ASUS ROG Ally: vale a pena?
Com um hardware parrudo e o Windows 11, o PC portátil é um sério competidor para o Steam Deck
Desde que o Steam Deck foi lançado em 2022, ele se estabeleceu rapidamente como uma referência para o segmento de PCs portáteis. Embora empresas como Ayaneo já estivessem explorando esse mercado há certo tempo, o aparelho da Valve foi o responsável por sua popularização graças a uma mistura de hardware equilibrado, preço relativamente acessível e recursos otimizados para games.
Pouco mais de um ano depois, em junho de 2023, a ASUS decidiu apresentar um competidor à altura na forma do ROG Ally. Usando sua expertise no desenvolvimento de aparelhos de alto desempenho e designs chamativos, a empresa apostou em um hardware ainda mais forte e no Windows 11 como forma de se destacar no segmento.
Enquanto ela foi muito bem-sucedida em sua empreitada, alguns detalhes do produto ainda deixam espaço para melhorias futuras. A convite da empresa, tivemos a chance de passar pouco mais de 15 dias com uma unidade do dispositivo, o que permitiu analisar diversos aspectos do que ele tem a oferecer.
O ROG Ally é um portátil de respeito
Uma das soluções usadas pela ASUS para bater de frente com o Steam Deck foi apostar em um hardware ainda mais potente. Embora ainda seja baseado no mundo mobile por questões como eficiência energética e aquecimento, que fazem bastante sentido quando o objetivo é oferecer uma experiência portátil, ele consegue bater de frente com muitos desktops mais convencionais. Confira a lista de especificações:
- CPU: AMD Z1 Extreme
- GPU: AMD Radeon Graphics (RDNA 3, 12 CUs, até 2,7 GHz)
- RAM: DDR5 16 GB
- Armazenamento: 512 GB PCIe G4 SSD (expansível)
- Tela: 7 polegadas com resolução 1920×1080 pixels de 120 Hz
- Sistema operacional: Windows 11 Home
- USB: Tipo-C 3.2
- Bateria: 40 WH de quatro células
Para quem não entende muito de especificações, vamos direto ao ponto: o ROG Ally é bastante poderoso, e capaz de rodar bem os jogos mais populares da atualidade. Ao mesmo tempo, isso não significa que isso vai acontecer com o máximo de detalhes possíveis, e pode ser necessário fazer alguns ajustes para conseguir o melhor desempenho.
Nesse sentido, o produto respeita muito suas características como “PC portátil”, o que pode ao mesmo tempo ser bom e ruim. Trazendo três modos de operação de fábrica — Silencioso (10W), Performance (15W) e Turbo (25W/30W conectado a uma fonte de energia) —o produto exige dedicar algum tempo às configurações para tirar o melhor proveito de um game.
O Modo Silencioso é adequado principalmente para rodar jogos que não exigem muito para rodar bem. Títulos independentes como Vampire Survivors, Hades, Dead Cells e o recente Mullet Madjack podem ser aproveitados com 60 quadros por segundo e detalhes altos com facilidade quanto o modo é ativado.
No entanto, quem procura jogar títulos um pouco mais robustos deve acabar optando pelo modo Performance, que garante um maior poder de fogo, ao custo de um consumo maior de bateria e de um maior aquecimento do aparelho. Já o Modo Turbo leva as coisas além, e é o mais recomendado para rodar jogos pesados com maior taxa de quadros.
Graças à interface proprietária criada pela ASUS, a mudança entre os três modos pode ser feita rapidamente usando um overlay ativado apertando um de seus botões laterais. Caso destravar um pouco mais de força para o aparelho não seja suficiente, também é uma boa ideia explorar as opções de configuração do game que você quer rodar.
Em nossos testes, essa se mostrou a opção que ajudou a viabilizar que o ROG Ally rodasse todos os jogos que colocamos a prova, embora nem sempre da melhor maneira possível. Jogos como o God of War de 2018 e Days Gone, por exemplo, tiveram resultados melhores quando baixamos suas resoluções para 720p ou no contentamos em jogar a 1080p, mas a 30 quadros por segundo.
