Assassin’s Creed: Syndicate: Vale a pena?
Assassin’s Creed: Syndicate chegou às prateleiras com um fardo de recuperar parte do prestígio perdido pelo seu antecessor, Unity. O game da Ubisoft traz ao palco um novo enredo, novos personagens e a premissa de inserir novidades na já conceituada franquia, ao mesmo tempo em que tenta manter a essência.
Desenvolvido pelo estúdio de Quebec, Syndicate tenta não repetir os erros que ainda assombram a Ubi e além disso, ser o precursor de um novo caminho para série.
Será que os audaciosos objetivos foram alcançados? A Ubisoft realmente entregou um título de qualidade como havia prometido?
Isso você confere agora em nossa análise!
Prefácio
Londres, 1868, fábricas trabalham a todo vapor movidas por milhares de operários que sentem na pele o quão brutal o capitalismo pode ser. Enquanto empresários enriquecem, os trabalhadores são explorados de forma vexatória pelas grandes oligarquias.
A Revolução Industrial, que proporcionou diversos avanços econômicos, não esconde as mazelas pelas quais os menos favorecidos eram submetidos, tudo aos olhos complacentes da idolatrada Rainha Vitória.
Em meio a este turbulento cenário, Jacob Frye e Evie Frye, gêmeos, tentam de alguma forma fazer com que a nublada capital britânica seja um local mais justo e igualitário. Para tanto, os irmãos não medirão esforços para alcançarem não só seus objetivos próprios, mas para elevar a Ordem a outro patamar, suplantando o poder dos Templários.
Syndicate, como é característico na série dos Assassinos, insere um contexto histórico e os apresenta aos jogadores de forma sem igual, com elementos, ligações e personagens muito bem desenhados. Neste quesito, o novo capítulo segue à risca o elevado padrão de qualidade já implantando pela Ubisoft.
Enredo
Na Londres Vitoriana de 1868, os protagonistas lutam para tirar o poder das mãos de Crawnford Starrick, chefe Templário que possui aliados poderosos em todas as áreas econômicas da cidade. E a missão dos irmãos, que já não parece fácil, recebe outros fatores complicantes como a audaciosa gangue rival chamada de Blighters.
Apesar de terem recebido treinamento de uma mesma pessoa, Jacob e Evie são totalmente opostos em suas personalidades e na forma como agem. Enquanto Evie é mais disciplinada e prefere conhecer e planejar antes de executar qualquer missão, Jacob se envereda em combates mais abertos e não faz qualquer questão de esconder suas intenções.
A aposta da Ubisoft em trabalhar com dois personagens principais é bastante acertada pois oferece uma experiência envolvente, dinâmica e co-relacionada.
Logo no início, após as missões introdutórias, o jogador fica livre para alternar entre ambos irmãos. A mudança, apesar de ser em menus pausados, se dá de forma ágil e sem rodeios. Fica no arbítrio do jogador o personagem que mais se encaixa em seu perfil de jogo.
A grande maioria das missões podem ser jogadas com qualquer personagem, salvo acasiões fixas da trama, onde é realmente mandatório assumir o papel de um ou outro.
Outro ponto de destaque, que sempre foi tradição na franquia, é a possibilidade de encontrar grandes celebridades histórias. Charles Darwin, Alexander Graham Bell, Karl Marx, entre outros auxiliam aos heróis com informações, equipamentos e conhecimento.
Também como forma de auxílio, principalmente para o valentão Jacob, é oferecido o recurso de se juntar a uma gangue de rua chamada de Rooks. No comando da “equipe”, é possível conquistar territórios, encontrar novos aliados e enfrentar os rivais de forma mais justa e com mais respaldo.
Visual
A habilidade da Ubisoft em aspectos visuais é incontestável. Em Syndicate o nível é ainda mais elevado, muito em função de um melhor aproveitamento dos recursos da oitava geração de consoles.
Londres é representada de forma fidedigna à realidade. Estruturas, prédios, largas avenidas, pontos históricos como o famoso Big Bang e o palácio de Buckingham são obras de arte em formato digital. Definitivamente, a era Vitoriana nunca esteve tão bem representada em um game como em Syndicate.
Contemplando o horizonte, notamos diversas industrias que não economizam em jogar nos céus londrinos fumaças e poluição, justificando o clima melancólico da metrópole.
