa frequência), o jogador perderá todo progresso não salvo. Isso pode significar horas e horas perdidas (especialmente no modo infinito, onde não é permitido salvar o progresso).

Mas essa mecânica, por incrível que pareça, casa-se muito bem com a proposta das missões dos games. De todos eles. Estas são baseadas em tempo. Cada uma delas tem um tempo específico para ser encontrada e completada, seja ela missão de história ou opcional. Falhe, e ela será dada como falha para sempre. Mesmo. E isso acarretará em um final diferente. E é importante lembrar que cada jogo possui múltiplos finais, então é certo que os jogadores tentarão completar (ou não) o máximo de missões possível para ver todos eles.

As missões ocorrem em horários específicos. Fique atento para não perder a oportunidade de descobrir a verdade
As missões ocorrem em horários específicos. Fique atento para não perder a oportunidade de descobrir a verdade

Isso dá aos jogos um clima de tensão e suspense. Determinadas missões só ficam disponíveis ao se completar outras. Algumas missões demorarão tanto que tornarão outras impossíveis de serem acessadas, de início. O que quer dizer, também, que dificilmente o jogador conseguirá completar 100% das missões na primeira vez que jogar.

Isso porque o jogo também baseia-se na evolução do personagem. A medida que evolui, o jogador adquire melhores atributos e habilidades diferentes, que o tornam uma máquina de matar (?) zumbis mais eficiente.

Para aqueles que se interessam em caçar troféus, todos os jogos vem com um troféu de platina cada. Muito embora Dead Rising 2 e Off The Record tenham a mesma lista de troféus que suas contrapartes da geração passada, Dead Rising possui uma lista nova, o que certamente gera interesse extra. E tendo em vista que são troféus que demandam tempo considerável  e são um tanto desafiadores (como sobreviver a 7 dias no modo infinito), tenha em mente que muitas horas de diversão estão garantidas.

Dead Rising Fashion Week

Roupas. A parte mais divertida do jogo. Mesmo Dead Rising 2, que tem a temática mais sombria dos três jogos torna-se extremamente divertido. E mesmo que não altere em nada o gameplay, vale a pena comentar sobre elas.

Você pode se vestir como quiser no curso do jogo. Não quer dizer, obviamente, que deve...
Você pode se vestir como quiser no curso do jogo. Não quer dizer, obviamente, que deveria…

Existem inúmeras lojas espalhadas pelos cenários. E essas lojas tem as mais variadas temáticas. Lojas de esportes, de roupas de negócios, femininas, infantis, não importa. O que o jogador puder imaginar, pode encontrar. E, como Dead Rising Triple Pack se trata de jogos de mundo aberto, o jogador tem a liberdade de ir onde quiser, fazer o que quiser.

As roupas adicionam um tempero especial, e se o jogador souber o que vestir, pode ainda encontrar referências de outros jogos, como um certo vilão de um outro certo jogo de zumbis da produtora.

...Wesker?
…Wesker?

Diamantes São Eternos. Armas não.

Matar zumbis nunca foi tão divertido. Em Dead Rising Triple Pack, o jogador terá três vezes mais oportunidades de se divertir, e se esquecer completamente das missões que precisa fazer. E isso não é eufemismo: um dos principais motivos pelos quais os jogadores simplesmente se esquecem do jogo em si é o fato de que estão ocupados testando aquela nova cadeira de rodas foguete.

Um balde com furadeiras? Claro, por que não?
Um balde com furadeiras? Claro, por que não?

Como dito anteriormente, quase tudo no jogo pode ser usado como arma. Desde o primeiro game, o jogador irá se deparar com armas inusitadas, como baldes, guitarras, tacos de baseball, cadeiras de lanchonete… Uma gama muito variada de itens, encontrados em todos os lugares possíveis. Armas de fogo também podem ser encontradas, mas elas não são, nem de perto, tão divertidas de usar.

No primeiro jogo, é possível se usar armas diversas. São mais de 250 tipos diferentes. Nos dois seguintes, é possível combina-las usando combo cards, cartões de combinação, que permitem criar armas ainda mais estranhas. Uma granada em uma bola de futebol americano? Claro. Motosserras em um remo? Pode também.

Quanto mais cartões colecionar, mais armas malucas vai poder criar
Quanto mais cartões colecionar, mais armas malucas vai poder criar

Há uma sensação sublime em matar zumbis nestes jogos. Especialmente com as armas cortantes. A preferida deste revisor é uma espada medieval, encontrada na entrada do Casino Americana, em Dead Rising 2. Cortar zumbis com ela é como cortar pudim. E, para mostrar com precisão como é isso, segue abaixo um pequeno vídeo, demonstrando esse momento excepcional (magnífico, soberano, entre tantos outros adjetivos).

Além das armas, o jogador também destrava veículos espalhados pelos cenários. A moto usada por Chuck Greene no início do jogo, e os veículos em exposição que o jogador vê no decorrer das missões, podem ser acessados. Excetuando a moto de Chuck, não chegam a ser divertidos.

Se vai usar algum veículo para a matança (?), escolha a moto de Chuck.
Se vai usar algum veículo para a matança (?), escolha a moto de Chuck.