Já nos pesados Returnal e The Last of Us, os 30 quadros por segundo eram o melhor desempenho possível, mesmo com a qualidade visual ajustada para o mínimo e o Modo Turbo ligado. Nesses casos, o “melhor amigo” que encontramos é o AMD FSR, especialmente a versão 3.0. Ele garante que, mesmo em resoluções baixas, os games ainda tinham uma qualidade de imagem boa o suficiente para que eles pudessem ser aproveitados no portátil.
Quem quiser uma experiência ainda mais otimizada pode recorrer a aplicativos como o HandheldCompanion, que traz ainda mais opções de voltagem, funcionamento de fans e outros ajustes finos. Nesse sentido, a vantagem de o aparelho seguir um PC de mesa fica evidente — quem tiver o tempo e a disposição pode realmente tirar o máximo do aparelho em cada situação, bastando para isso estar disposto a investir o tempo necessário.
Ergonomia e software
Nada adiantaria o ASUS ROG Ally ter um grande poder se ele tivesse um formato que não agrada, e nesse sentido a fabricante acertou em cheio. Embora tenha uma tela com as mesmas 7 polegadas do Nintendo Switch OLED, o aparelho é bem mais “parrudo”, o que traz vantagens de gameplay — mesmo que seu display peque um pouco pela reflexividade em ambientes mais iluminados.
Os analógicos e botões têm tamanho grande e são bem espaçados, garantindo que você poderá jogar com bastante conforto. O único ponto de crítica é o posicionamento dos gatilhos, que ficam muitos próximos às saídas de ar superiores. Com isso, não vai ser incomum você sentir as suas pontas de dedo “meio quentes” após sessões de jogo mais intensas.
Também faltou algum recurso que permitisse jogar de forma mais otimizada gêneros e games que não possuem suporte nativo a controles. Enquanto é possível remapear comandos livremente e criar algumas adaptações próprias, a experiência sempre acaba ficando aquém àquela oferecida por soluções como os trackpads presentes no concorrente Steam Deck.
No caso do ROG Ally, a presença do Windows 11 permite “contornar” essa questão ao conectar um mouse ou teclado sem fio ao aparelho, ao custo de sua portabilidade. Também é possível usar um dock vendido e um cabo USB-C para DPI para transformar o produto em um verdadeiro PC compacto, mas, novamente, isso vai contar a ideia central de ele ser um aparelho versátil que pode ser aproveitado ao máximo em qualquer lugar.
Por falar no sistema operacional da Microsoft, ele ao mesmo tempo se mostra uma vantagem e uma desvantagem. Ao mesmo tempo em que garante a possibilidade de rodar jogos de qualquer loja, isso vem ao custo da falta de otimização de jogos e aplicativos para as características específicas do Ally.
Isso faz com que, apesar do hardware mais poderoso que o Steam Deck, ele nem sempre consiga rodar jogos em paridade com o produto da Valve, por mais que ele tenha menos poder bruto a oferecer. Da mesma forma, o sistema operacional não é muito bom para ser usado por toques e está sujeito a vários dos mesmos problemas de desktops: crashes inesperados, problemas inexplicáveis de compatibilidade, conflitos de drivers e softwares rodando em segundo plano que roubam o desempenho das tarefas principais.
A ASUS contorna um pouco esses problemas com o software Armoury Crate, que é uma espécie de launcher para programas como o Steam, a Epic Games Store e o EA App, por exemplo. No entanto, ele ainda tem algumas restrições incômodas, como a impossibilidade de realizar a desinstalação de jogos através dele e falta de recursos de compartilhamento de perfis de controle.
Depois de alguns dias com o portátil, pareceu melhor usar interfaces como o Steam Big Picture para navegar pela biblioteca de jogos disponíveis em vez de usar a opção proprietária da fabricante. Ao mesmo tempo, quem usa launchers mais focados no uso de mouse e teclado, como o Battle.net, vai encontrar no Armoury Crate uma opção de navegação mais cômoda usando controles.
A ASUS afirma que está ciente das limitações de seu software e está preparando uma série de atualizações que vão chegar a ele ainda este ano. Enquanto muitas delas serão focadas em explorar o potencial do sucessor do Ally, a grande maioria também deve beneficiar a versão do hardware que testamos.