Enquanto que nas regiões mais humildes, pessoas maltripilhas, casas velhas e mal acabadas são cenários comuns, as áreas mais nobres mulheres e homens bem vestidos, carruagens imponentes e belas construções reforçam o poderio econômico da região. Este novo capítulo exemplifica de forma bastante clara as desigualdades sociais da época.
Impressiona ainda a variação climática da capital britânica. Londres, como lhe é característico, é afortunada em termos de chuva. Chove muito na cidade! Esta particularidade traz consigo muitas poças d’água e construções umedidas. Tudo de forma bastante convincente. Contudo, a beleza custa um pouco de processamento onde, por vezes, é perceptível uma pequena queda no framerate, mas nada que atrapalhe o gameplay.
Também fazendo se valer de mais recursos de hardware, mais NPC’s foram adicionados aos cenários. As pessoas simplesmente seguem suas vidas, envolvem-se em inúmeras atividades como vendas, patrulhamento, compras, grupos de fofoca e crianças em despreocupadas brincadeiras repassam uma incrível vivacidade ao ambiente.
Mas, apesar da extensa quantidade e variedade de pessoas, as gangues não foram contempladas com diversidade. Os personagens secundários não receberam muitos perfis diferentes e vários deles se repetem ao longo da jogatina. É fácil identificar um CTRL + C e CTRL + V nas figuras. Talvez isso se justifique pelo tempo de entrega do game.
Jogabilidade
Deixando de lado os modos multiplayer, a Ubisoft concentrou esforços e recursos em aprimorar as mecânicas de jogo e na experiência dos jogadores. A decisão se mostrou coerente e justificável.
Como exposto, há dois personagens controláveis, sendo possível escolher com qual jogar na maioria das missões, exceto as da campanha principal que são direcionadas para Jacob ou Evie de acordo com o perfil deles.
Movimentação e combates
Um dos pontos que mais incomodavam os jogadores, principalmente em situações de combate, era a câmera. Nos títulos anteriores, muitas das vezes a visão não acompanhava o personagem de forma adequada, fazendo com que a visibilidade fosse ruim ou ineficaz. Felizmente, em Syndicate os jogadores não passarão por estes infortúnios.
Para aumentar a capacidade de mobilidade dos personagens, foi inserido um gancho capaz de funcionar como uma espécie de tiroleza, fazendo com que escalar prédios seja mais dinâmico e prático. A novidade cai como uma luva para série, afinal Londres da Era Vitoriana é o mais moderno contexto pelo qual a série já passou, fazendo jus a adição.
Outro recurso para você chegar mais rápido ao seu destino são as carruagens, que obedecem bem aos comandos, e durante as perseguições, podem ser utilizadas para chocar-se contra outras adversárias.
Os combates, de forma geral, estão mais ágeis com boas variações de combos e plasticidade em finalizações. Em sequências, é perfeitamente possível utilizar ferramentas como facas, pistolas, bengalas, etc para causar danos ou atordoamentos.
É notório como estas mecânicas estão bem ajustadas e modernas. Quem não se lembra como eram travados os combates com armas em Assassin’s Creed III? Em Syndicate a fluidez é um ponto bastante positivo.
Habilidades e equipamentos
Como em toda a franquia, as habilidades e equipamentos de Syndicate contam com uma grande variedade e possibilidade de criação e melhoria. Nessa parte notamos uma redução nas microtransações. Antes, para se ter determinado utensílio, era somente com transações.
Agora, o que você pode comprar dessa forma são materiais para facilitar sua vida nas criações, caso você não seja daqueles que gosta de vasculhar as ruas a procura de baús. Também é possível adquirir potencializadores de XP.
As habilidades de Jacob e Evie são evoluídas separadamente. Ao realizar as missões, você recebe os pontos de habilidade. Para ter sucesso é preciso se atentar ao perfil de cada um deles e evoluir as habilidades que valorizam este. Este é um ponto que exige dedicação dos jogadores.
Os irmãos dividem os equipamentos, portanto, se você criar uma determinada bengala ou kukri ambos poderão utilizá-la sem precisar gastar dinheiro duas vezes.
Outras habilidades que devem ser melhoradas são as da sua gangue. A medida que você adquire as melhorias, os seus aliados ficam mais fortes e mais equipados nas batalhas, além de receber mais apoio como por exemplo, conseguir itens melhores e mais baratos no mercado negro.
Há itens interessantes do e-clube que são desbloqueados na medida em que você ganha XP durante o jogo, como cores, pistolas exclusivas e até a roupa do lendário Ezio para o Jacob.