Mas então verifica-se o que é considerado o ponto mais negativo dos três games: as armas não duram muito, inicialmente. Sua durabilidade é limitada, e uma vez que ela se acabe, a arma se perde para sempre. Então, ou o jogador vai atrás de outra, ou ele se contenta em utilizar outras armas.

Apesar de não parecer muita coisa, jogos como Dead Island já implementam uma mecânica de reparo de armas. Existem salas de manutenção espalhadas pelos jogos, que poderiam ser utilizadas para reparo das armas, antes que elas se quebrassem. O que, infelizmente, não é feito.

"We will... we will... rock you!!!
“We will… we will… rock you!!!

Revistas espalhadas pelos cenários aumentam a durabilidade das armas (além de fornecer outros bônus ao jogador), mas nada que as faça durar permanentemente. Muitas delas podem ser encontradas facilmente. Outras são mais raras, o que vai dificultar que o jogador faça outras delas novamente.

Jogos (Quase) Bonitos na Foto

Indo direto ao ponto, os gráficos do jogo realmente tiveram uma melhora considerável. Mas não é o que foi prometido pela Capcom. Os zumbis parecem mais “mortos”, e a violência gráfica é mais nítida. As armas tem um peso melhor. O impacto é mais sentido, e algumas delas funcionam ainda melhor.

No entanto, não é algo que esteja a altura do poder do PS4. É claro que os gráficos estão melhores que a sua versão da geração passada, mas não tão bons quanto, digamos, outras versões remasterizadas de outros jogos. Especialmente durante as cutscenes, os gráficos aparecem serrilhados, e as sombras, distorcidas.

Um remaster sem os devidos cuidados
Um remaster sem os devidos cuidados

Especialmente em Dead Rising 2, há diversos momentos em que a taxa de quadros cai assustadoramente e o jogador, por alguns instantes, assiste ao jogo em câmera lenta. Não chega a ser um problema, mas claramente incomoda.

Dead Rising Triple Pack – No Pack

Então, após essa extensa análise, podemos concluir que, por mais que tenham sido verificados alguns pontos negativos, estes não atrapalham o brilhantismo deste remaster, certo?

Errado.

A Capcom tem anunciado remasterizações de seus jogos há algum tempo. E tem-se percebido que tais remasterizações nada mais são que meras roupagens em seus jogos. O que isso quer dizer? Tente imaginar aquele sofá velho, que precisa de reformas. O responsável por elas apenas o cobre com uma nova capa, e só. Sem um estofamento novo, sem novas espumas. Apenas uma nova capa. Essa é a impressão desse jogo.

A título de comparação, Bioshock – The Collection vem com todos os DLCs já lançados em seus três jogos (além, claro, da remasterização gráfica). Uncharted – The Nathan Drake Collection não veio com todos os DLCs, uma vez que eram todos relacionados ao modo multiplayer, que a Naughty Dog decidiu tirar. Mas, ao invés disso, adicionou modos novos, novas  conquistas, e uma infinidade de mimos aos jogadores.

O modo Sandbox, de Off The Record, é ótimo para passar o tempo descompromissadamente. Mas não justifica os valores cobrados...
O modo Sandbox, de Off The Record, é ótimo para passar o tempo descompromissadamente. Mas não justifica os valores cobrados…

Isso não se percebeu em Dead Rising Triple Pack. Os jogos estão, excetuando as melhorias gráficas, exatamente como foram lançados. Inclusive o multiplayer competitivo chato e desnecessário de Dead Rising 2. Não houve o trabalho de incluir sequer os DLCS, exclusivos do Xbox na geração passada, que complementam a história entre os jogos, e que seriam extremamente bem vindos.

O que se tem visto nas remasterizações da Capcom é um trabalho preguiçoso. Como se o intuito por trás delas fosse claramente apenas colocar mais um jogo no mercado para obter mais vendas, sem se preocupar com o jogador em si. Não que os jogos sejam ruins. Pelo contrário. São divertidos e empolgantes. Mas, com exceção do primeiro jogo, não há nada de novo. Até mesmo a lista de troféus dos dois outros jogos é exatamente a mesma da geração passada, e isso é de matar.

E por fim…

Dead Rising Triple Pack é divertido, empolgante, cheio de coisas para fazer. É o tipo de jogo que não se deve começar sem tempo, porque o jogador dificilmente conseguirá parar. Um jogo de zumbis onde matar zumbis realmente é divertido. E onde a liberdade para fazer o quer se quer, quando se quer, reina solta.

Fosse a Capcom um pouco mais caprichosa com este remaster, certamente o jogo teria ganho uma nota mais alta. Mas, além do desleixo com o conteúdo, o preço irreal de R$ 299,99 pelo pacote completo (ou R$ 149,99 por cada um dos dois primeiros e R$ 61,50 por Off The Record) nos deixa apenas com um veredito a dar.

3 - Selo de Prata

*O jogo foi cedido pela Capcom para avaliação

Hugo Bastos
Hugo Bastos
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Jogando agora: Nada no momento.
Hugo Bastos e revisor do Meu PS4, apreciador de uma boa comida, e de platinas difíceis. E viciado em Rogue Legacy, OlliOlli2, Dead Cells, e não dispensa uma boa noite de jogatina.