Compensando a falta de otimização para PCs portáteis focados em games, o Windows 11 traz a vantagem de permitir a instalação de qualquer software, vindo de qualquer fonte. Isso permite que o ROG Ally vá além de uma plataforma focada em games, mas fica a impressão de que o dock opcional e o uso de acessórios adicionais é essencial para conseguir explorar o potencial do hardware como uma estação de trabalho.
A bateria é a grande vilã do ROG Ally
Robusto, versátil e capaz de rodar bem praticamente qualquer jogo já lançado para o PC (sim, ele roda Crysis muito bem). Seria muito fácil ignorar os pequenos defeitos do ROG Ally e considerá-lo como o melhor PC portátil da atualidade, não fosse o fato de ele pecar em um quesito-chave: a duração de sua bateria.
Mesmo rodando um game independente leve, com a tela ajustada para 60 Hz e travando o desempenho em 30 FPS, o hardware simplesmente não oferece uma experiência “portátil” competente. Nessas condições, por exemplo, é possível jogar somente aproximadamente 2 horas de Vampire Survivors, um game conhecido por exigir pouco do hardware.
O mais comum é que esse tempo não chegue sequer a uma hora e meia, mesmo jogando no modo Performance e limitando o desempenho de jogos mais poderosos. A marca de 1 hora já vira raridade quando é preciso ligar o Modo Turbo, que vai ser a escolha-padrão de quem joga de jogar experiências mais recentes.
Isso faz com que, enquanto o ROG Ally surpreenda por conseguir rodar jogos tão bem quanto um PlayStation 4 em um ambiente portátil, ele decepcione como um portátil. Afinal, pouco adianta levar o aparelho para passar o tempo em uma viagem se ele não dura nem metade dela, virando somente um peso que você precisa levar até encontrar a próxima tomada.
Na prática, a sensação que fica é a mesma de termos investido em um notebook gamer com a promessa de jogar “em qualquer lugar” títulos de alto desempenho. Embora isso seja possível durante alguém tempo, quem tem um aparelho do tipo sabe que uma fonte de energia conectada permanentemente acaba sendo indispensável em questão de pouco tempo.
ASUS ROG Ally: vale a pena?
Com um hardware potente, uma boa tela e uma ergonomia confortável, o ROG ASUS Ally é ao mesmo tempo um produto que fica aquém de um notebook gamer, ao mesmo tempo em que se destaca frente a outros portáteis. Seu grande destaque fica pela capacidade de rodar praticamente qualquer jogo de PC, contanto que ele seja compatível com o Windows 11.
Mesmo que não faça isso sempre com o máximo de detalhes ou desempenho, o aparelho surpreende por conseguir entregar experiências competentes dentro de um formato compacto. Dessa forma, é possível afirmar que a fabricante não mentiu em suas promessas e conseguiu entregar um aparelho bastante versátil e muito competente dentro de sua proposta.
Ao mesmo tempo, é difícil não se sentir frustrado com o fato de que a bateria faz com que o “portátil” não tenha essa característica como um de seus fortes. Com isso, ele acaba sendo muito mais um companheiro de jogatina que você vai acabar usando mais em casa do que como uma solução para continuar suas aventuras do PC em meio a uma viagem.
No entanto, o ponto mais sensível do produto é seu preço, que fica na casa dos R$ 5.999 parceláveis no site oficial da fabricante. Esse valor é suficiente para comprar um PlayStation 5 e e um Nintendo Switch OLED, por exemplo, o que torna um pouco complicado recomendar a aquisição do produto da ASUS, por mais que ele esteja repleto de qualidades positivas.
Assim, caberá a você decidir se o produto faz sentido para suas necessidades, bem como para o orçamento que está disposto a investir em games. Dado que a fabricante deve anunciar um modelo atualizado conhecido como ROG Ally X em poucos dias, pode ser uma boa ideia descobrir o que ele terá a oferecer antes de investir tanto dinheiro pela versão original — cujo preço tende a cair com a estreia de um modelo refinado.
Analisamos o ROG Ally a partir de uma unidade de testes fornecida pela ASUS.