Missões com várias possibilidades
Nas experiências anteriores, Assassin’s Creed praticamente direcionada o modo como executar uma determinada missão ou assassinato. Qualquer variação não planejada resultava em uma triste dessincronização.
Em Syndicate, a Ubi teve uma grande sacada que beneficiou muito o decorrer das tarefas. Quando você seleciona uma missão, é possível definir como executá-la, mesmo que partes do desenrolar ainda sejam obrigatórias, neste novo capítulo os jogadores tem mais liberdade de escolha.
O diferencial é que, mesmo que erros sejam cometidos ou inimigos detectem a presença do jogador, existe a possibilidade de assassinar os delatores ou fugir até que a “barra fique limpa”. Mas, também houve melhoras na inteligência artificial dos inimigos e não será tão simples como antes. As posições de vigilância podem ser mudadas, fazendo com que seja prudente criar um novo plano de ação.
Ainda há, na maior parte das missões, alguns desafios (como: não mate nenhum policial durante a investigação) que se cumpridos, vão potencializar o ganho de XP daquela missão e é opcional de se realizar.
Mesmo com as bem vindas melhorias, ajustes na jogabilidade, variações de missões, etc, conforme a aventura se aproxima do seu desfecho, as missões podem ser tornar um pouco enjoativas. Por isso, é recomendado a exploração das missões secundárias que sempre proporcionam uma distração renovadora.
Sonorização e dublagem
Nada como andar pelos telhados de Londres escutando o barulho dos trens, do povo na rua, dos vendedores de jornais, pássaros e, nos pontos mais altos, aquela trilha sonora suave e bem característica da época.
A sonorização do ambiente está muito caprichada. Se você joga com um headset, a quantidade de detalhes que podem ser ouvidos é impressionante. Para os mais atentos, é possível encontrar baús apenas seguindo o som que eles emitem.
Também se faz necessário destacar o trabalho de localização da obra. A Ubisoft Brasil vem, ano após ano, inserindo dublagem em quase todos os seus jogos e proporcionando aos brasileiros uma ótima forma de compreensão do enredo e suas nuances.
Syndicate conta com ótimo cartel de dubladores, como Phillipe Maia que dá vida a voz de Jacob Frye. No geral as vozes combinam em entonação e personalidade com os personagens.
Ficam somente pequenas ressalvas onde, algumas poucas vezes, a sincronização dos lábios com a voz não foi ajustada de forma adequada.
Além disso, um ponto curioso chama atenção: os NPC’s secundários (aqueles que ficam só conversando entre si, cuidando de suas vidas) não foram traduzidos. Se, em determinado momento você matar alguém na rua, eles vem na direção do crime gritando “Help, a murder!”. Estranho!
Bugs e problemas
Assassin’s Creed: Syndicate não repete os erros do Unity. O novo capítulo não precisou de milhares de gigabytes extras para correções e não foi (ou está sendo) massacrado pela crítica. Pelo contrário, neste ponto o estúdio francês fez a lição de casa e entregou um jogo consistente.
Mas, nem tudo saiu perfeito. Como já exposto, em alguns momentos acontecem quedas no framerate e notamos um travamento bizarro durante o gameplay. Acompanhe no vídeo:
Apesar do bug (única vez que ocorreu), o jogo não apresentou outros problemas que pudessem atrapalhar ou impedir o gameplay.
Considerações Finais
Assassin’s Creed: Syndicate coloca a série dos assassinos novamente nos trilhos e recupera o prestígio perdido no último game. Com competente “arroz com feijão”, a Ubisoft entregou uma experiência consolidada e sem maiores contratempos.
Os pontos positivos ficam por conta de uma narrativa interessante, personagens bem construídos, visual agradável, mecânicas que se encaixaram bem na nova proposta, Londres representativa e bugs que não vieram da versão anterior.
Em contrapartida, alguns resquícios da anualização da série ainda persistem. Missões que podem se tornar cansativas ao longo do gameplay, inovações modestas, algumas quedas no framerate e um mapa não tão rico como em versões anteriores impedem que o título seja considerado uma obra-prima.
Syndicate é essencial para fãs ardorosos da série e altamente recomendado para os jogadores “normais”, elevando a série ao seu papel de destaque, recuperando-se da escorreda do Unity. Certamente um dos fatores que contribuíram para esta retomada foi o foco no single player, em detrimento de multiplayer.