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Crash Bandicoot N. Sane Trilogy: Vale a Pena?

Ele voltou com tudo!

por Daniel dos Reis
Crash Bandicoot N. Sane Trilogy: Vale a Pena?

Nostalgia. Em síntese a remasterização de N. Sane Trilogy pode ser assim resumida. Aqueles que desfrutaram do título na época do PlayStation 1 vão sentir, logo em seus primeiros segundos, a memória ser refrescada pelos bons momentos. É inevitável. Uma delícia.

Mas, ao mesmo tempo, a filosofia esplanada por Heráclito de Éfeso, um filósofo pré-socrático, se mostrará violentamente verdadeira. O Grego dizia:  “Tu não podes tomar banho duas vezes no mesmo rio, pois aquelas águas já terão passado e também tu já não serás mais o mesmo“.

A sensação vivida nos dias atuais não será a mesma de outrora. Você jogador não é mais o mesmo. E mesmo que quase tudo esteja intacto – retirando os gráficos em alta definição – aquele seu maravilhamento será diferente.

Eu sei que a contextualização filosófica não está agradável. Não feche esta análise ainda, por favor (eu preciso desse emprego). Mas reflita comigo ao longo destas linhas.

Um brinde as boas lembranças

Quando você insere o disco e logo começa a tocar aquela musiquinha tema, não tem como fugir da empolgação. Crash para mim é recordar os melhores momentos da minha vida. Para muitos eu sei que a sensação se assemelha.

Me lembro dos sábados de 1998. Quando minha irmã e eu íamos à locadora (naquela época ainda existiam) alugar o CD do Crash Bandicoot 2: Cortex Strikes Back e então passávamos a tarde toda jogando.

Tudo isso vai se fazer presente imediatamente. A coletânea de hoje consegue fazer da nostalgia sua principal aliada.

E a saudade começa a se mesclar com algumas novidades. Isso logo no começo do gameplay. Você vai soltar um ‘uau‘ ao ver o jogo. Visualmente, a remasterização está estupenda. Observar o marsupial correndo atrás das apetitosas Wumpas é um verdadeiro colírio para os olhos.

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Crash bonito, Crash formoso, Crash bem feito! Fonte: Captura de Tela.

Texturas em alta definição, sombreamento, sistemas de iluminação, efeitos de explosões e os cenários. Estão todos maravilhosos. Obviamente que não estamos diante de um título focado em gráficos ultra-realistas. Mas sim, de uma espécie de 3D cartunesco.

E a Vicarious Visions foi muito respeitosa com legado de Crash Bandicoot. Tudo foi cuidadosamente preservado. Desde o desenho das fases, passando pela geometria dos níveis até nos inimigos que encontramos pelo caminho. Está rigorosamente igual. Só que muito mais bonito.

Armadilhas ardilosas, buracos em lugares estratégicos e adversários caricatos – principalmente os chefões. Está do jeitinho que me lembro. Inclusive as altas doses de dificuldade.

Veio consigo a jogabilidade clássica. No jogo, essencialmente, você transpõe os obstáculos. Salta de precipícios, desvia de bombas e ataca com um rodopio.  Uma proposta simples que esconde uma das principais característica dos jogos dos anos 90: a complicação em vencer os desafios.

Para os tempos atuais, é um jogo bem desafiador. Você precisa calcular friamente seus movimentos e ainda contar com a sorte. As vidas não são ilimitadas e tela de gameover será uma companheira fiel.

Neste passo, agora faz todo sentido porque o estúdio não o considera um remake, mas sim um remaster plus. Mesmo que os desenvolvedores tenham criado do zero o jogo – afinal, atualizar uma tecnologia de 1996 para 2017 é quase impossível – é uma remasterização.

E não esqueçamos das dancinhas de Crash e da trilha sonora. O marsupial continua engraçadinho com suas poses de vitória ou falecimento. Houve até a inclusão de algumas novas.

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As tradicionais fases de bônus são um alívio! Fonte: Captura de Tela.

As músicas continuam marcantes. Após uma jogatina você ainda vai continuar com a trilha na mente, desejando voltar o mais rápido possível para o jogo.

É bacana refletir que N. Sane Trilogy foge da alcunha de ‘mais do mesmo‘. Afinal, como pode um jogo de 20 anos ser nos dias atuais  – regado de experiências visuais estonteantes, scripts elaborados e partidas multiplayer alucinantes – elogiado?

Talvez a ausência de competentes jogos plataforma seja uma explicação.

You Died

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Você vai ver muito esta tela. Fonte: Captura de tela.

