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Blue Prince: vale a pena?

Desafiador ao extremo, Blue Prince é um jogo de quebra-cabeças único — e pode te viciar em poucos instantes

por André Custodio
Blue Prince: vale a pena?

Normalmente assumimos uma série de informações quando compramos um jogo de quebra-cabeças. Seus conteúdos podem ser instigadores, mas normalmente há previsibilidade — algo que o mercado parece cada vez mais resistente para contornar.

E tudo bem quem é nicho. Pode assumir. Não iremos te julgar por isso. Mas está claro que jogos bem feitos são sempre bem-vindos. E quando eles oferecem experiências inteligentes e complexas — mas super agradáveis —, não há quem diga: detesto esse tipo de jogo.

Esses parágrafos não são um enigma, mas sim uma reflexão sobre o que Blue Prince significa. O novo puzzle game da Dogubomb é uma verdadeira preciosidade, capaz de viciar mesmo os mais preguiçosos em poucos minutos. Há algo especial nesse título.

Você aceitaria essa herança?

Um jovem herdeiro recebe uma herança peculiar: uma mansão misteriosa chamada Mt. Holly, deixada por seu excêntrico tio-avô que faleceu recentemente. No entanto, há uma condição para tomar posse da propriedade: encontrar a Sala 46, um cômodo secreto que supostamente existe além das 45 salas conhecidas da mansão.

Ao chegar ao local, ele descobre que a mansão não é uma construção comum. Seus corredores e quartos mudam constantemente, rearranjando-se a cada novo dia. A missão é explorar esse ambiente em constante transformação e desvendar os segredos da residência e a história por trás dela.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

Você conseguirá chegar ao quarto 46 e descobrir toda o passado por trás do antigo dono? Mais além: quantos dias demorará para atravessar a casa e ter todos os segredos à sua frente?

Blue Prince é um jogo de aventura e quebra-cabeças desenvolvido pela Dogubomb. O título conta com perspectiva em primeira pessoa e mecânicas simples de interação, com uma campanha que pode durar de 1h a até muito mais que 40h.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

O título traz fortes referências do gênero roguelike, com atualizações permanentes na casa, upgrades de quartos e sistema de renovação de layout a cada run perdida. Porém, é no estilo “jogo de tabuleiro” onde ele mais brilha.

Basicamente, Blue Prince funciona dessa forma: você tem 45 espaços em branco e deve conectá-los até chegar à antecâmara. Porém, os cômodos variam consideravelmente em propriedades, com alguns deles sendo becos sem saída e outros tendo até quatro portas.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

Assim, interligá-los é apenas um dos caminhos para o sucesso, pois o game traz um forte apelo estratégico. Quanto mais runs você completa, mas se familiariza com o que é importante em termos de recursos, bem como com os quartos que podem te ajudar.

Um puzzle game complexo, mas extremamente viciante

A ideia de Blue Prince é muito simples. Basicamente seus comandos são sobre interações, com o X sendo o único funcional para explorar Mt. Holly. Para além disso, é possível apenas correr e, logicamente, girar a câmera para observar os arredores.

Além disso, a ideia de montar sua própria residência é muito intuitiva e objetiva. Você escolhe seu caminho, quais itens coletar, quais rotas percorrer e de que forma deseja explorar. Não há restrições ou direções corretas: o seu instinto (e sorte) te guiarão.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

Para avançar, o protagonista pode coletar moedas (para comprar itens úteis), joias (para destravar salas de maior raridade), chaves (para abrir portas e baús trancados) e ferramentas (como pás, marretas, detector de metais e mais). Porém, isso muda a cada dia.

A adaptabilidade em Blue Prince é uma exigência constante: você precisa estar preparado para as frustrações. Mas nunca conclua uma run se ficar atento aos seus arredores. As pistas para progredir estão literalmente em todos os cantos.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

Quadros, artes, documentos, estruturas, livros, fotografias… Todos esses coletáveis servem para alguma coisa. Há quebra-cabeças mais diretos, como o de acertar as frases que falam a verdade e que mentem, mas os “ambientais” são muito mais profundos.