Você vai morrer e não vai ser pouco. Crash Bandicoot, principalmente o primeiro, não é um jogo fácil, apesar da temática parecer simples. O compilado da Vicarious Visions escancara de forma sucinta como a indústria mudou ao longo dos anos.

As produções atuais se concentram mais em oferecer uma experiência de jogo, com enredos holywoodianos, capturas de movimentos, tramas envolventes e trilha sonora emotiva. Você se senta em sua poltrona e vivencia uma história. Mas a evolução trouxe consigo uma amenização nas dificuldades dos jogos.  Uma experiência mais cinematográfica em detrimento dos desafios.

Crash também é nostálgico neste sentido. Um fato curioso é que já nem me recordava quando foi a última vez em que eu tive que voltar para os primeiros estágios de um game para ganhar umas vidas extras para, só então, tentar conseguir passar um nível mais avançado.

E a precisão carrancuda de Crash pode afugentar tanto os mais velhos, quanto os mais novos. Aqueles que desfrutaram dos clássicos vão estranhar esta ‘volta as origens‘. Seja pela falta de tempo ou mesmo impaciência – afinal, não somos mais os mesmos, tudo fluí, explica Heráclito. O jogo exige mais comprometimento e repetições excessivas. Por outro lado, os mais novos, vão estranhar as características: vidas limitadas; tocou no inimigo, morreu; retorno ao início da fase após um fracasso. Mas cabe aqui um registro: a coletânea conta com mais checkpoints que o original. 🙂

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Muita calma com os desafios. Fonte: Captura de Tela.

Mas isto não é um defeito ou algo que desabone o título. É o seu tempero especial que o torna mágico. A satisfação ao chegar ao fim de uma fase com apenas uma vida é saborosa.

E, por fim, as físicas dos saltos. Sim, está um pouco diferente dos originais. O marsupial, quando aterrisa de um salto, dá uma leve deslizada. Suficiente para uma queda fatal. Algo que não acontecia nos clássicos. Isso pode irritar – e certamente vai – os mais afoitos. Apesar disso, esse mesmo sistema pode ser usado para o bem. Essa pequena derrapada permite um segundo salto em algumas ocasiões. Mas é necessário rapidez nos comandos.

Comandos, por sinal, que exigem um re-aprendizado. Esqueça os pulos certeiros de Nathan Drake. Crash exige mesmo que você pressione os botões no momento exato. Timming é palavra-chave por aqui.

Se serve de reconforto, a franquia foi ficando mais fácil ao longo dos anos. Fruto da evolução do aprendizado da Naughty Dog – lembre-se, ela era um pequeno estúdio na época. Crash 3: Warped é muito mais acessível que o primeiro. E essa prosperidade da série deve-se também aos recursos do personagem. No terceiro por exemplo, o marsupial já conta com bazooka, um giro mais demorado e até uma espécie de salto duplo. Aptidões que ele não tinha no primeiro jogo.

Mas, apesar do competente trabalho do estúdio pertencente a Actvision, um ponto em desfavor é o tempo de loading. Eles estão demorados e, no auge das suas derrotas, você poderá se irritar deveras com os tempos de reinício.

Outro fator, este mais regional, é o idioma. Apesar de ser um jogo extremamente querido pelos brasileiros, a coletânea não veio sequer com legendas em nosso idioma. Entretanto, não incomoda de maneira nenhuma. Crash Bandicoot é tão intuitivo que, neste caso, a localização não acrescentaria muita coisa.

Insano!

Os fãs da série não precisam de muitos motivos para adquirir a remasterização. Crash Bandicoot N. Sane Trilogy é um objeto obrigatório para aqueles que sentiam saudades do marsupial. E, como um cupido, o compilado é um tiro certeiro no coração dos apaixonados pela franquia.5

Já os mais novos, poderão, enfim, descobrir o porquê de tão tanta idolatria. Houve aqui muito zelo, respeito e paixão na produção do jogo. Mas o aviso é importante: não é uma experiência tão cinematográfica. Entretanto, em diversão, que é o que realmente importa em um jogo, é 10/10.

No final das contas, a opção pela remasterização se mostrou um acerto da Activision. Trazer o auge da franquia de volta, impulsionada enormemente pela nostalgia, é uma excelente forma de recomeçar a série. Fãs antigos entusiasmados e novos, recém-apaixonados por Crash.

Veredito

Sistema:

Desenvolvedor:

Jogadores:

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Vantagens
Desvantagens
Daniel dos Reis
Daniel dos Reis
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Jogando agora: Horizon Forbidden West (PC)
Manager do MeuPS e um cara de muita sorte por trabalhar com aquilo que gosta.