Blue Prince não é um jogo curto e sequer é um jogo fácil. É necessário pensar… mas pensar muito. Porém, assim como nos jogos souls, descobrir a estratégia correta para progredir, por conta própria, é algo absolutamente satisfatório. E isso acontecerá bastante.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

O problema? Para os gringos talvez não haja. Mas para os brasileiros, é algo crítico: a falta de localização em português do Brasil. São muitas cartas, livros densos, charadas, trocadilhos, brincadeiras com rimas… e isso somente em inglês é muito prejudicial. Atrapalha.

O quebra-cabeça que todos sonhamos

Não poderia existir entretítulo melhor que esse. Blue Prince é um jogo que te fará sonhar bastante. O game é tão instigante e motivador que te prenderá por horas — talvez dezenas de horas.

Há algo muito especial no projeto. Seja seus visuais belíssimos animados a mão, a trilha sonora que muda a cada quarto descoberto, uma atmosfera de suspense que paira no ar ou o próprio conceito de descoberta: algo mais bem feito que os melhores board games.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

Blue Prince também conta com muitas telas de registros, permitindo visualizar cada run anterior e aprender com ela. Além disso, uma sala especial salva notas importantes, transmitindo a ideia de que nada feito em Mt. Holly é em vão.

Como os quebra-cabeças são complexos e muito desafiadores, o título funciona muito bem como uma experiência comunitária. Durante os testes, por exemplo, tivemos a oportunidade de conversar com outras pessoas para encontrarmos juntos as soluções.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

E muitas vezes essa interação arranhou apenas a superfície. Foram necessárias várias cabeças pensantes para encontrar a primeira letra de uma palavra composta por sete, por exemplo. E nesse sentido as águas seguem: é algo realmente muito interessante.

O fator replay do jogo também é absurdo. São inúmeras salas, ferramentas e interações, tornando praticamente impossível um dia se tornar igual ao outro. Além disso, Blue Prince é reforçado com puzzles secundários e conteúdos endgame.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

Blue Prince: vale a pena?

Blue Prince é um game que quanto menos souber sobre, melhor. Com uma progressão orgânica, jogabilidade super agradável e conceito único, o game parece tornar todos os outros jogos de quebra-cabeças obsoletos e datados.

A sensação de descoberta impressiona, bem como as infinitas possibilidades de layout na mansão. Além disso, a riqueza de itens, os caminhos alternativos e os documentos te passam a sensação de isolamento, mas como se existisse algo na cada guiando seus passos.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

A falta de localização em português do Brasil prejudica. E muito. Alguns puzzles somente são compreensíveis em inglês e há uma forte exigência para o domínio da língua. Dessa forma, por força maior, não há como recomendar caso você não tenha essa especialidade.

Além do quê, Blue Prince não é algo para ser jogado com detonados online ou guias do YouTube. Seu espírito roguelike não permite isso, enquanto a grande alegria no game é encontrar soluções sozinho, ou ao menos em grupos fechados de amigos.

Blue Prince
Fonte: André Custodio

Porém, caso você curta o estilo ou simplesmente esteja procurando algo criativo e original, o título da Dogubomb é o diamante dentro de um baú raro. Ele lhe surpreenderá do início ao fim, sem ser cansativo, exaustivo ou frustrante.

Previsto para chegar nesta semana, o game também ficará disponível para assinantes PS Plus Extra e Deluxe. Aproveite seu plano para dar uma chance ao projeto indie, pois há um carinho estampado em cada parede de Mt. Holly. Cabe a você explorá-la.

Veredito

Blue Prince
Blue Prince

Sistema: PlayStation 5

Desenvolvedor: Dogubomb

Jogadores: 1

Comprar com Desconto
84 Ranking geral de 100
Vantagens
  • Mecânicas de jogo muito acessíveis
  • Bela arte visual
  • Fator replay absurdo
  • Quebra-cabeças inteligentes e desafiadores
  • Conceito comunitário promissor
  • Excelente trilha sonora
  • Grande quantidade de conteúdos paralelos
Desvantagens
  • Falta de PT-BR pode prejudicar muito a experiência
André Custodio
André Custodio
Redator
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Jogando agora: Lushfoil Photography Sim, Post Trauma, Path of Exile 2
Fã de jogos de terror e desbravador de soulslike vez ou outra. Consegui me livrar de FIFA por motivos pessoais (ruindade) e hoje me sinto uma pessoa melhor. Também curto platinas, mas não vou atrás de algo que me tira do sério.